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Índice de Tabelas

2. De uma regulação transnacional mais evidente a uma relevância da dinâmica nacional

2.1. Carácter menos dirigista da regulação transnacional

2.1.2. O programa PEB (Programe on Educational Building)

Como referido, o segundo programa através do qual se fez sentir a presença da OCDE neste período, foi o Programa PEB. Na sequência da 5ª Conferência de ministros da educação dos países membros da OCDE, em 1965 (em Viena), estes reconhecem os resultados positivos do programa DEEB e pedem a esta agência internacional a preparação de um relatório sobre o projeto, bem como um estudo sobre o futuro da atividade da OCDE no domínio das construções escolares. Daqui resulta uma reunião de altos- funcionários responsáveis pelas construções escolares que tinha como objetivo primordial “adotar as medidas concretas que permitissem institucionalizar e sistematizar a troca e partilha internacional de informações e experiências neste domínio” (PAPADOPOULOS, 1994, p. 82).

É a partir daqui que começa a crescer a ideia da criação de um programa da OCDE no domínio das construções escolares e que acaba por se concretizar em 1972. Este programa é o PEB219 (Programe on

Educational Building), que tinha como funções essenciais a recolha e difusão de informações no que respeita à investigação e desenvolvimento no domínio das construções escolares. O programa identificava três grandes temas a desenvolver: a gestão dos investimentos em matéria de construção escolar; a relação entre a construção escolar e a inovação do ensino; e a inovação técnica e a construção. Previa, assim, realizar um registo dos principais organismos de construção escolar; e ter um reportório classificado de inovações e de boas práticas que permitissem: examinar os problemas que

218 “A OCDE preconiza, desde o seu início a criação de uma escola que forneça de facto igualdade de oportunidades a todos os que nela participam, consoante o «mérito» de cada indivíduo” (SACUNTALA MIRANDA, 1978, p. 324).

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tivessem interesse para todos os países participantes; descrever casos com características inovadoras; organizar colóquios e reuniões de trabalho sobre as temáticas do PEB; e definir novos domínios de interesse (MOP, 1971b).

Um dos primeiros representantes portugueses no Comité da OCDE para as construções escolares, que dirigia o programa PEB, foi Prostes da Fonseca que foi eleito vice-presidente na reunião do comité de direcção para a construção escolar de 27 e 28 de setembro de 1971, conjuntamente com Clive Booth de Inglaterra, sendo eleito para presidente Kjens da Dinamarca (MOP, 1971b). Recordando os primeiros passos no sentido da criação deste Programa, Prostes da Fonseca relata,

houve também uma situação, agora internacional, porque a OCDE, do sector da educação... eu já conhecia muita gente e um dia uma técnica de lá, que tinha uma posição alta e que era a coordenadora da parte da educação... e um dia que eu fui lá a Paris ela diz-me “gostava de conversar consigo, tenho aqui uma ideia e a minha ideia era criar no quadro da educação, aqui na OCDE, criar uma estrutura específica para tratar das construções escolares. Porque daquilo ... não era só eu que dizia, era eu e muitas outras pessoas... nós púnhamos muito em causa o que se estava a passar na Europa, nos Estados Unidos, no Canadá, no Japão. Porque a OCDE, como sabe, não é só a Europa... e de facto toda a gente..

De maneira que nós íamos criar aqui e gostávamos que você liderasse este grupo, um grupo de trabalho e eu perguntei quem eram as outras pessoas e havia um francês, havia isto e havia aquilo, um inglês. E eu disse está bem, isso é interessante e eu aceito isso. (entrevista Prostes da Fonseca, p. 6, l3-13)

Daqui o que importa reter é a natureza deste programa e o que significa do ponto de vista da regulação no âmbito das construções escolares. De facto, ao longo dos anos este programa foi liderando estudos, emitindo pareceres e publicações220, promovendo visitas e missões (de consultores da OCDE ao nosso

país e missões ao estrangeiro de técnicos portugueses221), promovendo conferências, seminários e

cursos intensivos, de acordo com seis atividades primordiais:

Actividade 1 – documentos base

Actividade 2 – a escola de opções múltiplas e a sua incidência na construção

Actividade 3 – métodos de construção industrial em função das necessidades do ensino Actividade 4 – colóquios sobre construção escolar

Actividade 5 – disposições institucionais em matéria de construção escolar Actividade 6 – adaptabilidade na construção escolar (MOP, 1973a, p.1)

220 A título de exemplo, estas são algumas das publicações do programa PEB durante este período: OCDE (1973a); OCDE (1973b); LENSSEN, 1973; OCDE (1974a); OCDE (1974b); OCDE (1975a); OCDE (1975b); OCDE (1975c); OCDE (1975d); RODHE, 1976; OCDE (1976); OCDE (1977); OCDE (1978a); OCDE (1978b), entre outras.

221 Conjuntamente com outras formas de disseminação das ideias, as missões de consultores permitiam o estabelecimento de contacto entre técnicos e altos-funcionários e o staff da OCDE, que uma vez mais sublinhava a perspetiva da OCDE (NOAKSSON & JACOBSSON, 2003).

173 Analisando a estrutura deste programa e as atividades que o compõem e a forma como estas se desenvolvem, vemos emergir as tais alterações no ‘modo de fazer’ da OCDE no campo das construções escolares e de certa forma, este programa parece testemunhar uma transição no paradigma de funcionamento desta organização internacional.

