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4 O SAÚDE DA FAMÍLIA NOS 12 MUNICÍPIOS PIONEIROS

4.4 Campina Grande (PB)

4.4.3 O PSF no município: Campina Grande (PB)

O PSF na cidade de Campina Grande foi implantado como uma política municipal de saúde, induzido pelo Ministério da Saúde e inspirado na filosofia do modelo de medicina de família cubana. Para esse trabalho contou-se inicialmente com assessoria técnica do município de Niterói e da presença de uma médica cubana que permaneceu quatro meses para intensivos movimentos de capacitação das cinco primeiras equipes e de organização das unidades básicas de saúde dos bairros de Pedregal, Mutirão do Serrotão e mais tarde no Tambor. A Secretária Municipal de Saúde, à época, em visita a esses bairros era acompanhada por técnicos do Ministério da Saúde de Cuba, o que lhe fez optar por implantar o PSF naquelas

localidades, pelas condições precárias daquelas famílias que viviam completamente desassistidas. Não havia serviços públicos e nem a escola funcionava. Os bairros eram assim, sujos e tristes. O reflexo da situação podia ser visto nos olhos das pessoas, nos indicadores sociais e, é claro, nas altas taxas de mortalidade infantil. Assim, a coordenação municipal do PSF explicitou que os critérios e as prioridades de implantação das primeiras equipes naquelas áreas justificavam-se pela responsabilidade política e social de assegurar o acesso aos serviços básicos de saúde e reduzir as altas taxas de mortalidade infantil que incidiam naqueles bairros. Seguindo esses propósitos, essa mesma coordenação via no PSF a possibilidade de reorganizar a atenção básica, e mais ainda, o potencial de ajudar aquelas famílias a melhorarem sua saúde.

Apesar da adversidade que apresentavam naquele contexto, os membros das primeiras cinco equipes assumiram a responsabilidade de enfrentar os problemas, os quais foram sendo resolvidos com o passar dos anos, conforme afirmam outros profissionais que participaram dessa entrevista em grupo, sob a forma de análise do discurso do sujeito coletivo:

[...] eu acho que a escolha pela implantação do PSF nos bairros de

Pedregal, Mutirão do Serrotão e Tambo, foi uma atitude acertada, uma vez que serviu de exemplo de que era possível mudar e mais ajudou a resgatar a esperança das pessoas que lá viviam, porque permitiu que elas tivessem acesso mais próximo da sua casa à saúde..., e permitiu também que perceberem a saúde não só como o estar fisicamente são, mas também com uma melhoria do seu ambiente.

Pode-se interpretar com isso que o PSF veio ajudar as famílias e comunidades a entenderem que ali naquela unidade básica de saúde, próxima ou bairro onde residem, podem ter acesso aos serviços de boa qualidade, prestados por profissionais capazes de ajudar a resolver seus problemas de saúde. E mais, que as equipes do PSF trabalham com a finalidade de promover a saúde em cada micro área a elas vinculadas, estimulando a participação nos processos organizativos das unidades básicas de saúde, visando a acolhimento e à humanização no cuidar da saúde das famílias.

E possível verificar nas falas dos profissionais participantes da entrevista coletiva que o PSF na cidade de Campina Grande ainda não se constitui em uma estratégia de re-organização da Atenção Básica, não só pela cobertura relativamente baixa, como pelos problemas enfrentados no sistema de referência e contra-referência, dificultando com isso a integralidade e a resolutividade das ações e dos serviços de saúde.

Quanto à cobertura, o PSF atua hoje com 65 equipes e 384 Agentes Comunitários de Saúde, mais 16 equipes de saúde bucal, cuidando de 59,5%, nas periferias da cidade e na zona rural, verificando com isso a não entrada do PSF no conjunto do sistema, o que demonstra a fragilidade de referência e contra-referência, limitando com isso os objetivos do PSF de ser o primeiro nível organizativo da atenção à saúde.

Na avaliação feita pelo grupo, eles enfatizaram essa fragilidade, na medida em que iam apresentando as seguintes falas:

[...] a questão de referência... as equipes do PSF têm seus limites. E às vezes

ele esbarra na questão de uma referência inexistente. [...] a partir do

momento que todas essas equipes tivessem uma referência realmente estruturada, então efetivamente essa construção de reestruturação da atenção básica estaria sendo construída de uma forma mais clara e mais transparente.

