• Nenhum resultado encontrado

O Livro Da Maternagem - Thelma B. Oliveira

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "O Livro Da Maternagem - Thelma B. Oliveira"

Copied!
908
0
0

Texto

(1)
(2)

A arte como humanização

Este livro sobre Maternagem é, por consequência, sobre humanização. Nada mais humanizante do que a arte, o que nos levou a mergulhar em pesquisas iconográ icas para encontrar imagens alusivas a cada capítulo ou tema. A Grande Arte, patrimônio da humanidade, serve aqui de patrimônio de humanização. NOTA IMPORTANTE: A internet não é consultório. As comunidades virtuais – como a nossa Pediatria Radical – têm finalidade cultural, informativa e social. Não pretendem, nunca pretenderam e jamais poderão substituir a relação médico-paciente ou a

(3)
(4)

Epígrafe

“Como quem herdou casas, imóveis de luxo, extensas fazendas com milhares de cabeças de gado, herdei minha criança com sua espontaneidade, seu amor pelos lápis de cor, sua palhaçada, sua disposição para o novo e sua inocência; herdei minha jovem mocinha com sua irreverência, sua vontade de ajudar a melhorar o mundo, seu romantismo, sua esperança radical, sua ousadia em se lançar na estrada da existência na transitoriedade de cada momento.” Elisa Lucinda, Carta ao Tempo “Eu não ensino, eu conto”. Michel de Montaigne “O abandono sofrido pelas crianças de hoje – qualquer que seja a composição familiar a que pertençam – é o abandono moral. Não é porque a mãe, separada do pai, passa muitas horas por dia trabalhando; não é porque um pai decidiu criar sozinho os filhos que a mãe rejeitou;

(5)

ou porque um casal jovem só tenha tempo para conviver com a criança no fim de semana. O abandono, e a consequente falta de educação das crianças, ocorre quando o adulto responsável não banca sua diferença diante delas. Fora isso, sabemos que todos os “papéis” dos agentes familiares são substituíveis – por isso é que os chamamos de papéis. O que é insubstituível é um olhar de adulto sobre a criança, a um só tempo amoroso e responsável, desejante de que esta criança exista e seja feliz na medida do possível – mas não a qualquer preço. Insubstituível é o desejo do adulto que confere um lugar a este pequeno ser, concomitante com a responsabilidade que impõe os limites deste lugar. Isto é que é necessário para que a família contemporânea, com todos os seus tentáculos esquisitos, possa transmitir parâmetros éticos para as novas gerações”. Maria Rita Kehl, Em Defesa da Família Tentacular “Um dos aspectos mais extraordinários de nossa época é a maneira pela qual todo o processo do nascimento é dilacerado pela interferência tecnológica”. Ronald Laing - Fatos da Vida

(6)

Dedicatória

Este livro homenageia nossos poetas, iccionistas, contadores de ‘causos’, desenhistas, ilustradores, designers, que colorem e encantam os dias dos meninos e meninas do Brasil com suas estórias e historinhas, canções e cantigas, contos, fábulas, piruetas e quadrinhos: Adriana Partimpim, Alessandra Roscoe, Ana Maria Machado, André Neves, Ângela-Lago, Arnaldo Antunes, Bia Bedran, Cadão Volpato, Carla Caruso, Chico Buarque, Daniel Azulay, Edgard Scandurra & Pequeno Cidadão, Elvira Vigna, Eva Furnari, Fabrício Carpinejar, Fernanda Lopes de Almeida, Ferreira Gullar, Ferrez, Flávia Savary, Flávio de Souza, Glória Kirinus, Heloísa Prieto, Ilan Brenman, Isabel Minhós, João Ubaldo Ribeiro, Jonas Ribeiro, Karen Acioly, Kátia Canton, Lalau, Laurabeatriz, Lauren Child, Laurent Cardon, Lígia Cadermatori, Lúcia Hiratsuka, Lygia Bojunga, Manoel de Barros, Marcelo Xavier, María Teresa Andruetto, Marilda Castanha, Marina Colasanti, Maurício de Souza, Mírian Fraga, Nelson Cruz, Pato Fu, Paulo Tadeu, Pedro Bandeira, Pedro Lucena, Raí, Renato Moriconi, Ricardo Azevedo, Roger Mello, Rubem Alves, Ruth Rocha, Sandra Peres & Paulo Tatit da “Palavra Cantada”, Stella Maris Rezende, Susy Lee, Talita Rebouças, Tânia Khalil & Jairzinho, Tatiana Belinky, Therezamaria, Toquinho, Veridiana Scarpelli, Wander Piroli, Ziraldo...

E os inesquecíveis: Bartolomeu Campos Queirós, Carlos de Laet, Cecília Meireles, Clarice & Elisa Lispector, Érico Veríssimo, Fernando Sabino, Graciliano Ramos, José Mauro Vasconcellos, José Paulo Pais, Julia Lopes de Almeida, Luiz da Câmara Cascudo, Maria Clara Machado, Mário Quintana, Monteiro Lobato, Olavo Bilac, Orígenes Lessa, Rachel de Queiroz, Sylvia Orthoff, Tales de Andrade, Vinícius de Moraes, que deixaram poemas, estorinhas e peças infantis para crianças de todas as idades.

(7)

Nenhuma lista é exaustiva. Complete-a com seus autores preferidos, sem esquecer os universais e eternos: Andersen, Antoine de Saint Éxupery, Charles Dickens, Esopo, Fedro, Ferenc Molnar, Fernando Pessoa, Gabriela Mistral, Hergé, Julio Verne, Keith Haring, La Fontaine, Irmãos Grimm, Lewis Carrol, Mark Twain, Perrault, Swift, Walt Disney... “Sou fiel ao menino e ao jovem dentro de mim; fiel e talvez submisso, o que é causa de sofrimento, pois não há submissão sem dor. Mas não posso deixar de pensar, com melancólica ternura, no menino que escrevia suas historinhas em papel de embrulho, no menino que sempre acreditou na magia da ficção. A esse menino e a todos os jovens, dedico as páginas que se seguem”. Moacyr Scliar

(8)

Homenagem das crianças a suas

benfeitoras

Dorina Nowill (São Paulo, SP, 28/05/1919 – 29/08/2010)

Cega desde os 17 anos, devido a uma infecção ocular, Dorina criou a Fundação para o Livro do Cego do Brasil, com o objetivo de produzir e distribuir livros em braille para que de icientes visuais pudessem estudar. Há mais de seis décadas, a Fundação Dorina tem se dedicado à inclusão social das pessoas com de iciência visual, por meio da produção e distribuição gratuita de livros em braille, audiolivros e livros digitais acessíveis, diretamente para pessoas com de iciência visual e para mais de 1.400 escolas, bibliotecas e organizações de todo o Brasil.

www.fundacaodorina.org.br/

Neide Castanha (Januária, MG, 20/02/1953, Brasília, 27/01/2010)

“As crianças não têm dono, são patrimônio do País”. Neide Castanha, em sua trajetória, participou de grandes conquistas. Entre elas, a mobilização nacional para aprovação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e a realização do III Congresso Mundial de Enfrentamento à Violência Sexual, no Rio de Janeiro, em 2008. Neide foi também uma das principais responsáveis pelo desenvolvimento da metodologia de uma importante ferramenta para o combate à violência infantojuvenil, o Disque Denúncia

100, para noti icação de casos de violação dos direitos sexuais de crianças

e adolescentes.

(9)

A inesquecível médica sanitarista brasileira era formada em medicina pela UFPR; aprofundou-se em saúde pública, pediatria e sanitarismo. Criou a Pastoral da Criança, para livrar crianças pobres da mortalidade infantil, da desnutrição e da violência, em seu contexto familiar e comunitário. “As crianças, quando estão bem cuidadas, são sementes de paz e esperança. Não existe ser humano mais perfeito, mais justo, mais solidário e sem preconceitos que as crianças. Como os pássaros, que cuidam de seus filhos ao fazer um ninho no alto das árvores e nas montanhas, longe de predadores, ameaças e perigos, e mais perto de Deus, devemos cuidar de nossos filhos como um bem sagrado, promover o respeito a seus direitos e protegê-los.” Trecho do último discurso de Zilda Arns no Haiti.

