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4. O ESTADO BRASILEIRO, A QUESTÃO AGRÁRIA E OS MOVIMENTOS

4.3 A Questão Agrária no Brasil

Abordar a questão agrária é tratar de um elemento fundamental do entendimento do próprio Brasil, por isso pontuam-se alguns dos momentos da história que afetam a organização da questão agrária e social no Brasil, de modo que permitam visualizar o contexto político-econômico de meados da década de 1980 da história brasileira.

Segundo Prado Júnior (2014, p. 295), a questão agrária brasileira é uma ―relação de efeito e causa entre miséria da população rural brasileira‖ e o ―tipo de estrutura agrária‖. Estrutura que foi essencialmente construída sob a ―acentuada concentração da propriedade fundiária‖, causando atraso político, econômico e social. Trata-se de uma questão que está na raiz da constituição do país. Tem origem no processo de invasão das terras pertencente aos nativos pelos portugueses na porção de terra hoje chamada de Brasil, passa pelo período de colonização, atravessa o período imperial, as várias repúblicas, e chega até o presente.

A trajetória dessa questão agrária foi marcada, de início, pelo sistema colonial brasileiro, fundado em sesmarias, na grande lavoura e na escravidão, componentes que provocaram a concentração da terra e a exclusão da maioria da população do acesso a ela, uma caraterística fundamental da sociedade brasileira. Exclusão essa que foi complementada com a aprovação da Lei de Terra de 1850 e tornada consequente com o desenvolvimento do latifúndio capitalista, aperfeiçoado com a sua transformação em agronegócio, o que foi possível graças às políticas estatais de vários governos, sejam os de matizes civis ou militares.

Se, até ser promulgada a Lei de Terra, a maioria da população estava impedida de acesso à posse, definida por lações de lealdade, com essa lei, o impedimento foi provocado pela falta de recursos financeiros para o acesso à propriedade privada da terra. Do mesmo modo, o fim da escravidão e o fim da monarquia, que promoveram mudanças sociais e políticas na segunda metade do século XIX, fizeram tais mudanças na direção dos interesses do modo capitalista de produção, ou seja, reforçou a exclusão social como forma de permitir o surgimento do trabalho livre. Na esfera política, por sua vez, a mudança consistiu na troca de sistema político. Esses elementos são os traços fundamentais da vida política e social brasileira e contribuem para a exclusão do acesso à terra.

Tal exclusão irá prosseguir durante a fase republicana do final do século XIX e durante as diferentes formas de república ao longo do século XX, a despeito do surgimento dos ideais modernizantes da década de 1930 e da modernização da sociedade, iniciada na década de 1950 e que se estendeu até o final dos anos 1970. Nesse intervalo, houve o estreitamento das relações de confiança dos capitalistas brasileiros com o capital monopolista internacional, reunindo em prol da modernização da agricultura agentes econômicos da indústria e da agricultura, que de fato nunca tiveram desligados no Brasil, bem como une capital nacional e internacional. O que permite, do final dos anos 1970 ao final dos anos 2000, que o latifúndio seja intitulado agronegócio, apresentando como característica a participação do seleto grupo de países produtores de commodities.

No conjunto, o período republicano realizou transformações políticas, sociais e econômicas, reorganizou por diversas vezes a base econômico-produtiva do país, o que possibilitou manter a agricultura produtiva e, até, em equilíbrio, ainda que instável, em relação à produção industrial. No período republicano, oligarquias, militares e civis sucedem- se uma à outra no comando do aparelho de Estado, sem contanto modificar, significativamente, a exclusão do acesso à terra ou a questão agrária, na perspectiva social dos trabalhadores.

Essas transformações não dirimiram a questão agrária e até intensificaram os conflitos que têm como foco a questão da posse e propriedade da terra. Mas, sobretudo, em função da questão social agrária. Nesse sentido, Leila Stein (2008) defende que no período de 1954 a 1964, a questão agrária ―veio a se tornar uma questão política‖ ou ―questão política agrária‖, ou seja, defende que ―o problema [questão agrária] ao passar à esfera do poder nacional, teve muitas consequências, em várias propostas enunciadas como intenção de solução‖. Ou seja, para autora, o PTB de Vargas, sobretudo o PTB da Frente Parlamentar Nacionalista (FPN) tinha como uma de suas questões,

[a] luta pela afirmação de estruturas de representação para as classes dominadas no campo, o que o levava a atritar-se com os padrões arbitrários da dominação exercida pela grande empresa agrária – arbítrio que era, até então, sustentado pelo PSD e pela Igreja católica (Stein, 2008, p. 14).

