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Segurança interna e externa

No documento Forças armadas na segurança interna (páginas 30-34)

QUADRO TEÓRICO E PRESSUPOSTOS DO TEMA

CONCEITOS OPERATIVOS

2. Segurança interna e externa

Primeiro, a ideia de segurança e depois a sua bifurcação em segurança interna e externa.

2.1. Segurança23

Escreve LOURENÇO que a noção de segurança em termos históricos aparece essencialmente ligada à ideia de segurança militar e do Estado, sendo mais tarde, depois da Guerra Fria, que adquiriu um conteúdo mais extenso em termos de alcance e significado, ―num processo de reposicionamento da segurança externa – ou defesa – no quadro amplo da ideia de segurança nacional de que a segurança interna é um dos pilares‖24

. Reconhece este autor que:

23

O Professor BACELAR GOUVEIA, no seu novíssimo «Direito de Segurança», trata com mais acuidade o conceito de segurança. Depois de expor a origem etimológica da palavra «segurança», classifica o conceito de segurança conforme vários critérios possíveis, nomeadamente: (i) do sujeito protegido, isto é, das entidades beneficiárias da segurança, nomeadamente a segurança institucional, comunitária, pessoal e internacional; (ii) de bens ou matérias da segurança em causa, que contempla a segurança individual, política e socioeconómica; (iii) do âmbito territorial de intervenção da actividade de segurança, onde podemos encontrar a segurança local, regional, nacional, internacional e global; (iv) das entidades que têm a seu cargo a actividade de segurança, envolvendo os poderes e as competências de que dispõem, onde encontramos a segurança militar, policial, das informações, municipal e privada. O Professor admite o alastramento deste conceito para abarcar a segurança económica, alimentar, ambiental, desportiva, no trabalho, no emprego, na escola, no consumo, marítima, energética, financeira, bancária, urbanística, aérea, sanitária; a segurança jurídica e social (GOUVEIA, Jorge Bacelar. Direito da Segurança, ob. cit., [10], pp. 89-96).

24

LOURENÇO, Nelson. ―Segurança Interna‖, in: Enciclopédia de Direito e Segurança. Lisboa: Almedina, 2015, pp. 431-432.

―A noção de segurança gera contradições e nuances diversas. Contradições entre segurança e defesa, entre segurança individual e segurança nacional, entre segurança numa perspectiva objectiva ou percepção da segurança, entre segurança nacional e segurança internacional. Contradições e complexidade resultantes de uma perspectiva necessariamente alargada de segurança‖25.

Esta asserção demonstra que o conceito de segurança é aberto e de conteúdo diversificado, com a tónica de que o avanço permitiu superar a concepção que ligava este conceito à existência de inimigos da pátria. Hoje o conceito de segurança abrange uma vasta gama de situações que, ainda ligadas à existência e afirmação do próprio Estado, Governo e integridade territorial, tocam também com vários aspectos da sociedade e das pessoas individualmente consideradas.

Por isso, LOURENÇO defende que a:

―… noção de segurança assenta no pressuposto de que mais do que seu alargamento a outros campos se está perante uma alteração da sua natureza, obrigando à sua reconceptualização nas várias dimensões e nos pilares em que se sustenta. Esta alteração da natureza da segurança só é entendível no quadro complexo dos processos sociais, económicos, políticos e tecnológicos associados à globalização‖26

.

A segurança pode noutra perspectiva representar um direito fundamental dos cidadãos, previsto no número 1 do artigo 59 da CRM, segundo o qual, ―Na República de Moçambique, todos têm direito à segurança (…)‖. Portanto, a Constituição eleva a segurança à categoria de direitos e liberdades fundamentais, significando garantia, protecção, estabilidade de situações ou pessoas em vários campos: integridade física e moral, liberdade e certeza nos negócios.

25

LOURENÇO, Nélson. ―Segurança Interna‖, ob. cit., [24], p. 431. 26

LOURENÇO, Nélson. ―As novas Fronteiras da Segurança – Segurança Nacional, Globalização e Modernidade‖, in: Revista Segurança e Defesa, n.º 31, (fevereiro-junho 2015), p. 27.