Concretizando e analisando algumas das suas atividades principais:

Atividade 1 – Documentos Base - A primeira atividade deste programa PEB correspondia a um dos objetivos principais deste programa, ou seja, o intercâmbio de informações e experiências. Para consegui-lo, esta organização internacional solicitou que cada país participante designasse um representante que fazia chegar ao Secretariado do Programa uma descrição da estrutura administrativa das construções escolares em cada país e um resumo “elaborado de acordo com um questionário preparado pelo próprio secretariado, com as preocupações mais importantes que os responsáveis tinham neste domínio” (FLORES, 1974, p.73). Como sublinham MAHON & McBRIDE (2008a) a OCDE “desempenha um papel muito ativo na identificação apropriada de indicadores e desenvolvendo formas comuns de medir no sentido de permitir uma comparação entre países” (p. 8). Mas não só, como muito bem frisam NOAKSSON & JACOBSSON (2003) estes questionários encerram em si um instrumento de regulação222, na medida em que,

As questões colocadas aos técnicos nacionais constituem um meio de os ajudar a direcionar a sua atenção a um conjunto de áreas-problemáticas que a OCDE considera interessantes. As questões providenciam ainda um vocabulário próprio introduzido pela OCDE, que conceptualiza problemas e limita as margens de manobra dos países membros, no momento da discussão e na resolução no seu dia-a-dia (NOAKSSON & JACOBSSON, 2003, p. 32)

Ainda no âmbito desta Atividade 1 do PEB eram produzidos Boletins223, que eram reeditados em cada

país membro, funcionando este programa, aqui não só como um meio de criar uma ‘linguagem comum’ (através dos seus questionários e indicadores) mas também uma “base comum de conhecimento”224

(JACOBSSON, 2002, p. 17).

MARCUSSEN (2004a) enfatiza mesmo a capacidade que este organismo internacional tem, através da sua investigação, de fazer emergir determinadas tendências, de identificar problemas comuns e de

222 Como sublinham BARROSO & CARVALHO (2011), os “inquéritos internacionais comparados são casos exemplares de instrumentos de regulação baseados e geradores de conhecimento” (p. 10)

223 A título de exemplo pode-se falar aqui dos dois primeiros boletins editados pelo programa PEB: A construção escolar, hoje e amanhã, “que é uma tentativa para descrever e resumir os grandes problemas com os quais se sentem confrontados todos os que têm responsabilidade em matéria de construção escolar”; e Maiden Erlegh, um boletim preparado por um delegado inglês, em colaboração com o Secretariado do PEB “consagrado a um projeto inglês de desenvolvimento de uma escola secundária” (SG/OCDE/UNESCO-OF-73-8)

224 Este programa procurava adicionar um valor ao desenvolvimento dos seus trabalhos, ao construir uma base comum de conhecimento, no sentido de responder a uma necessidade de aprendizagem constante, mas também numa tentativa de “encontrar critérios objetivos para as «boas práticas»” (JACOBSSON, 2002, p. 17)

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mapear um conjunto de soluções apropriadas e de promover “uma espécie de novo senso comum educacional” (LIMA & AFONSO, p. 8).

Atividade 2 – a escola de opções múltiplas e a sua incidência na construção – Constituindo um dos centros de interesse do programa PEB, a Escola de opções múltiplas, impulsionou a produção de um número extenso de informações e publicações. Direcionada para o ensino secundário, este tipo de escola foi fortemente apoiada e disseminada pela OCDE. Um exemplo conhecido deste tipo de escola é o caso da Escola polivalente Värnamö, na Suécia que foi “concebida em torno do projeto pedagógico da escola de opções múltiplas, formulado pelos especialistas da OCDE” (DEROUET-BESSON 1998, p.69). Atividade 4 - Colóquios sobre construção escolar – Os colóquios em torno das temáticas relacionadas com a construção escolar fazem emergir o papel de “ideational arbitrator” da OCDE. Ou seja, através destes colóquios, seminários, reuniões, a OCDE difunde novas ideias naquele domínio, ao mesmo tempo que permite aos participantes encontrar-se em contextos de suporte e apoio que os ajuda a adquirir e desenvolver competências (LEHTONEN, 2005). No relatório dos delegados portugueses ao Colóquio organizado no âmbito do programa PEB, em 1973, podíamos ler o seguinte:

Como consequência da troca de ideias e informação que foi dado apreciar e colher pelo signatário julgamos lícito poder concluir:

- que é da mais importância dotar as instalações escolares com características de “flexibilidade”, extensíveis não só à construção mas também ao seu mobiliário, sob o risco de à falta de tal procedimento se edificarem escolas que rapidamente se tornem obsoletas por não satisfazerem à rápida evolução dos conceitos pedagógicos e até mesmo aos actuais métodos de ensino;

- que tais estudos deverão ser um trabalho de equipa, na qual deverão estar representados os arquitectos, professores, engenheiros e administradores. Só assim, se poderão analisar, em tempo oportuno, os aspectos funcionais e pedagógicos, construtivos e económicos; - que se torna da maior importância não só estabelecer esse diálogo de modo a formar especialistas nas diferentes matérias, mas também preparar os utentes (professores) das futuras instalações a fim de que possam extrair das mesmas as potencialidades nelas existentes, sem que o todo o esforço despendido será praticamente inútil;

- que se estude a possibilidade de dotar as novas instalações escolares com características de “adaptabilidade” sem agravamento do seu custo inicial.

A constante evolução dos conceitos pedagógicos e métodos de ensino, bem como a previsível integração da escola na comunidade que serve (já patente em vários países) justifica plenamente a abordagem imediata deste delicado problema. (MOP, 1973b)

Como se procurou evidenciar, a OCDE por intermédio do seu programa PEB, através da disseminação de ‘boas práticas’; da descrição de casos com características inovadoras; da organização de colóquios, seminários e reuniões de trabalho; do estudo e análise dos problemas com ‘interesse’ para os

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