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2. FAVELAS E O MEIO AMBIENTE

3.1 As favelas e o Governo Federal

3.1.1 O período pré BNH

A origem das primeiras favelas no Rio de Janeiro está ligada ao fim da guerra de Canudos em 1897 que trouxe à capital federal inúmeros ex-combatentes que se instalaram no Morro da Providência que se localizava atrás das guarnições militares.

A reforma urbana promovida por Pereira Passos (1902-1906), para transformar a cidade do Rio de Janeiro em uma bela e moderna capital e atrair investimentos externos também fez crescer as incipientes favelas de então. O desmonte de morros, a abertura de avenidas, notadamente a Avenida Central e a destruição de centenas de casarões e prédios antigos, muitos deles ocupados por cortiços, expulsaram a população pobre residente do centro da cidade para áreas distantes ou para os morros ocupados por favelas. Buscava-se na modernização da capital a "higienização" urbana e social da cidade (MARICATO, 1996).

A primeira ação estatal em relação ao problema habitacional brasileiro foi a proibição de cortiços no centro da cidade do Rio de Janeiro em 1893 (BONDUKI, 1998: 27- 43).

Em São Paulo, posturas semelhantes foram adotadas. Em 1886 o "Código de Posturas do Município de São Paulo" regulamentou a construção de cortiços, posteriormente o Código Sanitário de 1894 proibiu a construção deste tipo de habitação na cidade (BONDUKI 1998: 38).

Segundo BONDUKI, o cortiço e o aluguel, que eram as formas predominantes de moradia popular até a década de 30, passam a sofrer restrições pelo governo durante o período do Estado Novo (1930 1945). Durante o governo de Getúlio Vargas a atuação governamental sobre a questão da habitação ocorre basicamente em dois sentidos: controlar o mercado de aluguéis e promover a habitação através das carteiras prediais dos Institutos de Aposentadoria e Pensões IAPs.

A lei do Inquilinato, promulgada em 1942, "congelou" os valores dos aluguéis e acabou por desestimular a construção de moradias para o aluguel, forma predominante de moradia até então, empurrando a população não proprietária para as alternativas informais de habitação, engrossando ainda mais a população favelada.

Por outro lado, a produção dos IAPs, sendo restrita aos associados dos institutos de previdência, não atendia às populações mais pobres, como os moradores em favelas.

A desestruturação do mercado rentista e a incapacidade do Estado em financiar ou promover a produção de moradia em larga escala criou uma crise

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habitacional que viria a consolidar uma série de expedientes de construção de casas à margem do mercado formal, baseados no auto-empreendimento da moradia. No Rio de Janeiro consolida-se a favela e em São Paulo a periferia precária.

Segundo DENALDI, a primeira ação governamental em relação às favelas foi tentar a sua extinção e inibir a construção de novas a partir de leis.

"Em 1937 (Estado Novo), para viabilizar a erradicação de favelas, foram criados os "Parques Proletários Provisórios", visando abrigar famílias

removidas de núcleos de favelas. Tratava-se de alojamentos coletivos construídos com madeira, para onde as famílias eram compulsoriamente removidas, lá permanecendo indefinidamente" (DENALDI, 2003: 12). Constituía a primeira etapa de um programa que visava a posterior construção de edificações de alvenaria que nunca foram

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executadas.

Terminado o Estado Novo, em 1946, o governo Dutra cria a Fundação da Casa Popular - FCP, que foi o primeiro órgão de âmbito federal a tratar exclusivamente da provisão habitacional (BONDUKI, 1998). Propunha-se tratar a questão da habitação de uma forma abrangente procurando articulá-la com o desenvolvimento urbano. A proposta do governo supunha a unificação dos IAPs em um único serviço social e a adoção de um imposto sobre transações imobiliárias, de onde sairiam os recursos para as

construções populares. Este imposto, porém, jamais foi cobrado, os IAPs não foram unificados e a proposta de universalização do serviço previdenciário logo foi colocada de lado. Assim a atuação da FCP foi inexpressiva e inferior à dos IAPs (BUENO, 2000:14).

"Não obstante o fracasso dessas iniciativas, pode-se afirmar que neste período consolida-se a percepção ideológica de que a solução para o problema habitacional do país estava na obtenção da casa própria" (BUENO, 2000:15).

BONDUKI coloca que neste período desqualifica-se a produção da moradia como mercadoria, seja através do processo que a transforma em uma espécie de serviço social promovido pelos IAPs e FCP, seja através da dissociação do custo de produção do valor do aluguel, promovido pela Lei do Inquilinato, ou pelo auto-empreendimento que produz a moradia com baixíssimos custos apenas com valor de uso (BONDUKI, 1998:282). Esta redução ou anulação do custo de moradia acarreta uma diminuição do custo da força de trabalho, ponto fundamental no modelo de crescimento que se instaura no país.

Quanto às favelas, os programas oficiais baseavam-se na remoção das mesmas, pois as favelas eram vistas como "doença social", sendo o espaço do marginal e do preguiçoso, e ambiente de provável disseminação de comunistas.

"Na primeira metade do século XX os governos passaram do "desconhecimento" da favela às políticas

|1 2| S e g u n d o P A R I S S E (1989:38) citado em DENALDI (2003), foram removidas quatro favelas na Capital Federal e construídos três Parques Proletários, com capacidade para alojar de 7.000 a 8.000 famílias, número muito inferior ao anunciado publicamente na época.

períodos claramente distintos: até o surgimento do BNH, durante o BNH e após a extinção do BNH.

3.1.1 O período pré BNH

A origem das primeiras favelas no Rio de Janeiro está ligada ao fim da guerra de Canudos em 1897 que trouxe à capital federal inúmeros ex-combatentes que se instalaram no Morro da Providência que se localizava atrás das guarnições militares.

