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NOVO SINDICALISMO E SINDICALISMO DE MOVIMENTO SOCIAL

SINDICALISMO DOCENTE NO BRASIL

3.6. NOVO SINDICALISMO E SINDICALISMO DE MOVIMENTO SOCIAL

Como já enfatizado, o surgimento da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) é o marco que consagra a transição da organização do professorado brasileiro do mero associativismo ao sindicalismo. E assim configura-se o quadro da representação docente-sindical no país, na esfera do Ensino Básico.

Conforme apontado anteriormente, a entidade emergiu dos impulsos do Novo Sindicalismo e reafirmou o seu compromisso com este modelo ao filiar-se à central sindical que é a sua porta-voz, ou seja, a CUT. Isto é, assumiu-se como promotora do sindicalismo docente na perspectiva do Novo Sindicalismo.

Ao lado do ANDES-SN e da recente – e pouco expressiva – CONTEE (Confederação Nacional dos Trabalhadores nos Estabelecimentos de Ensino), restrita ao setor privado, a CNTE se apresenta como a principal entidade docente-sindical brasileira, tendo uma base social de cerca de 960 mil representados, além de ser a herdeira histórica das primeiras manifestações organizativas do professorado nacional. É filiada, regionalmente, à Confederação dos Educadores Americanos (CEA) e, internacionalmente, à Internacional da Educação (IE). Hoje, ela concentra 36 sindicatos estaduais filiados39. Através destes sindicatos a CNTE mostra sua força como representação nacional.

A CNTE expressa uma compreensão que congrega o trabalho da produção material e o trabalho docente, entendo-os respectivamente como trabalho manual e intelectual, tendo, todavia, a marca comum de serem realizados sob o comando do assalariamento. Assim sendo, entende-se que os professores são trabalhadores em educação e devem, no exercício das suas funções, assumir uma postura reflexivo- problematizadora, visto que “o papel do educador é colocar-se junto ao aluno, problematizando o mundo real e imaginário, contribuindo para que se possa compreendê-lo e reinventá-lo, crescendo e aprendendo junto com o aluno” (CNTE, 1997a:36), articulando isto com a “luta por um projeto histórico apropriado pela categoria dos trabalhadores da educação que se contraponha ao projeto neoliberal, gestado para dar conta das exigências criadas pela nova divisão internacional do trabalho” (CNTE, 1995: 23).

Com o surgimento de outros movimentos sociais e a crise dos sindicatos, que se verificou em muitos países ocidentais na segunda metade da década de 1970, começa a ser sentida a necessidade de outras formulações que dêem atenção a questões não focadas pelas Teorias Clássicas do Sindicalismo. Como conseqüência disso, desafios de natureza teórico-metodológica impõem-se aos estudos sobre sindicalismo. Desafios que são tanto maiores principalmente quando se considera que o terreno sob o qual se

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A Confederação conta com 36 entidades filiadas espalhadas por 26 Estados, 05 municípios e o Distrito Federal. São elas: SINTEAM (Amazonas); SINTER (Roraima); SINSEPEAP (Amapá); SINTEPP (Pará); SINTERO (Rondônia), SINTEAC (Acre); SINPROESEMMA (Maranhão); SINTE (Piauí); SINDIUTE e APEOC (Ceará); SINTE (Rio Grande do Norte); SINTEP (Paraíba), SINTEM (João Pessoa); SINTEPE (Pernambuco); SINPROJA (Jaboatão dos Guararapes);SINTEAL (Alagoas); SINTESE (Sergipe); SINDIPEMA (Aracaju); APLB (Bahia); SINTET (Tocantins); SINPRO (DF); SAE (DF); SINTEGO (Goiás); FETEMS (Mato Grosso do Sul); SINTEP (Mato Grosso); SIND-UTE (Minas Gerais); SINDIUPES (Espírito Santo); SEPE (Rio de Janeiro); AFUSE (São Paulo); APP (Paraná); SISMMAC (Curitiba); SINTE (Santa Catarina); CPERS (Rio Grande do Sul); APEOESP (São Paulo); SINPEEM (São Paulo) e SINTERG (Rio Grande - RS). (A CNTE. Disponível em www.cnte.org.br. Acesso em: 10 de janeiro de 2008).

ergueram os sindicatos, o terreno do Estado-nação, vive um processo de erosão na era do capitalismo hegemônico ou global.