(10)

Em memória, 2012

Bartolomeu Campos de Queirós (Papagaio, MG, 25/8/1944 – Belo Horizonte, MG, 16/01/2012) Autor mineiro, cuja escrita aproxima-se da expressão lúdica da criança. “Sem o colo da mãe eu me fartava em falta de amor. O medo de permanecer desamado fazia de mim o mais inquieto dos enredos. Para abrandar minha impaciência, sujeitava-me aos caprichos de muitos. Exercia a arte de me supor capaz de adivinhar os desejos de todos que me cercavam”. Vermelho Amargo, 2011 Conceição Moreira Salles (Santo Hipólito, MG, 1947 – Brasília 7/01/2012)

Biliotecária, amiga dos livros e dos leitores adultos e mirins, pioneira na busca de informação em Brasília. Inesquecível.

Flávia Maria & Millôr Fernandes, amigos e parceiros na criação do livro

(11)

“Nada é mais falso que uma verdade estabelecida”.

(12)

A Comunidade no Orkut

Nem a comunidade Pediatria Radical nem este livro têm por objetivo a oferta de consultas pediátricas. São informações genéricas e trocas de experiências que não deverão ser utilizadas como substituto de diagnóstico ou tratamento médico, cabendo a quem dela participa reportar-se a seu próprio clínico ou pediatra.

A comunidade foi criada por mim, para servir às mães que se interessam não só por temas de pediatria, mas de educação e desenvolvimento da criança do ponto de vista das mães e dos pais.

A comunidade é mantida pela livre participação de pediatras, mães & pais, cuidadores e professores. A tônica dos assuntos é a iloso ia do desenvolvimento da criança e o respeito a suas etapas naturais.

A comunidade tem a inalidade de interagir e cooperar na busca da saúde

integral da criança, por meio do bom senso e do conhecimento das leis da natureza.

A Pediatria deve considerar: “Os problemas orgânicos e psíquicos da criança, de modo preventivo e curativo, em sua totalidade e mútuas interações, à luz de sua constituição, de suas condições

bio-psico-sociais e ambientais, visando à criação de uma pessoa isicamente sadia, psiquicamente equilibrada e socialmente útil”. ( apud o saudoso

(13)

SITE

www.pediatriaradical.com.br

‘Dra. Relva’ é ‘nickname’ da pediatra Thelma B. Oliveira, organizadora do livro Pediatria Radical e deste Livro da Maternagem.

(14)

Do hipertexto virtual ao texto

impresso

Morena Shibuya e Dra. Relva Segundo Snyder: “Hipertexto é um conjunto de nós ligados por conexões. Os nós podem ser palavras, imagens, gráficos ou parte de gráficos, sequências sonoras, documentos complexos que podem eles mesmos ser hipertextos. Os itens de informação não são ligados linearmente, como em uma corda com nós, mas cada um deles, ou a maioria, estende suas conexões em estrela, de modo reticular. Navegar em um hipertexto significa, portanto, desenhar um percurso em uma rede que pode ser tão complicada quanto possível. Cada nó é capaz, por sua vez, de conter uma rede inteira”.

No hipertexto é possível ir e vir, “saltando” de um trecho a outro. Ele permite comunicar e re inar ideias complexas, através de ligações ou elos (links), interligando trechos de texto, imagem e som. São documentos que se utilizam de um padrão de palavras sublinhadas em azul que, clicadas, levam a uma nova página, endereço ou imagem. Nossa comunidade é nosso hipertexto, pelo qual navegamos, de ‘nós’ em ‘nós’, estabelecendo conexões à distância, linkadas por nossos questionamentos que se abrem para os questionamentos de todos. O hipertexto na comunidade é feito a muitas mãos, em tópicos e posts, em uma espécie de intertextualidade.

(15)

Leitor-autor, não mero espectador. Um rizoma, uma raiz, uma forma radical de ensinar e aprender. E que virou este novo livro, estruturado como um blog (ou almanaque), que pode ser lido em sequência ou aleatoriamente, de ‘nós’ em ‘nós’, ou de link em link.

(16)

Agradecimentos e homenagem

Cláudia Amaral Mulazzani, isioterapeuta, mãe de Matheus Mulazzani Ribeiro, 12 anos, Macaé, RJ.

Elizângela de Faria, professora (Letras), mãe de Matheus, 18 anos, Pedro, 14 anos e Luiz Otávio , 5 anos, Jacareí, SP.

Gabriela Bezerra Lima, publicitária, mãe de Beatriz Lima Amorim, Recife, PE.

Janaina Maria da Rocha Fragoso, professora, mãe de Pietro Sartori Rocha Fragoso, 9 anos; Catarina Sartori Rocha Fragoso, 4 anos, Santa Bárbara d´Oeste, SP.

Ana Paula Sena, musicista, mãe de Nathalia e Sophia, 5 anos, Salvador, Bahia; atualmente na Alemanha.

Renata Cristina Gomes Oliveira Mello, professora, mãe do Jorge, 5 anos, SP.

Roseli Guimarães Diniz, mãe de William G. Diniz, 6 anos, Melbourne, Australia; terra natal: Campina Grande, PB.

Tatyana Marion Klein Bartosievicz, advogada, mãe de Luiza, 10 anos, Curitiba, PR.

(17)

Nossa homenagem e agradecimento às ex-moderadoras: Adalene Sales, psicóloga, Bahia; Andréia Christina K. Mortensen, pesquisadora, Pensilvania USA; Anna Paula Gumiero, pediatra, Limeira, SP; Bastet -Gabriela Marques, psicóloga, RJ; Ciça – Maria Cecília Lafetá, advogada, DF; Daniely A. Soares, SP; Cláudia Rodrigues – Marilyn, jornalista, RS; Flávia Mandic, enfermeira, Canadá; Jenniffer Peruncelli Bertini, SP; Lays Moreira, professora, SP; Maria Alice Gomes Keller, médica veterinária, Londres; Maureen Bitencourt, Canadá; Patrícia Cunha Chavinhas, designer grá ica, Niterói, RJ; Raquel Marques, SP; Rose Mallet, administradora de empresa, RJ; Simone Valenci Prado, SP; Valéria Bertolozzi, arquiteta e designer, SP.

(18)

Agradecimentos especiais

Andréa Cristina Mascarenhas Nascimento dos Santos, professora e pedagoga em Entre Rios, Bahia, pelo generoso prefácio, meticulosa revisão final e preparação do texto. E pela amizade.

Andrezza Souto, Maceió, AL, pela organização da bibliogra ia e sugestões de leituras.

Fernanda Helena Ferreira, professora de literatura em Ribeirão Preto, pela revisão inicial e copidesque. E pelo carinho.

Mônica Eriko Inoue, jornalista, Gênova, Itália, pela revisão inicial, copidesque e dicas preciosas.

Patrícia da Cunha Chavinhas, designer grá ica, Niterói, RJ, & Valéria Bertolozzi, designer e arquiteta, SP; criadoras das logomarcas para as campanhas da Comunidade; pelo entusiasmo e competência.

Agradecimento mais que especial às pediatras que participam assiduamente da PR, com seu conhecimento, dedicação e precioso tempo, interagindo com as mães e pais em suas dúvidas, e que nos brindaram com excelentes artigos para o livro:

Ana Guerra Andersson, pediatra brasileira na Suécia Ana Hilda Carvalho, neonatologista, Belém, PA

(19)

Lilian Nakachima Yamada, pediatra em Ribeirão Preto, SP Meire Gomes, pediatra em Natal, RN

A Adalene Sales, Salvador; Bruno Mendonça, Curitiba; Gabriela Bezerra Lima, Recife; pelos trabalhos acadêmicos sobre a comunidade Pediatria Radical.

A Irene Zwetsch, representante da comunidade brasileira na Suiça, pela entrevista à CigaBrasil, Suíça.

A Márcia Honda, Brasília, pela entrevista sobre “Invenções da Bonequinha”.

Às jornalistas Ana Pavão, de Ubatuba; Karina Toledo, do Estadão; Maria Fernanda Seixas, do Correio Braziliense; pelo destaque à comunidade na mídia.

À Professora Rose Marinho Prado, de São Paulo, pela entrevista sobre a comunidade.

Às comunidades parceiras e suas criadoras. Aos ‘visitantes’ que deixam mensagens e emails, com questionamentos e sugestões de temas. A todos os participantes da PR, que a mantêm viva e dinâmica.

Colaboradores Convidados:

Davy Bogomoletz, psicanalista winnicottiano, São Paulo.

Dioclécio de Campos Júnior, médico pediatra, ex-presidente da SBP, professor emérito da UnB, Brasília, DF.

