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O Brasil como objeto socio-politico-economico investigado

PRESSUPOSTOS PARA UMA ANÁLISE DIMENSIONAL DA EDUCAÇÃO EM PRISÕES

1.4 O Brasil como objeto socio-politico-economico investigado

Os estudos dimensionais, em decorrência de sua natureza total, crítica, dialética e interdisciplinar, demandam do pesquisador a máxima verticalidade possível na abordagem de seus objetos, de maneira a reduzir a ocorrência de variáveis ao tempo em que contempla os diferentes aspectos de tal objeto.

A verticalidade ou aprofundamento necessários somente se tornam viáveis quando se procede a delimitação espaço-temporal da investigação, assim, no caso da educação em prisões aqui trabalhada, tomei o contexto brasileiro nestes primeiros anos de século XXI como recorte.

Essa opção não se deu por acaso. Considerando que a perspectiva de totalidade aqui empregada, como fora citado nos itens anteriores, se atrela a teoria crítica marxista, para a qual um estudo total não se resume ao estudo de todas as partes, incluindo também o estudo das conexões entre teoria e experiência, entre forma e substancia, o objeto educação em prisões haveria necessariamente de ser abordado teoricamente (o que faço a partir dos pressupostos da criminologia crítica), e materialmente (o que faço situando a discussão teórica a partir da experiência brasileira).

Mas porque essa temporalidade no início do atual século?

Deixando de lado as justificativas de ordem acadêmica, que foram abordadas nas primeiras linhas desse trabalho e o serão novamente em capítulo específico, creio que se vive no Brasil, nestes primeiros anos de século, um momento de certas coincidências entre os argumentos criminológicos críticos e a realidade sócio- política-economica que circunda as questões penais e a educação em prisões, e que, por sua vez, revelam a atualidade do pensamento crítico.

Tal impressão decorre da verificação de que, tal como defenderam Rusche e Kirchheimer (1999), há no Brasil de hoje uma nítida aproximação entre punição e estrutura econômica, cujas razões tive a oportunidade de apresentar no texto

Punição e Desenvolvimento no Brasil do Século XXI, de 2013, e as quais reproduzo

em síntese, nas linhas seguintes.

Muitos foram os autores que buscaram nas reflexões criminológicas críticas as bases para seus estudos, contudo, dois deles se haviam ocupado destas questões desde a década de 30, tendo como foco de suas investigações a relação entre castigo e marginalização criminal como necessidade do sistema capitalista, Georg Rusche e Otto Kirchheimer (ANITUA, 2008, p.619).

Estrutura Social”, publicada em 1939, Rusche e Kirchheimer apresentaram suas teorias sobre a influência das necessidades do modo de produção no sistema de aplicação de punições, introduzindo assim, um enfoque materialista ou político- economico de estudo das questões criminais, em oposição ao enfoque idealista das tradicionais teorias da pena. Para os autores, a pena não era nem uma simples consequência do delito, nem o seu oposto, nem um meio para se chegar aos fins de defesa social. Ao contrário, a pena seria um fenômeno social independente dos conceitos jurídicos fixados pelas teorias da pena e dos fins almejados. Por isso, defenderam que a pena em abstrato não existe, mas sim sistemas punitivos concretos determinados por práticas político-econômicas (RUSCHE e KIRCHHEIMER, 1999, p.16).

A partir de uma sólida análise histórica das formas de punição, Rusche e Kirchheimer evidenciaram os pontos de intersecção entre estas, e as diferentes estruturas socioeconômicas na passagem da Idade Média para as Idades Moderna e Contemporânea.

Isto posto, se na Baixa Idade Média a ausência de um poder central fortalecido e a prosperidade dos feudos fez com que o sistema criminal se limitasse a regular as relações entre os iguais em status social e bens, de maneira que indenizações e fianças, calculadas a partir da capacidade de pagamento do infrator, eram impostas para que se evitasse as vinganças privadas quando das ofensas às tradições, a moral vigente ou a religião, na Alta Idade Média, diante da progressiva piora das condições de vida das classes subalternas acarretada pelo crescimento da população urbana e conseqüente aumento de desempregados, as penas corporais começaram a ser aplicadas quando da incapacidade em adimplir as penas pecuniárias. Assim, quanto mais empobrecidas ficavam as massas, mais duros eram os castigos, e as penas corporais tornaram-se a forma regular de punição, ou, conforme explicam os autores, todo o sistema penal do final da idade media deixa claro que não havia escassez de força de trabalho, e como o valor da mão de obra diminuiu, a valorização da vida humana tornou-se cada vez menor (RUSCHE e KIRCHHEIMER, 1999, p.21 – 38).