O que se verificou é que o município tem dois modelos com duas portas de entrada: o PSF funcionando nos bairros periféricos da cidade e na zona rural, e os ambulatórios de outras unidades de saúde (hospitais, clínicas, ambulatórios especializados) operando nos demais pontos do município. Com essa situação o PSF ainda não se constitui efetivamente em uma estratégia para re-organizar a atenção básica, por vários motivos: os gestores locais mantêm dois modelos funcionando no município, não existe referência para as equipes, não há integralidade da atenção à saúde, as ações intersetoriais são voluntaristas, não são uma ação política. Estas questões limitam o potencial do PSF e ainda assim ele apresenta uma série de mudanças.

A lógica que explica essas mudanças encontra-se na forma com as equipes do PSF organizam suas unidades básicas de saúde. Elas têm o diagnóstico situacional de cada microárea trabalhada, por meio do sistema de informação da atenção básica, oriundo dos cadastros das famílias e das fichas de acompanhamento diários das famílias. Logo, as ações ofertadas têm por base essas informações. Durante os 12 anos de trabalho das equipes do PSF, na cidade de Campina Grande, as ações que passaram a ser ofertadas foram:

a) Atenção à saúde da mulher; b) Atenção à saúde da criança;

c) Atenção à saúde do idoso, com o controle de hipertensão e diabetes; d) Atenção à saúde mental;

e) Atenção à saúde bucal.

As ações de vigilância e promoção da saúde são prioridades na agenda de trabalho das equipes do PSF.

Sobre a distinção entre as ações ofertadas e as mais utilizadas, eles informam que é a consulta médica, seguida das ações de puericultura, pré-natal e controle das doenças crônicas as mais utilizadas. Nessa questão o discurso dos respondentes reforça as afirmações anteriores, que deixa notório que as consultas médicas continuam sendo a mais utilizada pelas famílias vinculadas às equipes do PSF.

[...] as equipes encontram dificuldade em reverter a lógica da busca e

utilização das consultas médicas, sobre o ponto de vista curativo, infelizmente essa ainda é a cultura enraizada [...] nossas ações educativas

ficam em segundo plano, mas, continuaremos insistindo.

O que é central nessas últimas falas é a declaração do potencial que o PSF tem, ainda que atuando em condições adversas. Nessa direção os entrevistados apontaram uma série de mudanças na organização da atenção básica e na situação de saúde das famílias e comunidades. Na organização indicam com maiores mudanças a ajuda mútua das famílias e comunidades na organização da oferta e da demanda das ações de saúde, e o fortalecimento diário da vinculação entre eles e as equipes do PSF junto às Unidades Básicas de Saúde. Na situação de saúde mencionam que o trabalho das equipes do PSF ajudou a mudar o quadro junto à população, sobretudo na questão da desnutrição e redução da mortalidade infantil. Estas são algumas de suas falas:

[...] eu não tenho mais nenhum desnutrido em minha área de atuação, os

ACS, acompanham todos [...] questão da mortalidade infantil, há sete anos,

eu só tive um óbito em menor de ano. [...] a queda na desnutrição na

mortalidade infantil, são indicadores positivos da ação do PSF no município.

Os respondentes ressaltam ainda que o PSF obteve esses resultados porque ampliou o acesso aos serviços básicos de saúde, mas tem dificuldades em ampliar para os demais níveis do sistema. Em síntese eles expressam que o PSF contribuiu para a eqüidade, pois permite diagnosticar a comunidade e trabalhar suas reais necessidades, assim como possibilitou o acesso, permitindo a universalidade nas áreas por eles trabalhadas, além de mudar o foco do olhar, voltado para o cidadão, inserido em suas famílias e comunidades de maneira integral, alertando para a necessidade de se trabalhar não só com a doença, mas promovendo, prevenindo e cuidando da saúde.

E com isso explicam os entrevistados que desejam no futuro que o PSF seja expansão para 100% das famílias dependentes do SUS, que hoje representam na cidade de Campina Grande cerca de 70% do total da população, para que ele possa continuar contribuindo com a diminuição das desigualdades, tarefa que, nesse momento, apresenta-se, naquele município, ainda como uma intenção.

4.5 Quixadá (CE)