• Nenhum resultado encontrado

Sobre as noções de dimensão, totalidade, crítica e dialética

PRESSUPOSTOS PARA UMA ANÁLISE DIMENSIONAL DA EDUCAÇÃO EM PRISÕES

1.2 Sobre as noções de dimensão, totalidade, crítica e dialética

A idéia de dimensão vem sendo utilizada na seara das ciências sociais para denotar os múltiplos significados a partir dos quais um objeto cognoscente pode ser considerado. Um estudo dito dimensional implica, portanto, numa análise de totalidade, de maneira que todas as dimensões possíveis de serem identificadas hão ser consideradas e avaliadas como partes indissociáveis que coexistem num mesmo espaço e numa mesma temporalidade. Daí que as dimensões são sempre complementares, mas nunca excludentes.

Explica Kosik (2011, p.41) que a totalidade compreende a realidade de maneira intima, compreende tanto a estética, a forma, as representações, quanto as

causas dos fenômenos, suas conexões internas, a essência das partes e a essência do todo.

Tomar determinado objeto a partir de uma perspectiva de totalidade significa conhecer cada uma de suas partes integrantes, não de maneira isolada, mas nas suas relações de reciprocidade, pois a fragmentação ou a desarticulação do todo implica na impossibilidade de captá-lo ontologicamente (CARVALHO, 2007, p.181). O estudo reducionista de algumas regiões do todo elimina a validade dos resultados, pois não é nem conhecimento das partes, nem conhecimento do conjunto.

O homem pode captar o conhecimento a partir de três níveis diferentes: o nível sensorial, o nível conceitual e o nível holístico. O primeiro, dito sensorial, consiste na captação de um objeto por meio dos sentidos. O segundo, chamado conceitual, consiste nas representações invisíveis, imateriais e abstratas que o homem faz da realidade. Finalmente, o nível holístico é aquele em que os objetos são captados dentro de seu contexto mais amplo, sem delimitações e de maneira relacional em função dos elementos que os compõem (GONZÁLEZ, 2007, p.341).

A holística e a totalidade representam uma oportunidade de transcender à fragmentação e aos reducionismos do conhecimento, na medida em que permitem realizar compreensões a partir das interações e contraposições entre as partes que formam o conjunto do objeto a ser conhecido. A totalidade se refere a uma maneira de ver as coisas em suas complexidades, e possibilita a identificação de resultados que normalmente não são acessíveis quando as partes são estudadas isoladamente.

Para os estudos dimensionais não basta qualquer totalidade, não basta a totalidade estática e formalista do mundo das idéias, pois, como ensinou Karel Kosík em sua Dialética do Concreto (2011, p.13), o conhecimento de uma realidade e seus objetos não se apresenta ao homem de maneira abstrata, teórica ou metafísica, uma vez que o homem não existe “fora do mundo e apartado do mundo”, mas ao contrário, o conhecimento da realidade é obra da práxis humana, pois é na prática, nas suas relações concretas com o mundo, que o homem realiza sua atividade de conhecer.

A percepção do todo é característica precípua de todo o conhecimento7, seja

ele qual for, de maneira que a decomposição dos fenômenos e o isolamento de

7 Kosik (2011, p.51) explica que na história do pensamento filosófico pode-se identificar pelo menos

alguns de seus aspectos se operam de maneira natural e espontânea perante as consciências ingênuas. Porém, nesse contexto a noção do todo surge como realidade indeterminada, obscura, petrificada, imutável, alheia aos sujeitos (Kosik, 2011, p.19).

A totalidade que aqui interessa é a totalidade intencional, crítica, prática, dinâmica, concreta, material, substancial, a totalidade captadora da realidade objetiva, corpórea, com todas as suas transformações e contradições, assim, as dimensões trabalhadas ao longo destas linhas não são apenas categorias, e sim diferentes aspectos de uma mesma realidade.

Entender a totalidade de forma dinâmica significa que o objeto a ser conhecido constitui-se como uma unidade formada por várias contradições que interagem entre si, que a totalidade forma e é formada por várias outras camadas de totalidades, e que a totalidade não deve ser naturalizada, ou seja, deve ser entendida como um processo mutável, histórico e limitado a um período determinado (Lukács, 1967, p.240).

