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ORIGEM DO ASSOCIATIVISMO DOCENTE NO BRASIL (1901-1931)

SINDICALISMO DOCENTE NO BRASIL

3.3. ORIGEM DO ASSOCIATIVISMO DOCENTE NO BRASIL (1901-1931)

A primeira associação de professores públicos no Brasil que se tem notícia é a Associação Beneficente do Professorado Público de São Paulo (ABPPSP), fundada em 27 de janeiro de 1901. Essa associação se propunha a reunir professores do ensino público para proporcionar benefícios aos seus membros, como prestação de serviços de saúde, assistência financeira em caso de moléstia, invalidez ou necessidade momentânea, assistência jurídica e manter o aprimoramento moral e intelectual do professorado paulista (Catani, 1989; Silva, 2004; Cruz, 2008).

Antes deste período e desta organização existiram intenções de fundar uma agremiação de congregasse os professores e as professoras de São Paulo, tal foi a declaração do Inspetor Geral, professor Emílio Mario de Arantes, na Revista de Ensino da Associação Beneficente do Professorado Público de São Paulo, em 1902. Porém, o desejo de organizar o campo educacional com participação dos professores não prosperou antes de 1901. O espaço ficou restrito a existência de publicações de caráter lítero-padagógicas, como por exemplo, o periódico “A Instrução Popular” do Instituto Pedagógico Paulista, de 1895. O objetivo deste Intituto centrava-se na difusão do conhecimento, contudo, não há registro de continuidade desta iniciativa (Cruz, 2008).

Mais tarde, em 19 de março de 1930, surge também em São Paulo o Centro do Professorado Paulista (CPP) como organização de classe, sem fins lucrativos e incorpora o patrimônio da Associação Beneficente do Professorado Público, que foi extinta naquela data. Esta entidade teve como objetivos: a) acompanhar a vida funcional de seus associados para garantir que os seus direitos não fossem violados; b) realizar atividades recreativas (bailes, excursões, etc). Estes objetivos foram responsáveis pela criação de dois departamentos na instituição: Departamento de Assistência Médica e Jurídica e Departamento de Turismo e Colônia de Férias.

Uma característica marcante dessa organização dos professores foi a existência de dois longos mandatos de dirigentes: o primeiro foi seu fundador, o professor normalista Sud Mennuci, que dirigiu a entidade até sua morte em 1948, permanecendo por longos 18 anos. Depois de um vácuo de poder no Centro, o segundo dirigente a assumí-lo foi o também professor normalista, Sólon Borges dos Reis, em 1956, que somente deixou o cargo em 1997, permancendo por longos 40 anos. Este último constituiu-se num líder populista e garantiu um crescimento patrimonial para a entidade com inúmeras sedes regionais e uma imponente sede central. Tanto é que nos anos 70 o CPP é a segunda maior associação docente da América Latina. Contudo, após as greves do magistério de 1978 e 1979 e o surgimento da APEOESP (Associação dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo) ele começa a perder força e expressão como representante dos professores de São Paulo, pois o “novo sindicalismo” fazia crítica ao sindicalismo corporativo que vigorava no país até então. O professor Sólon foi deputado estadual por cinco mandatos e deputado federal por outros dois, sendo inclusive deputado constituinte em 1988.

O professor David José Perez ajudou a fundar, junto com outros professores, a Confederação do Professorado Brasileiro (CPB)37 em 1926, que reunia professores do ensino secundário e tinha caráter anarquista. A CPB se amparava na organização mutualista, conforme o seu objetivo central:“nosso fim é o de proporcionar a união da classe, amparar a família do associado por meio de um pecúlio e, quando necessário, auxiliar o consórcio por intermédio da nossa caixa de empréstimos” (Almanaque do Ensino apud Coelho, 1988:22). A sede da CPB, na Rua do Rosário, Centro do Rio de Janeiro, serviu inclusive para que professores particulares preparassem alunos para os exames de admissão ao Colégio Pedro II, ao Colégio e Escola Militar, aos vestibulares,

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Não confundir esta CPB com a CPB (Confederação dos Professores do Brasil) que surge em 1973 em São Paulo.

etc. A associação foi extinta em 1931 com o surgimento do Sindicato dos Trabalhadores do Ensino do Rio de Janeiro, por inciativa do movimento anarcossindicalista e em oposição ao sindicalismo oficial do governo de Getúlio Vargas. Porém, em novembro do mesmo ano ele deixa de funcionar, pois seus membros decidiram compor com aquele modelo de sindicalismo.

