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4.4 Discussões Cinematográficas Propriamente Ditas

4.4.4 O Que É Cinema?

Neste segmento tratará de esboçar uma breve tentativa de compreensão do que é o cinema. Para alcançar tal objetivo nos apropriaremos do método anteriormente referido como tipológico, além de abordar a história das cinema desejamos a ordenar em um arranjo determinado por sua ontologia, com isto queremos dizer:

The ontology of the film, then, is an inquiry into the beeing of film, or, to say it a bit less awkwardly, an inquiry into the kind of of being, the kind of thing, a film is. to what category does it belong or, alternatively, under which category do we classify it? (...) The ontology of the film interrogates the mode of existence of the film - the kind of thing it is essentially. The ontologist attempts to identify the nature or essence of film- its manner of existing. Carrol; Choi (2006, p.51)

Tal empresa está longe de ser inédita ao longo desta história. Grandes nomes da história, ou da filosofia do cinema, o fizeram nomes como Arthur Danto, Hugo Munsterberg, Bela Balaz e muitos outros teóricos. A apresentação repetida deste fenômeno demonstra a importância da confecção desta tarefa.

Esta metodologia foi escolhida justamente por acharmos ser a mais apropriada para a exposição dos postulados discutidos e a importância destes em termos históricos e filosóficos, a tarefa de expor tais pensamentos cinematográficos não é nova.

Representa por si um devido exercício de categorização, apesar do relacionamento entre seus teóricos clássicos que, em grande parte, foram contemporâneos e devido a este fator tiveram a oportunidade de ler, comentar e por algumas vezes debater com seus pares, se há grandes dificuldades acerca de como obter categorizações fidedignas a seus escritos de forma a literatura acerca da historiografia das teorias cinematográficas o faz de diversas maneiras que são, muitas vezes, díspares.

A abordagem mais tradicional é de reunir um conjunto de teóricos sob uma determinada questão Agel (1982) as divide em Realistas, Poéticos, Escola Italiana, Câmera Caneta e dedica a alcunha de Grandes Teóricos a Bela Balazs, Vsevold Pudovkin,Sergei Eisenstein e Rudolf Arnhem os quais examina suas perspectivas individualmente.

Ainda sob a mesma Abordagem Andrew (1976) divide a história das teorias cinematográficas sob as seguintes categorias The Formative Tradition, Realist Film Theory, Contemporary French Film Theory, divisão que pretende separar aqueles designados formalista -Munsterberg, Arheim, Eisenstein, Balazs- , realistas -Kracauer, Bazin,- , e os teóricos contemporâneos que tendem a adotar certas tendências de exegese modernas como a semiótica e a psicanálise- Metz, Agel, Ayfre

Outra abordagem de confecção da historiografia de tais teorias é que destoa em algumas notas das categorizações descritas anteriormente é a junção de teóricos com base em fatores históricos um representante de tal categoria é Aristarco (1961) que divide tal história nas seguintes categorias Os iniciadores - Delluc,Canuto, Richter, e Moussinac- , Da vanguarda a Montagem -Vertov e Kulechov- , Os Sistematizadores - Balazs, Pudovkin, Eisenstein e Arheim, Os Divulgadores -Rotha, Spottiswoode e Grieson-, O contributo Italiano -Gerbi, Debendetti , Barbaro, Chiarini- , Os Outros - Gad e demais-.

As próximas abordagem serão consideravelmente mais radicais em sua formulação são frutos de pesquisas recentes e representam discussões e perspectivas diferentes das demais Casetti (1993) combina fatores históricos com a decomposição das notas do cinema

às discutindo de forma analítica a qual estas por sua vez se dividem em facetas menores representando as divisões de cada tema de forma. Blackwell (2000) compartilha de semelhante metodologia de formação de categorias de forma que trata a tematicidade das teorias de modo a inserir dentro de escolas temáticas teorias afins. Amount (2004) divide a história das teorias do cinema em 4 categorias globais: A teoria dos teóricos, O visível e a Imagem, A Realidade e sua Escrita, Maquinarias e Maquinações. A Arte e a Poética. Dentro de segmentos cada autor recebe uma subseção intitulada em consonância com a parte de sua doutrina a ser exposta. A última e mais heterodoxa maneira de categorizar as Teorias Cinematográficas é a abordagem de Elsaesser; Hagner (2010) que expõe tais teorias através “dos sentidos” de modo que o fator privilegiado em sua categorização são as forma com que tais teorias analogicamente se reportam a órgão do corpo humano, de forma que a visão do cinema órgão é categoria global na qual as teorias são discutidas dispersamente em suas subseções.

No segmento anterior acerca da Artisticidade do cinema encontramos algumas uma série de enunciados à primeira vista a única intenção de esgotar tal matéria, no entanto à averiguação cuidadosa contata-se a presença de uma série de perspectivas que transcendem tal questão e oferecem insights valorosos acerca desta questão, o cinema não se constitui de perspectivas singulares e pretendemos esboçar tal configuração.

Uma questão igualmente evidenciada no segmento anterior acerca do cinema e a arte foi a relação entre Cinema e fotografia a partir de comentários acerca de tal relação as primeiras perspectivas acerca do cinema estas são estes o realismo e o cinema sonho.