(20)

Ligia Moreiras Sena, bióloga, mestre em Psicobiologia, doutora em Farmacologia e em Saúde Coletiva, Florianópolis, SC. Luiz Geremias, jornalista e psicanalista, Rio de Janeiro, RJ. Roxana Knobel, médica ginecologista e obstetra, Florianópolis SC. Colaboradoras da Comunidade/textos Alessandra Cristina Soares Pozzi Alessandra C. Xavier Alessandra Minadakis Barbosa Andrea Rusconi Andrea Voute Andréa Cristina M. Nascimento dos Santos Andréia Christina Karklin Mortensen Claudia Rodrigues Cristiane Viana Danielle Elis Colussi Brum Denise Daudt Machado Elisângela Gonçalves / Elis

(21)

Érica Maldonado Flávia Oliveira Mandic Gabriela Bevilaqua Gabriela Macedo Hugues Karina Pierin Ernsen Alves Kelly Cristina Cunha Reges Liana Lara Lígia Sommerhauzer / Lilika Miriam Ramoniga Mônica Eriko Inoue Renata Serra Nacimento Simone Bitencourt de Paula Taicy de Ávila Figueiredo Tatyana Marion Klein Bartosievicz

Artigos das pediatras: Ana Guerra Andersson, Ana Paula Gumiero, Ana Hilda Carvalho, Lilian Nakachima e Meire Gomes.

(22)

Apresentação

A COMUNIDADE PEDIATRIA RADICAL conta atualmente com mais de 16

mil membros e já está andando com as próprias pernas. Foi aleitada, causou as preocupações naturais do crescimento, agora está forte e sadia. Pretende continuar crescendo e se desenvolvendo nos próximos anos... Uma comunidade assim envolve o conceito de <cuidar>, que é um ou o aspecto mais importante do CURAR, em que se estabelece uma democracia participativa. Esse talvez seja um dos novos modelos da prática pediátrica: o de “cuidar-curar”, como extensão do conceito de “segurar” (o holding e o handling de Winnicott). “Começa com o bebê no útero, depois com o bebê no colo e com as demais etapas do processo de crescimento/desenvolvimento da criança. Isso porque a mãe, que conhece “aquele” bebê específico, que ela deu à luz, torna esse enriquecimento possível. O tema ‘ambiente facilitador’ propicia o crescimento pessoal e o processo maturacional. É uma interação dos cuidados que o pai e a mãe dispensam à criança com a arte da pediatria. Isso leva à construção da autonomia dos pais: indivíduos maduros participando, ativamente, do processo de cuidar”. [apud Winnicott].

Aliás, a criança é o pretexto da pediatria – seus sintomas ou as fantasias que a mãe tece sobre seu desenvolvimento são a carta de apresentação daquilo que a família espera para “aquela” criança, “naquele” lar. Todo sintoma é um pedido de ajuda.

(23)

Maternagem, que é o cuidar amorosamente da criança, é exercida o tempo todo pela Mãe, com o aleitamento, o olhar, o colo, a procura incessante do melhor para “seu” filho.

“Pediatria Radical” é uma comunidade voltada para mães, pais e cuidadores, feita pela troca de experiência de uns com os outros e de todos com as moderadoras, num “ambiente facilitador”, que resulta em aprendizado mútuo e dinâmico.

(24)
(25)

Prefácio

Uma casa muito especial

De todas as novidades que a vida me concedeu viver, a mais linda, doce e prazerosa foi ser mãe. Mas ser mãe não é algo lindo o tempo todo. Mãe tem gostos e desgostos; sorri, mas também chora; nina, mas também precisa de acalento. Mãe cria, nutre e modela um ser lindo chamado criança.

Não aprendi a ser mãe tão logo tive um ilho nos braços, pois muita coisa envolve essa linda missão. Eu dormi ilha e acordei mãe. Mesmo não sabendo ao certo o sentido dessa pequena-grande palavra, eu sempre soube que criança tem que ser bem cuidada, que ela é um ser em formação, que é re lexo de sua casa... O que eu não sabia por completo era o signi icado da palavra cuidar, e quais sentimentos e atitudes estavam por trás desse vocábulo aparentemente comum.

Eu tentava, porém, ser a ‘melhor mãe do mundo’, a “mãe perfeita”. Com esse pensamento, eu cometia um grande erro: o de exigir de meu ilho perfeição também. E, tentando acertar, eu errava, como tantas mães... Ao nascer meu segundo ilho, vi cair ao chão tudo o que eu construíra com o primeiro. Sentimentos bons e valores foram-se perdendo, em meio a atitudes errôneas, enquanto eu tentava o complicada e linda arte de “educar”, ato que deveria ser apenas doce, como a própria infância.

Frustrada comigo mesma, por ter-me perdido enquanto educadora, e com a sensação de não dar conta da educação de apenas dois ilhos, percebi-me como a ‘pior mãe do mundo’. Com esse sentimento de fracasso, mergulhei na internet em busca de algo que pudesse me amparar.

(26)

Nessa busca, em plena madrugada, encontrei uma casa enorme e admirável; sete anos de construção, irme, confortável e linda. Essa casa – tão especial – tem um nome: PR – Pediatria Radical. No momento em que a encontrei, comecei a olhar cada traço nela contido, cada descrição que estava lá. Dentro dessa casa vi muitas coisas boas, nada faltando para as mamães e seus ilhinhos: gestação, parto, amamentação, sono, fases do desenvolvimento infantil, colo, amor, maternagem. E, como fui seduzida pela sua beleza, não mais consegui sair de dentro dela.

Buscando essa ‘alguma coisa’ que me ajudasse na educação de meus filhos, deparei-me com algo que iria fazer muita diferença em minha vida. Eu não sabia a dimensão do que viria a partir de então. Além dos tópicos felizes, havia, também, muitos outros sobre violência contra a criança, principalmente no lar. Ao ler os vários depoimentos, e perceber a dor em cada palavra expressa pelos participantes, muitos dos quais tinham sofrido castigos ísicos na infância, caí em prantos; eram desabafos de tristezas e traumas provocados por uma educação maquinal, impensada, cruel. Fiz uma re lexão sobre minha vida e minhas atitudes para com meu primeiro ilho, e passei a entender algumas coisas que estavam acontecendo em meu lar.

(27)

Enxerguei, a partir daí, meus fracassos de mãe e educadora. Cada depoimento que eu lia me ensinava uma lição. Apesar de ainda confusa com relação a tudo o que eu sabia sobre educar, dar limites e cuidar, eu

icava cada vez mais certa de que educar não podia incluir qualquer tipo de dor. Percebi, naquele momento, que não sabia nada da vida, que tinha que aprender, aprender e aprender. Essa inquietação fez-me debruçar em vários artigos sobre educação de ilhos. Fui vendo, conhecendo e inventando “novas” formas de educar.

Naquela madrugada, enquanto os meus olhos devoravam o tópico, e o coração assimilava cada palavra, vi meu ilho em retrospecto. Lembrei-me de como tudo começou; do carinho, do amor, da amamentação, dos primeiros passinhos, pequeninos e cheios de ternura. Mais pareciam passinhos de uma dança lírica, que pausadamente se deslocavam em minha direção. Eu podia ouvi-los de novo, nessa imersão em nosso passado. Eram os passos mais delicados que eu já vira, não importava se o dono deles estava indo abraçar-me, ou fazer uma nova travessura. Seus passinhos eram leves, por causa de sua brandura, leves pelo nome lindo de ‘criança’.

Lembrei-me do grito, da palmada, e, junto a essa lembrança, vi seus olhinhos assustados. Sim, seus olhos revelavam medo, dúvida, susto, ainda que em seu coração houvesse a vontade de amar e de abraçar ternamente a mãe e o pai que o tocaram. Como é que eu não percebera antes esse olhar? Decidi que nunca mais minhas mãos o tocariam senão para abraçá-lo, dar-lhe meu amor e meu carinho. Às minhas mãos emprestei algemas, fiz-lhes severas proibições; elas nunca mais seriam as mesmas mãos.

Resolvi pedir ajuda nessa casa, suas portas estavam sempre abertas; lá eu contei minha história, desabafei minhas angústias e di iculdades de lidar com meu primeiro ilho, depois que o irmãozinho nasceu. Uma das moderadoras dessa casa-comunidade (Jana), com muita dedicação acompanhou o meu relato, contando-me as suas experiências e dando-me

(28)

dicas de como lidar com a situação. Fui percebendo os sentimentos escondidos no coração do meu ilho mais velho: uma mistura de amor e ódio; ciúme; rejeição; medo de perder o meu amor, de perder a mim, sua mãe. Entendi que eu teria que atingir suas emoções e não seu corpinho.

