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2. DIFERENCIAÇÃO PEDAGÓGICA

2.3. Princípios que governam uma diferenciação pedagógica eficaz

2.3.4. O professor modifica o caminho para a aprendizagem, o processo

O caminho que o professor trilha para os seus alunos nem sempre é o mais adequado, levando-os por vezes a becos sem saída ou conduzindo-os por estradas amplas, infindáveis, sem destino. As actividades desenhadas para assegurar que os alunos adquiram as competências, são por isso, muitas das vezes, desprovidas de sentido. É aqui que emerge a necessidade de alterar todo o processo, ou seja, a forma como o aluno atribui o significado, compreende e se apodera dos pontos-chave, conceitos, generalizações e competências de um determinado assunto. Uma actividade ou tarefa efectiva, geralmente, envolve os alunos na utilização de competências essenciais para chegar à compreensão de uma ideia essencial, constituindo-se assim, numa aprendizagem claramente centrada no objectivo.

Objectivos de aprendizgem

Os objectivos são frequentemente escritos em passos graduais resultando num fluxo contínuo de construção de tarefas. Um menu de objectivos guiados facilita a descoberta do próximo passo a tomar na aprendizagem para os alunos entrarem em diferentes níveis.

Vickers (1990) identifica quatro tipos de objectivos: (1) técnicos, que especificam a qualidade do movimento que o professor que ver exibida em cada competência; (2) centrados na performance psicomotora que especificam os aspectos quantitativos de realização de uma dada competência, como por exemplo o número de repetições, o grau de precisão, a velocidade, a altura e a consistência; (3) sobre o conhecimento conceptual, que testam os alunos relativamente aos conhecimentos concretos e à capacidade de resolução de problemas; (4) e acerca do desenvolvimento pessoal que especificam os resultados relacionados com a auto-realização, desenvolvimento e obtenção de metas respeitantes a si e à sociedade onde estão inseridos.

Para a autora, a definição dos objectivos, aparece-nos depois de determinarmos a dimensão e sequência da matéria, isto é, após seleccionarmos os conteúdos adequados para um grupo específico de alunos e

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a sequência que estabelece a ordem segundo a qual a informação vai ser apresentada. Uma vez cumpridos estes passos, é chegada a altura de desenvolver o conteúdo através de tarefas introdutórias, de extensão, refinamento e aplicação (Rink, 2000), e criar progressões pedagógicas de modo a permitir que todos os alunos alcancem os objectivos traçados. Demonstrando claramente os objectivos de aprendizagem, os professores e os alunos compreendem que o tempo, materiais, modos de ensinar, formas de agupar os alunos, formas de expressar a aprendizagem, formas de avaliar a aprendizagem e outros elementos da aula são ferramentas que podem ser usadas de várias formas para promover o sucesso individual e global da turma. Flexibilidade

“Para diagnosticar as várias necesssidades de aprendizagem que constituem o todo, professores e alunos trabalham em conjunto nas mais variadas formas” (Tomlinson, 1999, p. 13). Por conseguinte, uma dinâmica flexível na sala de aula, recorrendo a uma organização de grupos de forma flexível, uma utilização diversa de materiais e um tempo de realização de uma determinada tarefa variável, de acordo com os ritmos de aprendizagem de cada um, é algo que adquire um valor fundamental na condução do processo de ensino. Se por vezes é essencial a turma trabalhar em conjunto, outras vezes os pequenos grupos poderão ser mais efectivos. Se a exploração de um mesmo material numa determinada actividade é a escolha mais acertada, noutras pode ser mais benéfico ter vários materiais à disposição. Se por vezes todos os elementos da turma terminam uma tarefa no tempo predeterminado porque é, por exemplo, mais simples, noutras mais complexas poderá ser necessário algum tempo adicional.

