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O que é maternagem?

No documento O Livro Da Maternagem - Thelma B. Oliveira (páginas 32-39)

Davy Bogomoletz e Dra. Relva

Segundo Winnicott (1982), maternagem ou provisão maternal é a atitude do adulto em relação ao bebê e os cuidados a ele dispensados. Nele encontramos que a mãe - ao tocar e manipular o bebê, aconchegá-lo e falar com ele, acaba promovendo um arranjo entre soma e psique e, ao olhá-lo, ela se oferece como espelho onde o bebê pode ver-se. A forma como essa mãe olha o bebê (expressão facial) devolve a ele a sua imagem corporal, como forma de comunicação.

O ato de tocar tem alto grau de importância desde a convivência gestacional e posteriormente a ela, em que o contato da mãe com seu bebê já implica em momentos favoráveis à formação da criança. O toque imediato após o parto estabelece o vínculo entre mãe e bebê; o toque na amamentação gera trocas positivas entre ambos e reduz a tensão emocional; além do mais, gera bem-estar na mãe, ao perceber o tipo de estímulo favorável que oferece ao filho.

No campo ísico, o tocar viabiliza o bom funcionamento da respiração e digestão, entre outros pontos. No desenvolvimento psíquico e social ica evidente a relevância do tocar, principalmente porque possibilita um vínculo melhor entre a mãe (ou quem cuida) e o bebê, gerando assim uma tendência na criança de criar e manter outros vínculos mais seguros ao longo de sua vida social. O bebê, pelo contato dessa magnitude em sua formação inicial, adquire uma personalidade sadia e percebe o mundo de forma agradável. Sentindo-se aceito e benquisto, ele constrói uma boa autoestima, instrumento imprescindível à conquista do mundo, que vai se

desvelando conforme ele avança em seu crescimento e na manutenção das relações que vai estabelecendo com as outras pessoas.

Hoje sabemos que é importante o modo pelo qual se promove o “segurar” (holding) e o “manuseio” do bebê (handling), e quão importante é quem está cuidando dele – se a mãe ou outra pessoa. As teorias sobre os cuidados e sua continuidade tornaram-se a característica central do conceito de ambiente facilitador. De fato, é por meio da estabilidade na provisão ambiental, que o bebê em estado de dependência pode ter preservada a sua linha da vida.

Bowlby, em seus estudos sobre ‘ attachment’, mostra a reação de uma criança de dois anos à ausência da mãe, caso se prolongue além da sua capacidade de manter viva a imagem materna. Seu trabalho, ainda que precise ser explorado mais a fundo, obteve aceitação geral. Sua avaliação conduz à importância da continuidade nos cuidados e remonta ao início da vida do bebê, antes mesmo que ele perceba objetivamente a mãe por inteiro, como pessoa.

Outra característica destacada no estudo: na qualidade de psiquiatra de crianças, Bowlby não se preocupa única e exclusivamente com a saúde da criança, mas sim com a riqueza da felicidade que se desenvolve na saúde. O bebê desenvolve suas capacidades (que nele já estão presentes) fundadas em experiências precoces e na continuidade de cuidados que lhe possam dar segurança nas diversas instâncias da vida, inicialmente na família, depois na escola e em um círculo social cada vez mais amplo.

Maternagem e saúde

Dra. Relva

Descobrimos recentemente um livro muito interessante sobre

maternagem – Uma Intervenção em Saúde, de Ernesto Duvidovich &

Themis Regina Winter, totalmente alinhado com nossa proposta.

Pode-se ler no prefácio de Wagner Ranña: “O capítulo IV aborda os processos de capacitação dos pro issionais para atuarem como midwives [...] Os pro issionais também devem estar articulados numa rede de acolhimento, pois a capacidade de exercer a maternagem está ligada à capacidade de ser maternado. [...] Para que essa maternagem aconteça, o pro issional também deve estar acolhido numa rede de amparo; do contrário, irá refugiar-se em ‘receitas’ operatórias e vazias” – p. 15.

