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Regiões do Conhecimento

No documento Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (páginas 70-73)

Capítulo II Do Paradigma Tecnológico ao Paradigma Sócio-Info-Tecnológico

2. Inovação Distritos Industriais, Regiões Inteligentes, Cidades Digitais, Millieux d'Innovation

2.2. Regiões do Conhecimento

As ‘regiões de aprendizagem/conhecimento’ e os ‘sistemas regionais de inovação’ foram o passo seguinte na percepção de como podia ser a tecnologia, o factor-chave para a inovação e para a difusão do conhecimento. Foram assim identificadas, à escala regional, as variáveis-chave que sustentavam a dinâmica de inovação (FREEMAN, C. 1990;

LUNDVALL, B. 1992; NELSON, R. 1993)38. Segundo esta teoria, um sistema regional de

inovação baseia-se num conjunto de instituições que suportam o conhecimento e os processos de aprendizagem. As suas variáveis-chave são: a pesquisa e o desenvolvimento; a transferência de tecnologia; o uso dessa mesma tecnologia; o suporte ao financiamento da inovação; e o aprovisionamento de informação tecnológica. As instituições de produção e de uso tecnológico constituem a base de todo o sistema

35 Um PCT pode ser definido como “... um empreendimento de base imobiliária, caracterizado por: (a) ter

ligações formais com universidades e/ou outras instituições de investigação e desenvolvimento; (b) ser concebido de forma a encorajar a formação e crescimento de empresas baseadas em conhecimento avançado; e (c) ter uma gestão activamente empenhada na transferência de tecnologia ou um sistema (local) de inovação...” (MELO, J.G. e BAPTISTA, A.J. 2002:57).

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Citado em MELO, J.G. e BAPTISTA, A.J. (2002:57).

37 Ver para aprofundamento destes conceitos o Official Journal of the European Communities (C 186/52). 38

(laboratórios, instituições ligadas à I&D e empresas). No topo, encontram-se as instituições de transferência e aplicação do conhecimento, que se relacionam entre si num modelo de networking, ou seja de colaboração mútua. Estes sistemas suportam os processos de desenvolvimento tecnológico e de aprendizagem, na forma de projectos conjuntos em infra- estruturas, redes e acordos financeiros.

Ainda segundo esta abordagem, a capacidade de inovação de uma empresa está directamente relacionada com a capacidade de aprendizagem e/ou conhecimento da região que, por sua vez, depende da densidade e qualidade da rede de cooperação

(networking) que existe dentro da região (DEBRESSON, C. e AMESSE, F. 1991;

CAMAGNI, R. 1991; COOKE, P. e MORGAN, K. 1993)39.

Esta teoria que se enquadra melhor numa lógica de rede, apresenta uma disseminação territorial mais consistente. Isto é, a disseminação de sistemas regionais de inovação parece abranger todos os territórios, tendo como catalisador, a cooperação que se estabelece entre instituições, que poderão em alguns casos ter níveis de experiência diferentes. Estas últimas, com uma maior experiência na cooperação, poderão tentar trabalhar com outras, cuja competência não sendo menor, apresenta, no entanto, níveis

inferiores de networking. Este modelo teórico foi aplicado com bastante sucesso na política

Europeia, através dos Programas Regionais ‘Innovation and Technology Transfer

Strategies’ (RITTS), ‘Regional Technology Plans’ (RTP) e ‘Regional Innovation Strategies’ (RIS), coordenados pelo Directorate General REGIO da União Europeia. Aplicados a regiões diferentes (embora existissem territórios onde estavam a ser aplicados mais do que um programa), tinham objectivos comuns como a optimização das políticas de inovação regional e infra-estruturas. As suas estratégias e linhas de acção foram elaboradas com base na análise de cada sistema regional de inovação, incluindo as variáveis de gestão, financiamento, comércio, formação, bem como questões técnicas e organizacionais.

