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O panorama atual

No documento Adriana Padua Borghi.pdf (páginas 90-93)

2. A Responsabilização Juvenil

2.3. Percorrido o caminho, atravessar: analisando os discursos

2.3.2. O panorama atual

Como vimos, a aprovação do texto legal (ECA) não bastou para a implementação da “doutrina da proteção integral” e diversos escritos sugerem as causas dessa problemática. Entretanto, algumas medidas foram adotadas com o propósito de normatizar as mudanças que deveriam ser operadas em diversos setores ligados à questão. Abordaremos neste item as medidas que foram implementadas em relação aos setores vinculados ao sistema de Justiça Juvenil.

275

Cf. FAJARDO, Sinara Porto. Retórica e realidade dos direitos da criança e do adolescente no Brasil: uma análise sociojurídica da lei federal nº 8069, de 13 de julho de 1990, op. cit., Sinara02.htm.

A fim de nortear a implementação das novas diretrizes, o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente276 (CONANDA) desenvolve o “Sistema de Garantia de Direitos” (SGD) e, por meio da Resolução 113/2006, estabelece:

Art. 1º O Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente constitui-se na articulação e integração das instâncias públicas governamentais e da sociedade civil, na aplicação de instrumentos normativos e no funcionamento dos mecanismos de promoção, defesa e controle para a efetivação dos direitos humanos da criança e do adolescente, nos níveis Federal, Estadual, Distrital e Municipal.

Instala-se um sistema de proteção geral de Direitos que objetiva “melhor ordenar as várias questões que gravitam em torno da temática, reduzindo-se, assim, a complexidade inerente ao atendimento aos direitos desse público277”.

O SGD atua tanto na “proteção/defesa” e “promoção” de direitos da criança e do adolescente, quanto no “controle”. Esses três setores de atuação, ou eixos de atuação, se complementam e se inter-relacionam, sendo importantes colaboradores da implementação das regras previstas no ECA como um todo. Esses três eixos do SGD afetam, tanto direta quanto indiretamente, o funcionamento e a implementação do sistema de justiça juvenil previsto no Estatuto.

Resumidamente, cada um desses eixos objetiva:

• Promoção de direitos: promover o desenvolvimento de uma política de atendimento nessa área, buscando a efetivação de direitos.

• Defesa/Proteção de direitos: garantir o acesso à justiça em sentido amplo, protegendo extra ou judicialmente, os direitos violados ou em vias de serem violados. Incluem-se casos individuais e coletivos.

• Controle: atividade realizada tanto pela sociedade civil organizada, quanto pelos órgãos competentes de acompanhamento, avaliação e monitoramento das ações nessa área278.

276

Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA), criado pela Lei Federal n.º 8.242, de 12 de outubro de 1991, é o órgão responsável por deliberar sobre a política de atenção à infância e adolescência em nível nacional.

277 Cf. Secretaria Especial dos Direitos Humanos. Sistema Nacional De Atendimento Socioeducativo –

SINASE – Brasília-DF: CONANDA, 2006, p. 22.

278

Como a análise do SGD não é o objetivo desse trabalho, para maiores detalhes vide: NOGUEIRA Neto, Wanderlino. Direitos Humanos da Infância e da Adolescência no SIPIA, op. cit.

Apesar do SGD, no que diz respeito ao adolescente envolvido com ato infracional, um subsistema se fez necessário. O CONANDA, em parceria com a Secretaria Especial dos Direitos Humanos, com a Associação de Magistrados e Promotores da Infância e Juventude (ABMP) e o Fórum Nacional de Organizações Governamentais de Atendimento à Criança e ao Adolescente (FONACRIAD), elaboraram o “Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo” (SINASE).

O SINASE é o conjunto ordenado de princípios, regras e critérios, de caráter jurídico, político, pedagógico, financeiro e administrativo, que envolve desde o processo de apuração de ato infracional até a execução de medida socioeducativa. Esse sistema nacional inclui os sistemas estaduais, distrital e municipais, bem como todas as políticas, planos, e programas específicos de atenção a esse público279”.

O SINASE foi sancionado pela Presidente da República280 em 2012 e passa a regulamentar em nível nacional a execução das medidas socioeducativas, destinadas aos adolescentes autores de ato infracional. Sancionada a lei, resta aguardarmos a implementação para conferirmos seus efeitos281.

Apontamos o complexo panorama legal em vigor que visa implementar as diretrizes do ECA. Apesar de todo esse esforço e multiplicidade de diretrizes, outros dois modelos emergem no território. Abaixo, discutiremos o que pretendem.

279 Cf. Idem, op. cit., p. 22. Cabe explicar que não discutiremos, também, o SINASE, pois sua aprovação

ocorreu próxima à conclusão do nosso estudo. Além disso, no mapeamento bibliográfico que realizamos não localizamos nenhum texto analisando-o.

280 SINASE é fruto do projeto de lei 1627/2007 de autoria do Poder Executivo, transformado na Lei

Ordinária 12594/2012 – Ementa: Dispõe sobre os sistemas de atendimento socioeducativo, regulamenta a execução das medidas destinadas ao adolescente, em razão de ato infracional, altera dispositivos da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, que dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente, e dá outras providências. Explicação da Ementa: Institui o Sinase - Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo; cria um plano individual de cumprimento das medidas socio-educativas, que poderá ocorrer em programa de meio aberto ou programa de privação de liberdade, com requisitos específicos para cada espécie; e transfere ao Executivo os programas socioeducativos, atualmente sob responsabilidade do Judiciário.

281

Em 2008, Mário Volpi, gerente de projetos do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e coordenador do Programa Cidadania dos Adolescentes no Brasil, da mesma instituição, concedeu entrevista ao portal Pró-Menino, da Fundação Telefônica. Nessa oportunidade, ele declarou: “O Sinase traçou as diretrizes gerais que, se implementadas, vão acabar com a discricionariedade e vão disciplinar as diferentes áreas da vida institucional (das unidades de internação). Desde a necessidade de um projeto pedagógico até um projeto arquitetônico, um programa de capacitação de profissionais, uma política de cargos e salários e a definição das funções de cada instância do sistema socioeducativo. Ele só funciona com uma política pública articulada nas três esferas de governo: municipal, estadual e federal”. Acesso em fev/2012: http://www.promenino.org.br/Ferramentas/Conteudo/tabid/77/ConteudoId/caa69c8c-b224-4804-9459- 95f1f4a10c40/Default.aspx.

No documento Adriana Padua Borghi.pdf (páginas 90-93)