• Nenhum resultado encontrado

7. EFEITOS DO PRONERA NO SUDOESTE DA BAHIA

7.1 O Sistema de Ensino e os Programas de Educação

A educação nos projetos apoiados pelo PRONERA abrange uma gama considerável de possibilidades. Segundo seu último Manual de Operações, ela abrange:

Em conformidade com seus objetivos, o PRONERA apoiará os seguintes projetos:

– Alfabetização e escolarização de jovens e adultos no ensino fundamental e médio;

– Capacitação e escolarização de educadores para o ensino fundamental nas áreas de reforma agrária;

– Formação inicial e continuada de professores que não possuem formação, sendo nível médio, na modalidade normal, ou em nível superior, por meio das licenciaturas;

– Formação de nível médio, concomitante/integrada ou não com ensino profissional;

– Curso técnico profissional de nível médio;

– Formação de nível superior, pós-graduação lato e stricto sensu: residência agrária/especialização, especialização/mestrado, de âmbito nacional, estadual e regional em diferentes áreas do conhecimento, voltados para a promoção do desenvolvimento sustentável no campo (BRASIL, 2016, p. 19). Por isso, o recorte da pesquisa foi para a escolaridade, desde a alfabetização, passando pelo nível fundamental, até o nível superior. Nesse sentido, por efeitos educacionais entende-se, nesta pesquisa, a educação dos assentados realizada nas modalidades77 e níveis78 de escolaridade oferecida pelo PRONERA.

O trabalho não diz respeito ao estudo de trajetória educacional dos assentados da Região Sudoeste da Bahia, o que, implicaria descrever o percurso educacional ou escolar deles no interior do sistema de ensino, ou seja:

Quando se fala de trajetórias escolares, o ―ponto‖ em questão é o aluno e o espaço de referência é o sistema de ensino. Trata-se, então, em primeiro lugar, de caracterizar a direção tomada, a distância percorrida e o tempo gasto por diferentes alunos para a realização de seus percursos escolares dentro dos sistemas de ensino (NOGUEIRA; FONTES, 2004, p. 59).

Dessa maneira, entende-se por ensino o realizado no ―sistema de ensino‖ ou no sistema de escolarização regular, o que exige que seja uma educação realizada num espaço físico permanente e que envolveria o investimento, também permanente, em infraestrutura, bens e pessoal. A escolaridade regular em instituição escolar tem a característica de ser localizada, geralmente, no interior ou próximo à comunidade que dela faz uso, no caso em tela, escolas instaladas no interior dos acampamentos ou assentamentos de reforma agrária ou próximas desses espaços. Da mesma forma, essa educação exige, normalmente, que os educandos permaneçam numa instituição por anos seguidos, enquanto realizam a sua formação educacional, indicativo de uma trajetória no nível de ensino que a escola estiver preparada para ofertar.

77 Classificação dada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), de 1989, a determinadas formas de educação que podem localizar-se nos diferentes níveis da educação escolar (educação básica e educação superior). As modalidades de ensino, segundo a LDB, são: Educação de Jovens e Adultos, a Educação Profissional e a Educação Especial (MENEZES; SANTOS, 2001a).

78 Nome dado aos diferentes estágios da educação escolar. A Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional (LDB), de 1996, estabelece dois grandes níveis de educação escolar: a educação básica (que compreende a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio) e a educação superior (MENEZES; SANTOS, 2001b).

O Programa não realiza investimento em estruturas permanentes do sistema de ensino, mas de maneira focalizada, disponibilizando recursos em função da duração do projeto, da região em que este será realizado, do nível e modalidade de educação do projeto, sempre respeitando o número de educandos/ano, isto é:

Os instrumentos de parceria com as instituições terão como base um padrão custo aluno/ano, a ser definido pelo Incra por Norma de Execução, cujo valor será regionalizado e deverá atender despesas com: hospedagem, alimentação, transporte, deslocamento, diárias, material didático e bolsas para o pagamento de coordenadores, supervisores, monitores, professores e estudantes, desde que atendidos os critérios estabelecidos na legislação sobre bolsa (BRASIL, 2016, p. 18, grifo nosso).

Cabe lembrar que o papel das políticas públicas/estatais do Estado capitalista, como é o caso do PRONERA, é ser instrumento de coesão social, e não ser modo de redução das desigualdades, sejam elas sociais ou educacionais. Vale lembrar que a ação estatal, na forma de política pública/estatal, como dito anteriormente, visa a ―reprodução do capital‖. Para realizar esses objetivos (coesão social e reprodução do capital), as políticas públicas/estatais, de alcance limitado, são focalizadas para o atendimento de demandas que permitam diluir conflitos. O que não significa dizer que as políticas públicas/estatais não tenham nenhuma importância ou nenhum efeito. Mas, sua importância ou seu efeito, é bom que se diga, não vão além do estabelecido nos objetivos dos programas e projetos. E, portanto, não podem ser confundidos com conquista da cidadania, nem ao menos conquista da cidadania burguesa. Os efeitos, quando focalizados em projetos, atingem uma parcela diminuta dos que precisam.

Um dos papéis da escola, por exemplo, é criar vínculos sociais, o que o PRONERA faz, mas com baixa intensidade, em função da inexistência de uma convivência frequente e de longo do tempo. Um efeito educacional de amplo aspecto exige que o aparelho escolar esteja no interior do assentamento ou na sua proximidade e, também, que sua estrutura seja um espaço da comunidade. Esses são aspectos da luta pela democratização da educação, uma bandeira dos anos 1980, que anda tão esquecida, na atualidade, mesmo pelos movimentos considerados combativos.

Por outro lado, a realização de escolaridade em infraestrutura permanente permitiria avaliar a ampliação da escolaridade, segundo os recursos metodológicos da sociologia, que aferem a quantidade média de anos de estudos a que a população foi submetida, correlacionando-a com a cobertura do sistema educacional e o aproveitamento educacional obtido por determinada população, num dado período de escolarização regular. Um critério muito comum para auferir efeitos ou impactos educacionais.

Não trata o estudo, também, do fluxo educacional contínuo do educando ao longo do tempo, pois uma característica do PRONERA é não exigir que o beneficiário que conclua uma modalidade seja obrigado a cursar a modalidade subsequente. Não é obrigatório também que o assentado já tenha cursado alguma modalidade anterior para se beneficiar dos projetos de educação oferecidos pelo Programa. Na verdade, muitas vezes isso nem possível, pela descontinuidade dos projetos no interior PRONERA, exigindo que para cada novo oferecimento de uma mesma modalidade ou nível de ensino seja realizado novo projeto de ação educacional e, consequentemente, nova tramitação de projeto, pelos canais competentes, o mesmo vale para projetos em modalidade ou nível anterior ou subsequente, ou seja:

[...] Para que estes princípios79 sejam atendidos, deve-se constituir um

Projeto Político-pedagógico, para cada ação (projeto) teoricamente consistente e contextualizado, permitindo fazer uso de instrumentos didático- pedagógicos de uma educação historicamente problematizadora, dialógica e participativa (BRASIL, 2016, p. 17, grifo nosso).

Diante do exposto, foi realizado o estudo para analisar os efeitos educacionais da política pública/estatal PRONERA para que os assentados da Região Sudoeste da Bahia realizassem sua formação escolar de nível básica e conquistassem a formação no nível superior.