Este conjunto de programas deu origem à Network of Innovating Regions in Europe (IRE),

uma plataforma conjunta que funcionou como uma rede e que serviu para a colaboração e troca de experiências, com vista ao desenvolvimento de políticas regionais de inovação. Esta rede, aberta a todas as regiões europeias, incluindo as da Europa central, de Leste, bem como ao Chipre, facilitou o acesso a novas ferramentas e políticas para a promoção da inovação e criou um processo de aprendizagem inter-regional. Outro dos seus objectivos foi catapultar a inovação para o topo das preocupações das actuais políticas regionais.

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Desde 1994, mais de 100 regiões Europeias receberam apoio da Comissão Europeia para

a formulação de estratégias regionais de inovação através dos 3 Programas (RITTS, RTP e

RIS). Em 1994, foram lançadas 8 iniciativas do programa RTP em regiões de objectivo 1 e

2. Em 1997, houve mais 19 iniciativas do programa RIS e em 1999 ainda mais 20

iniciativas. No total, e contando também com os projectos do programa RIS+, a DG REGIO

lançou cerca de 60 iniciativas de apoio à inovação. Os primeiros projectos piloto foram lançados em 4 regiões do Norte da Europa, Leipzig-Halle-Dessau (Alemanha), Limburg (Holanda), Lorraine (França) e Gales (Reino Unido); um ano mais tarde, juntar-se-iam a estas, mais 4 regiões desfavorecidas, Abruzzo (Itália), Castilla e Leon (Espanha) e região Norte (Portugal).

A par das iniciativas do IRE, outros programas foram também utilizados, visando a difusão

da tecnologia e da inovação, no âmbito dos Quadros Comunitários de Apoio: foi o caso dos

programas SPRINT e VALUE, para o apoio à disseminação da tecnologia e dos programas

STRIDE e SME, para encorajar a I&D em regiões periféricas.

No conjunto dos vários programas, entre 2001 e 2002, foram lançadas 16 estratégias de inovação e 14 redes temáticas, congregando mais de 250 iniciativas em toda a Europa. Um número considerável de regiões beneficiou também da implementação de acções

específicas através do programa Innovative Actions do FEDER.

Fonte estatística: http://www.innovating-regions.org

A u to r: J o rg e F e rre ira ( 2 0 0 3 ) N 0 1000 KilometersKm

Figura 4. - Regiões abrangidas por iniciativas no âmbito da rede IRE, 2002.

As iniciativas levadas a cabo pela rede IRE baseavam-se num esquema operacional

sistema regional de inovação; (ii) definição do plano para o desenvolvimento tecnológico regional com a concertação dos agentes públicos e privados; (iii) organização do sistema de monitorização para uma avaliação contínua dos parâmetros de inovação a nível regional; (iv) troca de experiência e de boas práticas entre todas as regiões que estão envolvidas em iniciativas semelhantes.

Já em Agosto de 2003, a Comissão Europeia lançou a iniciativa “Regiões do

Conhecimento” (Regions of Knowledge), com um orçamento de 2,5 milhões de Euros só

para o primeiro ano. Esta iniciativa teve como objectivo apoiar projectos de inovação,

nomeadamente nas áreas do Knowhow, recursos humanos e outros factores de produção

intangíveis, considerados cruciais para o desenvolvimento das economias regionais. Segundo a Comissão Europeia, uma ‘região do conhecimento’ define-se como um território que possui um verdadeiro mercado interno com base na ciência e no conhecimento e que desempenha um papel fundamental na condução do crescimento económico. As suas

bases são estratégias de inovação regional, parcerias locais e clusters de empresas e de

investigação. Com mais esta iniciativa, a UE pretende dar continuidade aos programas anteriores nas áreas da inovação e do conhecimento apostando, mais uma vez, na troca de experiências e na contribuição do potencial de I&D das universidades. Pretende-se também que a Europa seja a economia do conhecimento mais competitiva em termos mundiais no ano de 2010, objectivo fixado no Conselho de Lisboa, em 2000. Para alcançar este desígnio é necessário aumentar a média comunitária de investimento em I&D, que se

situa actualmente em 1.9% do PIB para 3%40.

No documento Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (páginas 70-73)