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SINDICALISMO DOCENTE NO BRASIL

3.2. O SINDICALISMO DOCENTE NO BRASIL

Nóvoa afirma que os sindicatos de professores trabalham no ser igual. As associações de professores trabalham no ser diferente. Os sindicatos trabalham na construção de uma profissão docente única, desde os educadores de infância até aos professores do ensino superior, na consolidação de um código unificador da idiossincrasia dos professores, na afirmação da homogeneidade da profissão docente. As associações procuram, pelo contrário, reforçar a identidade própria de determinados grupos de professores (Nóvoa, 1990-1993).

Assim, a sindicalização dos professores significaria a plena homogeneização, quanto a posição e condição de classe, com os demais trabalhadores submetidos à exploração capitalista, que se realizaria, em conformidade com o percurso das lutas de classe (Hypólito, 1991). Momento em que o magistério estaria apto para protagonizar, enquanto sujeito da história, uma intervenção no cenário da sociedade civil capaz de promover radicais mudanças das relações estruturantes do campo educacional. A demora ou não-realização destas ações transformantes atribui-se a consequências da força alienante ainda interveniente das ideologias dominantes, presentes parcialmente no universo simbólico do professorado, apesar da realidade de sua “proletarização”.

Na delimitação da atuação do sindicalismo docente brasileiro, Monlevade (1992), enumera três etapas: Caixa de Resistência (1965-1980); Palco de Debates (1980-1987) e Produtor e Defensor de Propostas (1987-dias atuais). Esta delimitação quer significar que num primeiro momento ele resistiu à Ditadura Militar e às suas proibições contra a organização coletiva dos professores. Num segundo momento ele se caracterizou mais por uma postura de denúncia e de reivindicação e num terceiro momento, apresenta-se formulando e defendendo propostas.

Foi essa delimitação que deu base à formulação de “tipos ideais” 36 de inspiração no método compreensivo weberiano para as relações entre Estado e Sindicalismo Docente. Segundo Gadotti (2000) “as relações entre Estado e os sindicatos de trabalhadores em educação são muito dinâmicas, variam de conjuntura para conjuntura e dependem, sobretudo, do regime de governo. Há contudo possibilidade de montar alguns ‘ideais tipos’”(Gadotti, 2000:124). Quais sejam:

1º) Sindicalismo de Contestação (ou de Confronto Político) - Marcado principalmente pela oposição a uma situação vigente, este é um sindicalismo que se nega a participar de uma dada realidade, pois entende que as contradições existentes entre Estado e sindicato são de tal magnitude que torna impossível qualquer negociação. Não existem canais de diálogo nem áreas de tangência que justifiquem aproximações. Este tipo de sindicalismo revela na sua atuação um alto grau de dependência frente aos partidos políticos. O confronto com o Estado mostra a enorme dificuldade de diálogo entre essas instituições. Dificuldade essa que se acentuou durante a ditadura militar pelo

36 Segundo o método compreensivo da sociologia weberiana, chega-se a um “tipo ideal” de comportamento acentuando os elementos explicitados, encadeando os elementos isolados e difusos e ordenando-os segundo um ponto de vista (Cohn, 1979).

autoritarismo presente no regime. Uma simples assinatura num abaixo-assinado a ser entregue ao Secretário de Educação podia, naquela época, ser motivo de demissão, quando não de encarceramento. Os sindicatos, quando não eram proibidos de funcionar, viviam sob estrita tutela e controle do Estado, que os reprimia quando ameaçavam a sua hegemonia. Quando funcionavam, era sob vigilância. As ditaduras sempre hostilizaram o magistério e consideraram os professores como cidadãos de segunda categoria.

2º) Sindicalismo Reivindicativo - Outro modo de relação entre Estado e sindicato docente é do tipo reivindicativo, mais corporativo em suas relações com as autoridades. Enquanto o sindicalismo de confronto político tem uma conformação basicamente pelas liberdades políticas, o sindicalismo reivindicativo tem uma conformação mais economicista, característica essa predominante no sindicalismo chamado de “pelego”. Os sindicatos que atuam com essa orientação estão mais preocupados com as questões específicas da categoria. Nesse caso, eles não se sentem tão responsáveis pelos destinos do país, da educação e da qualidade do ensino: apresentam sistematicamente listagens de reivindicações da categoria e medem seu êxito pelo atendimento ou não a essas reivindicações. Em geral elas se resumem na melhoria salarial e na melhoria das condições de trabalho. Por isso, os sindicatos marcados por essa corrente sindical têm atuação mais intensa nos meses que precedem a data-base de reajustes salariais. A pauta quase única de mobilização é a “campanha salarial”. Quando abordam temas educacionais é porque eles afetam diretamente os salários dos docentes.

3º) Sindicalismo Autônomo (ou Crítico) - Não é nem o sindicalismo “pelego” – que, embora inexpressivo, também existe – e nem o sindicalismo de oposição sistemática ao Estado. Este sindicalismo mantém certa margem de independência, tanto diante dos partidos políticos quanto do Estado. Trata-se de um sindicalismo crítico, porque, mesmo não fazendo oposição sistemática ao Estado, confronta-se com ele, dialoga quando necessário, e está disposto a dividir a responsabilidade do enfrentamento dos desafios educacionais. Nesse sentido, além de contestar e reivindicar, é também propositivo. Mantém sua autonomia – não isolamento – tanto no diálogo sério e responsável quanto no conflito de interesses com o Estado e desenvolve a capacidade autônoma de negociação. O chamado “sindicato cidadão” é uma das expressões desse novo sindicalismo. As relações entre o poder público e os sindicatos de professores são dinâmicas, portanto não existem em “estado puro”. Estão em permanente evolução e

traduzem, na prática, certas concepções (correntes ou tendências) do sindicalismo. O que ocorre é que certos sindicatos se aproximam desta ou daquela tipologia, que pode variar segundo a conjuntura. Contudo, no período 1977-1996, as relações entre Estado e sindicalismo docente foram predominantemente tensas e conflituosas, preocupando cada vez mais não só os secretários de educação, mas também os dirigentes sindicais.

Contudo, essa periodização não dá conta de sustentar empiricamente a abordagem histórico-sociológica de todo o percurso do Associativismo/Sindicalismo Docente da Educação Básica no Brasil. Sendo assim, optou-se por adotar um novo percurso do sindicalismo docente em quatro períodos: 1901-1931, origem do associativismo docente; 1945-1964, expansão do associativismo docente; 1964-1989, repressão ao associativismo e transição ao sindicalismo; 1989 aos dias atuais, Novo Sindicalismo e Sindicalismo de Movimento Social. Vale ressaltar que, a maior parte da literatura (Moreira, 1990; Leite, 1996; Júnior, 1998; Andrade, 2001; Lugli, 2002; Vale, 2002) situa o início do associativismo nos idos dos anos de 1940.