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7. EFEITOS DO PRONERA NO SUDOESTE DA BAHIA

7.4 Organizações e Movimentos Sociais demandantes do PRONERA na

A Superintendência Regional do INCRA da Bahia é a SR 05. Segundo o Relatório do II PNERA, contabilizou 12 organizações demandantes para os 23 cursos requeridos do PRONERA (BRASIL, 2005, p. 55), sendo a Superintendência com maior número de demandantes no período de 1998 a 2011. No item número de cursos e de organizações demandantes, por abrangência de atuação no território nacional e nas regiões, foram assim classificados:

Os 320 cursos do Pronera [dados nacionais] realizados por 82 instituições de ensino contaram com 247 parceiros [...]. Os parceiros foram identificados por tipos: catorze movimentos organizados em diferentes escalas (nacional, regional e estadual); dezoito associações organizadas nas escalas nacional, regional e estadual e também segundo sua natureza pública ou privada; sete cooperativas, sendo seis estaduais e uma regional; 36 organizações não governamentais (ONGs) igualmente organizadas nas escalas estadual, regional e nacional; catorze universidades públicas estaduais; 21 universidades públicas federais, cinco universidades privadas; 67 instituições de governos municipais; cinquenta instituições de governos estaduais e quinze instituições do governo federal (BRASIL, 2015, p. 56).

São considerados parceiros80 (além dos movimentos sociais, do INCRA e das IES), as secretarias municipais e estaduais de educação, órgãos municipais, estaduais ou federais, autarquias públicas municipais, estaduais ou federais, Organizações não Governamentais (ONGs) e associações civis e sindicais. Esses parceiros atuam disponibilizando assessoria, apoio logístico, material, infraestrutura ou pessoal para o desenvolvimento dos cursos.

Dentre os movimentos sociais com atuação na Bahia, destacamos: o Movimento de Luta pela Terra (MLT), que surgiu no ano de 1993, pela ocupação das fazendas Bela Vista e Santa Maria, no município de Ilhéus/BA. Após esse período, o Movimento se organiza e se expande para outros Estados. Tem atuação na Bahia, Minas Gerais, Sergipe, Distrito Federal, Roraima, Amazônia, Goiás, Distrito Federal e outros estados. Após seu surgimento, o MLT realizou, de 29 a 31 de agosto de 2012, na sede da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG), em Brasília, seu 1º Congresso Nacional (MLT, 2016).

O Movimento dos Trabalhadores Desempregados (MTD) é um Movimento social que busca, a partir da mobilização do povo organizado, lutar pela reivindicação dos direitos e das necessidades mais imediatas do nosso povo, seja na educação, saúde, cultura, trabalho,

80 Os principais parceiros são os movimentos sociais e sindicais de trabalhadores e trabalhadoras rurais, o INCRA, as instituições públicas de ensino e as instituições comunitárias de ensino sem fins lucrativos. A esses podem se agregar outros, dependendo das características de cada projeto, como os governos municipais e estaduais.

terra etc. Para isso, de forma coletiva e horizontal, busca construir ferramentas de luta que ajudem na caminhada cotidiana em direção a esses objetivos, disponibilizando centros de cultura, bibliotecas, oficinas, atividades culturais, trabalhos de produção e geração coletiva de renda, espaços de educação e outros. Além disso, atua na ocupação de terra para a obtenção de assentamentos que garantam a dignidade dos trabalhadores.

O Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) se denomina um Movimento camponês de caráter nacional e popular, de massa, autônomo e de luta permanente, constituído por grupos de famílias camponesas que acreditaram não estarem mais representados após o fim do Departamento Rural da CUT. Esse Movimento expressa a crise do movimento sindical, que, após cumprir importante papel na luta camponesa, viu-se enredado na burocracia estatal.

A crise do modelo de agricultura da revolução verde, que gerou empobrecimento e exclusão no campo, e outras lutas como as realizadas contra a expulsão do campo e a exploração, a exemplo das realizadas pela CEBs, CPT e MST, apontaram caminhos para a construção dessa nova organização (MPA 2016). O MPA integra a Via Campesina, articulação internacional de movimentos camponeses, e, junto com outros movimentos e setores da sociedade, luta por um Projeto Popular para o Brasil. Atualmente, o Movimento está organizado em 17 Estados do país.