A reforma urbana promovida por Pereira Passos (1902-1906), para transformar a cidade do Rio de Janeiro em uma bela e moderna capital e atrair investimentos externos também fez crescer as incipientes favelas de então. O desmonte de morros, a abertura de avenidas, notadamente a Avenida Central e a destruição de centenas de casarões e prédios antigos, muitos deles ocupados por cortiços, expulsaram a população pobre residente do centro da cidade para áreas distantes ou para os morros ocupados por favelas. Buscava-se na modernização da capital a "higienização" urbana e social da cidade (MARICATO, 1996).

A primeira ação estatal em relação ao problema habitacional brasileiro foi a proibição de cortiços no centro da cidade do Rio de Janeiro em 1893 (BONDUKI, 1998: 27- 43).

Em São Paulo, posturas semelhantes foram adotadas. Em 1886 o "Código de Posturas do Município de São Paulo" regulamentou a construção de cortiços, posteriormente o Código Sanitário de 1894 proibiu a construção deste tipo de habitação na cidade (BONDUKI 1998: 38).

Segundo BONDUKI, o cortiço e o aluguel, que eram as formas predominantes de moradia popular até a década de 30, passam a sofrer restrições pelo governo durante o período do Estado Novo (1930 1945). Durante o governo de Getúlio Vargas a atuação governamental sobre a questão da habitação ocorre basicamente em dois sentidos: controlar o mercado de aluguéis e promover a habitação através das carteiras prediais dos Institutos de Aposentadoria e Pensões IAPs.

A lei do Inquilinato, promulgada em 1942, "congelou" os valores dos aluguéis e acabou por desestimular a construção de moradias para o aluguel, forma predominante de moradia até então, empurrando a população não proprietária para as alternativas informais de habitação, engrossando ainda mais a população favelada.

Por outro lado, a produção dos IAPs, sendo restrita aos associados dos institutos de previdência, não atendia às populações mais pobres, como os moradores em favelas.

A desestruturação do mercado rentista e a incapacidade do Estado em financiar ou promover a produção de moradia em larga escala criou uma crise

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habitacional que viria a consolidar uma série de expedientes de construção de casas à margem do mercado formal, baseados no auto-empreendimento da moradia. No Rio de Janeiro consolida-se a favela e em São Paulo a periferia precária.

Segundo DENALDI, a primeira ação governamental em relação às favelas foi tentar a sua extinção e inibir a construção de novas a partir de leis.

"Em 1937 (Estado Novo), para viabilizar a erradicação de favelas, foram criados os "Parques Proletários Provisórios", visando abrigar famílias

removidas de núcleos de favelas. Tratava-se de alojamentos coletivos construídos com madeira, para onde as famílias eram compulsoriamente removidas, lá permanecendo indefinidamente" (DENALDI, 2003: 12). Constituía a primeira etapa de um programa que visava a posterior construção de edificações de alvenaria que nunca foram

12

executadas.

Terminado o Estado Novo, em 1946, o governo Dutra cria a Fundação da Casa Popular - FCP, que foi o primeiro órgão de âmbito federal a tratar exclusivamente da provisão habitacional (BONDUKI, 1998). Propunha-se tratar a questão da habitação de uma forma abrangente procurando articulá-la com o desenvolvimento urbano. A proposta do governo supunha a unificação dos IAPs em um único serviço social e a adoção de um imposto sobre transações imobiliárias, de onde sairiam os recursos para as

construções populares. Este imposto, porém, jamais foi cobrado, os IAPs não foram unificados e a proposta de universalização do serviço previdenciário logo foi colocada de lado. Assim a atuação da FCP foi inexpressiva e inferior à dos IAPs (BUENO, 2000:14).

"Não obstante o fracasso dessas iniciativas, pode-se afirmar que neste período consolida-se a percepção ideológica de que a solução para o problema habitacional do país estava na obtenção da casa própria" (BUENO, 2000:15).

BONDUKI coloca que neste período desqualifica-se a produção da moradia como mercadoria, seja através do processo que a transforma em uma espécie de serviço social promovido pelos IAPs e FCP, seja através da dissociação do custo de produção do valor do aluguel, promovido pela Lei do Inquilinato, ou pelo auto-empreendimento que produz a moradia com baixíssimos custos apenas com valor de uso (BONDUKI, 1998:282). Esta redução ou anulação do custo de moradia acarreta uma diminuição do custo da força de trabalho, ponto fundamental no modelo de crescimento que se instaura no país.

Quanto às favelas, os programas oficiais baseavam-se na remoção das mesmas, pois as favelas eram vistas como "doença social", sendo o espaço do marginal e do preguiçoso, e ambiente de provável disseminação de comunistas.

"Na primeira metade do século XX os governos passaram do "desconhecimento" da favela às políticas

|1 2| S e g u n d o P A R I S S E (1989:38) citado em DENALDI (2003), foram removidas quatro favelas na Capital Federal e construídos três Parques Proletários, com capacidade para alojar de 7.000 a 8.000 famílias, número muito inferior ao anunciado publicamente na época.

pautadas no controle e repressão ou clientelismo."

(DENALDI, 2003:14).

A questão das favelas neste período não era vista de uma forma conjuntural ou como um problema social e urbano mais amplo, mas sim de forma parcial e pontual, as favelas deviam ser eliminadas e a população removida deveria procurar a solução da sua moradia em outro lugar ou quando muito em alojamentos ou bairros populares distantes.

Algumas experiências de urbanização foram realizadas com o apoio de instituições não-governamentais,

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principalmente aquelas ligadas à igreja católica , mas estas não alteraram as estruturas e diretrizes institucionais relacionadas com a favela.