(29)

Depois que passei a fazer parte dessa casa, aprendo muito a cada dia. A PR passou a ser um dos lugares onde mais gosto de estar, local de diálogo, descontração, discussão e aprendizado. Encontrei dentro dessa casa uma pessoa mais que especial, que não mede esforços, uma pessoa apaixonada por crianças e que vive para fazê-las felizes. Estou falando da Dra. Relva, apelido carinhoso da pediatra Thelma, an itriã dessa casa-comunidade. Com ela aprendi que dar limites é ajudar os nossos ilhotes a criarem asas para voar, com menos risco de cair, machucar-se, sofrer. Com ela eu aprendi que ‘bater em criança é covardia’, que ‘dar limites’ não signi ica deixar a criança chorando sem consolo para ‘não acostumar mal’. Aprendi sobre a importância do amor, do cuidado e do toque afetuoso na formação da personalidade da criança; que cuidar é muito mais que alimentar, vestir e proteger das doenças e perigos.

Percebi que a infância é como um lindo jardim. Sua terra, rica e fecunda, está sempre à espera de ser cultivada. Cada fase precisa de cuidados especiais. O que eu faço com essa terra é que me traz a “qualidade” da planta que nasce lá. Eu sentia, cada vez que eu melhorava como mãe, e a cada vez que eu fazia meu ilho mais feliz, a necessidade de compartilhar com outros educadores tudo o que aprendia. O pensamento não me deixava por um minuto; estava diante de uma causa que me inquietava a ponto de tirar-me o sono e a paz. Foi desse pensamento que surgiu o Projeto Mãos e Filhos, que tem como objetivo re letir com os pais sobre os efeitos danosos das punições ísicas para o desenvolvimento cognitivo e emocional das crianças; e analisar o tipo de relação construída entre pais e ilhos na atualidade, por meio de pesquisas, palestras e debates, proporcionando momentos de sensibilização sobre o tema.

Chegando a hora de desengavetar as minhas ideias e fazer com que elas o que tinha que ser feito, recebi o apoio de algumas pessoas, que me transmitiram con iança e solidariedade. O Prefeito Fernando Almeida de

(30)

Oliveira e a Secretária de Educação Zélia Maria Barreto Reis, da cidade de Entre Rios, Bahia, apoiaram-me com todos os recursos de que precisei e, carinhosamente, contribuíram para a divulgação e expansão das ações do projeto. Contei também com o precioso e afável apoio de colegas de trabalho, aos quais peço desculpas por não citar seus nomes, pelo receio de não fazer referência a alguém que, ainda que não tenha me ajudado diretamente, tenha contribuído com força positiva e receptividade às minhas ideias.

Não à violência, não às palmadas, não à humilhação, não aos gritos! Paciência, atenção, carinho, toque, abraço, limite, colo, amor! – “Mamãe, o amor cura tudo”, assim falou meu ilho Allec, aos 7 anos, enquanto assistia comigo o ilme “O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa”, da série “As Crônicas de Nárnia”.

Assim, procurei as escolas para um papo sério com pais e educadores, esparzindo, com convicção e carinho, algumas das ideias da Dra. Thelma – ousada pelas discussões que excita entre mães do Brasil inteiro, na Pediatria Radical. Convido o caro leitor a conhecer essas e outras ideias que, pela segunda vez, transpõem os muros virtuais e vão parar no papel; convido-o a mergulhar em ‘O Livro da Maternagem’, idealizado por essa mãe, pediatra e amiga. O leitor poderá viajar entre suas páginas, fazendo verdadeiras descobertas; ultrapassando paradigmas e construindo novas realidades; poderá re letir sobre o amor, sobre o colo, o embalo, o acalento; poderá ver, no cerne puro e singular da vida, o cenário mais fantástico e misterioso da história – o fenômeno da maternagem. Vem comigo...

Andréa Cristina Mascarenhas Nascimento dos Santos

é mãe de Allec Levi, de 8 anos, e de Yude Ravi, de 2 anos. Professora e Pedagoga, reside em Entre Rios, BA. Membro da Pediatria Radical há 2 anos.

(31)
(32)

O que é maternagem?

Davy Bogomoletz e Dra. Relva

Segundo Winnicott (1982), maternagem ou provisão maternal é a atitude do adulto em relação ao bebê e os cuidados a ele dispensados. Nele encontramos que a mãe - ao tocar e manipular o bebê, aconchegá-lo e falar com ele, acaba promovendo um arranjo entre soma e psique e, ao olhá-lo, ela se oferece como espelho onde o bebê pode ver-se. A forma como essa mãe olha o bebê (expressão facial) devolve a ele a sua imagem corporal, como forma de comunicação.

O ato de tocar tem alto grau de importância desde a convivência gestacional e posteriormente a ela, em que o contato da mãe com seu bebê já implica em momentos favoráveis à formação da criança. O toque imediato após o parto estabelece o vínculo entre mãe e bebê; o toque na amamentação gera trocas positivas entre ambos e reduz a tensão emocional; além do mais, gera bem-estar na mãe, ao perceber o tipo de estímulo favorável que oferece ao filho.

No campo ísico, o tocar viabiliza o bom funcionamento da respiração e digestão, entre outros pontos. No desenvolvimento psíquico e social ica evidente a relevância do tocar, principalmente porque possibilita um vínculo melhor entre a mãe (ou quem cuida) e o bebê, gerando assim uma tendência na criança de criar e manter outros vínculos mais seguros ao longo de sua vida social. O bebê, pelo contato dessa magnitude em sua formação inicial, adquire uma personalidade sadia e percebe o mundo de forma agradável. Sentindo-se aceito e benquisto, ele constrói uma boa autoestima, instrumento imprescindível à conquista do mundo, que vai se

(33)

desvelando conforme ele avança em seu crescimento e na manutenção das relações que vai estabelecendo com as outras pessoas.

Hoje sabemos que é importante o modo pelo qual se promove o “segurar” (holding) e o “manuseio” do bebê (handling), e quão importante é quem está cuidando dele – se a mãe ou outra pessoa. As teorias sobre os cuidados e sua continuidade tornaram-se a característica central do conceito de ambiente facilitador. De fato, é por meio da estabilidade na provisão ambiental, que o bebê em estado de dependência pode ter preservada a sua linha da vida.

Bowlby, em seus estudos sobre ‘ attachment’, mostra a reação de uma criança de dois anos à ausência da mãe, caso se prolongue além da sua capacidade de manter viva a imagem materna. Seu trabalho, ainda que precise ser explorado mais a fundo, obteve aceitação geral. Sua avaliação conduz à importância da continuidade nos cuidados e remonta ao início da vida do bebê, antes mesmo que ele perceba objetivamente a mãe por inteiro, como pessoa.

Outra característica destacada no estudo: na qualidade de psiquiatra de crianças, Bowlby não se preocupa única e exclusivamente com a saúde da criança, mas sim com a riqueza da felicidade que se desenvolve na saúde. O bebê desenvolve suas capacidades (que nele já estão presentes) fundadas em experiências precoces e na continuidade de cuidados que lhe possam dar segurança nas diversas instâncias da vida, inicialmente na família, depois na escola e em um círculo social cada vez mais amplo.

(34)

Maternagem e saúde

Dra. Relva

Descobrimos recentemente um livro muito interessante sobre

maternagem – Uma Intervenção em Saúde, de Ernesto Duvidovich &

Themis Regina Winter, totalmente alinhado com nossa proposta.

Pode-se ler no prefácio de Wagner Ranña: “O capítulo IV aborda os processos de capacitação dos pro issionais para atuarem como midwives [...] Os pro issionais também devem estar articulados numa rede de acolhimento, pois a capacidade de exercer a maternagem está ligada à capacidade de ser maternado. [...] Para que essa maternagem aconteça, o pro issional também deve estar acolhido numa rede de amparo; do contrário, irá refugiar-se em ‘receitas’ operatórias e vazias” – p. 15.

Nós também acreditamos que a mãe deva ser maternada. Ao encarar o papel e a função de ‘mãe’, a mulher perde muito de seu referencial pessoal e social e adentra o obscuro mundo materno. Deixa de ser quem é e passa a ser ‘a mãe de alguém’, função e papel que nunca lhe serão tirados. Ela precisa ser acolhida pelos familiares, pelo companheiro, pela sociedade e pelos serviços de saúde para bem realizar essa função – ou nobre missão, como se prefere dizer. “Como veremos, existem muitas Máscaras da Maternidade. Mas essa – a máscara do silêncio – é a mais traiçoeira de todas”. [...] A Máscara da Maternidade mantém as mulheres em silêncio a respeito do que sentem, e desconfiadas do que sabem. Separa a mãe da

(35)

filha, uma irmã da outra, as amigas. Cria um abismo escarpado e trágico entre adultos que têm filhos e os que não têm. Desvirtua a distância entre a infância e a vida adulta, criando fossos cada vez mais profundos entre as gerações. Coloca pais contra mães, aumentando a distância entre o significado de “ser mãe” e “ser pai”. Acima de tudo, ao minimizar a enormidade do trabalho das mulheres no mundo, alimenta e sustenta a ignorância profunda que confunde “ser humano” com “ser homem”. Maushart, Susan, A Máscara da Maternidade, p. 23.

