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4 O SAÚDE DA FAMÍLIA NOS 12 MUNICÍPIOS PIONEIROS

4.4 Campina Grande (PB)

4.7.3 O PSF no município: Goiânia (GO)

A Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia implantou o PSF por decisão local, como uma política para a conversão de modelo assistencial e também para ofertar o acesso aos serviços com maior quantidade e com melhor qualidade. Antes da implantação foi feito um estudo dos indicadores de saúde de cada região de Goiânia estabelecendo assim áreas prioritárias para a seleção da equipes.

O processo de implantação do PSF foi orientado segundo os indicadores de saúde por região, definindo assim as áreas prioritárias. As unidades básicas de saúde da região noroeste foram as primeiras a terem as equipes do PSF funcionando. Essa era uma área com situações de risco social muito crítica, expressas na alta taxa de mortalidade infantil, na inexistência de infra-estrutura urbana e uma pobreza visível. A implantação continuou de forma progressiva, onde as equipes foram sendo formadas dos bairros mais afastados da periferia até o centro da cidade.

A população mobilizou-se para que o PSF chegasse em suas áreas de moradias; para tanto contaram com o apoio do conselho municipal de saúde, que sensibilizado ia indicando as áreas onde o PSF deveriam ser implantado.

As experiências que influenciaram em termos filosóficos e metodológicos para a implantação do PSF na cidade de Goiânia, segundo os respondentes da entrevista coletiva, foram o trabalho dos ACS que o estado de Goiás já tinha implantado no passado e os resultados alcançados na região Nordeste, sobretudo no estado do Ceará, com ações dessa natureza. Além disso, o Ministério da Saúde estava com a política de indução, para que os municípios pudessem adotar o PSF.

A Secretaria Municipal de Saúde também motivou-se com a possibilidade de com essa estratégia poder reorganizar a atenção básica, entendendo que o modelo antigo estava totalmente ultrapassado. Ele não estava resolvendo nada, precisava haver essa mudança e o caminho mais interessante, mais promissor, era o PSF. Em direção a esse foco, os respondentes afirmaram:

[...] o motivo principal foi a falha no sistema antigo... no sistema de saúde.

Para a melhoria da atenção básica...o modelo antigo não estava funcionando bem. Experimentar um novo modelo para ver se traz alguma melhoria, acho que essa foi a principal motivação para implantar o PSF.

Portanto a finalidade do PSF para o município de Goiânia é organizar a atenção básica, sendo essa a porta de entrada para o sistema municipal de saúde, assegurando que todos possam ter

acesso integral a ações e serviços de saúde, o mais próximo possível de suas localidades de moradia, promovendo a saúde, prevenindo as doenças e controlando as enfermidades de maiores agravos e riscos.

O que é interessante frisar quanto à finalidade do PSF, expressa nas falas dos sujeitos coletivos, é que

[...] a finalidade maior do PSF é trazer as famílias e comunidades para

participarem do trabalho conjunto com as equipes... tentando organizar e resolver, próximo de suas moradias os problemas de saúde-doença.

Outros ressaltam, novamente:

[...] evitando a transferência dessas famílias para serviços mais complexos,

que afoga tanto o sistema... buscar uma tentativa de desafogar o sistema trazendo, procurando encontrar as soluções mais próximas das famílias.

Assim, é consensual que a finalidade principal é promover a saúde, não estar tratando só a doença, e sim cuidando das pessoas com uma visão holística, vendo-as no ambiente em que vivem, moram e trabalham.

Atualmente a cidade de Goiânia conta com 125 equipes, 672 Agentes Comunitários de Saúde, 23 equipes de saúde bucal, atuando em 44 unidades básicas de saúde da família, cuidando de 35,5% do total da população. Estas unidades a partir da implantação do PSF passaram a ofertar as seguintes ações de saúde: atenção à saúde da criança, atenção à saúde da mulher, atenção à saúde dos jovens e adolescentes, atenção à saúde do idoso e vigilância às doenças de maiores agravos.

Alguns respondentes destacam as ações de visita domiciliar e a educação em saúde, essa exercitada na formação de grupos específicos de diabéticos, hipertensos, gestantes. Essas duas são as novidades nas unidades básicas de saúde, logo atributo da presença do PSF.

Dentre as ações ofertadas por essas unidades, ressaltam que as mais utilizadas são as consultas médicas, e as consultas de enfermagem para o atendimento de crianças na puericultura e para as mulheres no pré-natal. Na análise dessa questão, eles afirmam:

[...] a consulta médica é a mais utilizada, mas isso não inibe nosso trabalho

de educação em saúde... a gente faz, seja na unidade, seja no consultório, seja na visita, às vezes na rua, num evento, numa praça, a gente está sempre fazendo educação em saúde. Mas, devemos reconhecer que hoje ainda é o atendimento médico curativo.

Na análise do que mudou com a implantação do PSF nos processos de organização da atenção básica e na situação de saúde das famílias verifica-se que as falas dos sujeitos coletivos

circulam pelo aspecto da organização mencionada que todas as equipes do PSF trabalham com protocolos de referência (exames, consultas especializadas, internações). A contra- referência ainda é falha; as equipes dispõem de mecanismo sistematizado para o planejamento e programação local das unidades básicas de saúde, utilizam as informações do SIAB e realizam debates coletivos entre equipes e conselho municipal e local de saúde, e há programação e agendamento para as reuniões dos grupos de controle de agravos. Na situação de saúde das famílias, esclarecem que:

[...] é uma mudança muito grande o paciente da minha área de abrangência

ele tem mais acesso ao atendimento odontológico do que antes... antes ele tinha que pegar uma fila, dormir na fila, virar a noite e agora o acesso é melhor.

Informam que o número de internações hospitalares diminuiu, aumentou a cobertura vacinal, melhorou a prevenção das doenças, diminuiu a desnutrição; a questão da conscientização é mais visível, produto dos processos de educação em saúde.

Essas mudanças devem ser atribuídas ao trabalho das equipes do PSF, durante esses 12 anos, ao tempo que se deve reconhecer que existem muitos limites para que de fato o PSF se constitua em uma estratégia potencial para diminuir as desigualdades em saúde. Sabe-se que ele amplia as ações no escopo da atenção básica, mas, quando olhamos os outros pontos do sistema, verifica-se que os desafios aumentam. Por outro lado, lembra o coordenador municipal do PSF, que esses limites não são fixos, podem se mover de acordo com a determinação das forças sociais existentes nas localidades e no conjunto do município. Nessa direção almeja ampliar e qualificar a cobertura do PSF como uma forma de continuar contribuindo para a diminuição das desigualdades na saúde.