Por sua vez, durante os séculos XVI e XVII, a pobreza se estende por toda a Europa e as reações penais experimentadas contra os desafortunados, até então conhecidas, revelam-se cada vez mais falhas. A sociedade é tomada por um número cada vez maior de hereges, mendigos e criminosos e como eram demasiados para

serem todos enforcados ou condenados à morte, iniciou-se um movimento de transcendência no desenvolvimento das penas privativas de liberdade e na construção de locais organizados para a correção de apenados. Ao mesmo tempo, a Europa vivia os primórdios da expansão dos mercados consumidores e do sistema mercantilista, o que apontava para a necessidade de ampliação da oferta de mão de obra.

Nesse contexto, afirmam Rusche e Kirchheimer (1999, p.39) que a possibilidade de explorar o trabalho de prisioneiros passou a receber mais atenção, pelo que outras formas de punição foram introduzidas, como a escravidão nas galés, a deportação, a servidão penal através de trabalhos forçados e as casas de correção e trabalho. Essas mudanças não advieram apenas das considerações humanitárias defendidas pelos ilustrados como Rousseau, Locke e Beccaria, mas de um certo desenvolvimento econômico que revelava o valor potencial de uma massa de material humano completamente à disposição das autoridades.

Caminhando na história, tem-se que, o capitalismo industrial do final do século XVIII começa a operar uma nova transformação no sistema de punições, pois, se as casas de correção foram criadas num momento em que o mercado de trabalho era favorável às classes subalternas, agora, a demanda por trabalhadores já fora satisfeita, produzindo-se um excedente de mão de obra, que impõe aos setores dominantes a necessidade de novos mecanismos de controle. Daí que, a partir de então, o cárcere torna-se a principal forma de punição no mundo ocidental, por constituir-se o instrumento estratégico dos mecanismos de poder, criando a delinquência como limite do intolerável e afirmação dos valores da sociedade capitalista16.

Como se percebe, o ponto central da tese gira em torno da ideia de que todo sistema de produção tem uma tendência a descobrir e utilizar sistemas punitivos que correspondem as suas próprias relações de produção, e nesse sentido, na sociedade capitalista, o vínculo entre o sistema de punições e o sistema de produção se daria pelo mercado de trabalho.

A relação se apresentaria da seguinte maneira: o número da população carcerária e de indivíduos criminalizados e o tipo de tratamento dispensado a eles (mais ou menos rigoroso) no interior das prisões ou fora dela, dependeriam do

16 Sobre a utilização da pena de prisão como instrumento de transição entre a sociedade disciplinar

aumento ou da diminuição da mão de obra disponível no mercado de trabalho e das necessidades que o sistema de produção tiver dessa mão de obra. Em períodos de aumento de mão de obra, ou seja, abundância no número de sujeitos aptos ao trabalho, a política criminal se revestia de formas inflexíveis, intolerantes e excessivamente repressivas; por outro lado, durante épocas de crescimento da demanda e escassez de mão de obra, a política criminal orientava-se no sentido de preservar a força de trabalho dos infratores. O mercado de trabalho, portanto, atuaria fixando o valor social das pessoas, que seriam criminalizadas quando houvesse excesso de mão de obra, e preservadas no caso contrário.

Por outro lado, o mercado de trabalho também funcionaria como elemento dosador na aplicação das penas, a partir do que os autores chamariam de less

eligibility, ou, “lei da menor elegibilidade”, pela qual as condições de existência na vida carcerária ou no mundo do crime deveriam ser sempre piores do que as circunstâncias de vida na sociedade livre, assim, havendo abundância de trabalhadores aptos e número reduzido de postos de trabalho, as condições de vida seriam depreciadas e consequentemente o tratamento dispensado a criminalidade tornar-se-ia mais rigoroso.