A Coordenação Estadual dos Trabalhadores Rurais Acampados e Assentados (CETA)81 originou-se no início de 1994. Estruturou-se a partir das lutas dos acampados e assentados pela conquista da terra por meio da articulação dos acampamentos e assentamentos acompanhados pela CPT, CUT e MST na Bahia, em especial no Médio São Francisco. No início, identificava-se como Comissão de Assentados e Áreas de Conflitos da Bahia (1995- 1999), passando à Coordenação Estadual dos Trabalhadores Assentados e Acampados da Bahia (1999- 2002). Em 2002, passa a se denominar Movimento Estadual dos Trabalhadores Assentados e Acampados da Bahia. Em abril de 2003, fez sua primeira grande marcha pela terra sem a participação do MST, alcançando sua independência em relação a ele. Em 2004, passa a incorporar em suas lutas as demandas das Comunidades Quilombolas.

Segundo a CETA, o movimento encontra-se organizado em 08 regionais: Chapada Diamantina, Bom Jesus da Lapa, Bonfim, Médio e Baixo São Francisco, Recôncavo, Sul e Sudoeste, atende 3.123 famílias acampadas e 10.247 famílias assentadas, nas seguintes regiões baianas: Lapa, com sede em Bom Jesus da Lapa; Médio São Francisco, com subsedes

em Ibotirama e Xique-Xique; no Sertão, com sub-regionais em Senhor do Bonfim e Jacobina; na Chapada, tendo Itaberaba como sede; no Sul, com Ibirapitanga e Santa Luzia como sub- regionais; no Recôncavo Baiano, com sede em Salvador e, no Sudoeste, com sede em Encruzilhada.

A Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Estado da Bahia (FETAG) foi fundada em 1º de setembro de 1963. Passou por momentos difíceis a partir do golpe civil- militar de 64 e da intervenção dos militares, assim como a maioria das organizações sociais no Brasil. É uma

entidade sindical de segundo grau, autônoma, sem fins lucrativos [com] as finalidades de defesa, organização, estudo, formação, capacitação profissional, assistência técnica, coordenação e representação legal da categoria profissional dos trabalhadores rurais (FETAG, 2016, s/p.).

A FETAG é organização sindical que congrega os Sindicatos de Trabalhadores Rurais (STRs) da Bahia, filiada à Contag e à Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB).

A Fundação de Apoio aos/às Trabalhadores/as Rurais e Agricultores/as Familiares da Região do Sisal e Semiárido da Bahia (FATRES) identifica-se como organização sindical, fundada em 1996, com sede no município de Valente. Tem atuação em 16 municípios e é filiada à FETAG/BA.

Segundo informações do site do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST, o movimento iniciou sua trajetória no Estado da Bahia com a ocupação da Fazenda 4045, localizada no município de Alcobaça, na noite de 06 de setembro de 1987. O acampamento foi formado por famílias da Região Extremo Sul do Estado, em especial dos municípios de Prado, Teixeira de Freitas, Alcobaça, Itamaraju, entre outros. O movimento afirma ter, hoje, 132 assentamentos e 212 acampamentos, divididos em 09 Regionais e 31 brigadas. Na Região Sudoeste da Bahia o movimento possui uma base forte, formada por inúmeros assentamentos.

Antes de prosseguir, convém tratar da participação dos movimentos sociais e sindicais, representativos do público beneficiário. Isso se faz necessário em função da importância dada pelo PRONERA à questão, como expressam os seus manuais de operações. Nesse sentido, nas atribuições dos parceiros, coube aos movimentos sociais e sindicais no 1º Manual de Operações do PRONERA, lançado em 1998, as funções abaixo discriminadas:

– mobilizar jovens e adultos moradores das áreas de Reforma Agrária para a identificação de demandas;

– identificar, em conjunto com os demais parceiros. As áreas da Reforma Agrária que participarão dos projetos;

– participar da elaboração e do acompanhamento durante a execução dos projetos educacionais;

– buscar, em conjunto com as instituições públicas de ensino, governos estaduais e municipais e o INCRA, a infraestrutura [sic.] necessária ao funcionamento do Programa nas áreas de Reforma Agrária;

– acompanhar, em conjunto com os demais parceiros, todo o processo pedagógico desenvolvidos pelos(as) educadores(as) e coordenadores(as), locais quanto à adequação curricular, metodológico, formas de participação, entre outras;

– participar da seleção e capacitação dos(as) educadores(as) das áreas de Reforma Agrária;

– discutir, acompanhar e avaliar em conjunto com os demais parceiros a aplicação dos recursos e execução do Plano de Trabalho e do Projeto (BRASIL, 1998, p. 22-23).

Vê-se que a participação dos movimentos sociais e sindicais no Programa dignifica um reconhecimento da gestão participativa e partilhada das ações, nas quais, a julgar pelas atribuições reservadas a eles no manual de 1998, os movimentos sociais têm razão em mencionar o Programa como uma conquista de espaço no interior do Estado, conseguido em função da luta pela educação.