Da mesma forma, para a autora, a questão social agrária é resultado da luta pelo sindicalismo rural, que desponta na conjuntura do país no final da década de 1950 e início de 1960, quando diversos segmentos da sociedade brasileira foram vencidas pelas forças políticas que organizavam os setores populares, que passaram a fazer coro pela necessidade de organização sindical agrícola. União de forças que, segundo a autora:

[...] resultaram na formação da União dos Lavradores Agrícolas do Brasil (ULTAB) em 1954 e com a fundação do movimento pelas Ligas Camponesas, também naquele ano. Esse movimento pela cidadania encontraria seu auge com a realização do 1º Congresso de Trabalhadores e Lavradores (Belo Horizonte, 1961), a fundação do Comando Geral dos Trabalhadores (CGT) em 1962 e a realização da 1ª Conferência dos Bispos do Nordeste (Recife, 1956) (STEIN, 2008, p. 21).

O amplo movimento social agrário significava a luta por inclusão social e política para o trabalhador rural. Nesse sentido, na década de 1950, a questão agrária e a questão política agrária, novo aspecto da primeira questão, permite apreender o contexto dessa luta pela terra, num período não muito distante no tempo, cujas características expressam, de um lado, uma perspectiva conservadora, interessada em destravar a modernização da agricultura e, de outro lado, do ponto de vista da classe trabalhadora, um movimento social que busca uma solução que diminua a desigualdade social.

E, sob outra perspectiva, ainda, num enfoque teórico da luta pela terra, permite localizar os principais elementos políticos que darão suporte às lutas pela terra, que ocorreram a partir do final da década de 1970. Trata-se da luta pela conquista da terra realizada pelos trabalhadores, que passam a utilizar da ocupação de fazendas como instrumento de luta para apressar a desapropriação e a destinação delas para o assentamento de reforma agrária.

Uma referência para tratar da questão agrária durante os anos 1950, na perspectiva dos trabalhadores, são as Ligas Camponesas, que surgiram na Região Nordeste como associações civis para tratar das condições de vida e trabalho dos camponeses e trabalhadores rurais, uma forma de contornar a proibição de criar sindicatos rurais de camponeses e trabalhadores rurais. E, portanto, elas constituíam formas de resistência dos moradores do campo às transformações que afetavam suas condições de vida.

Segundo Oliveira (1988, p. 27), a organização das Ligas foi a maneira de protestar contra as relações de sujeição desses trabalhadores aos proprietários de terras, representadas pelo pagamento de cambão, pelo aumento absurdo do foro e pela alta dos preços dos arrendamentos. Situações que causavam, nos moradores do campo, sentimento de injustiça e sofrimento, por inviabilizar as condições de vida de parcela significativa dos nordestinos que trabalhavam no campo. Esses elementos que caracterizam a organização das Ligas contra a situação precária dos ―moradores de condição‖ e dos ―moradores foreiros‖ das fazendas nordestinas são corroborados por Velôso (2001, p. 75). Para essa autora, o ―morador de condição‖ vivia na fazenda com a condição de trabalhar obrigatoriamente dois ou mais dias para o proprietário, com ou sem remuneração. Quando era remunerado, o era num valor abaixo da remuneração dos trabalhadores de fora. Já o ―morador foreiro‖ tinha acesso a um sítio pelo qual pagava o foro anual e dava alguns dias de trabalho gratuito – o cambão. Em retribuição à concessão, o senhor tinha prioridade na compra da produção.