Tem-se ainda que, para Rusche e Kirchheimer, o mercado de trabalho atuaria também como forma padrão para a disciplina dos internos nas prisões, sendo que o castigo desempenharia uma função positiva na constituição da força de trabalho, já que a ideia presente no cárcere é a de criar nos presos atitudes e comportamentos propícios ao trabalho e introduzi-los na disciplina fabril (MELOSSI e PAVARINI, 2006, p.211 – 233). Por tudo isso, como explica Baratta (1999, p.189), o mercado de trabalho não seria uma instituição apenas econômica, mas também política, uma vez que produz a marginalização social sob a cobertura ideológica do pleno emprego, de forma que a acumulação capitalista, com seus mecanismos de renda e parasitismo, necessita de setores marginais ao sistema, alimentando-se permanentemente da exclusão social de determinados segmentos.

Nesse sentido, as contribuições que se pode verificar da teoria de Rusche e Kirchheimer dizem respeito a um novo método de interpretação dos sistemas de punição, a partir das reais funções que estes cumprem em determinados contextos político-econômicos, e de sua estreita relação com as necessidades do sistema de produção, notadamente, advindas do mercado de trabalho.

economia mundial, tanto nos países de centro, como nos países da periferia, contudo, a entrada no século XXI desvelou que tal cenário não se revelou apto a superar as graves disparidades sociais entre os países, e dentro deles, de forma que, a história recente fez prova de que o crescimento econômico não é suficiente para o desenvolvimento, tomado como um conjunto de progressos simultâneos, também nas dimensões social, cultural, e política (SACHS, 2003, p.63).

De fato, as discussões levadas a efeito no atual ciclo das grandes Conferências Mundiais das Nações Unidas iniciado na década de 90, conforme ensina Cançado Trindade (1999, p.262), somadas a evidente deterioração das condições de vida de um número cada vez maior de pessoas ao redor do mundo, parece ter feito surgir um consenso em torno da necessidade de se colocar o ser humano – e sua existência digna – no centro das preocupações da economia, não como mero agente de produção, mas como fim último. O próprio exercício de análise das transformações que se operaram nos indicadores de desenvolvimento utilizados pelos organismos internacionais, do PIB (Produto Interno Bruto) como quantitativo de geração de riquezas a partir dos anos 50 para o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) como medida de redistribuição e inclusão social a partir dos anos 90, ainda que não permita uma visão integral do progresso das sociedades, como sugerem Feitosa e Silva (2012, p.329), revelam, ao menos na teoria, o caráter multidimensional a partir do qual a noção de desenvolvimento vem sendo compreendida.

Não obstante, na prática, a chegada do novo século revelou ao mundo, ainda, a instrumentalização do homem frente ao capital, o triunfo das práticas neoliberalistas, da globalização hegemônica e do predomínio do Estado capitalista, pois ao contrário do que possa parecer, o desenrolar da crise no final da primeira década apenas evidenciou o que Avelãs Nuñes (2012, p.7) chamou de “ditadura do grande capital financeiro”, na qual os Estados se ocupam em fazer tudo o que for necessário para a manutenção das estruturas de poder econômico, político, ideológico, e sua natureza classista – prestando fiança aos especuladores –em detrimento do Estado Social e às custas do sacrifício das igualdades de oportunidade.

Como explica Dupas (2006, p.144), a globalização neoliberal transformou-se então no regime planetário único, fazendo perder de vista o mito keynesiano do capitalismo racional que aliaria um virtuoso crescimento econômico baseado no

fordismo e no taylorismo com a intervenção estratégica do Estado garantindo uma infra-estrutura básica de benefícios à população. Com efeito, o Estado Garantidor que, durante a crise, socorreu os especuladores de sua própria irresponsabilidade liberal, pôs o povo trabalhador para pagar as contas (AVELÃS NUÑES, 2012, p.48).