O terreno materno, mesmo virtual, é minado – principalmente pelas ‘outras’: quando mãe ‘A’ fala de seu parto ou de seu filho, mãe ‘B’ começa a procurar onde mora o erro; se está sendo arrogante; ou querendo ser ‘diferente’. Há até confrarias e dissidências, derivadas de simpatias mútuas e de antipatias diversas. Há as empolgadas da maternidade e há também as ‘cassandras’ que avisam: não existe maternidade cor de rosa, você vai ver o que te espera! No im, todo mundo se entende, pois... Mãe só tem

uma! Para saber mais A Máscara da Maternidade. Por que ingimos que ser mãe não muda nada? Ed. Melhoramentos, SP. 2006. Amor Materno – Mito ou Realidade? Dissertação de Ivana S. Paiva Bezerra de Mello, Mestre em Psicologia Clinica, UNIPE, PB, em: www.escolafreudianajp.org/arquivos/trabalhos/Amor_materno_mito_ou_realidade.pdf acesso em 28.09.2012

(36)
(37)

As novas mães

Quem são estas que surgem como a aurora, belas como a luz, brilhantes como o sol, esplêndidas como as constelações?

São elas, as ‘novas mães’, saindo do armário, portando seus slings e

netbooks e dirigindo-se ao Cinematerna. Recostadas em futons, falarão de

abobrinha, cenourinha e frutinhas. E farão mamaço ostensivo. E trocarão receitas de papinhas, enquanto recitam o mantra “Hei de vencer!” E conversarão papos de mãe. E queimarão as balanças de ver o peso. E malharão muito, para readquirir o corpão sarado em 40 dias e 40 noites. E farão brincaderinhas de ‘mais-mãe’ e ‘menos-mãe’, e o prêmio será uma semana no spa do sono.

Hordas de especialistas estarão a postos, para ensinar-lhes como e o quê devem fazer; e cuidarão para que seus pés não resvalem em alguma pedra. E elas discutirão seus planos de parto e farão discursos exaltados sobre a cesárea eletiva. E descobrirão que tudo é vaidade das vaidades e que comparar o instinto materno é vão. E que ser mãe exige disposição e muito aprendizado. E que nada há de novo debaixo do sol. E elas se banharão com ervas e extrato de ocitocina. E farão acampamento compartilhado. E olharão com descon iança as ‘outras’, as que não portam a veste nupcial. E as portas se cerrarão, assim que chegue o amado de suas entranhas. E as que deixaram apagar suas lamparinas, icarão de fora, onde haverá choro e ranger de dentes.

(38)

Mas eis que... ...Dos céus desceram os Especialistas, montados em laptops de duas cabeças e carregando celulares de fogo. E Eles garantiram que, desse dia de glória em diante, não haveria mais dúvida sobre a verdade porque Eles, os Especialistas, diriam a todos o que é a verdade e como deve ser usada. E elas foram chamadas de ‘mãezinhas’. E conheceram o ‘seu’ lugar (na fila, é claro). E ficaram sabendo que nem toda fila anda... [César Cardoso é que entende desse lance de especialistas...]

(39)

A criação com apego e a

neurociência. O que é ‘maternagem

consciente’

Ligia Moreiras Sena

O que determina as características de personalidade de uma pessoa e, consequentemente, de um grupo social? O que determina que uma pessoa se torne deprimida, ansiosa, paranoica ou que desenvolva outro transtorno emocional? A constituição genética? O ambiente? As vivências ao longo da vida? O suporte emocional que recebe? O grau de afeto auferido na infância? Coisas que ainda não sabemos e que a ciência ainda não explica? Sim, tudo isso. Qual desses fatores tem maior ou menor peso nessa misteriosa e inexata matemática?

Eis uma pergunta para a qual não se tem uma clara resposta.

Como saber, então, de onde vêm as mazelas que assolam o ser humano? Não sabemos ao certo, de forma que não podemos controlá-las. Mas se sabemos que determinadas práticas, situações e experiências contribuem decisivamente para que elas não apareçam, então passamos a nos apoderar desse conhecimento na tentativa de evitar o sofrimento. Não é garantia de que iremos conseguir, mas estaremos assumindo a parte que nos cabe nesse vasto e complexo latifúndio.

(40)

para nossos ilhos. Não sabemos, em termos de constituição biológica, quem são ou o que há dentro deles, qual o gatilho que está pronto para ser acionado – de bom ou de nem tão bom assim. Mas podemos, pelo menos em parte, no dia-a-dia, dentro de casa, nas experiências cotidianas da família, selecionar ambientes e experiências aos quais queremos expô-los ou não.

Aí entra a criação com apego, tradução pouco precisa para o termo em inglês attachment parenting . E que vem recebendo críticas descabidas de gente que não faz a menor ideia do que está falando. Num mundo onde o apego emocional vem sendo ridicularizado na mesma intensidade que se incentiva e se fortalece o apego material, ainda em tenra infância. Virou piada você dizer que amamenta um ilho de mais de dois anos, ou que procura compreender seus anseios e inseguranças no lugar de agir autoritariamente, ou que evita deixá-lo a chorar.

Pessoas presas a seus preconceitos e ligadas ao que o senso comum propaga como sendo verdades inquestionáveis, ainda que fruto da ignorância, tendem a associar a criação com apego à falta de limites, à permissividade, construindo em suas cabeças um falso per il dos pais que assim criam seus ilhos como sendo seres irresponsáveis, criando ilhos sem limites. Como se a oferta de apego e amor fosse contribuir para pessoas naturalmente sem respeito pelo espaço alheio, ísico e emocional, numa clara e clássica inversão pós-moderna de valores, marcada pela predominância do automático sobre o intuitivo, do mecânico sobre o emocional, do arti icial sobre o natural. Quando o que se vê na realidade é claramente o oposto: jovens sem limites justamente por não terem recebido nenhum grau de atenção em casa, que não tiveram a presença carinhosa dos pais, ou que foram vítimas de maus tratos emocionais ou físicos.

O termo attachment parenting foi utilizado pela primeira vez pelo médico William Sears, com base na teoria do apego, que leva em consideração o

(41)

fato de que a criança, durante sua infância, tende a criar um vínculo emocional bastante forte com seus cuidadores, que gera consequências

durante toda sua vida. A criança busca proximidade com o outro e quer

se sentir segura quando ele está presente. Suas ideias e práticas subentendem que os pais ou cuidadores estejam emocionalmente disponíveis de forma a promover o desenvolvimento sócio-emocional da criança de maneira segura e amorosa e a evitar que a criança desenvolva o que se chama de apego inseguro, aquele que é baseado no abandono, no apegar-se porque não se teve.

Em 1951, o psicólogo, psiquiatra e analista John Bowlby sugeriu que a privação materna durante a infância poderia levar ao desenvolvimento de adultos deprimidos ou hostis ou, ainda, com problemas para se relacionar de maneira saudável com outras pessoas. Isso nos anos 50, quando muito pouco ainda se sabia sobre como o cérebro processava a depressão, a ansiedade e outros transtornos afetivos.

Com o andar da carruagem, alguns pesquisadores, na década de 1970, começaram a divulgar resultados de pesquisas comportamentais com primatas, mostrando que o rompimento da ligação entre mãe e ilhote levava a comportamentos violentos e agressivos no primata adulto. Mas, a inal de contas, isso era apenas um estudo experimental e as pessoas tendem a repelir o que não é feito em humano, ainda que toda a nossa psicologia comportamental, neuropsiquiatria e neurobiologia tenham sido construídas sobre observações comportamentais de animais e extrapolações biológicas.

De acordo com a Attachment Parenting International (API) , uma organização sem ins lucrativos que busca “orientar pais e cuidadores para uma educação segura, empática, rica em afeto e amor, visando criar laços familiares mais estreitos e, assim, um mundo mais compassivo”, existem 8 princípios que promovem o apego saudável e seguro entre o cuidador e a criança, que são chamados de Princípios para uma Educação Intuitiva:

(42)

preparar-se verdadeiramente para a gravidez, parto e maternidade/paternidade alimentar seu filho com amor e respeito responder às solicitações da criança com sensibilidade estar atento à qualidade do toque prezar pela qualidade física e emocional do sono da criança de forma que ela se sinta segura dormindo sustentar atitudes carinhosas praticar a disciplina positiva, baseada no reforço das boas atitudes buscar o equilíbrio na vida familiar Embora outras práticas tenham sido associadas, atualmente, à criação com apego – como o parto natural, o parto domiciliar, a cama compartilhada, a amamentação prolongada, a desescolarização precoce, a vida comunitária, entre outras – não existem regras, nem normas, nem padrões rígidos. Não há ditadura, ao contrário do que dizem os que não querem nem saber do que se trata. Há liberdade de escolha por práticas que tenham a ver com a cultura familiar e que, ainda assim, promovam o apego seguro entre pais e crianças.

Recentemente, o periódico PNAS (Proceedings of the National Academy of

Sciences of the United States of America ) publicou os resultados de um

estudo que mostra que o bom cuidado materno na infância leva ao aumento de uma estrutura cerebral chamada hipocampo. De acordo com

(43)

esse estudo, há uma clara relação entre os fatores psicossociais da infância e alterações no tamanho do hipocampo e da amígdala, estruturas cerebrais relacionadas à memória de curto e longo prazo e ao comportamento emocional, respectivamente. Isso mostra que existe, realmente, uma ligação entre as experiências afetivas que a criança vive na infância e a forma como seu cérebro se desenvolve.

Os pesquisadores estudaram, por meio de técnicas de neuroimagem que permitem visualizar o cérebro sem procedimentos invasivos, as características cerebrais tanto de crianças em idade pré-escolar deprimidas quanto de crianças emocionalmente saudáveis. E concluíram que o cuidado materno recebido na primeira fase da infância teria, sim, ligação com o tamanho do hipocampo, o que levaria, inclusive, a diferentes padrões de respostas ao estresse. Crianças emocionalmente saudáveis apresentaram hipocampos maiores, comparados aos hipocampos de crianças deprimidas, e isso pôde ser correlacionado ao grau de cuidado materno recebido quando eram menores. Embora quase a totalidade dos cuidadores do estudo tenham sido as mães, os autores acreditam que isso possa ser extrapolado para qualquer cuidador que seja o principal responsável pelos cuidados afetivos com a criança (mãe, pai, avós ou outros).

Já faz tempo que a ciência mostrou que a modi icação de um comportamento muda, também, o cérebro do indivíduo, causando, consequentemente, uma nova modi icação do comportamento. É nisso que se baseia, por exemplo, a psicoterapia cognitiva-comportamental. A mudança de comportamento altera a estrutura cerebral e essa alteração muda seu comportamento. Um círculo sem fim.

Sabendo disso, é fácil compreender, então, que a forma como se trata uma criança altera seu cérebro. E que esse cérebro, assim alterado, promoverá comportamentos relacionados. Quando você cria com apego seguro, você

(44)

está moldando um cérebro para que ele possa atuar com toda sua potencialidade, sem amarras, sem más resoluções, sem entraves.

Num mundo onde o apego material tem sido reforçado e incentivado, prefira o apego emocional seguro, fruto da abundância. Não da falta. Ligia Moreiras Sena é mãe da Clara. Bióloga, mestre em Psicobiologia, doutora em Farmacologia, 2º doutorado em Saúde Coletiva, estudando a ocorrência de violência no parto. Autora do blog Cientista Que Virou Mãe, Fundadora do Bazar Coisas de Mãe (Florianópolis, SC) e criadora do grupo de discussão no Facebook “Maternidade Consciente”.

(45)
(46)

Estou grávida, e agora?

Dra. Relva Seja paciente consigo mesma: sua vida está sofrendo grandes alterações – que podem e devem ser para melhor. Tomar conta de uma criança exige muito tempo e consome energia: reabasteça-se emocionalmente ao lado de adultos calmos e em situações relaxantes. Descubra atividades que liberem suas endorfinas: yoga, massagem, meditação, abraços de quem você ama. Aceite limitações: as suas e as das outras pessoas. Não estabeleça metas quanto à sua criança, procure interagir com essa nova pessoa com carinho. Aprenda a cantar para o bebê que está em seu útero. Se estiver à beira de um ataque de nervos, procure ajuda profissional. Caso apresente sintomas depressivos, procure terapia e medicação adequada. “Força de vontade” não vence a depressão. Procure grupos de apoio à amamentação, não vá aceitando “pitacos” que queiram demovê-la de amamentar seu bebê. Não se desespere, pois nem tudo é ‘plug and play’. Faça contato com a maternidade escolhida, discuta as modalidades

(47)

de parto, expresse suas escolhas e deixe claro que quer seu bebê imediatamente e que você sabe que tem direito a acompanhante. Ou prepare o ambiente para o seu parto domiciliar, se for sua opção. Cuide de sua saúde: alimente-se bem, repouse, beba água, exercite-se, fique forte para o que der e vier. Coma alimentos que lhe forneçam serotonina: banana, abacate, saladas, massas, peixe, frango, grãos, frutas secas e castanhas. Passeie, vá ao cinema. Esqueça que existe cigarro. Álcool, nem pensar. Respire ar puro. Caminhe. Relaxe. Faça seu pré-natal regularmente, use as vacinas recomendadas e as vitaminas prescritas. Prepare-se emocionalmente.

Tenha uma boa hora!

(48)

Por que usar ácido fólico na

gravidez?

Ácido fólico pode diminuir risco de má-formação congênita

Durante o VI Congresso da Sogesp (Sociedade de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo), o pesquisador húngaro Andrew E. Czeizel ministrou conferência sobre novas perspectivas de suplementação vitamínica na gestação. Em pesquisa recente, Czeizel conseguiu provar a e icácia do ácido fólico na prevenção de defeitos do tubo neural. Seu trabalho ganhou o Prêmio Internacional de Pesquisa Cientí ica da Fundação Joseph P. Kennedy Jr. (EUA), instituído em 1962 e entregue ao pesquisador durante o 11º Congresso da Mundial Intellectual Association

for the Scienti ic Study of Intellectual Disabilities . A distinção é oferecida a

cada cinco anos aos cientistas que contribuíram de forma relevante para a prevenção de doenças congênitas.

A experiência, desenvolvida na Hungria, é considerada ponto de referência decisivo na prevenção de defeitos do tubo neural. Realizado com quase 5.500 gestantes, o estudo conclui que o uso de suplemento vitamínico, contendo 0,8 mg de ácido fólico, reduz o aparecimento de bebês com má-formação do tubo neural, assim como do trato urinário e do sistema cardiovascular, além de diminuir os sintomas de náusea e vômitos durante o primeiro trimestre de gravidez. Também reduz a incidência de partos prematuros e melhora a qualidade do leite materno.

De acordo com as pesquisas nacionais, em média, a cada 700 crianças que nascem no Brasil, uma apresenta defeitos congênitos. Entre elas estão as

(49)

espinhas bí idas (defeitos na coluna vertebral) e a anencefalia (falha no desenvolvimento do cérebro), que leva a criança à morte. “Os dados disponíveis na literatura comprovam que a ingestão de ácido fólico apenas na dieta alimentar não reduz os riscos de defeitos. Já os suplementos são comprovadamente mais e icientes”, garantiu o pesquisador, que é integrante do Centro de Controle de Enfermidades Hereditárias da Organização Mundial de Saúde da Hungria. Ele citou estimativa norteamericana que aponta para a diminuição signi icativa em gastos hospitalares caso todas as gestantes recebessem essa suplementação.

“As vitaminas do Complexo B desempenham papel fundamental no metabolismo das células do nosso organismo. Há evidências de que baixos níveis de ácido fólico, vitamina B6 e vitamina B12 representam um fator de risco para o aparecimento de doenças cardiovasculares”, concluiu Czeizel.

Importância do ácido fólico na prevenção da Síndrome Down

Tomar ácido fólico durante pelo menos três meses ininterruptos, antes e depois de engravidar, é o que aconselha o ginecologista e obstetra do Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (CAISM) da Unicamp Ricardo Barini às mulheres que desejam ter ilhos. O médico garante que a precaução pode reduzir o risco de gerar bebês com Síndrome de Down (SD). Segundo ele, as mutações no gene da enzima resultam em menor atividade funcional e reduzem a quantidade de ácido fólico disponível para a duplicação celular. “Não há dúvidas de que a prevenção é necessária e, neste caso, a ingestão da vitamina é fundamental”, alerta Barini. Muitas vezes, explica, as mulheres iniciam a suplementação vitamínica após as primeiras semanas de gestação, o que já não seria adequado, pois eventuais alterações fetais ocorrem no início da gravidez.

