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O Decreto-Lei n.º 24/2014, de 14 de fevereiro, alterado pela Lei n.º 47/2014, de

CAPÍTULO II – AS MÁQUINAS DE VENDA AUTOMÁTICA EM EDIFÍCIOS DO ESTADO

3.1. A responsabilidade do contraente público durante o procedimento pré-contratual

3.1.1. A protecção e a salvaguarda dos interesses dos utilizadores das máquinas de venda automática e dos

3.1.1.1. O Decreto-Lei n.º 24/2014, de 14 de fevereiro, alterado pela Lei n.º 47/2014, de

No que concerne à salvaguarda dos consumidores no âmbito da atuação dos concessionários das máquinas de venda automática, o Decreto-Lei n.º 24/2014, de 14 de fevereiro, alterado pela Lei n.º 47/2014, de 28 de julho, “[…] transpõe para a ordem jurídica nacional a Diretiva n.º 2011/83/UE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 25 de outubro de 2011, relativa aos direitos dos consumidores, […]”227228.

224 “Esta responsabilidade, que, actualmente, está prevista no artigo 227.º do Código Civil, era já de admitir no direito anterior: vide, por ex., MOTA

PINTO, A responsabilidade pré-negocial pela não conclusão dos contratos, 1963”. Apud MARTINS, António Carvalho, Responsabilidade…, cit., p. 41.

225 MARTINS, António Carvalho, Responsabilidade…, cit., p. 58. 226 MARTINS, António Carvalho, Responsabilidade…, cit., p. 58. 227 Cfr. artigo 1.º.

228 A Diretiva n.º 2011/83/UE altera a Diretiva n.º 93/13/CEE, do Conselho, e a Diretiva n.º 1999/44/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, e

Este decreto-lei estabelece “o novo regime jurídico229 aplicável aos contratos celebrados à

distância e aos contratos celebrados fora do estabelecimento comercial, bem como a outras modalidades contratuais de fornecimento de bens ou serviços”230, revogando o Decreto-Lei n.º

143/2001, de 26 de abril, alterado pelos Decretos-Leis n.os 57/2008, de 26 de março, 82/2008,

de 20 de maio, que aprovou o Regime de Proteção dos Consumidores nos Contratos à Distância. De acordo com o artigo 2.º, n.º 1, do mesmo diploma legal, este “é aplicável aos contratos celebrados à distância e aos contratos celebrados fora do estabelecimento comercial, tendo em vista promover a transparência das práticas comerciais e salvaguardar os interesses legítimos dos consumidores”.

As máquinas de venda automática encontram-se, em primeira linha, reguladas no Capítulo III do referido decreto-lei, capítulo que regula as “Outras modalidades de vendas”. O artigo 22.º, n.º 1, refere que a venda automática “[…] consiste na colocação de um bem ou serviço à disposição do consumidor para que este o adquira mediante a utilização de qualquer tipo de mecanismo, com o pagamento antecipado do seu preço”.

O n.º 2 do artigo acima citado, relata que “A atividade de venda automática deve obedecer à legislação aplicável à venda a retalho do bem ou à prestação de serviço em causa, nomeadamente em termos de indicação de preços, rotulagem, embalagem, características e condições higiossanitárias dos bens”.

O artigo 23.º, daquele diploma, diz respeito às características dos equipamentos. Enquanto o n.º 1, do mesmo, menciona que “Todo o equipamento destinado à venda automática de bens e

229 “Em Portugal, o primeiro regime jurídico aplicável aos contratos celebrados fora do estabelecimento comercial data de 1987, com a publicação do

