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Alguns estudos direccionaram-se para a vertente social da inclusão, nomeadamente para as interacções e as atitudes entre alunos com e sem incapacidades.

Butler e Hodge (2004) pretenderam descrever as interacções sociais entre alunos com e sem incapacidades nas aulas de Educação Física.

Descobriram que, quando as interações sociais ocorreram entre os alunos com e sem incapacidades durante as actividades físicas, essas interacções foram mais agradáveis, amigáveis e respeitosas, significativas, e centradas em objectivos comuns. No entanto, não concluíram que essas actividades estruturadas são o único motivo para as interacções favoráveis dos estudantes, existindo outras explicações plausíveis. Por exemplo, as interacções favoráveis dos estudantes podem ter sido um resultado do contacto e familiaridade entre uns e outros, originados em aulas anteriores. Por fim, três dos quatro temas que emergiram neste estudo sugerem que os alunos com incapacidades detêm atitudes mais favoráveis em relação à sua inclusão na Educação Física do que os seus colegas sem incapacidades.

Os resultados forneceram evidências de que, geralmente, condições favoráveis podem levar a interacções positivas e uma emergência de relações amigáveis no contexto da EF entre todos os alunos.

O objectivo de Place e Hodge (2001) foi descrever o comportamento de alunos do oitavo ano com e sem incapacidades físicas em relação à inclusão social, na aula de Educação Física.

Em resumo, os alunos com incapacidades tiveram interacções sociais limitadas com seus colegas sem incapacidades. Além disso, a distância espacial entre os alunos com e sem incapacidades durante a realização das tarefas, que foram uma característica da aula de Educação Física das turmas estudadas, reduziu as oportunidades de socialização entre os vários grupos. Os alunos com necessidades educativas especiais expressaram frequentemente o seu desejo de ser colocados juntos em grupos, ou até serem emparelhados juntos. Com efeito, por possuírem essa tendência, tornaram-se limitadas as suas oportunidades de socializarem fora do seu grupo, reflectindo-se também na

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falta de conforto e/ou vontade. O mesmo facto foi observado também nos alunos sem incapacidades dentro dos seus pequenos grupos de 3 ou 4 amigos. Os alunos com incapacidades tenderam a permanecer em actividade motora, com pouca ou nenhuma instrução e orientação da professora de EF. Em contraste, os seus colegas sem incapacidades evidenciaram mais comportamentos fora-da-tarefa e efectuaram as transições de uma actividade para outra a um ritmo deliberadamente lento. No entanto, a professora forneceu aos alunos sem incapacidades informações instrucionais num maior grau do que o dado aos alunos com incapacidades. Em termos de tempos de espera, estes alunos, por exemplo, esperaram por orientações com mais frequência e, geralmente, por um período de tempo mais longo do que os seus pares sem incapacidades.

Hodge, Yahiku, Murata, e Von Vange (2003) destacam algumas estratégias que podem ser aplicadas pelos professores de Educação Física a fim de garantir uma inclusão de sucesso de alunos com incapacidades, onde crianças com e sem incapacidades interagem socialmente de modo significativo e cooperativo: 1 – criar um ambiente interactivo, 2 – promover o modelo de aprendizagem cooperativo, 3 – usar peer-tutors envolvendo toda a turma, 4 – promover programas/clubes escolares e 5 – estabelecer ligações com a comunidade.

Na primeira, sugerem que os professores deverão usar actividades/jogos de construção de equipas de modo a potenciar oportunidades para a interacção, aumento da confiança e espírito de camaradagem entre os alunos com e sem incapacidades.

No ensino cooperativo realçam que os alunos aprendem a comunicar, assumem a responsabilidade da liderança e trabalham em conjunto para atingir um objectivo comum. Se todos se envolverem reciprocamente no ensino uns dos outros, todos irão sentir que a sua presença é valorizada no seio da turma. A criação de clubes sociais, círculos de amigos ou programas de assistência ou apoio de alunos constituem um meio privilegiado para a promoção de interacções sociais e a resolução de conflitos. Pode ainda ser sugerido às

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crianças a realização de serviço de voluntariado nas associações e clubes de Desporto Adaptado das suas zonas.