O direito à segurança se materializa, na vertente externa, num direito à defesa nacional, traduzindo-se num direito positivo à protecção dos poderes públicos contra as ameaças externas ou internas de outrem27. Pelo que é obrigação do Estado assegurar a defesa nacional e dever do cidadão moçambicano de defender a Pátria.

Na perspectiva de fim do Estado e do Direito, diz GOUVEIA que ―a localização clássica da segurança é enquadrada como fim do Estado e do Direito, com uma lógica quase autoexplicativa, mas essa utilização da segurança afigura- se hoje insuficiente pelos outros conteúdos que foi recebendo na evolução do Estado e do Direito‖28

.

Como fim do Estado, a segurança tem como finalidade a protecção da comunidade política, através dos órgãos que a Constituição atribui funções securitárias e de normação dessas matérias e como fim do Direito, a segurança é um elemento essencial para distinguir esta normatividade de outras normatividades29.

2.2. Segurança interna

A Lei da Política de Defesa e Segurança de Moçambique, Lei n.º 17/97, de 1 de outubro, no seu artigo 11, define a Segurança Interna como sendo:

―… a actividade desenvolvida pelo Estado para garantir a ordem, a segurança e a tranquilidade públicas, proteger as pessoas e bens, prevenir a criminalidade, contribuir para assegurar o normal funcionamento das instituições, o exercício dos direitos e liberdades fundamentais dos cidadãos e o respeito pela Constituição e pela legalidade‖.

Nesta perspectiva, a segurança interna viabiliza a segurança nacional, visando, nomeadamente garantir a ―integridade territorial, velar pela ordem

27

Cfr. ARAÚJO, António de. ―Direitos e deveres fundamentais dos cidadãos perante a Defesa Nacional‖, in: O Direito da Defesa Nacional e das Forças Armadas, ob. cit., [16], p. 253. 28

GOUVEIA, Jorge Bacelar. Direito da Segurança, ob. cit., [9], p.100. 29

pública e pela segurança e estabilidade dos cidadãos‖30, bem como garantir o cumprimento das leis e o respeito pelos direitos dos cidadãos. E, cabe, neste sentido, em primeira linha, a sua garantia à Polícia da República de Moçambique (PRM), cuja missão constitucional é ―garantir a lei e a ordem, a salvaguarda da segurança de pessoas e bens, a tranquilidade pública, o respeito pelo Estado de Direito Democrático e a observância estrita dos direitos e liberdades fundamentais dos cidadãos‖31

.

Confirma esta tese o Professor Bacelar GOUVEIA quando reconhece que ―a função policial surge no contexto da segurança interna, a qual representa a preocupação com a protecção da ordem pública e os direitos e liberdades dos cidadãos, actividade que fica a cargo do Estado‖32.

2.3. Segurança externa

O conceito de Segurança Externa é difícil de conceptualizar, pois até para a Direcção-Geral de Política de Defesa Nacional (DGPDN), o conceito aparece difuso com ―tentáculos aglutinadores‖ aos conceitos de segurança colectiva, segurança cooperativa, segurança comum, segurança alargada e segurança humana. Contudo, a ideia fulcral que norteia o funcionamento da DGPDN é a de que a segurança externa contribui decisivamente para a segurança interna desse mesmo Estado-Nação.

O Professor Armando Marques GUEDES entende que a ―segurança externa de uma entidade (estatal ...) é tão só uma fracção da ―segurança nacional‖, aquela que diz respeito a arenas ―exteriores‖ aos Estados, e à relação destas com outras interiores‖33

.

A segurança externa materializa-se através do emprego das Forças Armadas – Forças de Defesa Externa – na garantia da independência nacional e

30 Cfr. Art.º 203 da CRM. 31 Cfr. Art.º 254 da CRM. 32

GOUVEIA, Jorge Bacelar. Direito Constitucional de Moçambique. Lisboa: Instituto do Direito de Língua Portuguesa, 2015, p. 573.

33

GUEDES, Armando Marques. ―Segurança Externa‖, in: Enciclopédia de Direito e Segurança. Lisboa: Almedina, 2015, p. 412.

dos interesses nacionais fora e dentro do território, constituindo-se como um instrumento de promoção e manutenção da segurança, o que faz este conceito

coincidir com o da defesa nacional.

No documento Forças armadas na segurança interna (páginas 30-34)