Uma das Ligas de maior repercussão ocorreu no Engenho Galileia, no município de Vitória de Santo Antão, no Estado do Pernambuco, organizada contra a expulsão das áreas de arrendamento com o apoio do advogado e deputado Francisco Julião, do Partido Comunista do Brasil (PCB). Outras tendências políticas de esquerda do período, além dos julianistas, influenciaram as Ligas e participaram da criação da União dos Lavradores e Trabalhadores Agrícolas do Brasil (ULTAB), ocorrida em São Paulo, em agosto de 1954. O objetivo da ULTAB foi:

Coordenar as associações camponesas existentes, funcionando como instrumento de articulação e organização do Partido, na condução e unificação do processo de luta camponesa no seio do processo de luta dos trabalhadores em geral do país. Este processo deveria caminhar no sentido da revolução democrático-burguesa, como etapa necessária para a revolução socialista (OLIVEIRA, 1988, p. 28).

A presença do PCB deu mediação politizadora para a organização e mobilização de tais movimentos, encaminhando-os no sentido da luta pela reforma agrária, pela previdência e pelo seguro social no campo, dentre outras reivindicações. Segundo Bezerra

Neto (1998, p. 21), a ULTAB ―tentou organizar uma luta nacional, embora sua atuação tenha ficado mais restrita à Região Sudeste do país‖. Assim, a origem do sindicalismo de trabalhadores rurais no Brasil decorre das lutas dos trabalhadores do campo pela extensão dos direitos, inclusive o de sindicalização, conquistado somente em 1962 (ALVES, 1991). Anteriormente a isso, as lutas sociais do campo estavam ligadas a entidades ou associações civis, como a ULTAB.

No I Congresso de Lavradores e Trabalhadores Agrícolas do Brasil, realizado em Belo Horizonte, em 1961, as divergências entre as tendências do movimento social do campo refletiam duas diferenças de posições no interior do PCB, aglutinar os membros do partido em duas frentes de luta no campo: de um lado, a ULTAB defendia a extensão dos direitos trabalhistas ao campo; de outro lado, as lideranças das Ligas, os julianistas propunham a luta por uma reforma agrária radical. De modo que, a ULTAB foi fundamental para a criação da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG), fundada em 20 de dezembro de 1963 e reconhecida legalmente pelo Decreto nº 53.517, em 31 de janeiro de 1964, pelo então Presidente João Goulart, como representação sindical dos trabalhadores rurais.

Não só os partidos lutavam pela orientação das lutas no meio rural, a Igreja Católica também esteve presente, entre 1945 e 1960, como mentora da criação de entidades sindicais e como estimuladora, e até organizadora, dos movimentos de trabalhadores do campo. No Nordeste, para ficar em um só exemplo, cita-se o caso do Estado do Sergipe:

Atuando como ponta de lança de um trabalho de conscientização dos camponeses e outros segmentos populares, através das escolas radiofônicas e das caravanas culturais e, em seguida, do Movimento de Educação de Base - MEB e das Comunidades Eclesiais de Base – CEB‘s, a Igreja Católica exerceu um papel fundamental na mobilização e organização dos trabalhadores rurais sergipanos. Tanto é assim que, em 1962, ajudou a criar os 9 primeiros Sindicatos de Trabalhadores Rurais de Sergipe, nos municípios de Aquidabã, Campo do Brito, Itaporanga D‘Ajuda, Japaratuba, Lagarto, Nossa Senhora das Dores, Laranjeiras, Nossa Senhora da Glória e Simão Dias e, a partir deles, a Federação dos Trabalhadores da Agricultura de Sergipe – FETASE, o que fez dela uma das organizações sindicais fundadoras da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura – CONTAG, ocorrido em dezembro de 1963. [...] Logo, os primeiros sindicatos de trabalhadores rurais de Sergipe datam de 1962 e foram constituídos por orientação da Igreja Católica, tendo à frente o arcebispo de Aracaju Dom José Vicente Távora (LOPES, 2006, p. 5).

A Igreja Católica seguiu na orientação da luta política e sindical até o final dos anos 1980, quando surgiram os partidos de esquerda e o novo sindicalismo, que junto com ela contribuem para a construção dos movimentos sociais, que passam a realizar suas lutas pela

terra sem a interferência direta da igreja. No entanto, a presença da Igreja Católica não deve ser ignorada nas lutas pela terra no Brasil, participação que varia desde uma atuação mais institucionalizada, formação de lideranças católicas, passando por apoio pessoal ou financeiro dos religiosos, até a forma mais estruturada de participação, com envolvimento direto de comissões de leigos ou comunidades de bases. Mas, sua participação passou a ser muito mais como apoiadora do que como indutora da luta, é verdade, como confirma Lopes (2007, p. 8):

Não se pode falar em movimentos sociais no campo em Sergipe, no período contemporâneo, sem que se coloque num plano de destaque a Igreja Católica, como a principal indutora e/ou apoiadora da criação de entidades de representação sindical rural e dos movimentos de organização de trabalhadores rurais.

