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7. EFEITOS DO PRONERA NO SUDOESTE DA BAHIA

7.2 O Modo Educacional do PRONERA e seus efeitos

A formação no interior de projetos dessa política pública/estatal não é realizada de forma linear (mas de forma intermitente e alternada), não é delimitada no tempo escolar convencional (definida por anos de estudos regulares e progressivos), nem efetuada no espaço institucional permanente (construído exclusivamente para a educação dos assentados). Trata- se de uma formação flexível, nos aspectos apontados, a qual, ao mesmo tempo, requer, em algum momento da vida escolar, que o assentado da Região Sudoeste da Bahia tenha se beneficiado do Programa, de maneira que possa completar o que é considerada a educação básica, que é realizada na modalidade de Educação de Jovens e Adultos, estando apto a galgar e concluir o nível superior.

Uma característica do PRONERA é oferecer várias formas de participação aos beneficiários, que podem ser: monitores de EJA; educandos de alfabetização; educandos de 1º

79Trata-se aqui dos princípios e pressupostos das propostas pedagógicas do PRONERA, que ―devem ter por base a diversidade cultural, os processos de interação e transformação do campo, a gestão democrática, o acesso ao avanço científico e tecnológico voltados para o desenvolvimento das áreas de reforma agrária‖ (BRASIL, 2016, p. 16).

segmento (antiga 1ª a 4ª séries) e educandos de 2º segmento (antiga 5ª a 8ª séries); educandos de nível médio (profissionalizante ou não); educandos de nível superior; educandos de pós- graduação; monitores de alfabetização; educadores de 1º segmento; educadores de 2º segmento; coordenadores do movimento social. Nesse sentido, os efeitos também podem ser medidos tomando por referência essa diversidade de participação.

Os efeitos para os beneficiários também poder ser medidos pelo grau de acesso dos assentados ao nível superior ou pós-graduação do Programa, o que pode muito bem ser realizado sem que eles tenham passado, anteriormente, por qualquer outra das modalidades ou níveis de educação. Do mesmo modo, podem chegar à universidade, em cursos não oferecidos pelo Programa, após terem sido beneficiados, anteriormente, por algum nível ou modalidade de educação do PRONERA. O Gráfico 2 abaixo traz uma amostra dessas possibilidades.

Gráfico 2: Relação entre participação no nível médio e graduação dos beneficários em

projetos do PRONERA na Região Sudoeste da Bahia

Fonte: dados da pesquisa.

O gráfico acima traz uma amostra dos educandos que concluíram a graduação em projetos do PRONERA correlacionando esses beneficiários com a educação no nível Médio. A linha azul descreve a participação ou não de um grupo de beneficiários da Região Sudoeste que realizaram o nível Médio integrado à formação técnica (1 relativo ao Magistério e 2 relativo à Agente de Saúde da Comunidade). A linha vermelha, por sua vez, descreve a participação nos cursos de graduação (1 para Direito, 2 para História, 3 para Pedagogia e 4 para Agronomia). É possível notar que a participação no Ensino Médio no PRONERA não é uma condição para a realização da graduação do referido Programa.

A investigação focou nos efeitos sobre os beneficiários e não, exclusivamente, sobre os matriculados. São considerados beneficiários do PRONERA os assentados que participam do como educando, mas os que realizam alguma função nos projetos, tais como

monitores, educadores ou coordenadores. Para a concretização desta pesquisa, foram buscados os efeitos educacionais do PRONERA sobre os assentados da Região Sudoeste da Bahia matriculados e concluintes do nível superior, em cursos conveniados pelo INCRA com a Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Para isso, os seus graduados concluintes foram cotejados com a matrícula ou participação em projetos anteriormente conveniados com a Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB).

Os convênios, contratos e parcerias são a forma de estabelecer a possibilidade de realizar projetos junto ao PRONERA, ou seja:

De acordo com o art. 14 do Decreto nº 7.352/2010, o Incra celebrará convênios, termos de execução descentralizada ou outros instrumentos congêneres com instituições de ensino públicas e privadas sem fins lucrativos e demais órgãos e entidades públicas para a execução dos projetos no âmbito do PRONERA. [...] As parcerias com Organizações da Sociedade Civil sem fins lucrativos, serão firmadas pelos instrumentos vigentes è época da Celebração (BRASIL, 2016, p. 18).

A chamada Pedagogia de Alternância, utilizada nos projetos do PRONERA, não obriga os educandos a deixar o local de residência, por longos períodos de tempo, durante o processo formativo, ou seja:

A Pedagogia da Alternância tem sua origem na França no início do século XX. Surgiu da preocupação em educar os jovens agricultores, sem que esses deixassem o campo quando formados, pois os jovens tinham que estudar nas escolas urbanas e, para isso, era necessário deixar o campo e, caso não quisessem deixar o campo era necessário manter-se sem estudos [...] A estruturação de uma escola camponesa era vista como uma solução para que os jovens não se vissem obrigados a sair do campo para estudar ou, ainda, deixar o campo depois de concluir os estudos. Diante desse quadro, a pedagogia da alternância é entendida como um meio de estruturar a escola e seu currículo de forma a se adaptar à vida do campo (BEGNANI, 2004, p. 4- 5).

Esse processo de organização do ensino é característico nos projetos realizados pelo PRONERA, sendo estipulado em seus Manuais de Operações. Essa dinâmica de alternância foi implantada no Brasil nos anos 1960 e é utilizada pelo PRONERA em seus projetos educacionais. Como se afirma na 5ª edição do Manual de Operações, ao tratar da metodologia adotada nas ações patrocinadas pelo programa:

Os Projetos deverão ser desenvolvidos conforme a metodologia da alternância, normatizada pela Resolução CNE/CEB nº 01/2006, caracterizada por dois momentos: tempo de estudo desenvolvido nos centros de formação (Tempo Escola – 70% da carga horária do curso) e o tempo de estudo desenvolvido na comunidade (Tempo Comunidade – 30% da carga horária do curso). A proposta metodológica deverá fundamentar-se nos instrumentos e estratégias que serão utilizadas para a construção do

conhecimento a partir de aspectos da realidade do campo brasileiro, bem como a estratégia inter ou transdisciplinar que facilitará o diálogo entre as áreas do conhecimento e o acúmulo teórico da metodologia da Alternância (BRASIL, 20014, p. 22-23).

Assim, a formação se dá em processos educacionais que exigem a presença do educando em centros de formação, embora essa presença não seja contínua nem longa, como nos casos de educação regular, pois alterna o tempo, nos espaços formativos (Tempo Escola – que varia de 50 a mais dias de estudos), e tempos em espaços de vida dos educandos (Tempo Comunidade – que varia de 60 a mais dias comunitários).

Segundo informações levantadas junto aos sujeitos da pesquisa, a importância da Pedagogia da alternância é o fato de permitir ―autonomia pedagógica do educando e ajuda a manter o educando no seu assentamento‖ (Educanda RF – Dados da pesquisa de campo, 2016).

Para atingir os objetivos propostos no presente capítulo, será abordada a Região Sudoeste da Bahia e os assentamentos que ela possui. Serão apresentados os movimentos sociais e as organizações que demandam terra no Estado da Bahia e, consequentemente, apresentam demandas educacionais ao INCRA.

Depois, serão relacionadas as Instituições de Ensino Superior (IESs) federais e estaduais existentes na Bahia e que atuam nos projetos. Por fim, serão abordados os cursos de alfabetização, educação básica e cursos técnicos oferecidos pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), bem como os cursos de nível superior oferecidos pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB).