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O problema de recurso à violência armada pela RENAMO

No documento Forças armadas na segurança interna (páginas 167-180)

Secção V Síntese comparativa

SISTEMA POLÍTICO MOÇAMBICANO

2. O problema de recurso à violência armada pela RENAMO

A RENAMO assentou, no AGP com o Governo, a desmobilização de todas as forças, excepto as que constituiriam a guarda pessoal do respectivo Líder, o Senhor Afonso Dlhakama:

―Considerando que o Senhor Afonso Macacho Marceta Dhlakama declarou a sua disponibilidade em assinar um cessar-fogo imediato caso fossem providenciadas certas garantias e segurança no que se refere tanto à sua segurança pessoal, como a dos seus membros (...)”185.

Eventualmente, aproveitando-se desta cláusula, a RENAMO manteve efectivos armados nas matas e na Cidade, com o pretexto de servirem de garantias de segurança do respectivo Líder.

O grande problema que se pode colocar tem a ver com o alcance real da cláusula ―garantias e segurança no que se refere à segurança pessoal‖.

Esta questão foi objecto de debate no sentido de se esclarecer se as forças que continuam nas matas faziam parte deste efectivo ou somente este grupo de garantia de segurança pessoal seria aquele que acompanhava o Líder da RENAMO, como guarda pessoal na residência familiar?

Do lado do Governo, a interpretação foi sempre a de que o grupo de segurança pessoal seriam os que se encontravam adstritos à sua residência e família, o que deslegitimava a manutenção de efectivos nas antigas bases da RENAMO, em particular, no Distrito de Gorongosa.

Por consequência desta interpretação governamental, todos os grupos que se encontravam nas matas eram ilegais e afrontavam o ordenamento jurídico constitucional, segundo o qual ―É vedado aos partidos políticos preconizar ou

recorrer à violência armada para alterar a ordem política e social do país”186.

Do lado da RENAMO, foi sempre entendido que os grupos armados em Gorongosa constituíam a extensão dos efectivos de guarda pessoal do seu Líder.

185

AGP, Declaração conjunta de 7 de agosto de 1992. 186

Art.º 77 da CRM, na versão dada pela Lei n.º 1/2018, de 12 de junho, publicada no BR n.º 115, I Série, 2.ª Suplemento.

Do lado da sociedade civil, uma questão estava bem clara, que a manutenção dos efectivos armados pela RENAMO constituía uma ameaça à paz, liberdade de circulação de pessoas e bens.

De facto, este receio da sociedade civil veio a concretizar-se desde o ano de 2000, como resultado de contestação dos resultados das eleições gerais de 1999, em que a Renamo perdeu a favor da FRELIMO.

Aqueles efectivos da RENAMO vieram mais tarde a constituir numa ameaça verdadeira à paz, sendo utilizados pela RENAMO para a desestabilização, através de ataques armados a pessoas e bens, destruição de infra-estruturas. Portanto, estes efectivos passaram a ser o braço armado do Partido RENAMO, que vem crescendo, com o recrutamento clandestino de novos grupos, que hostilizam o País.

A contestação eleitoral da RENAMO, através destes homens armados, começou com os actos de desestabilização nacional, conforme o seguinte quadro cronológico de acontecimentos:

1.º - Nos dias 22 e 23 de novembro de 2000, fruto destas manifestações e actos de desobediência destes homens armados, cidadãos detidos neste âmbito morrem na cadeia distrital de Montepuez, Cabo Delgado.

2.º - A 20 de Dezembro de 2000, inicia-se um processo de negociações entre o Governo e a RENAMO, no âmbito das reivindicações deste Partido. Participam nessas negociações, o Presidente da República, Joaquim Chissano e o Líder da Renamo, Afonso Dhlakama, como resultado das pressões da sociedade moçambicana e da comunidade internacional, nomeadamente da União Europeia, tendo os dois líderes anunciado reuniões subsequentes e terminado o encontro com um simbólico aperto de mão, e subsequente assinatura de um acordo em 2001, que pôs termo às contestações daquele Partido da oposição, mas sem que isso significasse o seu desarmamento.

3.º - No ano de 2003, realizam-se as segundas eleições autárquicas. Não houve contestações armadas por parte da RENAMO, talvez influenciado pelo facto de, sendo eleições locais, e a decorrerem em quase 43 autarquias, foi fácil

redistribuir ―o mal pela aldeia‖. Isto é, a oposição conseguiu também fazer-se representar na direcção de certos municípios, sendo de destacar a segunda capital do país, a Cidade da Beira.

4.º - Em 2004, realizaram-se as terceiras eleições gerais, tendo ingressado na corrida eleitoral para a Presidência da República um novo candidato, o Senhor Armando Emílio Guebuza, a concorrer pelo Partido FRELIMO contra o Senhor Afonso Dlhakama pela RENAMO. A RENAMO e o seu candidato voltaram a perder as eleições.

Em 2009, realizam-se as quartas eleições gerais, voltando a renovar o mandato o Presidente Armando Emílio Guebuza, candidato da FRELIMO, com cerca de 75% de votos.

5.º - Em 2012, o Partido RENAMO iniciou o processo de contestação política, através de hostilidades militares que consistiram, em primeiro lugar, na reactivação das suas antigas bases militares em quase todo o território nacional, principalmente, na região centro do País, momento a que se seguiram os actos de ataques armados às infra-estruturas públicas, militares, pessoas e bens.

O período de 2012 a 2014, foi caracterizado por hostilidades militares, exigindo a RENAMO, uma reforma na Comissão Nacional de Eleições. Nesta fase a CNE era uma entidade maioritariamente constituída por pessoas profissionais provenientes da sociedade civil.

O modelo da CNE instituído em 2007, tinha registado uma evolução na composição, reduzindo-se o número de dezanove para treze membros o que pode permitir uma maior operatividade e melhor articulação, tendo em conta que um grupo reduzido é capaz de produzir mais consenso e ser mais coeso do que um grupo maior e notou-se, em relação ao regime anterior, o ingresso na CNE de um novo tipo de sujeito: a sociedade civil.

Na legislação que vai regular as eleições de 2008 das autarquias e de 2009, as do Presidente da República, legislativas e das assembleias provinciais, nota-se um avanço na consolidação e ampliação da intervenção deste novo sujeito: um salto qualitativo e quantitativo, pois ao invés de indicar um membro que é o

Presidente da CNE, passou a indicar oito membros dos treze da composição, restando para os partidos com assento parlamentar indicar cinco.

Contudo, a aprovação desta legislação, em 2007, na Assembleia da República não tinha sido consensual entre a FRELIMO e a RENAMO187, tendo sido passada a legislação por ditadura de voto democrático da maioria parlamentar (FRELIMO), o que normalmente deixa uma má impressão, apesar de serem regras democráticas, por duas razões:

– Tratando-se de legislação que vai regular as eleições, é sempre melhor que seja aprovada por acordo ou consenso entre os partidos políticos, pelo menos, representados na Assembleia da República, depois de acesos debates com outros contendores políticos sem assento no Parlamento e a sociedade.

– A primeira legislação eleitoral tinha sido acordada em Roma no AGP pelos dois Partidos (RENAMO, enquanto braço armado) e FRELIMO, enquanto Governo de Moçambique, em termos de princípios e composição da CNE. Nos anos seguintes, depois das primeiras eleições gerais, a legislação eleitoral tinha sido aprovada por consenso.

Depois das eleições de 2004, a RENAMO tinha proposto as seguintes matérias de fundo que se tornaram controvertidas entre as partes no Parlamento e ditaram o voto maioritário da FRELIMO188:

―Necessidade de alterar a composição da CNE, para se introduzir o princípio de paridade (a FRELIMO e a RENAMO indicariam todos os membros da CNE em circunstâncias de paridade) em substituição da representação parlamentar. Esta proposta implicava, ab initio, a preterição do princípio da representação parlamentar acordado em legislação anterior e desde 1998, e que veio substituir os AGP e da sociedade civil da composição da CNE, uma entidade que tinha sido

187

MACIE, Albano. Etiologia das sucessivas reformas do Direito Eleitoral Positivo

Moçambicano e perspectiva da sua evolução, com ênfase na Comissão Nacional de Eleições.

Maputo: BSB Printers, 2013, pp.183-189. 188

MACIE, Albano. Etiologia das sucessivas reformas do Direito Eleitoral Positivo

acordada em 2003, embora até esta altura indicasse somente o presidente do órgão‖.

Do lado da FRELIMO, entendeu-se que era o momento de profissionalizar o órgão e expurgá-lo de muita interferência dos partidos políticos, o que implicava a redução do efeito do princípio da representação parlamentar. Dos 19 membros da CNE anteriores (18 vindos da FRELIMO e da RENAMO e 1 da sociedade civil), devia-se reduzir a composição para 13, sendo que 5 seriam designados segundo a representação parlamentar contra os anteriores 18 e 8 viriam da sociedade civil, crescendo do anterior 1 membro.

Portanto, para a FRELIMO, era preciso dar resposta à contestação da sociedade civil que pretendia ver os órgãos eleitorais profissionalizados e não partidarizados sobre:

―Necessidade de mudar as formas de recrutamento dos funcionários do STAE (Secretariado Técnico de Administração Eleitoral), que é o órgão executivo da CNE, do concurso público de avaliação para a adopção de um princípio de indicação partidária, em que a FRELIMO e a RENAMO designariam funcionários segundo o princípio de paridade‖.

Para a FRELIMO, estas propostas significavam um recuo e total politização do órgão de apoio, bem como a violação do princípio de acesso ao emprego público constitucionalmente consagrado, que exige a realização de um concurso público de ingresso na Função Pública189. Portanto, para este Partido era preciso quebrar com todas as veleidades do AGP, que bipolarizava os órgãos eleitorais entre a FRELIMO e a RENAMO, tornando-os profissionais.

Como consequência da agudização das posições entre os dois Partidos com assento parlamentar, em 2007, a Legislação Eleitoral acabou sendo

189

Cfr. Art.º 250 da CRM: ―1. O acesso à Função Pública e a progressão nas carreiras profissionais não podem ser prejudicados em razão da cor, raça, sexo, religião, origem étnica ou social ou opção político-partidária e obedece estritamente aos requisitos de mérito e capacidade dos interessados‖.

aprovada por ditadura de voto maioritário da FRELIMO, o que, desde logo, abria a frente de hostilidades e agudizava as desconfianças políticas entre ambos.

A RENAMO começou a construir a tese de que a CNE e o STAE não garantiam a independência e a imparcialidade dos processos eleitorais, o que implicava a sua remodelação urgente. Portanto, as reivindicações da RENAMO centram-se em três questões de fundo: (i) a partidarização da CNE e seu órgão de apoio o STAE; (ii) introdução de homens da RENAMO na Polícia da República de Moçambique; (iii) incorporação dos seus homens armadas nas Forças Armadas, fazendo renascer o processo acordado em Roma, em 1992.

Com efeito, uma das consequências destas contestações, a RENAMO reactiva as suas bases militares na região da Gorongosa, no centro de Moçambique, Província de Sofala, e começa a treinar os antigos veteranos, exigindo uma nova ordem política e, em 2013, a RENAMO não participou do processo eleitoral das autarquias locais e começou a intensificar os actos de desestabilização do País, atacando pessoas, bens e infraestruturas.

A RENAMO começou a assumir os ataques que se registavam no país, em particular, com maior intensidade na região centro190.

A contestação interna e externa191 foi aumentando para que se iniciasse um diálogo entre o Governo e a RENAMO, para pôr fim às hostilidades político- militares. Com efeito, inicia-se o processo de diálogo político entre o Governo e

190

Afonso Dhlakama, Presidente da RENAMO, garantiu ter ordenado ataques contra alvos militares na província de Sofala para não permitir que o exército governamental e a polícia antimotim se concentrassem no centro, próximo ao seu quartel-general junto à Serra da Gorongosa: "Sim, autorizei ataque... Mas dois dias depois ordenei o cessar-fogo, porque sentimos quando um civil ficou ferido, o objectivo não era civil, era atacar o exército". In

www.dw.com.pt/-002/.

191

De facto, a União Europeia (UE), o principal parceiro de Moçambique, e o Japão juntaram-se ao coro de vozes da sociedade civil, que apela a uma rápida solução pacífica para a tensão político-militar em Moçambique. A Alta Representante da UE para a Política Externa e de Segurança, Catherine Ashton, manifestou, em comunicado, preocupação com o eclodir da violência causada pela movimentação na província sul de Inhambane de homens armados, supostamente da RENAMO (Resistência Nacional Moçambicana), o maior partido da oposição. Catherine Ashton condena o uso da força como meio de atingir fins políticos e lamenta a perda de vidas e a deslocação de populações locais devido ao clima de insegurança. A representante da UE insta ao fim imediato dos ataques a civis e a forças de segurança governamentais. Apela também a que a RENAMO e o Governo estabeleçam, sem demora, um processo de diálogo político genuíno e construtivo com vista a alcançarem resultados concretos no sentido da reconciliação pacífica‖.

a RENAMO, com um conjunto de pontos em cima da mesa, designadamente, a cessação imediata dos ataques militares, o pacote eleitoral, a descentralização e as questões militares (integração das forças residuais da RENAMO na Polícia, Forças Armadas e Serviços de Informação do Estado) e nas FAs.

Apesar dos ataques militares da RENAMO, de fevereiro a abril de 2014, decorreu o processo de recenseamento eleitoral, em todo o País.

A 1 de Março de 2014, o Comité Central da FRELIMO elegeu o Ministro da Defesa Nacional, Engenheiro Filipe Jacinto Nyusi, como seu candidato para as eleições gerais presidenciais que decorreriam naquele ano, devendo enfrentar o Líder da RENAMO, Afonso Dlhakama.

A 24 de Agosto de 2014, o Governo e a RENAMO alcançaram consensos em relação a todos os pontos em debate com vista à cessação das hostilidades militares: ―Este documento já agrega todos os elementos essenciais do processo

de cessação das hostilidades militares e da integração nas Forças Armadas e na Polícia da República de Moçambique"192.

No mesmo mês e seguinte, a Assembleia da República tinha estado a debater o pacote legislativo no quadro das negociações e paz, que veio incorporar os consensos alcançados nas negociações de paz. Esse quadro legal incluiu a lei de amnistia, para relevar os crimes cometidos no período de hostilidades militares levadas a cabo pela RENAMO; a lei que deferia um estatuto especial ao Líder da RENAMO como chefe do partido da oposição mais votado e o pacote eleitoral.

Em termos de implicações no processo eleitoral, o novo pacote eleitoral estabeleceu o seguinte:

– Quanto à CNE193: a CNE passa a ser composta por dezassete membro, sendo um presidente e dois vice-presidentes e catorze vogais; sendo cinco

192

José Pacheco, Chefe da Delegação do Governo no diálogo político, in: jornal notícias, de 6

de agosto de 2014.

193

Cfr. Lei n.º 9/2014, de 12 de Março, que altera e república a Lei n.º 6/2013, de 22 de Fevereiro , que estabelece as funções, composição e funcionamento da Comissão Nacional de Eleições (artigos 5 e 6).

indicados pela FRELIMO, quatro pela RENAMO, um pelo MDM e sete provenientes da sociedade civil.

Desta composição, nota-se que vingou a pretensão da RENAMO de impor o princípio de paridade, sendo que a FRELIMO está em circunstâncias de igualdade com a oposição, pois ela indica 5 membros e a oposição (RENAMO e MDM) indicam 5. Portanto, abandona-se o princípio da representação parlamentar, pois com base nele, a FRELIMO tendo 191 deputados indicaria 8 membros e a RENAMO, com 51 deputados indicaria 2 membros, sendo que o MDM com 8 deputados não indicaria nenhum. O presidente é eleito no conjunto dos membros da sociedade civil e os dois vice-presidentes são designados pela FRELIMO e RENAMO.

– Quanto ao STAE: o STAE passou a contar com dois tipos de funcionários: os recrutados segundo a Constituição (concurso público), que são permanentes e outros provenientes dos partidos políticos com assento parlamentar nos períodos que vão desde o anúncio do recenseamento até a validação e proclamação dos resultados eleitorais pelo Conselho Constitucional (art.º 51 da Lei da CNE).

– Quanto às assembleias de voto194: a mesa da assembleia de voto é constituída por sete membros, sendo três indicados pela FRELIMO, RENAMO e MDM, respectivamente, e quatro recrutados pelo STAE por concurso público de avaliação curricular.

O novo quadro eleitoral foi bastante elogiado, até o próprio Líder da RENAMO, Afonso Dlhakama, comprometeu-se a reconhecer os resultados das eleições de 15 de outubro de 2014, o que acontecerá pela primeira vez na história da democracia moçambicana, acreditando que a nova lei eleitoral é credível e garante uma votação transparente:

194

Lei n.º 12/2014, de 23 de Abril, altera e república a Lei n.º 8/2013, de 27 de Fevereiro, que estabelece o quadro jurídico para eleição do PR e dos deputados da AR (artigo 49).