Nós também acreditamos que a mãe deva ser maternada. Ao encarar o papel e a função de ‘mãe’, a mulher perde muito de seu referencial pessoal e social e adentra o obscuro mundo materno. Deixa de ser quem é e passa a ser ‘a mãe de alguém’, função e papel que nunca lhe serão tirados. Ela precisa ser acolhida pelos familiares, pelo companheiro, pela sociedade e pelos serviços de saúde para bem realizar essa função – ou nobre missão, como se prefere dizer. “Como veremos, existem muitas Máscaras da Maternidade. Mas essa – a máscara do silêncio – é a mais traiçoeira de todas”. [...] A Máscara da Maternidade mantém as mulheres em silêncio a respeito do que sentem, e desconfiadas do que sabem. Separa a mãe da

filha, uma irmã da outra, as amigas. Cria um abismo escarpado e trágico entre adultos que têm filhos e os que não têm. Desvirtua a distância entre a infância e a vida adulta, criando fossos cada vez mais profundos entre as gerações. Coloca pais contra mães, aumentando a distância entre o significado de “ser mãe” e “ser pai”. Acima de tudo, ao minimizar a enormidade do trabalho das mulheres no mundo, alimenta e sustenta a ignorância profunda que confunde “ser humano” com “ser homem”. Maushart, Susan, A Máscara da Maternidade, p. 23.

O terreno materno, mesmo virtual, é minado – principalmente pelas ‘outras’: quando mãe ‘A’ fala de seu parto ou de seu filho, mãe ‘B’ começa a procurar onde mora o erro; se está sendo arrogante; ou querendo ser ‘diferente’. Há até confrarias e dissidências, derivadas de simpatias mútuas e de antipatias diversas. Há as empolgadas da maternidade e há também as ‘cassandras’ que avisam: não existe maternidade cor de rosa, você vai ver o que te espera! No im, todo mundo se entende, pois... Mãe só tem

uma! Para saber mais A Máscara da Maternidade. Por que ingimos que ser mãe não muda nada? Ed. Melhoramentos, SP. 2006. Amor Materno – Mito ou Realidade? Dissertação de Ivana S. Paiva Bezerra de Mello, Mestre em Psicologia Clinica, UNIPE, PB, em: www.escolafreudianajp.org/arquivos/trabalhos/Amor_materno_mito_ou_realidade.pdf acesso em 28.09.2012

As novas mães

Quem são estas que surgem como a aurora, belas como a luz, brilhantes como o sol, esplêndidas como as constelações?

São elas, as ‘novas mães’, saindo do armário, portando seus slings e

netbooks e dirigindo-se ao Cinematerna. Recostadas em futons, falarão de

abobrinha, cenourinha e frutinhas. E farão mamaço ostensivo. E trocarão receitas de papinhas, enquanto recitam o mantra “Hei de vencer!” E conversarão papos de mãe. E queimarão as balanças de ver o peso. E malharão muito, para readquirir o corpão sarado em 40 dias e 40 noites. E farão brincaderinhas de ‘mais-mãe’ e ‘menos-mãe’, e o prêmio será uma semana no spa do sono.

Hordas de especialistas estarão a postos, para ensinar-lhes como e o quê devem fazer; e cuidarão para que seus pés não resvalem em alguma pedra. E elas discutirão seus planos de parto e farão discursos exaltados sobre a cesárea eletiva. E descobrirão que tudo é vaidade das vaidades e que comparar o instinto materno é vão. E que ser mãe exige disposição e muito aprendizado. E que nada há de novo debaixo do sol. E elas se banharão com ervas e extrato de ocitocina. E farão acampamento compartilhado. E olharão com descon iança as ‘outras’, as que não portam a veste nupcial. E as portas se cerrarão, assim que chegue o amado de suas entranhas. E as que deixaram apagar suas lamparinas, icarão de fora, onde haverá choro e ranger de dentes.

Mas eis que... ...Dos céus desceram os Especialistas, montados em laptops de duas cabeças e carregando celulares de fogo. E Eles garantiram que, desse dia de glória em diante, não haveria mais dúvida sobre a verdade porque Eles, os Especialistas, diriam a todos o que é a verdade e como deve ser usada. E elas foram chamadas de ‘mãezinhas’. E conheceram o ‘seu’ lugar (na fila, é claro). E ficaram sabendo que nem toda fila anda... [César Cardoso é que entende desse lance de especialistas...]

No documento O Livro Da Maternagem - Thelma B. Oliveira (páginas 32-39)