Cabe indagar, por exemplo: “em que condições um sindicato escolherá uma certa alternativa em vez de outra?”. Como resposta poderia ser o seguinte: “falta ainda uma resposta a este problema teórico, mas o exame da evolução histórica do sindicalismo e a análise comparativa têm oferecido alguns elementos importantes”. Desta forma, “um primeiro ponto metodológico, que podemos considerar pacífico, é que o sindicato deve ser analisado no contexto da sociedade em que atua”. Isto é, de fato, “toda resposta àquele problema metodológico passa necessariamente pelo reconhecimento da influência dos diversos fatores e processos próprios da sociedade e do período histórico em que certo tipo de sindicalismo se desenvolve” (Regini apud Bobbio, 1993: 1156).

Neste caso, a tradição teórica do casal Webb e do norte-americano Perlman se fragilizam. Pois este último, por exemplo, isolava os fatores determinantes da ação sindical numa abstrata e universal psicologia operária. Também os limites do anarco- sindicalismo ficam evidenciados, na medida em que este “baseia-se numa visão esquemática da estrutura da sociedade”, acentuando um dualismo classista e se apoiando “numa visão simplificada e diminuída das instituições e das estruturas políticas” (Regini apud Bobbio, 1993:1151).

Por sua vez, muitos dos estudos marxistas – influenciados mais pela doutrina e menos pelo método – se, de forma pertinente, inserem o fenômeno sindical no contexto de uma sociedade dividida em classes, tendem, todavia, a conceber o conflito em diferentes temporalidades, sob as mesmas bases. Entretanto, “a observação nos tem mostrado que, na realidade, o conflito tem um andamento descontínuo e que o fenômeno sindical apresenta notáveis diferenças entre períodos históricos e países diversos” (Regini apud Bobbio, 1993: 1156). Além disso, a entrada em cena de outros movimentos sociais trouxe problemas para alguns pressupostos do marxismo, por exemplo, a classe operária foi deslocada da sua missão profética e perdeu o monopólio na condução de perspectivas utópicas.

Ao analisarem os movimentos sociais que passaram a ocorrer na Europa a partir dos anos de 1960, Touraine e outros “partiram para a criação de esquemas interpretativos que enfatizam a cultura, a ideologia, as lutas sociais cotidianas, a solidariedade entre as pessoas de um grupo e o processo de identidade criado”. Ou

seja, a abordagem é mais ampliada e não mais limitada à “ação coletiva apenas ao nível das estruturas, da ação das classes” (Gohn, 1996: 122).

Assim, o movimento sindical é redimensionado e emergem organizações sindicais que não têm raízes na esfera industrial. Momento em que se faz a distinção entre sindicatos da produção material e sindicatos da produção não-material (Nascimento, 1996). A primeira categorização serve para definir os sindicatos de base industrial e a segunda para caracterizar os que não se vinculam a esta. No caso do Brasil este fenômeno se desenvolveu sob o impulso do chamado Novo Sindicalismo, e daí, “professores, médicos, bancários, funcionários públicos, etc, fizeram-se presentes através de paralisações que exigiam reposição salarial e melhores condições de trabalho” (Antunes, 1991: 135-136).