O primeiro embate que necessita de devida atenção é entre as concorrentes definições de realismo que habitam o cinema, a primeira evidencia o valor semântico imediatamente suscitado pelo proferição de tal palavra, mas Realismo não necessariamente significa cópias fidedignas de algo e esta é a segunda posição nesta matéria. A primeira visão pode ser fidedignamente expressar a partir de tal enunciação:

Films come into their own when they record and reveal physical reality. Now this reality includes many phenomena which would hardly be perceived were it not for the motion picture camera´s ability to catch them on the wing. And since any medium is partial to the things it is uniquely equipped to render, the cinema is conceivably animated by a desire to picture transient material life, life at its most ephemeral. Kracauer (1960, p.ix)

No entanto tal visão incorre em alguns problemas o maior deles é que sua definição de realidade. Assumido a existência de uma realidade apreensível pelos sentidos é

prontamente comprovável a inverossimilhança desta perspectiva que culmina na proposição de que um o Cinema Reproduz a realidade. As razões sendo os subsídios de tal afirmação os seguintes pressupostos: a realidade não se comporta como um filme porque não temos a opção de ver com propriedades diferentes - como por exemplo a alteração de dimensões por parte de lentes com a fisheye ou ver por determinados esquemas de cores- ao menos não voluntariamente sem qualquer uso de aparatos tecnológicos- ou ainda enxergar movimento de forma diferente não sendo uma das capacidades naturais de um ser humana a capacidade de desacelerar movimento e o perceber ao modo do recurso cinematográfico de slow motion. Por tal definição o realismo literário por exemplo seria impossível pois ao vivenciar experiências como amor, ódio ou o desenrolar de longos acontecimentos como o nascer do sol não se sucedem imediatamente a visão de letras ou grandes parágrafos.

Uma outra concepção de realismo difere diametralmente da anterior, esta não busca realismo pela imitação, mas sim de outra maneira sendo o presente enunciado capaz de representar esta modalidade de realismo:

A polêmica quanto ao realismo na arte provém desse mal-entendido, dessa confusão entre o estético e o psicológico. Entre o verdadeiro realismo, que implica exprimir a significação a um só tempo concreta e essencial do mundo, e o pseudorrealismo do trompe l'oeil (ou do trompe l´esprit), que se contenta com a ilusão das formas. Eis por que a arte medieval, por exemplo, parece não sofrer tal conflito: violentamente realista e altamente espiritual ao mesmo tempo, ela ignorava esse drama que foi o pecado original da pintura ocidental. Bazin (2018, p.30)

Esta vertente de Realismo difere substancialmente de sua contraparte anterior concebe o Cinema não a partir da emulação completa da realidade, um filme não se assemelha um espelho, o realismo consiste na exposição de circunstâncias inerentes á condição humana através de qualquer estilo demanda, do de modo, que um filme contendo a estilística mais abstrata e vanguardista possível ainda é capaz de ser realista caso representa sentimentos universalmente perceptíveis como a miríade de conflitos existências que ocorrem usualmente no decorrer de um vida. Em oposição ao Realismo surge uma vertente que defende que o cinema nunca se propôs a descrever a realidade, esta impossibilidade de transmissão da realidade se dá pelo uso que o cinema faz de determinadas técnicas, sendo assim:

cinema is “like” a dream in the mode of its presentation : it creates a visual present, an order of direct apparition. That is the mode of dream. The most

noteworthy formal characteristic of dream is that the dreamer is aways at the center of it. (...) the moving picture takes over and , and whereby creates a virtual present. (...) This is what the art of the film abstracts from actuality, from our actual dreaming. Langer (2006, p.80)

Após a averiguação de tais escolas e suas reflexões acerca da natureza do responderemos à pergunta fundamental, o que é o cinema, o principal objetivo desse segmento. O cinema é uma jovem arte surge através da assimilação de pressupostos que faziam parte de outras arte mas eram percebidos como fatores de menor importância, tais como o ritmo – próprio e originário da música- , a imagem -própria da pintura- em algo até então novo, que expandem-se a categorias maiores , alavancadas ao pódio da percepção imediata através do movimento puro, seus marcos iniciais são a filmagem de cavalos correndo e a chegada de um trem. Uma visão estarrecedora, uma ilusão mortificante, do que até então nunca havia sido possível -a reprodução fidedigna acompanhada de movimento- as primeiras exibições suscitaram imediatamente o mais completo horror em seus espectadores de forma que o espectro da perfeita ilusão continua a assombrar aqueles que estão encarregados de refletir acerca de suas propriedades, o cinema é a arte última, capaz de se sobressair a todas as outras, capaz de iludir por sua fidedignidade e perplexar por sua irrealidade capaz de confundir e inquietar por mostrar o impossível sendo o único recurso capaz de descrever tamanha irrealidade e contradição aos sentidos a comparação. Sendo o sonho a única comparação capaz de o descrever quando assim se apresenta, capaz de comportar as visões mais diversas acerca da sua natureza e permitir apesar da flagrante contradição entre visões as duas sejam simultaneamente corretas oposição, em última instância o filme é quintessência da arte por permitir um valor representacional nunca antes visto na história da estética, em última instância o filme é um milagre é a única capaz de alcançar a maturidade em tão pouco tempo fator unicamente explicável por:

O cinema é um fenômeno idealista. A ideia que os homens fizeram dele já estava armada em seu cérebro, como no céu platônico, e o que impressiona, acima de tudo é a resistência tenaz da matéria à ideia, mais do que as sugestões da técnica à imaginação do pesquisador. Bazin (2018, p.36)

5 INDEXAÇÃO DE FILMES

Conforme exposto anteriormente esta seção será dedicada a uma análise de como se dá a indexação temática aplicada a filmes. Para tanto resgata a cinematografia para depois se apontar os pressupostos de tal ação de representação.