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Os três primeiros meses do bebê

No documento O Livro Da Maternagem - Thelma B. Oliveira (páginas 117-123)

Flávia Oliveira Mandic

Você acha que seu bebê está pronto para nascer depois de 40 semanas de gravidez? Pois não está. O recém-nascido humano é ainda muito imaturo, quase como um feto, e nos primeiros três meses de vida adora sentir-se como se ainda estivesse no útero. Os ilhotes de muitos outros mamíferos, ao contrário, são capazes de caminhar e até de correr no primeiro dia de vida. Propiciar aos bebês a experiência do ‘quarto trimestre’ de gestação acalma-os, pois estimula uma resposta poderosa no cérebro que para o choro – o reflexo calmante.

O choro é o principal recurso de segurança para o bebê; é ativado por qualquer perturbação súbita, sendo e icaz para chamar a atenção de um adulto. Se você já tentou amamentar, colocar o bebê para arrotar, trocar a fralda e ele ainda continuar berrando, é hora de tentar este “novo” antigo truque dos nossos ancestrais: imitar o ambiente uterino.

Embrulhar o bebê num cueiro bem apertadinho é muito comum em várias culturas, pois o toque na pele é muito calmante. Embrulhadinho, ele se sente como se tivesse retornado ao útero e isso satisfaz seu desejo de ser continuamente tocado. Quando enrolado, seus movimentos incoordenados cessam e ele se acalma. Deitar o bebê de lado, ou segurá-lo de barriga para baixo, apoiado no braço de um adulto, interrompe o medo de estar caindo. O som favorito do bebê é o som das batidas do coração ou da aorta da mãe, que ele ouviu durante sua vida no útero. Um CD com batimentos do coração, ou até o ruído da máquina de lavar roupas ou do secador de cabelos costumam acalmar os bebês chorosos, ainda que muitos achem

que o barulho pode deixá-lo mais agitado. Na verdade, o silêncio é que é estranho e perturbador para um recém-nascido.

No útero, o bebê consegue levar as mãos à boca sem di iculdade, pois os braços estão bem perto do rosto. Depois do nascimento, falta ao bebê a coordenação para levar os dedos à boca e praticar o re lexo de sugar, que é calmante. Se você pretende oferecer chupeta, o ideal é aguardar para depois das primeiras seis semanas de vida, que é quando a amamentação está bem estabelecida. Os cinco S para acalmar o bebê: Swaddling (embrulhar o bebê apertadinho num cueiro) Side stomach (colocar o bebê na posição de lado) Shh shh (fazer o barulho do som favorito do bebê) Swinging (embalar o bebê nos braços ou numa rede) Sucking (sugar) Referências Bibliográficas O Bebê Mais Feliz do Pedaço, Dr. Harvey Karp.

Cólicas

Dra. Relva

Quando os pais são de primeira viagem, ou não têm apoio de familiares, ou têm pouca paciência, qualquer desconforto do bebê é chamado de “cólica”, que é aceita como verdadeira, e logo passam a usar gotas e chás para “acalmar o bebê”. Todo bebê tem uma “curva de choro” normal, que se intensifica pela sexta à oitava semana e depois tende a se acalmar.

A maior parte dos choros do bebê decorre do descompasso entre suas demandas e o tempo em que são atendidas. Esse choro tem vários propósitos, principalmente o de assegurar que irá receber proteção e nutrição adequadas, pois é indefeso e dependente de cuidados.

A inal, ele está acabando de chegar de um ambiente “customizado” para seu total conforto. Um ambiente onde não havia luz, nem portas batendo, nem fome; um ambiente morno, líquido, onde seu corpo tenro era envolvido por calor, vibração e suavidade. Ele leva cerca de três meses nessa adaptação, que é o tempo em que ele completa um ano de gestação intra e extra-uterina: 9 + 3 = 12 meses.

Que fazer para acalmar o bebê em seu desconforto, quando se estica, chora, faz careta ou se espreme, demonstrando inquietação?

pegar o bebê no colo;

balançá-lo carinhosamente;

enrolá-lo num cueiro; fazer-lhe alguma massagem “antes” do horário das cólicas; deitá-lo de costas e encolher suas perninhas, forçando-as levemente contra a barriga; dar-lhe banho morno, que pode ser no balde; outra coisa que acalma é deitar o bebê de barriga em cima da barriga da mãe ou do pai, deixando-o pele a pele, em contato com seu cheiro e seus batimentos cardíacos.

O que o bebê precisa mesmo é de contato humano, mas isso tem que ser feito desde o nascimento, de modo que ele “saiba” que vai ser atendido e embalado, e que pode contar com a amamentação, de preferência em livre demanda, sem hora marcada. Quando ele sente que a mãe estabeleceu um jeito con iável de maternagem, ele também adquire um modo mais sossegado de suportar as rápidas mudanças que seu crescimento lhe exige.

Falar em “imaturidade” do bebê é muito vago: imaturidade cerebral? do trato gastrintestinal? São explicações que nada explicam nem indicam ‘o’ tratamento. Se a “cólica” tivesse uma causa orgânica, não aconteceria em “hora marcada”, nem melhoraria no colo. Dez causas de estresse materno, que podem piorar a “cólica”: Choro incontrolável do bebê, gerando mais estresse nos pais; Cansaço pela súbita mudança de rotina; Privação de sono; Instabilidade hormonal;

Inexperiência e insegurança; Isolamento e solidão; Perda de identidade: a puérpera deixa de ser ‘uma pessoa’ e passa a ser ‘um bloco’ com o bebê; deixa de ser ‘fulana’ e passa a ser ‘a mãe de fulaninho’... Falta de privacidade; Discussões irritantes com marido, sogra e outros familiares; Perda imprevista de renda ou de algum abono; Cheiro persistente de vômito na roupa.

Para vivenciar o puerpério, a mãe precisa de sossego e ambiente calmo, para entrar em estado fusional com o bebê, ceder a seus impulsos e instintos, sem pressa nem pressão, regredir à sua própria infância, deixar falar o coração e mergulhar em sua função maternante. Perguntas que ela deve fazer para si mesma: Quem é esse bebê? O que ele espera de mim, sua mãe? Como sintonizar meu corpo e minha energia para entrar em contato com esse novo ser, que eu gerei e pari?

Em Lacan encontramos a de inição subjetiva do que se tem como ‘cólica’: um mal-estar interoceptivo que não pode ser separado da imago pré-natal. “A angústia, cujo protótipo aparece na as ixia do nascimento, o frio, ligado à nudez do tegumento, e o mal-estar labiríntico ao qual responde a satisfação de embalar, organizam pela sua tríade o tom penoso da vida orgânica que, para os melhores observadores, domina os seis primeiros meses da vida do homem”. Ou seja, o choro, a ‘espremeção’, as caretas, seriam a expressão do desamparo primordial; a isso damos o nome de ‘cólica’... In LACAN, Jaques. A Família, Editora Assírio & Alvim, Lisboa, 1981. P. 31

Por que o bebê precisa dessa tal de

No documento O Livro Da Maternagem - Thelma B. Oliveira (páginas 117-123)