É relevante aduzir que totalidade não deve ser entendida como todos os fatos, ou o conjunto dos fatos, das relações e dos processos, de maneira que a totalidade não é um método que se ocupa de conhecer todos os aspectos da realidade. Totalidade significa entender a realidade como uma estrutura dialética no qual qualquer fato pode vir a ser compreendido (Kosik, 2011, p.44)

Tal como ensinou Paulo Freire (1978, p.39), o homem em estando com o mundo é possuidor de uma capacidade reflexiva que o caracteriza como um ser de relações, diferentemente dos animais, que são seres de contatos, e nesse sentido, explicou que o conceito de relações guarda consigo aspectos de pluralidade, transcendência, criticidade, consequência, integração e temporalidade.

Enquanto os seres de contatos interagem com o mundo com respostas automáticas, singulares, acomodadas, reflexas e culturalmente inconseqüentes, as relações que o homem trava no mundo e com o mundo são plurais, na medida em que, diante dos variados desafios, não se esgotam numa maneira padronizada de resposta, e diante de um mesmo desafio, se multiplicam na própria singularidade.

Wittgenstein) para a qual o todo é a soma de todas as partes, fatos e elementos mais simples; a concepção organicista, para a qual há uma prioridade do todo sobre as partes; e a concepção dialética, que concebe a realidade como um todo estruturado e dinâmico que se desenvolve e se cria.

São também relações críticas, pois naturalmente reflexivas, capazes de captar os laços e razões que unem um fato a outro.

Característica do homem como ser de relações é sua capacidade de transcender, que permite ao homem auto objetivar-se, saindo de si para refletir sobre si mesmo, sobre sua realidade, e para discernir sobre ele e os outros seres8

(FREIRE, 1978, p.40). E porque transcende o homem descobre também sua temporalidade, pois emerge do tempo unidimensional de um hoje constante, para descobrir o ontem e o amanhã, as causas e as conseqüências.

Ocorre que, a integração do homem nas suas relações com o mundo se aperfeiçoa na medida em que ele adquire uma consciência crítica e, conforme as sociedades se desenvolvem, aumentam as exigências por atitudes mais reflexivas (pensadas) e menos instintivas.

Ensina Freire (1983, p.39) que num primeiro momento, o homem é dotado de uma intransitividade de sua consciência, que é o estágio máximo de limitação de seu poder de apreensão do mundo. A partir daí, e de maneira automática, devido à própria evolução da sociedade, a intransitividade da consciência tende a transformar-se em uma consciência ingênua, caracterizada pela simplicidade na interpretação do mundo. Contudo, para que o homem alcance a consciência crítica, é preciso a interferência de uma atitude reflexiva e de conscientização, que o possibilite uma capacidade de opção frente aos desafios apresentados pelo mundo, afastando-o da passividade e da acomodação.

Ao homem intransitivamente consciente escapa a apreensão das questões alheias à sua esfera biológica, seu discernimento se dificulta e ele torna-se incapaz de perceber a causalidade autêntica dos fenômenos. Porém, ao passo em que o homem amplia o seu poder de captação e resposta às questões que se põem em seu contexto, seus interesses e preocupações se expandem a esferas maiores que a simples esfera vital biológica, se transitiva (FREIRE, 1978, p.60). Ocorre que, a primeira etapa na evolução da consciência humana é preponderantemente ingênua, que segundo Freire (1983, p.40):

8 Para Freire, a capacidade de transcender do homem é a raiz de sua existência. A idéia de existir

ultrapassaria a idéia de viver, por que é mais do que estar no mundo, é estar nele e com ele. É desprender-se do determinismo natural e agir como sujeito histórico.

Revela uma certa simplicidade, tendente a um simplismo, na interpretação dos problemas, isto é, encara um desafio de maneira simplista ou com simplicidade. Não se aprofunda na causalidade do próprio fato. Suas conclusões são apressadas, superficiais. Há também uma tendência a considerar que o passado foi melhor (...) Tende a aceitar formas gregárias ou massificadoras de comportamento. (...) Subestima o homem simples. É impermeável à investigação. Satisfaz-se com as experiências. Toda concepção científica para ela é um jogo de palavras. Suas explicações são mágicas. É frágil na discussão dos problemas. O ingênuo parte do princípio de que sabe tudo (...) Tem forte conteúdo passional. (...) Apresenta fortes compreensões mágicas. Diz que a realidade é estática e não mutável.