Dr. Barini explica que o ácido fólico não tem contraindicação, não causa efeitos colaterais e não estimula o aumento de peso. Sua ingestão, tradicionalmente, é recomendada para prevenir defeitos de fechamento do

(50)

tubo neural dos bebês. Reiterando o que foi dito, para uma prevenção adequada, o uso dessa vitamina deve ocorrer antes de engravidar.

“As divisões celulares ocorrem nas primeiras semanas de gravidez. As mulheres que tomam o ácido fólico depois da con irmação da gravidez correm o risco de apresentarem a anomalia já em processo”, esclarece Barini. Diversos estudos apontam ainda a relação entre a de iciência do ácido fólico com câncer do cólon, leucemia, doenças mieloproliferativas e algumas enfermidades crônicas da pele. Mesmo após o 1º trimestre, o ácido fólico ainda é benéfico: reduz a incidência de eclâmpsia.

Adaptado por Dra. Relva.

Referências Bibliográficas

(51)

Com a mãe, é diferente. Entre todos os mamíferos, ela não se contenta em transmitir a vida: acolhe-a, carrega-a, nutre-a. Como ela poderia ignorá-la por completo? Entre os humanos, deverá proteger seu bebê – ás vezes, inclusive contra o pai – durante anos, niná-lo, consolá-lo, lavá-lo, amá-lo, falar-lhe, escutá-lo, educá-lo... A humanidade é uma invenção das mulheres. Mesmo em nossas sociedades modernas, a mãe quase sempre é o primeiro amor e ás vezes também o último. É porque foi ela quem primeiro amou.

A maternidade está inscrita em seu corpo (enquanto a paternidade só o está em papéis ou genes). Ser pai é uma função inicialmente biológica e depois simbólica. Ser mãe, uma função isiológica, alimentar, vital. O pai é biologicamente necessário. A mãe, ou uma mãe, humanamente quase indispensável. Mas a inal, é preciso nascer: abandonar a mãe, desde o primeiro dia, em todo caso sair dela.

Essa vida, tão improvável, que nos é dada, cabe a nós não desperdiçá-la. A vida não é um destino, é uma aventura. Ninguém escolheu nascer; ninguém vive sem escolher. [...] O fato de termos todos nascido por acaso, o que é bastante claro, não é razão para viver ao acaso. Nascer é a primeira chance. Não desperdiçar essa chance, o primeiro dever.

(52)
(53)

Woman in blue – Vermeer, século XVII

(54)

Os meses do pré-natal

Dra. Relva A gravidez transforma totalmente a vida da mãe e do casal – dois passam a ser três. A mãe/o casal começa a preparar-se para a chegada do seu bebê. Faz consultas ao seu GO (gineco-obstetra), que solicita exames sorológicos e ultrassonogra ias. Começa a fazer enxovalzinho e a ler tudo que se refere à gravidez e crianças. Algumas elaboram um ‘Plano de Parto’, que nem sempre é levado em conta. O pré-natal é o preparo ísico e emocional para o nascimento do bebê e envolve: Adaptação nutricional e do estilo de vida, com poucas restrições a não ser para álcool e cigarro; Cuidados especiais com os dentes e gengivas: escovação, fio dental, dentista! Escolha do tipo de parto; Participação em grupos de apoio ao parto e aleitamento; Atividade física regular, principalmente caminhadas e hidroginástica; Envolvimento do parceiro para assumir seu importante papel junto à Mãe, com direito a acompanhá-la em todos os procedimentos, tanto no trabalho de parto, quanto no parto e no pós, para que ela possa entregar-se a suas novas tarefas de maternagem; Leituras sobre as várias fases do processo, encontros regulares com grupos de gestantes;

(55)

Contratar uma doula, que será sua conselheira e acompanhante durante a preparação para o parto e seguimento no parto e no pós-parto; Contratar pediatra para a sala de parto (geralmente faz parte da equipe do hospital) ou para visitas domiciliares pós-parto; é possível haver uma consulta pediátrica antes do parto, para entrosamento com o casal. Em caso de parto domiciliar, o pediatra fará visitas entre o 1º e 3º dias para avaliação do estado geral do bebê e eventuais intercorrências, como icterícia, infecções etc; e nova visita até o 7º dia, quando fará solicitação dos testes – pezinho, olhinho, orelhinha, e encaminhará o bebê para as primeiras vacinas na UBS ou clínica de vacinação. Fatores de risco na gravidez que exigem mais atenção e encaminhamento ao GO e/ou clínico: Diabetes (que concorre para a prematuridade, distúrbios respiratórios do recém-nascido, polihidrâmnio, pré-eclâmpsia, hipoglicemia do RN); Distúrbios da tiroide, que podem causar complicações fetais; Tabagismo; Asma grave; Tuberculose ativa; Doença pulmonar obstrutiva crônica; Alterações da coagulação sanguínea; varizes; Epilepsia – a medicação pode causar déficit de ácido fólico e de vitamina D para mãe e feto;

(56)

Incompatibilidade de fator RH, que pode causar doença hemolítica fetal; Anemias nutricionais e hereditárias (talassemia, doença falciforme). A mulher que quer engravidar deve usar ácido fólico desde antes da fecundação; Doenças virais agudas (rubéola, caxumba, coxsakiose, hepatite A, varicela, influenza). A mãe deve aconselhar-se com seu GO sobre as vacinas necessárias ou seguir as campanhas governamentais. Vacinas antivirais só devem ser tomadas fora do período concepcional/gestacional; Cardiopatias, principalmente doença reumática e a miocardiopatia chagásica; Nefropatias, que cursam com proteinúria, hipertensão, edema, uremia; Obesidade mórbida, que pode causar complicações como diabetes, hipertensão, hemorragia uterina; Infecção urinária sintomática e assintomática; Doenças autoimunes; Testes positivos para citomegalovírus, clamídia, herpes, HIV, sífilis, toxoplasmose; Hipertensão arterial + edema + proteinúria; Sintomas depressivos, com ou sem uso de psicotrópicos; Uso prolongado de medicação do tipo corticoide ou quimioterápicos.

(57)

Acompanhamento mensal da

gestante

Peso, P.A., altura do útero Exame de urina simples

Teste de glicemia (que pode até ser feito em casa)

Enquanto se prepara isicamente, a mãe também se prepara emocionalmente, com exercícios de relaxamento e yoga. Caminhadas, passeios e encontros com amigas. Cinema, música, leituras. A doula e/ou parteira serão suas con identes e conselheiras sobre questões íntimas, sexualidade, cuidado com as mamas, receios e expectativas sobre o parto e o bebê.

A importância do ácido fólico na prevenção de defeitos de tubo neural deve ser enfatizada. Levantamento recente feito em Brasília revela que cerca de 70% das gestantes desconhecem o ácido fólico e seu importante papel na gestação (e previamente à fecundação). A alimentação deve ser variada, mas respeitando os costumes e gostos da gestante. Redução do sal é recomendável.

(58)

Hemograma para avaliar anemia; Exame de urina simples para checar infecções e eventual proteinúria; Sorologia para sífilis, HIV, toxoplasmose, citomegalovírus; Papanicolau para células anormais, monília, clamídia, HPV; Teste para hepatite B (HbsAG) e C (HCV) e HIV; Tipagem sanguínea e Rh + Coombs indireto; Eletroforese das hemoglobinas (para talassemia e doença falciforme); Dosagem da alfafetoproteína entre a 15ª e 20ª semanas (detecção de anencefalia e espinha bífida). O screening tríplice de AFP + HCG + níveis de estrógeno permitem supor Síndrome de Down em cerca de 65% e defeitos do tubo neural em mais de 85%; Cultura para estreptococo B: em caso positivo requer ATB. Qualquer alteração nesses exames deve ser levada ao conhecimentodo clínico ou GO.

(59)

Queixas mais frequentes e medidas

iniciais

Enjoos – Melhoram com líquidos bem gelados ou bem quentes. Em caso de

hiperemese, a gestante pode precisar de soro oral ou venoso + antieméticos – (GO).

Vulvovaginite por monilíase ou cândida: GO, não fazer duchas.

Azia (queimação) – Melhora imediatamente com comprimidos

mastigáveis de hidróxido de magnésio (venda livre).

Insônia: yoga; chá de camomila e valeriana.

