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Índice de Tabelas

2. A emergência da OCDE como agência de regulação transnacional no domínio das construções escolares

2.2. O papel da OCDE na criação de estruturas de planeamento em Portugal

Com Leite Pinto abriu-se uma nova fase política no nosso sistema educativo, como já foi referido. Uma nova fase marcada pela influência de organizações internacionais, como a OCDE na regulação do sistema educativo português e pelas conceções do planeamento (NÓVOA, 2005).

Com efeito, o planeamento assumiu, neste período, um papel central nos debates e na ação da OCDE.

Após a conferência de Washington, em 1961, cuja continuidade é dada pelos trabalhos desenvolvidos pelo Grupo de Estudo dos Aspetos Económicos do Ensino, fica clara a crença na ligação entre o impulso dado ao investimento no ensino e o crescimento das economias. Ora, esse crescimento passa, segundo esta organização internacional, pela ênfase dada ao planeamento do ensino. A satisfação desta exigência era considerada como a condição necessária para a realização de objetivos a médio e longo prazo, quer na frequência do sistema de ensino (básico, secundário e superior), quer na criação e maior eficácia na gestão dos recursos materiais e humanos.

Como refere PAPADOPOULOS (1994), a OCDE pretendia apelar à “importância da existência de dados estatísticos mais cuidados sobre os efetivos, os professores, os edifícios escolares e o financiamento, da mesma forma como da necessidade de proceder a estudos permanentes sobre os fatores que exerciam efeito sobre a escolarização, o número de alunos e a estrutura de mão-de-obra” (p. 41).

É neste contexto que surge o PRM que constituirá uma das atividades operacionais da OCDE mais importantes neste período108 e que beneficiará de um grande apoio – financeiro, intelectual e político

(PAPADOPOULOS, 1994), cuja ideia-base sublinha os aspetos frisados na afirmação anterior:

A ideia era simples : pretendia-se que os seis países da OCDE da zona do mediterrâneo associassem o ensino ao crescimento económico e, por extrapolação, ao progresso social e,

107 O Bouwcentrum constituiu um centro importante na disseminação de conhecimento no âmbito da arquitetura escolar. Sediado em Roterdão, o Bouwcentrum é financiado pelo Ministério da Educação Holandês e dedica-se à investigação e desenvolvimento no domínio das construções escolares. Entre as várias publicações produzidas por este centro refere-se o International Schoolbuilding News.

108 “Convém relembrar que o PRM foi lançado num contexto político caracterizado pelo crescimento e desenvolvimento económico, que constituiria a primeira preocupação da OECE/OCDE, com uma crença muito forte na planificação ao nível central na qual as políticas de educação deviam ser integradas” (PAPADOPOULOS, 1994, p. 47)

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o fizessem, não de uma forma abstracta, ... mas com base em dados reais de planificação e elaboração das políticas nos diversos países (p. 46)

No entanto, a “campanha” da OCDE sobre a questão do planeamento não se fica pelo desenvolvimento de programas operacionais como o PRM, mas também no convite à criação de estruturas de planeamento no seio dos ministérios da educação nacional.

esses países foram convidados a criar, no seio do ministério de educação nacional, um gabinete central de planificação e de estatística, encarregue da planificação do ensino, assim como um conselho que «tivesse uma influência real» (PAPADOPOULOS, 1994, p. 29) É fortemente desejável que sejam criados ou reforçados organismos de previsão e de planeamento no seio dos ministérios «e de outras instâncias governamentais ou grupos interessados na investigação e análise da opção mais económica dos recursos nacionais» (PAPADOPOULOS, 1994, p. 41)

É neste seguimento, que em 1965 é criado o Gabinete de Estudos e Planeamento da Ação Educativa (GEPAE), por ação do Ministro Galvão Telles, cujos objetivos, nas palavras de SACUNTALA MIRANDA “encarnam os projectos da OCDE em relação a Portugal” (1978, p. 331

).

Para o GEPAEdefiniam-se os seguintes objetivos:

Há que manter contactos com os outros organismos, nomeadamente estrangeiros, que se debruçam também sobre o estudo dos temas escolares ou exercem uma acção de fomento educacional, pois essas relações são muito importantes, num mundo que se torna cada vez mais pequeno, e delas resulta multilateral proveito,

Há que realizar estudos e experiências pedagógicas, convenientemente orientados, em ordem à renovação e aperfeiçoamento das estruturas escolares, planos de estudo, programas, métodos, textos.