Porém, a crise que evidenciou o Estado Garantidor nos países de centro não

teve o mesmo impacto nos chamados países emergentes17, dentre os quais o Brasil,

que conseguiu mudar sua dinâmica de desenvolvimento apresentando resultados extremamente favoráveis no âmbito macroeconômico, com relativo avanço no campo social. Utilizando-se de uma estratégia chamada por muitos de “novo desenvolvimentismo” – em alusão ao modelo urbano-industrial de crescimento econômico adotado no período pós-guerra e que teve no Estado o grande incentivador da industria nacional – o país freou, em parte, a pressão imposta pelo mercado internacional e pelas agências multilaterais (FMI, Banco Mundial, e outros), impondo um Estado fortalecido nos campos político, regulatório e administrativo (MATTEI, 2012, p.35).

Assim, na dimensão econômica, como ações dessa nova perspectiva de desenvolvimento, pode-se destacar as medidas de protecionismo da industria nacional como forma de estimular a competitividade desta no comércio interno e externo (a exemplo da redução do IPI para a produção de veículos automotores e a sobretaxa dos veículos importados), a adoção de um controle inflacionário a partir da fixação de metas anuais a partir do ano de 1999, a adoção de um regime cambial flutuante administrado pelo Banco Central com fins de evitar a volatividade excessiva da moeda, o controle da taxa de juros, políticas de crédito aos setores produtivos e a população como forma de estimular o consumo interno (como a criação do Programa de Sustentação do Investimento em 2009, nova linha de crédito do BNDES para financiar bens de capital e investimentos em tecnologia), desoneração tributária (redução do Imposto sobre Operações Financeiras- IOF para o crédito de pessoa física), diminuição da dívida do setor público, geração de superávit primário impulsionada pela acentuação no preço das commodities, dentre outras

Segundo dados do Banco Central, divulgados no relatório Economia Brasileira em Perspectiva (fevereiro de 2012), a dívida do setor público caiu de 60,4% do PIB em 2002 para 35,7% em 2010, o saldo total das operações de crédito cresceu de

17 Dados do Fundo Monetário Internacional referentes ao mês de abril de 2012 demonstram que o

418 bilhões em 2003 para 2.070 bilhões em 2012, a taxa nominal de juros passou de 25% ao ano em 2002, para 10,5% em 2012, a inflação medida pelo IPCA passou de 8,94% em 1999 para 6,5% em 2011, as exportações no país aumentaram de 60 bilhões em 2002 para 256 bilhões em 2011, a média de crescimento do PIB passou de 1,7% no quinquênio 1998/2002, para 4,6% no quadriênio 2007/2010, chegando ao montante de 2,6 trilhões de dólares em 2012, elevando o país à posição de 6ª maior economia mundial. Por tudo isso, gerou-se no Brasil nos primeiros anos do século XXI um ambiente macroeconômico mais confiável, tornando o país um dos centros de investimentos mundiais neste período de crise18.

Paralelamente, tal desempenho econômico possibilitou que, na dimensão social, tenha se verificado a tentativa de implementação de um conjunto de políticas públicas distributivas, sobretudo mediante programas de transferência de renda e valorização do salário mínimo a longo prazo.

Através do programa Bolsa Família o Governo Federal passou de cerca de 4 bilhões de investimento em 2004, para 17 bilhões em 2011, alcançando 13,3 milhões de famílias beneficiadas; o salário mínimo, em termos absolutos, passou de R$ 340,00 em 2001 para R$ 622,00 em 2012, o que representa uma valorização positiva de 66%; a taxa de desocupação da população economicamente ativa que era de 10,5% em 2002, caiu para 4,7% no ano de 2011; a proporção de pessoas ocupadas com carteira assinada em relação ao contingente de população empregada passou de 45,5% em 2002 para 53,6% em 2011, o que demonstra certo grau de formalização do mercado de trabalho; verifica-se ainda que em relação à geração de postos de trabalho formal, tem-se que entre os anos de 2003 e 2011 foram criados cerca de 17,3 milhões de empregos no Brasil.19

Notadamente, esses resultados também provocaram efeitos positivos sobre a questão da concentração de renda. Segundo dados do IBGE, relativos a Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios – PNAD, de 2001 a 2009, a taxa de crescimento da renda domiciliar per capta dos 10% de brasileiros mais pobres foi de 7,2%, enquanto, em relação aos 10% mais ricos, o crescimento no mesmo período, foi de

18 Segundo dados da S&P (Standard & Poors), uma das agências de consultoria financeira de maior

visibilidade no mundo, a classificação de risco do Brasil passou de B+ (grau especulativo) em 2002, para BBB (grau de investimento) em 2011.