Outro movimento que se inclui no marco do associativismo dos professores é o Centro do Professorado Primário de Pernambuco (CPPP), que nasceu como associação do professorado primário em 1929, por iniciativa da professora Maria Elisa Viegas de Medeiros, sua primeira presidente e também foi parte da “elite pedagógica” da época. Naquele ano, a referida professora também era diretora de Grupo Escolar e iniciava estudos sobre ruralismo, pioneiros no estado (Lugli, 2002).

Em função do interesse por essa área, a professora Viegas manteve contato com o professor Sud Menucci, que era expoente desse movimento educativo e se tornou o primeiro presidente do CPP de São Paulo. O professor Menucci sugeriu que a professora fundasse a Associação de Professores Primários de Pernambuco (Jornal do Professor, nº 47-48, fev/mar 1961). A Associação somente obteve o seu registro legal em 1951 e suas atividades ganharam impulso após 1955, justamente no período que a professora Maria Elisa Viegas foi eleita deputada estadual.

Outro movimento associativo de professores da primeira república foi a Associação das Professoras Primárias de Minas Gerais (APPMG), que iniciou suas atividades em 27 de agosto de 1931 com o objetivo de prestar “amparo material e moral” às professoras primárias daquele estado. A entidade foi dirigida por professoras integrantes da “alta aristocracia do ensino” até o final da década de 1960. Essa “elite pedagógica” caracterizava-se pela freqüência ao Curso de especialização e aperfeiçoamento em administração escolar do Instituto de Educação, ministrado desde a década de 1930. Em 1969 este curso deu origem à faculdade de Pedagogia de Minas Gerais (Lugli, 2002).

O poder de barganha e incentivo da associação era tal, que na cerimônia de posse da primeira diretoria encontrava-se o Inspetor Geral de Instrução Pública, Sr. Carlos de Campos, tendo cedido um local para o funcionamento da entidade. A impossibilidade de contar com sócias do interior do estado, por causa da dificuldade de pagamento das mensalidades, retardou a conquista de uma sede própria, que só veio a ocorrer em 1937. Um dos principais serviços da associação era a concessão de empréstimos financeiros às suas sócias. Também eram oferecidos descontos em

cinemas, passagens, assistência médica, cursos de línguas e de atualização cultural e pedagógica (Lugli, 2002).

Em 1940 a organização associativa alcançou a cifra de mil associadas, dentre as quais 685 eram consideradas efetivas. No ano de 1944, a APPMG passa a reivindicar aumentos salariais, discutir a carreira das professoras e a pronunciar-se sobre as iniciativas do governo estadual na área de educação. As dificuldades financeiras da categoria e os sucessivos atrasos de pagamento fizeram com que as professoras realizassem campanhas salariais nos anos de 1944, 1945, 1947 e 1948.

O quadro 01 abaixo ilustra a localidade e a data do surgimento dessas primeiras associações de professores da educação básica no Brasil.

QUADRO 01- Quadro do Associativismo Docente da Educação Básica no Brasil, 1901-1931.

Fonte: Coelho, 1988; Catani, 1989; Lugli, 2002; Ilíada, 2004; Cruz, 2008.

As associações mutualistas da primeira república apresentaram características comuns, tanto em sua existência quanto em sua atuação: 1) mantiveram um forte vínculo mutualista; 2) seus dirigentes ou se vincularam a mandatos eletivos ou atrelaram estes a existência e manutenção da associação; 3) evitaram contratações ou remoções de professores feitas por “pistolões”, ou seja, indicações de mandatários locais ou coronéis e; 4) sofreram perda de representatividade entre os docentes a partir da década de 1970, por conta do crescimento das tendências políticas de esquerda no cenário político brasileiro. Outra observação do movimento mutualista do período de 1901 a 1931 é a representatividade em estados pioneiros do sindicalismo docente da educação básica (RJ, SP, MG e PE).

Grande parte destas características serve também para as associações que surgiram após a década de 1940, é o que se verifica no tópico seguinte.

ORGANIZAÇÃO UF SIGLA ANO DE

FUNDAÇÃO Associação Beneficente do Professorado Público de

São Paulo

SP ABPPSP 1901

Confederação do Professorado Brasileiro RJ CPB 1926

Centro do Professorado Primário de Pernambuco PE CPPP 1929

Centro do Professorado Paulista SP CPP 1930