Há que planear o desenvolvimento quantitativo do sistema escolar, na sua projecção nacional e regional, em correlação com o desenvolvimento do País, e proceder para isso à recolha e elaboração de elementos estatísticos, realização de inquéritos, análise de dados demográficos, económicos, sociais.

Há que preparar textos legislativos ou colaborar nessa preparação, dar parecer ou fazer estudos sobre aspectos jurídicos, administrativos, financeiros, ligados às actividades educacionais.

Há que difundir, finalmente, os resultados de todo esse esforço, prestando informações aos outros Serviços do Ministério e levando aqueles resultados ao conhecimento do público interessado (TELLES, 1966, p. 320)109

109 Discurso proferido a 4 de Maio de 1965, por ocasião da tomada de posse do Presidente da Direção do GEPAE, Doutor Fernando Pessoa Jorge.

101 A criação do GEPAE revestiu-se de grande importância para o panorama educativo nacional, não apenas pelas alterações provocadas no modo de funcionamento do sistema, como nos sublinha Prostes da Fonseca

... entretanto o Galvão Telles criou uma coisa que foi o GEPAE, que foi.... que foi aquilo que deu a volta à conceção da educação. Porque antes dessa criação as estruturas que lideravam a educação, ou seja o ministério da educação eram estruturas estritamente administrativas. Estritamente administrativas. O ministério da educação não tinha nenhum órgão, nenhuma estrutura que pensasse... não tinha. Tinha várias direções gerais, as direções gerais por graus de ensino... e aquilo era pura e simplesmente administrativo. Mas, pura e simplesmente administrativo, não havia estudos, não havia planeamento, não havia nada. O Galvão Telles teve a ideia, quanto a mim brilhante de criar o GEPAE e o GEPAE passou a ter todas as funções de estudo e planeamento, pela primeira vez.

...deu-se a volta completa à política do ensino e à mentalidade. Mas uma volta completa. (entrevista Prostes da Fonseca, p. 3, l 18-25; p. 4, l 3)110

mas também como nos diz NÓVOA (2005) pela “matriz que ganhará forma com a criação do GEPAE...reveladora dos grupos e das redes pessoais e institucionais que não mais deixarão de ocupar o Ministério da Educação”111 (p. 117).

Por fim e no domínio das construções escolares e, nomeadamente, no âmbito dos trabalhos que estavam a ser desenvolvidos pelo GTSCE, o GEPAE vai constituir uma estrutura importante, na medida em que é em conjunto com este organismo que o GTSCE recolherá e analisará os dados para a elaboração de uma carta escolar. A Carta Escolar de Portugal Metropolitano vai ser, assim, preparada ao longo de vários meses (e já no âmbito do 2º contrato com OCDE), numa parceria entre o GTSCE, o GEPAE e uma entidade privada (CODEPA).

o centro de orientação e documentação do ensino particular, lda, o qual foi incumbido por aquele gabinete da referida carta (GTSCE-RELT-66-3)112.

Colaborou o Grupo de Trabalho activamente na Carta Escolar de Portugal Metropolitano que a CODEPA tomou a incumbência de executar para o Ministério de Educação Nacional. (GTSCE-RELT-66-8)113

110“o lançamento do GEPAE em Janeiro de 1965, terá constituído o primeiro passo verdadeiramente significativo visando a transformação do Ministério da Educação, que, até aí, não era mais do que um conjunto de serviços com funções

essencialmente executivas. … Resumindo, com o GEPAE conseguiu-se, pela primeira vez, criar uma dinâmica de planeamento, para o que contribuiu o lançamento da segunda fase do já citado Projecto Regional do Mediterrâneo, cuja equipa foi, por convite de Galvão Telles, igualmente coordenada por mim” reforça Prostes da Fonseca numa entrevista concedida a António Teodoro em 1996 (TEODORO, 2002, p. 385).

111 Como relembra TEODORO (2001, p. 235), “o GEPAE vai tornar-se, progressivamente, e até 1974, um pólo de renovação das estruturas do Ministério da Educação e do seu centro pensante, por onde virão a passar um conjunto de jovens técnicos que, mais tarde, virão assumir elevadas responsabilidades no plano político e da administração da educação”. Entre eles podemos fazer referência a Fraústo da Silva, Amaro da Costa, Sousa Franco, Rui Vilar, João Cravinho, Roberto Carneiro, Prostes da Fonseca, Teresa Ambrósio, Pedro Roseta e Almeida Costa.

112 Relatório mensal do GTSCE, março de 1966. Ver inventário corpus documental anexo 1. Ver também relatórios janeiro, abril, maio e junho de 1966.

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2.3. O papel da OCDE na modernização da estrutura administrativa no domínio das

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