Depois de quatro meses de fundada a CONTAG, adveio o golpe civil-militar e a entidade sofreu a intervenção do Ministério do Trabalho, interferência que durou até 1968. Durante a ditadura, vários sindicatos ligados à CONTAG foram fechados e muitas lideranças camponesas foram presas e/ou perseguidas. A Confederação passou a destinar grande parte de suas ações para o tratamento da reforma agrária, sem, no entanto, deixar de atuar na representação sindical rural, até o início dos anos 1980, mesmo tendo em suas fileiras sindicatos e sindicalistas mediados pela Igreja Católica.

Mediadora respeitada – e temida – pelas autoridades públicas estaduais e federais e latifundiários de Sergipe, que não raro procuravam desqualificá-la, a Diocese [de Propriá] continuou, mesmo com o advento da redemocratização do Brasil, em 1986, a ter um papel fundamental na mobilização e organização dos trabalhadores rurais de Sergipe na luta pela conquista da terra (LOPES, 2007, p. 9).

Desse período em diante, a Confederação passa por uma crise de representação e a receber a oposição e a concorrência da Comissão Pastoral da Terra (CPT). Porém, é do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), surgido no âmbito da CPT, que a Confederação receberá o maior concurso nas lutas pela Reforma Agrária, ao mesmo tempo, os sujeitos que demandavam terra se diversificaram, deixando de ser exclusivamente os que residiam ou vivam no campo, mas começou a contar com a participação dos trabalhadores que já possuíam parte de sua experiência de vida na periferia dos grandes e médios centros urbanos, sobrevivendo do subemprego e de trabalhos informais. É no âmago da CPT e das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) que surgem tanto o Partido dos Trabalhadores (PT) como a Central Única dos Trabalhadores (CUT), instituições que irão apoiar as lutas pela reforma agrária do MST.

Posteriormente, cresceu a luta pela reforma agrária, desencadeada pela CUT ou por outros movimentos dissidentes ou renovados, tanto em relação à CONTAG e à CPT quanto em relação à CUT e ao MST. A CONTAG continuou, porém, uma força sindical e referência política tanto no âmbito do sindicalismo rural quanto no da luta pela reforma agrária. Com o processo de cisão no interior do PCB, a CONTAG passou a estar sob a influência da dissidência que constituiu o Partido Comunista do Brasil (PC do B).

Convém lembrar que a politização da questão agrária foi, segundo Prado Júnior (2014, p. 283), um dos fatores que estimularam o golpe civil-militar, ou seja:

[...] precisamente o crescente interesse que então começa a despertar a questão agrária e os primeiros sintomas da série de pressão popular no sentido da efetivação de medidas tendentes à reforma agrária de nossas estruturas agrárias e relações de trabalho rural.

Assim, na tentativa de conter essa politização, o regime ditatorial, ao estabelecer- se, agiu nas duas frentes: na questão trabalhista, promulgou o Estatuto da Terra; e na questão da reforma agrária, direcionou, em nome na segurança nacional, os que não dispunham de terras e as desejavam para a região de fronteira e/ou de expansão agrícola do país, com a intenção de levar a gente sem-terra para uma terra sem gente.

Os militares viam no norte do país importante área de desbravamento, sobretudo com a abertura das grandes rodovias como a Transamazônica e a Belém/Brasília e, nisto, a possibilidade de desenvolvimento da região, de abrandamento dos conflitos e de deslocamento das lutas pela posse da terra (BEZERRA NETO, 1998, p. 31).

A colonização da Amazônia e a expansão da fronteira agrícola para a região Centro-Oeste e Norte do país serviam à intenção de dirimir os conflitos no campo e conter o que o regime chamava de agitação no campo, forma de tutelar o acesso à terra e de direcioná- lo para os locais de terras disponíveis. Assim, colonizar foi a bandeira usada para não realizar uma reforma agrária inclusiva, voltada para o desenvolvimento dos locais de origem dos que não tinham terra, que eram delas expulsos ou que viam na terra uma possibilidade de sobrevivência.

