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O Plano deste livro

No documento Manual de psicologia evolucionista (páginas 51-56)

Este livro foi escrito tendo em mente o ensino na gradua- ção e na pós-graduação. Ele contempla, portanto, os fundamen- tos e as questões básicas que norteiam a PE. Cada capítulo foi escrito de modo a poder ser lido de forma independente, mas por outro lado, a sequência dos capítulos tem uma lógica que pode ser seguida caso o livro venha a ser utilizado como livro-texto em uma disciplina.

São cinco seções: Fundamentos para a Psicologia Evolu- cionista, Cognição e Emoção, Comportamento Sexual e Repro- dutivo, Desenvolvimento e Família e Comportamento Social e Cultura.

A primeira seção apresenta os fundamentos sobre os quais se assenta a PE, a etologia e a evolução do comportamen- to (capítulo 1.1), os conceitos relacionados à evolução humana (capítulo 1.2), a modularidade mental (capítulo 1.3) e as bases neurais do comportamento (capítulo 1.4). A seção é finaliza- da com uma discussão sobre os mal-entendidos relativos à PE e a teoria da evolução, que frequentemente levam a críticas fundamentadas em uma compreensão equivocada dos conceitos básicos das duas áreas de conhecimento (capítulo 1.5).

A segunda seção, Cognição e Emoção, discute em cinco capítulos, processos que estão na base da PE, em função de sua proximidade com a Psicologia Cognitiva. O capítulo 2.1 discute as hipóteses relativas à evolução do aumento e da complexida- de do cérebro e a ontogênese da cognição social. O capítulo 2.2 discute a expressão das emoções, sua evolução e universalidade. Retoma a proposta de Darwin (1872/2009) e Ekman e Friesen (1991) sobre a função adaptativa das expressões emocionais e emoções, analisando em maior detalhe o medo, o nojo e a

raiva. O capítulo 2.3 analisa a evolução da comunicação de uma perspectiva comparada e a proposta de Noam Chomsky sobre a especificidade da linguagem humana. Discute também o subs- trato biológico e os determinantes próximos no desenvolvimen- to da linguagem e as hipóteses sobre sua origem e evolução. O capítulo 2.4 discute os processos decisórios humanos sob a ótica da PE e a interação com outras áreas de pesquisa. Analisa mais especificamente duas das principais teorias, a teoria Evolucionista dos Ciclos de vida e a do Desconto do Futuro. O último capítulo desta seção, 2.5, examina uma área recente na abordagem evolucionista que é a saúde mental. O autor inicia o capítulo com um histórico da área e foca em dois distúrbios que são melhor estudados e compreendidos em uma abordagem funcional: a ansiedade e a depressão. Finalmente, analisa os principais desafios ao desenvolvimento da abordagem evolu- cionista para a psicopatologia.

A terceira seção, Comportamento Sexual e Reprodutivo é, por um lado, o tópico mais conhecido e mais discutido na PE, mas, por outro lado, aquele que mais tem sido desvirtuado por divulgações superficiais e frequentemente incorretas dos conhecimentos obtidos através da pesquisa científica. Nesse sentido, esta seção traz um debate informado e atualizado dos mais recentes avanços na área, esclarecendo pontos que têm sido mal interpretados e distorcidos por parte da mídia. O capítulo 3.1 apresenta os fundamentos sobre os quais serão discutidos todos os outros temas desta seção. A partir de uma abordagem comparativa, são discutidas a reprodução sexuada e assexuada, a anisogamia e a fertilização interna, as bases biológicas da diferenciação sexual, e a seleção sexual e sistemas de acasalamento. O capítulo 3.2 discute estratégias sexuais de homens e mulheres, a variação intra e inter-sexual dessas

estratégias e o conflito gerado por essas diferenças. Introduz o conceito de sociossexualidade, um dos mais estudados atualmente nesse campo. Finalmente, enfatiza a modulação ambiental e individual da sociossexualidade e as estratégias sexuais alternativas ou condicionais. O capítulo 3.3 analisa a escolha e competição por parceiros. Discute as variações sociais e ecológicas nas preferências românticas, e as estra- tégias mais utilizadas por homens e mulheres na competição por parceiros. O capítulo 3.4 discute a manutenção e dissolu- ção dos relacionamentos de longo prazo, estratégia presente em poucas espécies além de nós, humanos. Analisa aspectos que influenciam a qualidade dos relacionamentos e, portan- to, sua manutenção. Entre eles, o grau de semelhança entre os parceiros (homogamia), o amor romântico, ciúmes, infidelidade e estratégias de retenção de parceiros.