De acordo com estas premissas, a organização de grupos de forma flexível adquire uma relevância extraordinária, permitindo a agregação dos alunos segundo vários pressupostos, consoante o objectivo do professor. Usada de modo consistente e objectiva, adquire uma série de benefícios: oportunidade de um ensino e aprendizagem cuidadosamente orientados, acesso a todos os materiais e indivíduos da sala de aula, uma possibilidade dos alunos se verem

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numa ampla variedade de contextos e dados de avaliação ricos para o professor que observa os seus alunos numa vasta gama de contextos.

Neste sentido, os alunos poderão trabalhar em grupos que possuam elementos que manifestem necessidades académicas similares; outras vezes, é assegurado que os alunos de diferentes capacidades trabalhem em conjunto, num ambiente baseado nos pontos fortes de cada um; por vezes os alunos trabalham com colegas que possuem os mesmos interesses; noutras situações, alunos com interesses variados cooperam na concretização de uma tarefa que tem em conta todos os seus interesses; os alunos podem ainda trabalhar com aqueles que possuem padrões de aprendizagem similares ou então, com um conjunto de alunos com padrões de aprendizagem diferentes; noutras vezes os grupos de trabalho são simplesmente aleatórios – juntam-se com quem está mais perto, por ordem numérica/alfabética, ou chamando por um companheiro; finalmente, numa sala de aula flexível, são os alunos que, às vezes, decidem os seus próprios grupos, enquanto que outras vezes, é o professor que os estabelece.

Numa sala de aula diferenciada, o professor desenha várias estratégias de ensino que o ajudam a centrar-se num aluno ou em pequenos grupos, não apenas na turma inteira. O objectivo é dotar os alunos com conhecimentos e competências essenciais a nível apropriado de interesse e desafio.

Tipo de actividade

Nas salas de aula diferenciadas, o objectivo do professor é que cada criança se sinta desafiada a maior parte do tempo; que cada criança ache o seu trabalho atractivo a maior parte do tempo; e que cada criança se prenda de forma ajustada à informação, aos princípios e às competências de modo a adquirir potencial para compreender, aplicar e avançar para a próxima etapa de aprendizagem, a maior parte das vezes, na disciplina estudada. A diferenciação pedagógica não pressupõe diferentes tarefas para cada aluno, mas antes uma flexibilidade no grau de complexidade da tarefa e nos modos de expressão da aprendizagem que os diversos alunos achem apropriadas a maior parte do tempo.

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É pois essencial que o professor evidencie respeito pelos alunos homenageando quer as suas semelhanças, quer as suas diferenças, não tratando todos de forma diferente. Se, por exemplo, alguns alunos apanham melhor uma ideia quando a associam directamente à sua vida e experiência, outros, podem pensar na ideia de modo mais conceptual. Alguns lutam pela exactidão e afastam-se da incerteza da criatividade; outros têm sede de aventura da divergência e lamentam o tédio da exercitação. Alguns alunos preferem cantar a sua compreensão de uma história, enquanto que outros preferem dançar, desenhar ou até escrever para o autor ou personagem. “No final, não é a estardardização que faz a turma trabalhar. É o respeito profundo pela identidade de cada um” (Tomlinson, 1999, p. 12).

Prontidão dos alunos

Aferir o ponto de partida dos alunos relativamente a um conhecimento particular ou competência revela-se, porventura, imprescindível na organização, planeamento e selecção de actividades assim como no tipo de instrução utilizada. Desta forma, há que ter em consideração que os alunos com uma predisposição menos desenvolvida, poderão precisar: a) de alguém que os ajude a identificar e a selar lacunas na sua aprendizagem, para poderem seguir em frente; b) mais oportunidades de um ensino directo e prático; c) actividades ou produtos mais estruturados ou mais concretos, isto é, passos mais curtos, mais próximos das suas próprias experiências; e d) um ritmo de aprendizagem deliberado.

Por outro lado, os alunos mais avançados poderão precisar: a) de saltar a prática de habilidades dominadas e adquiridas anteriormente; b) actividades e produtos bastante complexos, de duração indeterminada, abstracta e multifacetada, com base em materiais avançados de leitura; c) um ritmo acelerado de trabalho ou, talvez, um ritmo mais lento para permitir uma maior profundidade de exploração de um assunto.