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RELAÇÃO DO SINDICALISMO COM O ESTADO OU PERÍODO DE CONTROLE E SUBORDINAÇÃO (1930-1945).

PANORAMA HISTÓRICO E SOCIOLÓGICO DO SINDICALISMO BRASILEIRO

2.2. RELAÇÃO DO SINDICALISMO COM O ESTADO OU PERÍODO DE CONTROLE E SUBORDINAÇÃO (1930-1945).

Após a ascensão de Getúlio Vargas à Presidência da República, intensificaram- se os esforços no sentido de “trazer os sindicatos para dentro do Estado”. Uma das primeiras medidas adotadas por este governo foi a criação do Ministério do Trabalho, que recebeu a incumbência de estabelecer mecanismos que facilitassem o controle dos sindicatos pelo Estado e favorecesse a conciliação entre capital e trabalho (Carone, 19

Depois da ascensão de movimentos grevistas em 1931/32 e 1934/35 assiste-se às primeiras medidas de cooptação (a Lei de Férias de 1933 só permitia o gozo do direito ao trabalhador que fosse inscrito em sindicato reconhecido pelo MTIC). É nessa época em que nasce o "pelego", versão aprimorada do velho "krumiro" ou colaboracionista "amarelo". Pelego é uma palavra de origem gaúcha que significa a lã do carneiro usada para amortecer o contato da sela com o cavalo (Alem, 1991).

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Periodizar é um procedimento convencional utilizado pela historiografia, recorrendo-se aos acontecimentos para assinalar o início e o fim de fases históricas, como o demonstra a já conhecida periodização da história ocidental, isto é, Idade Antiga, Idade Moderna e Idade Contemporânea. Disso, depreende-se que não se pode estabelecer uma divisão estanque na temporalidade, tendo como decorrência, por exemplo, encerrar um período num ano e iniciar o outro apenas no ano seguinte – há uma interligação, até porque na periodização, o que se considera primeiro são os acontecimentos. Indo além da história tradicional, a história analítica preocupa-se, sobretudo, em discutir a constituição das componentes da periodização (Hobsbawm, 1998; Cardoso & Brignoli, 1981).

1991). É nesse contexto que se edita o Decreto nº 19.770, de 19 de março de 1931, de autoria de Joaquim Pimenta e Evaristo de Moraes, criando a chamada “Lei da Sindicalização” 21, inspirada na Carta Del Lavoro22da Itália fascista.

Esta Lei estabelecia, dentre outras determinações, o controle financeiro do Ministério do Trabalho sobre os recursos dos sindicatos, vedando a sua utilização pelos trabalhadores durante as greves; negava o direito de sindicalização aos funcionários públicos; vetava a filiação a organizações internacionais; verticalizava a estrutura sindical com a criação de federações e confederações e limitava a participação de trabalhadores estrangeiros nos sindicatos, visto que entre eles encontravam-se fortes focos de politização e de resistência (Carone, 1991; Fausto, 1995).

Em tom positivista, o então ministro do Trabalho, Lindolfo Collor, assim se anunciou na exposição de motivos da Lei Sindical:

O direito coletivo, ou o direito sindical, é o traço de união ou o termo de passagem entre o direito privado e o direito público (...) Guiados por essa doutrina, nós saímos fatalmente do empirismo individualista, desordenado e estéril, que começou a bater em retirada há quase meio século, para ingressarmos no mundo da cooperação social, em que as classes independem umas das outras e em que a idéia de progresso está subordinada à noção fundamental da ordem (Louzada, 1933:399).

O direito coletivo ou o direito sindical aludido, nessa perspectiva, serve de elo entre o direito privado e o direito público, ou seja, aplicação de meios de diminuir conflitos suscitados entre patrões, operários ou empregados.

Algumas tendências sindicais procuraram opor-se à subordinação e delinear um espaço próprio de atuação, foram elas: 1) a anarcossindicalista que, embora em decadência, conseguiu agrupar os seus segmentos na Federação Operária de São Paulo; a Socialista, que criou a Coligação dos Sindicatos Proletários, em 1934 e; a comunista,

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Cf. anexo 5. 22

Instrumento que organizou os sindicatos em estruturas corporativas, tendo como eixo central a conciliação entre capital e trabalho, com o Estado subordinando sindicatos. As corporações reuniam trabalhadores e patrões de todas as categorias que estavam empenhados na produção de um determinado produto, desde o seu estágio primitivo até à sua última fase de desenvolvimento.

que realizou a Convenção Nacional de Unidade dos Trabalhadores, em 1935, e criou a Confederação Sindical Unitária.