Decreto-Lei n.º 272/87, de 3 de abril, que transpôs a Diretiva n.º 85/577/CEE, do Conselho, de 20 de dezembro de 1985, relativa à proteção dos consumidores no caso de contratos negociados fora dos estabelecimentos comerciais. O referido decreto-lei, constituiu, […], um passo muito importante na prossecução da política de defesa do consumidor, designadamente ao impor o cumprimento de deveres de informação pré-contratual perante o consumidor, o respeito de determinados requisitos quanto à celebração desses contratos e reconhecer a existência do direito de resolução, a exercer no prazo de sete dias úteis a contar da celebração do contrato. […]. Em 2001, foi publicado o Decreto-Lei n.º 143/2001, de 26 de abril, […] que, transpondo para a ordem jurídica nacional a […] Diretiva n.º 97/7/CE, veio adequar o regime ao novo contexto económico, melhorando algumas soluções e abarcando novas modalidades de venda com vista a proteger direitos e interesses dos consumidores. O mencionado Decreto-Lei n.º 143/2001, de 26 de abril, consagrou não só as regras aplicáveis aos contratos celebrados à distância e aos contratos celebrados no domicílio, mas também considerou ilegais determinadas formas de venda de bens ou de prestação de serviços assentes em processos de aliciamento enganosos e revogou expressamente o Decreto-Lei n.º 272/87, de 3 de abril”. Cfr. Preâmbulo do Decreto-Lei n.º 24/2014, de 14 de fevereiro.

serviços deve permitir a recuperação da importância introduzida em caso de não fornecimento do bem ou serviço solicitado”, o n.º 2 especifica que “No equipamento destinado à venda automática devem estar afixadas, de forma clara e perfeitamente legível […]”, algumas informações, tais como: “[…] Identificação da empresa comercial proprietária do equipamento, com o nome da firma, sede, número da matrícula na conservatória do registo comercial competente e número de identificação fiscal; […] Identidade da empresa responsável pelo fornecimento do bem ou prestação de serviço; […] Endereço, número de telefone e contactos expeditos que permitam solucionar, rápida e eficazmente, as eventuais reclamações apresentadas pelo consumidor; […] Identificação do bem ou serviço; […] Preço por unidade; […] Instruções de manuseamento e, ainda, sobre a forma de recuperação do pagamento no caso de não fornecimento do bem ou serviço solicitado”.

O artigo 24.º é relativo à “Responsabilidade” e refere que “Nos casos em que os equipamentos destinados à venda automática se encontrem instalados num local pertencente a uma entidade pública ou privada, é solidária, entre o proprietário do equipamento e o titular do espaço onde se encontra instalado: a) A responsabilidade pela restituição ao consumidor da importância por este introduzida na máquina, no caso do não fornecimento do bem ou serviço solicitado ou de deficiência de funcionamento do mecanismo afeto a tal restituição, bem como pela entrega da importância remanescente do preço, no caso de fornecimento do bem ou serviço; b) A responsabilidade pelo cumprimento das obrigações previstas no n.º 2 do artigo 23.º”.

Este artigo (artigo 24.º) apresenta alguma relação com o disposto no artigo 424.º

Responsabilidade perante terceiros, do CCP: “1 - O concedente responde por danos causados pelo concessionário a terceiros no desenvolvimento das actividades concedidas por facto que ao primeiro seja imputável. 2 - O concedente responde ainda por facto que não lhe seja imputável, mas neste caso só depois de exercidos quaisquer direitos resultantes de contrato de seguro que no caso caibam e de excutidos os bens do património do concessionário”. O n.º 2 deste artigo prevê a responsabilidade subsidiária do concedente por factos que não lhe são imputáveis, no que respeita às atuações do concessionário lesivas para terceiros.

Para além disso, a Diretiva 2014/23/UE, mencionada anteriormente, refere que “[…] Deverá, também ser especificado que as condições relativas à execução da observância das obrigações aplicáveis em matéria ambiental, social e laboral, estabelecidos pelo direito da União,

por legislação nacional, por convenções coletivas ou pelas disposições de direito internacional em matéria ambiental, social e laboral constantes da presente diretiva, se deverão aplicar caso a legislação nacional de um Estado-Membro preveja um mecanismo de responsabilidade solidária entre os subcontratantes e o concessionário – e desde que tais regras e a respetiva aplicação sejam conformes com o direito da União […]”231.

Assim, no caso em estudo, se ocorrer uma intoxicação alimentar, o concedente pode ser responsabilizado.