Sob o lema ―integrar para não entregar‖, o regime ofereceu terras, concomitantemente, na região de expansão agrícola e na Amazônia, a grandes grupos empresariais nacionais e estrangeiros (principalmente madeireiras, mineradoras e criadores de gado) em nome do desenvolvimento nacional, nome figurativo do desenvolvimento capitalista puro, tudo realizado sob a tutela e financiamento estatal. Por isso, na questão agrária:

Se de uma parte se deixaram de lado inteiramente os graves problemas da massa trabalhadora, e população rural em particular, praticamente

esquecidos, de outro se acentuaram e estenderam desmesuradamente os mesmo processos do passado que tinham dado nas estruturas rurais responsáveis, como fator imediato, pelo primitivismo do subdesenvolvimento brasileiro quando comparado com o mundo civilizado, [...] Haja visto esta partilha desordenada e destruidora da natureza – mas altamente promissora para os felizes beneficiários, estes novos colonizadores hoje ―empresário‖ –, partilha das terras virgens e ainda desocupadas (salvo os índios que sumariamente se expulsam), no norte de Goiás e Mato Grosso, e sobretudo da Amazônia (PRADO JÚNIOR, 2014, p. 284).

Além de estimular, sem nenhum segredo, a ocupação dessas regiões, a política estatal dos governos da ditadura civil-militar também abriu linhas de financiamento para grandes empreendimentos, atraindo-os para essas regiões e as demais, mesmo as produtivas e de maior desenvolvimento agrário, como São Paulo e Norte do Paraná, ou seja:

Será a generalização e podemos dizer institucionalização deste novo modelo que tão largamente vicejou sem nenhum embaraço legal ou administrativo, nos quinze anos deste ―desenvolvimento capitalista puro‖ que se realiza afinal no salariado sem traço algum de ―restos feudais‖: o boia-fria, apelido que já diz tudo (PRADO JUNIOR, 2014, p. 284-285, grifo do autor).

Os ideais de Revolução Verde43, que embasam as ações e políticas dos governos da ditadura civil-militar em favor do capital agrário, resultaram, de um lado, no aumento dos confrontos na região de fronteira do Brasil e nas áreas de expansão agrícola, no aumento da imediata submissão do trabalhador assalariado e outras formas de realização do trabalho; e de outro, na realização da reforma agrária e agrícola de interesse do capital: agricultura dependente do uso de maquinários, do uso intensivo dos chamados ―defensivos‖ agrícolas e do uso de ―sementes selecionadas‖, cuja produção dependia de grandes latifúndios e era baseada na produção extensiva ou monoculturas.

Essas políticas criaram e/ou fortaleceram os representantes do capital no campo, os mesmos encarregados de ―expulsar da região [norte ou de expansão agrícola] os posseiros e, com a exploração intensiva de madeiras e minérios, de destruir as florestas da região, agravando ainda mais a situação de conflitos pela posse da terra‖ (BEZERRA NETO, 1998, p. 31). Dessa forma, é lícito acreditar que o processo de concentração da terra teve seu ponto culminante, na direção do capitalismo, durante a ditadura civil-militar, responsável por articular os interesses, de um lado, dos remanescentes da oligarquia e, de outro lado, das

43 Trata-se de expressão que procura nomear a invenção e disseminação de novas sementes e práticas agrícolas voltadas para o aumento na produção agrícola, praticas realizadas, a partir da década de 1950, nos Estados Unidos e na Europa e que, nas décadas seguintes, foram exportadas para os países em desenvolvimento. Trata- se, por isso, de processo importação de tecnologias produtivas, que ao longo do tempo, transferiam as plantas industrias dos países ricos para os países em desenvolvimento e que resultou no processo de modernização conservadora do setor agropecuário em países em desenvolvimento como o Brasil.

várias frações da burguesia ligadas à produção agrícola capitalista, tanto interna como externa.

Por isso, a reforma agrária, segundo alguns autores, é um tema superado no interior da questão agrária pelo próprio desenvolvimento do capitalismo, deixando de ser,