Com vistas a ampliar os horizontes de atuação sindical, os comunistas fundaram em março de 1935 a Aliança Nacional Libertadora (ANL), conforme recomendações do VII Congresso da Internacional Comunista. A ANL, que se definia como democrática e antiimperialista, assumiu a dimensão de um amplo movimento de massas, atingindo em poucos meses cerca de 400.000 membros. O governo reagiu com a edição da Lei de Segurança Nacional, que restringiu ainda mais a realização de greves e dissolveu a Confederação Sindical Unitária, apontada como clandestina por se constituir à margem da legislação oficial. Também não demorou muito tempo para que o governo declarasse a ilegalidade da ANL (Skidmore, 1998).

Na ilegalidade a ANL, sob a liderança de Luís Carlos Prestes, decidiu realizar um levante armado, numa tentativa que ficou conhecida como a Intentona Comunista de 1935. Sem o devido apoio popular tal iniciativa foi duramente derrotada pelas tropas do governo.

Após a Intentona Comunista, o país foi governado sob a decretação permanente do Estado de Emergência, que dava poderes extraordinários ao governo, no que veio a ser a preparação para o Golpe de Estado de 1937, instituindo o chamado Estado Novo. Foi dessa maneira que, “em 10 de novembro de 1937, os congressistas no Rio [antes de Brasília, a capital do Brasil era o Rio de Janeiro] chegaram ao edifício do Congresso e o encontrou cercado por tropas que lhes barravam o acesso. Naquela noite, Getúlio anunciou pelo rádio que o Brasil tinha uma nova Constituição, a qual ele denominou Estado Novo. O Brasil havia se tornado uma ditadura completa” (Skidmore, 1998:162).

A relação do sindicalismo com o Estado tornou-se mais subordinada. Como prova empírica disso, o governo editou mais um Decreto (1.402/39), instituindo o chamado “enquadramento sindical”. Isto é, para uma categoria de trabalhadores ser reconhecida como tal, teria que ser aprovada pela Comissão de Enquadramento Sindical, órgão vinculado ao Ministério do Trabalho. Também foi criado, sem qualquer debate com os trabalhadores, o Imposto Sindical, com o mesmo traduzindo-se no pagamento compulsório de um dia de trabalho por ano de todos os assalariados, sendo que os recursos daí oriundos não eram controlados pelos sindicatos, não podendo ser utilizados em momentos cruciais da vida sindical, como a organização de manifestações/mobilizações (Alem, 1991).

Desta maneira, o Imposto Sindical criou as condições financeiras para a formação de uma camada de sindicalistas sintonizados com o Ministério do Trabalho, reforçando as bases da relação que tornava os sindicatos organicamente dependentes do Estado. A este respeito, mais uma vez as palavras do Ministro Lindolfo Collor, na apresentação do Decreto que instituiu a “Lei de Sindicalização”, são ilustrativas: “Os sindicatos ou associações de classe serão os pára-choques destas tendências antagônicas. Os salários mínimos, os regimes e as horas de trabalho serão de sua prerrogativa imediata, sob as vistas cautelosas do Estado” (In: Antunes, 1979: 59). A partir daí “criou-se uma burocracia sindical dócil, vinculada e escolhida a dedo pelo Estado, cujo objetivo não era outro senão controlar as reivindicações operárias” (Antunes, 1979:62).

Com o reforço de recursos do Imposto Sindical, o governo atribuiu aos sindicatos um papel de prestadores de assistência social, fazendo com que ao mesmo tempo em que colaboravam com o Estado assumiam também um papel de substituição deste.

Para o governo era importante não só adotar mecanismos de controle dos sindicatos existentes, como também fomentar, através da ação dos seus tecnocratas, a formação de novas entidades sindicais, como destaca Skidmore (1998:166): “no decorrer da década de 1930, os tecnocratas do governo, liderados pelo advogado e filósofo Oliveira Viana, usaram seus poderes arbitrários para modelar uma rede de sindicatos oficialmente reconhecidos (organizados por ofício) em nível local”.

Este período, marcado pela relação do sindicalismo com o Estado, mostra que foi durante a Era Vargas que se estabeleceu uma legislação trabalhista organicamente sistematizada no Brasil e, como conseqüência da mesma, rejeitou-se a existência de sindicatos autônomos.