Nisso, o sindicalismo docente, não vinculado à produção material, identifica-se com os Novos Movimentos Sociais e com isso novas manifestações emergiram no mundo do trabalho. Segundo Leite (2001) “após a emergência dos chamados Novos Movimentos Sociais (ecológico, feminista, homossexual, etc.), o movimento sindical tendeu a ser rotulado como um velho movimento social, dada a sua ligação a um determinado contexto histórico e ao caráter do seu programa reivindicativo, com acento, sobretudo, em questões econômicas” (Leite, 2001:34). Diferente do antigo sindicalismo, o sindicalismo de movimento social articula reivindicações sobre classe, etnia e gênero, e suas forças “são pequenas, mesmo marginais em alguns casos, mas elas falam com uma voz clara e oferecem idéias pertinentes para a época da globalização capitalista” (Moody, 1997:275). Fora dos países centrais, este autor considera o Novo Sindicalismo brasileiro como um exemplo de Sindicalismo de Movimento Social.

Uma das características do Sindicalismo de Movimento Social é o desenvolvimento de atividades em rede. Neste sentido, como forma de manifestação, Seattle40 é uma referência. Organizado horizontalmente ele choca-se com a estrutura do

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Em 30 de novembro de 1999 houve manifestações em dezenas de países e em dezenas de cidades dos Estados Unidos da América. Esse dia ficou marcado pelas manifestações de Seattle, que atingiram proporções tais que impediram a chegada de muitos delegados ao local da reunião da Organização Mundial do Comércio (OMC). Foi um dia que ficou na história pela repercussão que foi dada às cenas de violência e a mudanças nos discursos oficiais acerca da globalização. A batalha de Seattle, como ficou conhecida essa manifestação, deu origem ao Movimento Antiglobalização e ao 1º Fórum Social Mundial de Porto Alegre em 2002, que objetivou debater problemas sociais, econômicos,educacionais e propor saídas que atendam as expectativas e necessidades dos trabalhadores do mundo.

antigo sindicalismo. Situação parecida é a que Hardt (2002) aponta ao analisar o Fórum Social Mundial de Porto Alegre/2002. Pertinentemente, ele sugere que no interior do Fórum existem os movimentos em rede com uma outra perspectiva, de desenvolvimento de ações de caráter horizontal, como também se encontram os elementos de identificação com o Sindicalismo de Movimento Social.

Este sindicalismo não é apenas uma versão de “sindicalismo político”, segundo o qual os sindicatos apóiam um ou outro partido de esquerda. Ele também não tende às frentes liberais ou social-democratas, que concebem os sindicatos como “peças” em coalizões eleitorais. Na análise de Moody (1997:276), “no Sindicalismo de Movimento Social, os sindicatos e os seus membros não são passivos em nenhum sentido. Os sindicatos são líderes tanto nas manifestações de rua quanto nas questões políticas. Eles se aliam com outros movimentos sociais”. Neste sentido, este tipo de sindicalismo emergiu como uma alternativa de organização renovada no mundo do trabalho. Mas, diferente do velho sindicalismo, ele descentra-se da esfera produtiva e alia-se com outros movimentos sociais, articulando redes que, inclusive, ultrapassam o terreno onde tradicionalmente estiveram organizados os sindicatos, que é o terreno do Estado-nação.

É por conta disso que Moody (1997: 275) declara que, em tempos de mundialização, “a versão apropriada para a era da globalização é o Sindicalismo de Movimento Social”. E acrescenta que “se combinada com o retorno da militância e a expansão da consciência que ela torna possível, esta nova concepção de sindicalismo pode oferecer algumas respostas para a fragmentação de classe e para os dilemas políticos nos quais os sindicatos, em todo o mundo, encontram-se envolvidos” (Moody, 1997: 200).

As especificidades do sindicalismo docente fazem com que ele seja diferente do sindicalismo da produção material e tenha elementos próprios dos novos movimentos sociais, ou seja, ecológico, feminista, negro, homossexual, pacifista, etc.

A seguir, observa-se como aconteceu a estruturação do associativismo/sindicalismo docente em Portugal, para depois entender o mesmo fenômeno no Rio de Janeiro.

CAPÍTULO 4

ORIGEM E DESENVOLVIMENTO DO SINDICALISMO