Essas atribuições dos movimentos sociais e sindicais, pelo visto, devem ter permanecido idênticas no manual de operações publicado no ano de 2001, o que não foi possível de confirmar, por não ter sido encontrado publicações sobre a questão. Mas, o fato de essas atribuições serem mantidas intactas no manual publicado no ano de 2004, reforça tal certeza.

No entanto, toda a tinta gasta para laurear as atribuições dos movimentos sociais e sindicais no interior do PRONERA será colocada em xeque no manual de operações de 2011. Como se sabe, ele foi publicado para atender o Decreto nº 7.352/2010, que institui a política de educação do campo, e o Acórdão TCU nº 3.269/2010. Nesse manual, já não constam os movimentos sociais e sindicais como parceiros, o que pode ser notado já no sumário da publicação. Nos critérios para análise de projeto, ao contrário da participação ativa, aparece como recomendação a observância do Acórdão, que cassa a participação ativa dos movimentos sociais e sindicais, como demonstra a citação abaixo:

1) Não pode haver restrição à participação de alunos que não pertençam à determinado movimento social;

2) Não pode haver menção, nos projetos educacionais, de disciplinas curriculares ou extracurriculares que visem a formação de técnicos militantes ou à concessão de privilégios indevidos a movimentos sociais ou entidades afins;

3) Não pode haver previsão de indicadores de resultados qualitativos dos cursos tendo por base o acompanhamento político, pedagógico, técnico e social por parte dos movimentos sociais;

4) Não pode haver previsão de avaliações dos discentes com base em seu comportamento com os movimento sociais;

5) Deverá constar dos instrumentos de contratação exigências de que a instituição, ao selecionar professores destinados a ministrar aulas do curso, realize processo seletivo simplificado com ampla divulgação e concorrência, pautando-se por critérios objetivos e transparentes e pelos princípios básicos da administração pública, mormente os impessoalidade e moralidade, impedindo que questões políticas, partidárias, filosóficas ou ideológicas influenciem a escolha do corpo docente (BRASIL, 2011, p. 19).

Como se pode observar, foram cassados, nos termos da lei, exarada pelo TCU, que é um órgão consultivo da Câmara dos Deputados, os principais instrumentos de atuação dos movimentos sociais e sindicais no PRONERA. Como se não bastasse, nas atribuições dos parceiros, restringiram-se as atribuições dos movimentos sociais e sindicais, ficando-se no que segue: ―– Indicar as demandas educacionais das áreas de reforma agrária e do crédito fundiário, em conjunto com os demais parceiros; – Acompanhar e avaliar o processo pedagógico dos cursos‖ (BRASIL, 2011, p. 24).

Essas atribuições mostram bem que, de parceiros ativos, os movimentos sociais e sindicais foram conduzidos à braça auxiliar das demais instituições que participam do PRONERA. Essa situação permanece no manual de operações publicado no ano de 2014. O manual publicado no ano de 2016, apesar de essa data está fora do escopo da pesquisa, é importante que seja registrado, pois confirma o entendimento exposto ao longo da investigação, ensaia uma maneira de recompor a participação dos movimentos sociais e sindicais. Para isso, seus autores recorrem à publicação da Controladoria Geral da União (CGU)82, que trata do exercício do controle social e da fiscalização do cidadão na gestão pública, para acrescentar às atribuições citadas acima, do manual de 2014, a de ―Efetuar o controle social, entendido este como a ‗participação do cidadão na gestão pública, fiscalização, no monitoramento e no controle das ações da administração pública‘‖ (BRASIL, 2016, p. 27).

Dessa maneira, os movimentos sociais e sindicais adquirem o papel de fiscalizador das ações, sepultando de vez os ideais e práticas de participação na gestão democrática do PRONERA. Não que essa participação tenha deixado de existir de fato, mas não é mais feita com a complacência dos manuais, e sim ao arrepio das normas. O Estado em ação colocou em prática seu poder e sua função, fazendo vigorar a norma da objetividade e da neutralidade no interior do PRONERA. De maneira que, com o Acórdão, busca-se construir

um PRONERA Sem Partido, ou seja, sem militância e participação aguerrida dos movimentos sociais, sem as cores e as experiências da luta.

Em seguida, trata-se das universidades do Estado da Bahia, dentre as quais, algumas atuam no PRONERA, ainda que não façam parte do escopo da pesquisa, que prioriza a UESB E A UNEB.