Para além disso, não podemos deixar de mencionar que, nos termos do artigo 3.º, n.º 4, alínea b), do Decreto-Lei n.º 50/2013, de 16 de abril, alterado pelo Decreto-Lei n.º 106/2015, de 16 de junho, é proibida a venda de bebidas alcoólicas em máquinas automáticas, sendo a violabilidade desta restrição assumida, solidariamente, pelo proprietário do equipamento e pelo titular do espaço onde este se encontra instalado.

Nos termos do artigo 15.º, n.º 1, alínea b), da Lei nº 37/2007, de 14 de agosto, alterada e republicada pela Lei n.º 109/2015232, de 26 de agosto, é ainda proibida a venda de produtos de

tabaco através de máquinas de venda automática sempre que não estejam munidas de um dispositivo eletrónico ou outro sistema bloqueador que impeça o seu acesso a menores de 18 anos e não estejam localizadas no interior do estabelecimento comercial, de forma a serem visualizadas pelo responsável do estabelecimento. E, nos termos da alínea c), do mesmo número e artigo, é proibida a venda de produtos de tabaco a menores de 18 anos, a comprovar quando necessário, por qualquer documento identificativo com fotografia.

Ao abrigo do artigo 30.º, n.º 1, do já referido Decreto-Lei n.º 24/2014, de 14 de fevereiro, alterado pela Lei n.º 47/2014, de 28 de julho, “Compete à ASAE, a fiscalização do cumprimento do disposto no presente decreto-lei e a instrução dos respetivos processos de contraordenação”.

O artigo 461.º do CCP, Competência para o processo de contra-ordenação, refere que “1 - A

231 Cfr. Considerando (72) da Diretiva 2014/23/UE…, cit., p. L 94/13.

232 Esta Lei “[…] transpõe ainda para a ordem jurídica interna a Diretiva 2014/40/UE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 3 de abril de 2014,

relativa à aproximação das disposições legislativas, regulamentares e administrativas dos Estados membros no que respeita ao fabrico, apresentação e venda de produtos do tabaco e produtos afins e que revoga a Diretiva 2001/37/CE, bem como a Diretiva Delegada 2014/109/UE, da Comissão, de 10 de outubro de 2014, que altera o anexo II da Diretiva 2014/40/UE do Parlamento Europeu e do Conselho estabelecendo a biblioteca de advertências ilustradas a utilizar em produtos do tabaco” (cfr. artigo 1.º, n.º 2).

instauração e arquivamento dos processos de contra-ordenação cabem: a) Ao Instituto de Construção e do Imobiliário, I. P., quando o objecto do contrato a celebrar abranja prestações típicas dos contratos de empreitada ou de concessão de obras públicas; b) À Autoridade de Segurança Alimentar e Económica, quando o objecto do contrato a celebrar não abranja prestações típicas dos contratos referidos na alínea anterior. […] 3 - As entidades adjudicantes devem participar ao Instituto da Construção e do Imobiliário, I. P. ou à Autoridade de Segurança Alimentar e Económica, consoante o caso, quaisquer factos susceptíveis de constituírem contra-ordenações nos termos do disposto nos artigos 456.º a 458.º”.

Como não é habitual a ASAE (Autoridade de Segurança Alimentar e Económica) fiscalizar máquinas de venda automática instaladas em edifícios do Estado, cabe à entidade pública contratante fiscalizar em primeira linha esta atividade. A título de exemplo, referimos que foi detetado um caso pelo próprio concedente, em que o proprietário das máquinas tinha aposto nas mesmas a designação de uma empresa “inexistente”, em termos de registo comercial. A certidão do registo comercial apresentada, não tinha inscrita este tipo de atividade e dizia respeito a outra empresa, que não tinha nada a ver com o setor alimentar.

Assim, “é significativo, […], que o problema da responsabilidade assuma, em particular, contornos específicos no campo das actuações dos serviços públicos, designadamente quando a actuação administrativa não cumpre os standards de eficiência considerados exigíveis, e no âmbito da actividade jurídica da Administração”233. O que não foi o caso no exemplo acima, a Administração

cumpriu.

3.1.1.2. O sistema HACCP (Hazard Analysis and Critical Control Point)/Norma