Por outro lado, mediante a adoção de uma postura ativa em face do conhecimento e da realidade, o homem tende a alcançar a transitividade crítica de sua consciência, cujas características apresentadas por Freire (1983, p.41) são:

Anseio de profundidade na análise de problemas. Não se satisfaz com as aparências. Pode-se reconhecer desprovida de meios para a análise do problema. Reconhece que a realidade é mutável. Substitui situações ou explicações mágicas por princípios autênticos de causalidade. Procura verificar ou testar as descobertas. Está sempre disposta às revisões. Ao se deparar com um fato, faz o possível para livrar-se de preconceitos. Não somente na captação, mas também na análise e na resposta. Repele posições quietistas. É intensamente inquieta. Torna-se mais crítica quanto mais reconhece em sua quietude a inquietude, e vice-versa. Sabe que é na medida que é e não pelo que parece. O essencial para parecer algo é ser algo; é a base da autenticidade. Repele toda transferência de responsabilidade e de autoridade e aceita a delegação das mesmas. É indagadora, investiga, força, choca. Ama o diálogo, nutre-se dele. Face ao novo, não repele o velho por ser velho, nem aceita o novo por ser novo, mas aceita-os na medida em que são válidos.

Para Freire (1978, p.43 - 44) cada época representa uma série de valores, de formas de ser e de comportar-se, que exigem do homem uma permanente atitude crítica para que, apreendendo esses temas, possa realizar sua vocação de ser mais, e a partir daí integrar-se. Daí, considerando que as respostas humanas aos estímulos do mundo dependem do grau de criticidade de sua percepção, uma percepção ingênua levaria a uma resposta ingênua e consequentemente ao aprisionamento do homem num mundo estático e imutável, da mesma forma que uma percepção crítica levaria a uma resposta crítica e à liberdade de estar não só no mundo, mas também de dialogar com ele. Afinal, em sendo o homem um ser de relações, há de estar preparado para bem compreender o mundo e suas

especificidades e a partir daí com ele interagir, não de maneira espontânea, mas de maneira reflexiva, agindo não por instinto, mas por livre opção.

Ocorre que, atualmente, o homem vem perdendo a sua capacidade de decidir, a sua liberdade, sendo que os temas da época são apresentados ao “homem simples” por uma elite dominante que lhe entrega as informações em forma de prescrição a ser seguida, negando, por conseguinte, sua condição de humanidade. Nesse sentido, aduz Freire (1978, p.43) que uma das maiores tragédias do homem é estar hoje oprimido pela força dos mitos e comandado pela publicidade organizada e pelas ideologias, que acabam afogando-o na massificação e na acomodação, retirando-lhe a condição de sujeito e rebaixando-lhe à condição de objeto coisificado, desumanizado.

Daí porque um estudo dimensional, que se pretende um estudo de totalidade, há de apresentar-se necessariamente como um estudo crítico, no sentido de caminhar pelas diferentes camadas da totalidade na busca pela verdade essencial do que se quer conhecer. Mas o que vem a ser crítica?

Entende-se por teoria crítica toda teoria não reducionista da realidade, ou seja, a realidade, a partir de uma perspectiva crítica se apresenta sempre como um conjunto de novas possibilidades, sendo a tarefa do teórico crítico a adoção de uma postura de indignação e inconformismo perante o que existe, e a indicação dos modelos alternativos disponíveis (SANTOS, 1999, p.1).

Tal como ensinaram Adorno e Horkheimer em sua Dialética do

Esclarecimento (2006, p.17), “a superioridade do homem está no saber”; mas não

num saber qualquer; não num saber que se rende dogmaticamente ao pragmatismo da atividade científica dos nossos dias, e que funciona como um mero instrumento à disposição da ordem dominante. Ao contrário, a superioridade do homem reside numa perspectiva positiva de esclarecimento9, assim entendida aquela que entrelaça

racionalidade e realidade social, a que se ocupa da verdade essencial das coisas e não apenas da eficácia dos procedimentos empregados, refutando assim o ato de estacionar em análises superficiais de seu objeto de investigação10.