Por último, reconhecem que o estabelecimento de parcerias com instituições externas ao ambiente escolar e a criação de programas comunitários, com o intuito de prover a escola com programas inclusivos para alunos com incapacidades, são passos fundamentais para a socialização.

Além destas estratégias, outras foram destacadas com base em informações retiradas de entrevistas realizadas a doze professores de Educação Física, acerca das suas práticas inclusivas e de como promovem a interacção social entre os alunos com e sem incapacidades nas suas aulas. Das suas respostas foi possível reunir, sustentadas pela literatura da especialidade, as sugestões a seguir identificadas.

a) Modelo de educação desportiva (“Sport Education Curriculum Model”)

Este modelo curricular ensina os alunos a coordenar e gerir as suas experiências desportivas através de vários papéis (p.e., capitão, treinador, atleta). Esta elevada dose de responsabilidade, irá exigir ao aluno a necessidade de fornecer instruções, demonstrações e feedbacks, o que resultará em inúmeras oportunidades para interacções positivas entre os alunos.

b) Conversas de sensibilização (“Awareness Talks”)

Um ambiente positivo de aprendizagem pode ser conseguido através de conversas de sensibilização com os alunos para a aceitação das diferenças. Uma das formas é convidar um atleta profissional com incapacidades a participar numa das suas aulas, ou actividades da escola.

c) Aprendizagem Cooperativa (“Cooperative Activities”)

Estas actividades acentuam a importância de cada um na busca do objectivo comum. Isto é, a meta a atingir pelo grupo apenas é conseguida quando todos os elementos do grupo o conseguirem individualmente. Deste modo, diminui

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em larga escala as atitudes e os comportamentos individualistas que se constituem como um obstáculo à inclusão social.

d) Desporto Escolar (“Extracurricular Activities and Intramural Sport Programs‖)

Actividades do desporto escolar e programas desportivos podem, similarmente, melhorar as habilidades sociais dos alunos com incapacidades, aumentar as interacções sociais e a inclusão das crianças com incapacidades na sociedade.

e) Actividades de desinibição (“Icebreaker activities, Initial Practice and Partner Activities”)

Promover jogos para que os alunos se apresentem no início do ano lectivo constitui uma forma fundamental para iniciar as interacções sociais entre crianças com e sem incapacidades.

f) Trabalho por estações (“Teaching/Learning Stations”)

O trabalho por estações facilita a auto e a sócio-responsabilidade e aumenta a frequência de interacções sociais.

g) Diferentes formas de formação de grupos (“Methods to Pairing”)

A ideia é promover a formação de pares de variadas maneiras de modo a facilitar a diversidade de parceiros, assegurando assim, que os mesmos alunos não trabalhem sempre juntos.

h) Modelos (“Inviting Classes”)

Apresenta-se como mais um método capaz de promover a inclusão social. Consiste em convidar uma turma de Educação Física Adaptada para o contexto da Educação Física e vice-versa. As oportunidades de interacção aumentam assim como as probabilidades de uma inclusão social significativa. Todavia, torna-se fundamental realçar o ensino aos pares para promover um relação mais equitativa entre os alunos com e sem incapacidades.

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No papel de professor, tutor ou avaliador, o aluno observará os colegas com a intenção de corrigir/causar melhorias, o que o levará a ensinar, questionar e analisar. Desta forma será criado um ambiente de altos níveis de interacção social.

j) No papel do outro (“Role Playing”)

Colocar os alunos sem incapacidades no papel de alunos com incapacidades pode ajudá-los a obter uma melhor compreensão e respeito pelos seus colegas com necessidades educativas especiais.

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