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3.5 LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS E APOLOGIA AO CRIME

3.5.5 O impacto econômico da legalização das drogas

Miron & Waldock (2010) e também Lobato (2013) ressaltam que uma mudança na política das drogas seria muito bem-vinda para combater os enormes déficits fiscais enfrentados pelos governos estadual e federal dos Estados Unidos. Os autores demonstraram que a legalização das drogas pouparia cerca de 41,3 bilhões anuais em despesas governamentais, eliminando os gastos com a “guerra contra as drogas”. Desse montante, 25,7 bilhões seriam poupados pelos governos estaduais e quase 16 bilhões pelo governo federal. Por outro lado, aproximadamente 8,7 bilhões resultariam da legalização da maconha, 20 bilhões da cocaína e 12,6 bilhões das demais drogas. A legalização também geraria receitas tributárias da ordem de 46,7 bilhões de dólares anuais, utilizando-se tarifas compatíveis com as aplicadas ao álcool e ao tabaco, sendo que 8,7 bilhões proviriam do comércio da maconha e 38 bilhões das demais drogas. Assim, destacam que a soma entre redução de despesas e arrecadação tributária adicional acrescentaria aos cofres públicos cerca de 88 bilhões de dólares anuais, sendo que não foram consideradas outras vantagens correlacionadas com a legalização, como a questão medicinal e industrial.

Conforme Brasil (2014), o estado americano do Colorado iniciou a comercialização de maconha para uso recreativo no início de 2014 e arrecadou cerca de dois milhões de dólares em tributos no mês de janeiro de 2014: 12,9% sobre vendas (2,9% de imposto estadual de vendas e 10% de imposto adicional sobre a venda de maconha) e 15% em taxas especiais. Os primeiros quarenta milhões de dólares arrecadados em taxas especiais serão utilizados para a construção de escolas. E no Uruguai, estima-se que a legalização da maconha permitirá reduzir a fuga de capitais de um negócio de trinta milhões de dólares ao ano.

Também Teixeira (2016), ao analisar o impacto econômico da legalização das drogas no Brasil (maconha, cocaína, crack, ecstasy) ― com base nas taxas de prevalência mensal do uso de drogas no Brasil de 2005, e que, portanto, não refletem o crescimento do número de usuários ao longo de mais de uma década; e também nos preços para a cannabis das estimativas do Uruguai e para as demais drogas do Relatório Mundial de Drogas de 2009 do UNODC ―, indica a possibilidade de um faturamento anual total de R$ 14.532.092.094,00 (quatorze bilhões, quinhentos trinta e dois milhões, noventa e dois mil e noventa e quatro reais).

Tabela 8 ― Estimativas do mercado consumidor de drogas no Brasil (2016).

Droga Número de usuários mensais Preço do grama/ comprimido Gasto anual com drogas por pessoa Faturamento anual do mercado de drogas (R$) CANNABIS 2.744.712 4,32 2,073,60 5.691.434.803,00 COCAÍNA 609.935 220,00 7,700,00 4.696.499.500,00 CRACK 142.483 10,80 20.736,00 2.954.527.488,00 ECSTASY 284.996 43,20 4.147,20 1.189.630.303,00 TOTAL 14.532.092.094,00 Fonte: Teixeira (2016: 49).

Ao considerar os mesmos tributos e alíquotas que em 2016 incidiam sobre o tabaco e assumir que, com a legalização, em um primeiro momento, não haveria crescimento da demanda por drogas, Teixeira estima uma arrecadação tributária total de R$ 12.818.290.933,81 (doze bilhões, oitocentos dezoito milhões, duzentos noventa mil, novecentos trinta e três reais e oitenta e um centavos) que, segundo a autora, representa cerca de 80% da arrecadação das bebidas em 2014, e 150% da

arrecadação do tabaco no mesmo ano. A proximidade entre os valores da tabela 8 e 9 podem gerar indagações, mas foram registrados como apresentados por Teixeira (2016).

Tabela 9 ― Arrecadação Tributária por tipo de droga no Brasil (2016)

DROGA ARRECADAÇÃO

TRIBUTÁRIA* PARTICIPAÇÃO DAS DROGAS NO TOTAL DE ARRECADAÇÃO (%)

MACONHA R$ 5.022.874.796,91 39,19

COCAÍNA R$ 4.144.834.579,23 32,34

CRACK R$ 2.607.479.825,68 20,34

ECSTASY R$ 1.043.101.731,99 8,14

TOTAL R$ 12.818.290.933,81 100,00

*Em bilhões de reais Fonte: Teixeira (2016: 50).

A legalização das drogas também levaria a redução de despesas governamentais com os custos de intervenção (de repressão, e de encarceramento) do sistema de justiça criminal (polícia, ministério público, juízes, penitenciárias). Conforme o Anuário de Segurança Pública (2014), em 2013, foram gastos com segurança pública R$ 61,1 bilhões (sessenta um bilhão, cem milhões); com custódia e reintegração social, R$ 10.950.187.425,55 (dez bilhões, novecentos cinquenta milhões, cento oitenta e sete mil, quatrocentos vinte cinco reais e cinquenta e cinco centavos), e; outros R$ 4,9 bilhões (quatro bilhões, novecentos milhões) com prisões e unidades de medidas socioeducativas. Então, de maneira geral, se considerar o valor de 25%, o percentual de presos por crimes envolvendo uso e tráfico de drogas, tem-se aproximadamente que foram gastos, respectivamente, com o tráfico de drogas: R$ 15,2 bilhões, com repressão e R$ 3,9 bilhões com isolamento. Logo, se fosse legalizado o tráfico de drogas, em tese, haveria uma redução de despesa da ordem de R$ 19,1 bilhão de reais. Isso, sem contabilizar a redução de custos jurídicos-processuais com despesas relativas ao Ministério Público e Poder Judiciário.

Assim, tem-se um cenário de, aproximadamente, R$ 12 bilhões de arrecadação tributária, mais 19 bilhões de redução de despesas com repressão e encarceramento, num total aproximado de R$ 31 bilhões de reais de recursos disponíveis ao erário com a legalização das drogas ilícitas, recursos que poderiam ser utilizados no sistema educativo, em campanha publicitárias para inibir o

consumo (como é feito com o tabaco) e no sistema único de saúde para tratamento da toxicodependência, assim como para a ampliação dos programas de redução de danos.

Por outro viés, segundo Faria (2017), a legalização da maconha em diversos estados dos Estados Unidos fez o preço do quilo de maconha cair cerca de 50%, já que valia de U$ 60 a U$ 90 dólares em 2014, e agora vale de U$ 30 a U$ 40 dólares. E, isto está afetando o tráfico nas fronteiras americanas, já que, segundo a

United States Border Patrol, as apreensões de maconha caíram de 1147 toneladas,

em 2011, para cerca de 587 toneladas no ano 2016.

Gráfico 2 ― Apreensões de maconha nas fronteiras dos EUA, 2011-2016

Fonte: Faria (2017).

Nesse caso tem-se que o preço da droga diminuiu com a legalização dela. Não se obteve informações relativas ao aumento do preço quando diminui sua oferta através do aumento da repressão policial. Mas, sobre o que acontece com a violência no mercado quando isso acontece.