9 Segundo Adorno e Horkheimer (2006, p.17), entende-se por esclarecimento o processo histórico e

racional de desencantamento do mundo pelo qual o homem vai dissolvendo as explicações mitológicas da realidade e substituindo-as pelo saber, abandonando assim os medos e se colocando na posição de senhores de si.

Na Crítica da Razão Instrumental, publicada originalmente em 1967, Max Horkheimer se propõe a distinguir os diferentes conceitos de racionalidade. Para o filósofo, a razão pode se mostrar de duas maneiras distintas: a primeira, chamada razão subjetiva ou instrumental, diz respeito à capacidade humana de classificar, concluir e deduzir sobre aquilo que lhe é útil, sem se deter ao conteúdo, ou em outras palavras, trata-se de um tipo de racionalidade que se ocupa apenas do funcionamento abstrato do mecanismo pensante, sem reflexão, sem crítica. É, pois, uma razão que se preocupa exclusivamente em adequar os meios aos fins desejáveis, sejam esses fins razoáveis ou não em seu conteúdo. Sob a perspectiva da razão instrumental, algo é racional na medida em que se apresenta como útil, e nada mais. Ela é formal, neutra, abstrata, lógico-matemática (HORKHEIMER, 1973, p.9 – 11).

Por outro lado, Horkheimer chamou de objetiva a razão que, conhecida desde a antiguidade clássica, não se relaciona a vantagens ou utilidades imediatas, ou seja, a que se apresenta como razoável não por que se orienta por finalidades, mas por ser razoável em si mesma. A racionalidade pensada a partir dessa perspectiva se dedica a refletir sobre a totalidade da ordem social, as relações humanas, a organização da sociedade, a natureza, o cosmo.

Platão, em sua A Republica, já organizara sua teoria do conhecimento a partir de uma dimensão objetiva e total da racionalidade. Utilizando da tradicional metáfora da Alegoria da Caverna11, o socrático ilustra a existência de dois mundos, um mundo

sensorial, aparente e imperfeito – no qual os homens vivem e desenvolvem relações a partir de seus sentidos – e um mundo inteligível, cognoscente e real, acessível apenas mediante o uso de uma racionalidade crítica.

Ocorre que, conforme ensinam Adorno e Horkheimer (2006, p. 17-46), ao longo da história, na sua missão de dominar e controlar a natureza e dissolver o mundo das superstições e das mitologias, a faculdade objetiva do pensar foi se instrumentalizando, e assim, em busca de uma objetividade cada vez maior, perspectiva alternativa de cidadania. Revista de Direitos Humanos Fundamentais da UNIFIEO, v.13, p.237-251, 2013.

11 Diálogo narrado no Livro VII da República de Platão, entre Sócrates e Glauco, este último irmão de

Platão em que o filósofo descreve uma caverna escura, por onde entraria apenas um feixe de luz, que refletiria as sombras dos objetos e pessoas que transitavam do lado externo da caverna, para homens acorrentados no interior da caverna desde a infância, ilustrando assim a escuridão que aprisiona os homens que se utilizam apenas de suas impressões sensoriais, de maneira que apenas com o uso da razão tais homens poderiam descobrir a luz da verdade.

hipertrofiou-se em relação ao tratamento dos meios e esqueceu a reflexão substancial acerca dos fins. A razão se transformou então em abstração, em procedimento, em formalismo, em técnica, e deixou de ser uma forma de acesso a conhecimentos nucleares e passou a servir de instrumento para a perda da autonomia do indivíduo, de dominação, de poder, de exploração.