Constipação – Fibras das frutas e folhas, suco de ameixa, metamucil ou

tamarine (venda livre). Beber mais água durante o dia. Caminhar, respirar, descansar.

Hemorroidas – Banhos frios de assento, caminhadas, almofada circular

para sentar.

A acupuntura pode ser usada durante toda a gestação para o bem-estar geral e, na hora do parto, para analgesia com terapeuta experiente.

(60)

Como nasce uma mãe

Simone Bitencourt de Paula

Maternidade, para mim, era o local onde nasciam os bebês. Mãe, para mim, era a minha. Amor seria um dia encontrar um príncipe. Assim pensei por algum tempo, mais precisamente durante 24 anos de minha existência. Sempre tive pavor de pensar em ser mãe, eu morria de medo das dores do parto. Um dia meu “relógio biológico” me surpreendeu. De repente, senti uma enorme vontade de ter um ilho. Minha hora tinha chegado. A gravidez veio como um presente.

Esperar um ilho... Um período cheio de expectativas, mudanças e muita ansiedade. Durante nove meses, o corpo passa por grandes transformações e experimentamos sentimentos opostos de uma só vez. Alegria, emoção, paciência, mas também apreensão, preocupação e até mesmo medo de não estar à altura da maternidade que se aproxima.

Quando descobri que estava grávida, eu me senti a mulher mais feliz do mundo, senti-me forte. Com o passar dos dias, porém, era também a mais frágil e preocupada. Preocupada com o leite que teria que tomar mesmo sem gostar. Preocupada com o açúcar e as proteínas que havia comido ou não. Preocupada até quando me sentia bem (não sentia tonturas, nem enjoo). “Desejo” tive apenas um, e tenho certeza que foi pelo cheiro da cozinha da vizinha.

No primeiro exame de ultrassonografia, emocionei-me ao escutar o coração do meu bebê. Naquele instante, senti também toda a responsabilidade que havia em carregar um ser dentro de mim. Um ser carente em todos os sentidos, um ser totalmente dependente de minhas atitudes e cuidados

(61)

para vir ao mundo nas melhores condições possíveis. Incrível a mudança que um ilho traz em nossa vida. Lembro-me como se fosse hoje que, quando saí da clínica, passei a enxergar todas as crianças de outra maneira. Passei a encará-las com mais ternura, amor e pureza. Só naquele instante me dei conta de que eu não estava apenas gerando, mas também estava sendo gerada. Uma mãe estava sendo gerada. Tudo muda. As metas e objetivos adaptam-se à nova situação, e tudo é devidamente planejado, pensando-se apenas no bem-estar da criança, é claro. Adquirimos maturidade e passamos a observar coisas e situações que não eram antes percebidas.

A mãe que estava sendo gerada dentro de mim estava envolvida por um turbilhão de emoções diferentes. Ao mesmo tempo em que me sentia amada, bonita e poderosa, também me sentia frágil, feia e estranha. Passei a buscar muita informação sobre a maternidade, sobre cuidados com bebês, tudo o que envolvia a gravidez. Lembro-me de alguém dizendo que eu ia ser uma “mãe de livro”. Não sei se me sentia triste por nada saber, ou feliz por tentar aprender da melhor maneira, buscando informação por meio da leitura.

Quando se está grávida, a sensação é de se estar plena e bem perto de Deus, daí a real certeza de que Ele realmente existe. Só um ser tão supremo poderia permitir algo tão mágico e perfeito como a gestação, um milagre da criação divina. O mecanismo que vai da concepção ao parto é perfeito; passar por toda essa experiência é uma bênção. Junto a tudo isso vem a expectativa do parto, a curiosidade e a total ansiedade de ter logo o filho nos braços.

Quando vi meu ilho pela primeira vez, ainda na sala de parto, pensei: “E agora? Será que vou acertar?”- Meu primeiro filho nasceu numa terça-feira de ventania. Lembro-me, como se fosse hoje, de um calor muito forte, mas o maior calor estava dentro de mim, o meu calor, o meu amor. Naquele dia não nascia apenas meu primeiro filho, nascia também uma mãe.

(62)

Descobri que a maternidade é algo que exercemos todos os dias junto aos ilhos. Descobri que mãe só existe uma, mas que a cada dia nascem milhares. Quando se é mãe, até o nosso amor de ilha para com nossa mãe se renova e se fortalece. Logo eu, que achava que o amor seria trazido a mim por um príncipe, ganhei logo dois. Eles me ensinaram a sentir o amor mais verdadeiro que possa existir: o amor de mãe. Um amor incondicional, irracional, quase animal. Um amor iel, sincero e eterno. O maior de todos os dons.

Li uma vez uma coisa muito bacana, passando por uma vitrine em uma das viagens que iz, e, sinceramente, até hoje é a mais assertiva de tudo o que já li sobre a maternidade. Estava escrito assim: “Ser mãe é permitir que seu coração pulse fora de seu corpo”. Fiquei comovida, porque é assim que me sinto. Hoje tenho dois filhos: tenho dois corações pulsando fora de mim.

(63)

Desenvolvimento fetal

Fase embrionária – até a 7ª semana ou 9ª semana após DUM. Período fetal – até o nascimento.

Coração – começa a bater na 6ª semana, quando também se formam as

orelhas, braços, pernas, estruturas da face e pescoço. Cérebro e olhos – 7ª semana Nariz, boca e palato – 8ª semana Sistema urogenital – 9ª semana Pela 12ª semana, o feto é capaz de engolir, fazer movimentos respiratórios, urinar, abrir e fechar a boca. O sexo é identificável pela 16ª semana. 5º mês – o corpo se reveste de vernix; o feto soluça.

6º mês – cabelos na cabeça, lanugem na pele; bebê é capaz de chorar e

sugar; forma-se o estoque de gordura marrom (fonte de energia para o feto).

7º mês – olhos se abrem e peso atinge pouco mais de 1 kg.

8º mês – o vernix se espessa; movimentos respiratórios sincronizados.

(64)
(65)

Sobre gestar e parir

Roxana Knobel

A gravidez é uma verdadeira maravilha isiológica. Em apenas nove meses uma única célula torna-se um ser humano completo, capaz de viver autonomamente. O embrião cresce no ventre materno, sem necessidade de intervenções. O organismo da mãe se adapta para receber esse ilho e todos os seus órgãos, vísceras, ossos, todas as suas células se modi icam para gestar essa nova vida. A gestação ocorre e, na maioria dos casos, só temos que esperar que a natureza faça sua parte.

Mas, se tudo é tão isiológico, por que fazer ‘pré-natal’? Por prevenção. Hoje em dia sabemos que algumas doenças e problemas da mãe podem afetar sua saúde ou a do seu bebê. Precisamos de alguns exames e de acompanhamento no pré-natal. São exames de laboratório simples e acompanhamento clínico (pressão arterial, tamanho da barriga, peso da mãe) que são feitos pelos pro issionais de saúde e previnem complicações sérias. Por isso, é importante fazer o pré-natal. “A criança necessita de amor e compreensão, para o desenvolvimento pleno e harmonioso de sua personalidade; sempre que possível, deverá crescer com amparo e sob a responsabilidade de seus pais, mas, em qualquer caso, em um ambiente de afeto e segurança moral e material; salvo circunstâncias excepcionais, não se deverá separar a criança de tenra idade de sua mãe.” Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Referências

Documentos relacionados

No entanto, maiores lucros com publicidade e um crescimento no uso da plataforma em smartphones e tablets não serão suficientes para o mercado se a maior rede social do mundo

The challenge, therefore, is not methodological - not that this is not relevant - but the challenge is to understand school institutions and knowledge (school

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Este estudo teve como propósito apresentar o interesse de graduados do curso de Arquivologia, em relação à publicação de seus TCC’s após o término do

Desenvolver gelado comestível a partir da polpa de jaca liofilizada; avaliar a qualidade microbiológica dos produtos desenvolvidos; Caracterizar do ponto de

If teachers are provided with professional development opportunities that helps them develop a learning environment that is relevant to and reflective of students'

Sabe-se que as praticas de ações de marketing social tem inúmeras funções, dentre estas o papel de atuar na mudança de valores, crenças e atitudes, porém os alunos da

Esse tipo de aprendizagem funciona não no regime da recognição (DELEUZE, 1988), que se volta a um saber memorizado para significar o que acontece, mas atra- vés da invenção de

Os dados foram discutidos conforme análise estatística sobre o efeito isolado do produto Tiametoxam e a interação ambiente/armazenamento no qual se obtiveram as seguintes