"Com certeza", respondeu numa entrevista telefónica: por isso, andámos a lutar por uma lei credível, para permitir que as coisas sejam transparentes", declarou quando questionado se, após a alteração da lei eleitoral, no âmbito das negociações da Renamo (Resistência Nacional Moçambicana) com o Governo, o maior partido de oposição reconhecerá os resultados em qualquer cenário. "Se todos os moçambicanos e os partidos seguirem as regras da lei eleitoral, quem vier a ganhar as eleições, mesmo que seja um partido pequenino, queremos ser os primeiros a reconhecer a derrota", afirmou Dhlakama, que espera, porém, a sua vitória nas presidenciais e a do seu partido nas legislativas e assembleias provinciais. "Quando a lei não está boa, isso permite a um partido colocar os seus militantes na mesa e os outros sejam amarrados e agredidos", afirmou o presidente da Renamo, mas no futuro, prosseguiu, "a todos, mesmo aos partidos pequenos, deve ser permitido que tenham os seus representantes [nas assembleias de voto], porque é uma luta. A prova dos nove é ali". A partir de agora, segundo o líder da oposição, "é despejar, contar e dar a vitória a alguém, não um cesto de boletins pré-assinalados, e quando as pessoas queriam reclamar eram agarradas e levadas para a cadeia”195.

Portanto, as eleições gerais presidenciais, da Assembleia da República e das assembleias provinciais de 2014 realizam-se ao abrigo deste novo quadro jurídico acordado entre o Governo e a RENAMO, nas negociações de paz, incorporando todas as reclamações da RENAMO.

Realizadas as eleições a 15 de Outubro de 2014, as missões internacionais de observação eleitoral consideraram que as eleições gerais em Moçambique foram livres, justas e transparentes, mas os partidos RENAMO e MDM tinham dito que que não aceitariam os resultados, alegando irregularidades196, de modo que a oposição, apesar de rasgos de elogios à nova legislação eleitoral, que

195

Ver www.publico.pt/africa. Consultado em setembro de 2018. 196

Cfr.https://www.dw.com/pt-002/observadores-elogiam-processo-eleitoral-em-moçambique/a- 18002237. Consultado em setembro de 2018.

permitiu colocá-la em situação de paridade nos órgãos eleitorais, não aceitou os resultados eleitorais de 2014.

Com efeito, a 26 de novembro de 2014, a RENAMO e o MDM propuseram à Assembleia da República a criação de um ―Governo de Gestão‖, proposta da agenda imediatamente ―chumbada‖ pelo Parlamento.

Embora rejeitada a proposta da agenda, o próprio Líder da RENAMO continuou insistindo neste ponto:

―Prometo que vamos criar o 'Governo de gestão'", garantiu Dhlakama no mesmo dia 4 de dezembro durante um comício em Nampula, no norte do país. "Toda esta gente quer que eu seja Presidente da República e que entre já no Palácio. Porque, mais uma vez, roubaram-me 35 por cento [dos votos]"197. Para a RENAMO, o ―Governo de Gestão‖ seria útil até que se realizem eleições livres e justas, pois permitiria ―reformar o STAE, Secretariado Técnico de Administração Eleitoral, e a polícia desde a base ao topo‖198.

Era, na verdade, um volte face, pois, depois de terem sido acolhidos pela nova legislação eleitoral as propostas da RENAMO, esta declarou que as eleições de 15 de outubro de 2014 seriam as mais justas e transparentes, para agora voltar a colocar os mesmos problemas que ela própria tinha assumido que havia sido resolvido.

A 9 de Dezembro de 2014, o Líder da RENAMO abandonou a ideia de ―Governo de Gestão‖ e agora clamava por governar as províncias que entende ter vencido, alegando que essa foi a vontade manifestada pelos populares.

Esta ideia era totalmente descabida. Na eleição do Presidente da República só existe um único círculo eleitoral, que é nacional. A centralização provincial não tornava a Província o círculo eleitoral para daí construir-se uma ideia de se ganhar uma eleição, senão em face da centralização nacional.

197

Cfr. https://www.dw.com/pt-002/. Consultado em setembro de 2018. 198

Porta-voz da RENAMO, António Muchanga, in: https://www.dw.com/pt-002/. Consultado em setembro de 2018.

A 15 de Janeiro de 2015, o novo Presidente da República, Engenheiro Filipe Jacinto Nyusi, toma posse. Na sua alocução, em acto solene de posse, afirmou que a riqueza de todo o legado da história do Povo Moçambicano fundava-se em várias conquistas, sendo que uma delas era:

―A Paz, condição primária para a estabilidade política, desenvolvimento económico, harmonia e equidade social. Deve ser inabalável a certeza de que nunca mais os moçambicanos viverão sob a ameaça do medo e o

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