Tendo cedido em sua autonomia, a razão tornou-se um instrumento. No aspecto formalista da razão subjetiva, sublinhada pelo positivismo, enfatiza- se a sua não referência a um conteúdo objetivo; em seu aspecto instrumental, sublinhado pelo pragmatismo, enfatiza-se a sua submissão a conteúdos heterônomos. A razão tornou-se algo inteiramente aproveitado no processo social. Seu valor operacional, seu papel de domínio dos homens e da natureza tornou-se o único critério para avaliá-la (HORKHEIMER, 2007, p.29)

Como narrou Platão em sua alegoria acerca do homem que se desprendera do mundo das sombras, “se alguém o forçasse a olhar para a própria luz, doer-lhe- iam os olhos e voltar-se-ia, para buscar refúgio junto dos objetos para os quais podia olhar”, de maneira que, o processo de instrumentalização da razão é naturalizador do homem, e assim, uma reversão no uso da razão segundo a lógica atual é tarefa densa e árdua.

Daí que, o desafio que se apresenta ao pesquisador comprometido com a verdade é o da reconstrução do caráter objetivo da racionalidade, numa lógica ou movimento contrários a formalização do pensamento que se utilize de um método capaz de considerar os fenômenos investigados em sua totalidade, na busca por sua essência. Segundo o filósofo grego, o método dialético seria o único capaz de proceder a destruição das hipóteses no sentido das descobertas autênticas (PLATÃO, 2009, p.230).

Na Lógica Formal e Lógica Dialética de Henri Lefebvre (1991, p.80), em sendo o conhecimento prático, social e histórico, não pode jamais se prender a uma investigação aristotélica formal, ou seja, que deixa de lado qualquer necessidade de análise de conteúdo ocupando-se apenas dos contornos do pensamento puro ou das regras gerais de coerência do pensamento consigo mesmo, mas ao contrário, se a realidade de apresenta como móvel, múltipla, diversa, contraditória, lançá-la numa racionalidade formalista é renegá-la a um campo de problemas insolúveis.

Para Lefebvre (1991, p.83), “a forma é sempre forma de um conteúdo”, e sendo assim, forma e conteúdo se apresentam necessariamente num movimento incessante. Se por um lado a lógica formal tem um alcance apenas relativo e limitado, a lógica do conteúdo é concreta, e considerando que o conhecimento verdadeiro é feito das interações entre forma e conteúdo, sujeito e objeto, ou seja, de elementos opostos, a análise dessas interações é chamada de dialética, e a lógica do conteúdo é a lógica dialética.

Em Dialética do Concreto, Karel Kosik (2011, p. 13) apresenta suas definições acerca do conceito de crítica e do método dialético de investigação, como oposição à racionalidade/lógica instrumental e utilitária. Para o autor, o conhecimento da realidade pode ser obtido a partir do estudo das representações (forma) ou da essência das coisas (conteúdo), sendo que o conhecimento dialético lida justamente com essa contradição, daí por que se apresenta como um algo da práxis humana, e não apenas do mundo das idéias, daí por que a dialética se justifica como método para o estudo das totalidades.

Como já fora dito, a realidade não se apresenta ao homem, então, como objeto teórico isolado do contexto prático, pois é sobre a realidade que o homem desenvolve sua atividade de perceber. Por outro lado, a realidade da forma, como ela se manifesta, nem sempre coincide com o conceito da coisa em si, ao que o autor chama de aspecto fenomênico da realidade, de maneira que as representações da realidade são úteis apenas numa dimensão superficial, pois não servem para a compreensão essencial, estrutural dos objetos investigados.

A práxis humana determinada a partir do aspecto fenomênico da realidade é unilateral, fragmentária, não enxerga as contradições, e se apresenta como um mundo de intimidade, de confiança que se move naturalmente.

Em clara referência aos conceitos de Marx, Kosik (2011, p.14) discute que esse mundo de representações só é útil aqueles homens que dominam as condições sociais, que estão no topo da sociedade classista, uma vez que se a maioria dos homens desconhece a compreensão real das coisas, entendem sua realidade como imutável e normal, ou seja, a partir de uma consciência ingênua e não crítica.

Contudo, alerta o autor que a essência da coisa não se afasta por completo de suas representações, mas na realidade, as representações por vezes se confundem com a verdade das coisas, numa tentativa de construir um mundo crível, plausível. Se o mundo dos fenômenos se distanciasse de maneira radical da

essência, o mundo dos fenômenos seria facilmente notado como irreal, a realidade das coisas se apresentaria ao homem como “o outro mundo”, e o mundo essencial seria inalcançável.

Esse mundo plausível das representações, chamado mundo da