19 MINISTERIO DA FAZENDA. Economia Brasileira em Perspectiva. Fevereiro/2012. Disponível em

apenas 1,4%. Por sua vez, a taxa de pobreza caiu de 26,7% em 2002 para 12,8% em 2012. Tal situação contribui para que se verificasse na primeira década do século XXI um aumento expressivo no quantitativo da classe média nacional, que passou de 67,5 milhões de pessoas em 2002 para 95 milhões em 2009, o que corresponde a um total de 50% da população brasileira.

Outros setores sociais também apresentaram certo grau de evolução nos primeiros anos do novo século. Segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Social Aplicada – IPEA, o total de gastos sociais federais – que contempla ações nas áreas da previdência social, saúde, habitação, saneamento básico, trabalho, educação, desenvolvimento agrário e cultura – passou de 306,8 bilhões no ano 2000 (o que corresponde a 12,56% do PIB) para 638,5 bilhões em 2010 (15,54% do PIB)20.

No que tange à educação, segundo dados do Ministério da Educação, verifica-se uma ênfase nas políticas públicas de acesso ao ensino técnico e superior (através de programas como FIES, PROUNI, REUNI e criação de novas vagas nos Institutos Federais de Tecnologia), de maneira que o número de matrículas no ensino profissionalizante passou de 565 mil em 2002 para 924 em 2012, enquanto que o número de vagas oferecidas nas Instituições de Ensino Superior cresceu de 124 mil para 248 mil no mesmo período. No que diz respeito a pós-graduação, o número de bolsas de mestrado e doutorado concedidas pela CAPES e CNPQ passou de 35 mil em 2002 para 74 mil em 2010, sendo que no mesmo período, o número de títulos de mestrado e doutorado concedidos passou respectivamente de 23.445 e 6.894 para 41.396 para 13.304.

Quanto à saúde, dados da Organização Mundial da Saúde revelam que no ano 2000 o investimento do governo brasileiro era de 4,1% de seu orçamento total (o que representa um montante de 22,7 bilhões), passando a 5,9% em 2010 (67,4 bilhões), e chegando a um orçamento de 91,7 bilhões em 2012. Na mesma década, o Brasil triplicou o gasto anual em saúde por habitante, passando de US$ 107,00 em 2000, para US$ 320,00 em 201021. No setor habitacional, o montante dos

20 IPEA. Gasto Social Federal: prioridade macroeconômica no período 1995 – 2010. Disponível em

www.ipea.gov.br

21 WORLD HEALTH ORGANIZATION. World Health Statistics 2011. Disponível em

financiamentos oriundos da Caixa Econômica Federal passou de 4,55 bilhões em 2001 para 49,74 bilhões em 2009, o que corresponde a um acréscimo real no número de unidades habitacionais financiadas, de 267.712 em 2001 para 1.047.037 ao final do ano de 200922. Já no que diz respeito ao saneamento básico, segundo

dados do IBGE, a proporção de domicílios com acesso a rede de esgoto passou de 33,5% em 2000 para 45,7% em 2008, sendo que, no que concerne à coleta seletiva, o índice passou de 8,2% para 17,9% no mesmo período23.

Contudo, apesar dos dados apresentarem certos avanços nesta primeira década do século XXI, o Brasil ainda possui um imenso déficit social inalterado, que o faz ocupar a octogésima quarta24 posição no ranking do Índice de

Desenvolvimento Humano da ONU.

Conforme ensina Barbosa (2011, p.11) o fato de a estrutura produtiva manter- se vinculada ao setor de commodities baseado no uso intensivo de recursos naturais, faz com que o país não consiga avançar de maneira consistente na área tecnológica, e assim, a inserção comercial do país aponta, neste sentido, para uma