A quarta seção discute, em quatro capítulos, Desen- volvimento e Família, um tema central na perspectiva evolu- cionista. O capítulo 4.1, Investimento parental humano, discute o investimento parental e aloparental em humanos a partir de uma perspectiva ampla, analisando de influências filoge- néticas culturais. Entre os pontos apresentados destaca-se o conflito pais-prole, o cuidado diferencial em função do sexo da prole e do cuidador e as condições que favoreceram e conti- nuam a favorecer o cuidado biparental em humanos. O Modelo Ecocultural de Desenvolvimento, proposto por Keller e Kärtner (2013), é discutido em maior detalhe. O capítulo 4.2 discute o Desenvolvimento Humano como um processo interativo biológico/cultural e que se estende da infância à velhice. Retoma o debate inato-aprendido entre etólogos e behavio- ristas levando à proposta interativa em vigor atualmente. Analisa o sistema de apego como mediador da interação bebê/

cuidador, mas também como uma influência que se estende ao longo da vida (Teoria da História de Vida). O capítulo 4.3, Investimento Parental em Famílias em Situações Adversas, discute a redução do cuidado à prole, uma aparente contra- dição aos postulados evolucionistas. O capítulo analisa em que circunstâncias isto pode ocorrer e porque sua ocorrência pode estar em acordo com a busca pela aptidão. Entre os fatores desencadeantes discutidos estão o conflito pais-prole, a incer- teza de paternidade, a reconstituição familiar, e a imprevisi- bilidade e escassez de recursos. O último capítulo desta seção, Por que Brincar? Brincar para quê? A Perspectiva Evolucionista sobre a brincadeira (cap. 4.4), discute um comportamento sem função aparente, mas presente em todas as espécies de mamífe- ros, especialmente quando jovens. A partir de uma perspectiva evolucionista, são analisadas as funções da brincadeira.

A última seção deste livro diz respeito a Comportamento Social e Cultura, analisando em cinco capítulos aqueles compor- tamentos que nos definem como animais biologicamente cultu- rais (Bussab & Ribeiro, 1998). O primeiro capítulo, Cooperação e Competição (5.1) discute uma questão que já preocupava Darwin, pela sua aparente contradição com a proposta evolu- cionista, que é a cooperação. O capítulo apresenta as propostas de explicação para a ocorrência desse comportamento, entre elas, a seleção de parentesco, a reciprocidade e a reciprocidade indireta. Analisa também a utilização da teoria dos jogos no estudo da cooperação, as causas próximas no desenvolvimento e manutenção da cooperação, e o envolvimento das emoções. O capítulo 5.2, Evolução da Mentira e Autoengano, discute a teoria do autoengano de Trivers (1971) e seus benefícios de uma perspectiva evolucionista. Analisa também o autoengano coleti- vo e as justificativas morais que reduzem a dissonância cognitiva

provocada por ele. O capítulo 5.3, Comportamento Alimentar, discute as pressões seletivas enfrentadas por nossos ances- trais que levaram aos padrões dietéticos e as nossas escolhas alimentares. Descreve também a neofobia alimentar e a enorme influência da cultura. O capítulo 5.4, A Evolução Adaptativa das Propensões Artísticas, discute a intrigante propensão humana para criar, apreciar e envolver-se em manifestações artísticas. Esta é uma área mais teórica do que empírica e as hipóteses adaptativas sobre o envolvimento com a arte, apresentadas no capítulo ainda precisam ser melhor testadas. O último capítulo (5.5), Reflexões Evolucionistas sobre o Comportamento Humano, não poderia constituir um fecho mais adequado a este manual. Traça inicialmente um histórico da abordagem evolucionista ao comportamento humano, de Darwin aos dias atuais. Discute uma questão que está na base das críticas e questionamentos ao estudo da espécie humana do ponto de vista evolutivo, que é o quanto a extensão da cultura humana requer uma nova estrutura conceitual e analisa como a cultura alterou nosso processo evolutivo. Finalmente, em todos os capítulos os termos técnicos aparecem em negrito, o que indica sua presença em um Glossário, no final do volume, que será de grande interesse para o aluno e para os leitores de outras áreas.

Acreditamos que o conjunto dos capítulos que forma este livro constitui uma excelente introdução à Psicologia Evolucionista para alunos de graduação e pós-graduação e também para o leigo que mostra curiosidade sobre o tema. Porém, esta é uma disciplina que mostra um crescimento cons- tante, ampliando sua abrangência continuamente. Portanto, este manual deve ser encarado como uma iniciação à PE, e nesse sentido os capítulos foram escritos remetendo à literatura clás- sica, mas também às publicações mais recentes.

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FUNDAMENTOS

No documento Manual de psicologia evolucionista (páginas 51-56)