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CAPÍTULO II – AS SONDAGENS EM PORTUGAL

3.1. O Sistema Eleitoral Português

Entende-se por sistema eleitoral o “conjunto de regras que definem a forma como os cidadãos exercem o seu direito de voto e como os votos se transformam em mandatos eletivos” (Lobo & Pereira, 2014), integrando diferentes elementos (Lobo & Pereira, 2014):

Estrutura de voto; Fórmulas eleitorais;

Magnitude dos círculos eleitorais; Existência de limiares de representação.

Cada sistema eleitoral tem os seus próprios objetivos e para os alcançar adota “diferentes expedientes operacionais, ou seja, diferentes soluções instrumentais (fórmulas de conversão de votos em mandatos, estrutura dos círculos eleitorais, tipo de sufrágio – nominal ou de lista –, etc.)” (Freire, 2015, p. 4). Além disso, são diversos os fatores políticos que contribuem para a volatilidade eleitoral, principalmente a participação eleitoral, assim como as mudanças no formato do sistema de partidos, as circunstâncias políticas e as mudanças no sistema eleitoral (Lobo, 1996).

Neste subcapítulo, é objetivo apresentar o sistema eleitoral que vigora em Portugal e de acordo com Lobo e Pereira (2014), o sistema eleitoral português caracteriza-se pela utilização de listas fechadas e bloqueadas, sendo um sistema eleitoral proporcional (d´Hondt), composto por círculos plurinominais com grande variabilidade e não apresenta limiar de representação fixado na lei.

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Freire (2015), tendo em conta os três principais objetivos dos sistemas eleitorais – proporcionalidade votos/assentos, responsividade perante membros do círculo eleitoral e estabilidade governativa – desenvolve uma análise do sistema eleitoral português. Na sua perspetiva, ao nível da proporcionalidade, Freire (2015) salienta que o sistema eleitoral de Portugal não é excessivo, nem se encontra um sistema partidário fragmentado. Para justificar a sua posição, o autor explica que a partir dos finais da década de 80, nomeadamente

Desde 1987 e pelo menos até 2025, Portugal tem um nível de proporcionalidade abaixo dos sistemas eleitorais proporcionais europeus (UE27 + 3) e um sistema partidário muito concentrado nos dois maiores partidos (também muito pouco diferenciados ideologicamente entre si) (...). Um formato do sistema partidário que é, aliás, mais semelhante aos dos sistemas de partidos das democracias maioritárias do que aos das democracias consensuais. (Freire, 2015, pp. 17-18)

No mesmo sentido, Lobo, Freire, Riera e Serra-Silva (2018), a propósito dos sistemas eleitorais extremos, referem que no caso português o sistema não era considerado extremo ao nível da dimensão da competição inter-partidária, mas era considerado extremo na dimensão intra-partidária da competição. Assim sendo, Lobo et al. (2018) defendem a reforma do sistema eleitoral português em relação a esta dimensão, pois trata-se de sistemas que

São caracterizados por extrema personalização (o sistema está demasiado centrado nos candidatos, subalternizando os partidos, e é muito propenso ao clientelismo) ou por extrema partidarização (listas fechadas e bloqueadas e um regime de seleção dos candidatos altamente centralizado e nacionalizado). (Lobo et al., 2018)

Face à qualidade da representação do sistema eleitoral português, verifica-se que vigora um sistema de voto em lista fechada e bloqueada, o que significa que o eleitor só pode votar no partido, mas não nos deputados que integram a lista (Freire, 2015). Aliás, ao votar num determinado partido, o eleitor concorda com a ordenação da lista de candidatos concebida pelo mesmo. Este sistema eleitoral, contrariando o que se verifica na restante Europa, apresenta vantagens e desvantagens, que surgem elencadas na tabela que se segue.

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Tabela 3 - Vantagens e Desvantagens do Sistema de Voto em Lista Fechada e Bloqueada

Vantagens Desvantagens

Fortalecem os partidos políticos, colocando em segundo plano os candidatos;

Os deputados preocupam-se menos em agradar aos eleitores do que às direções partidárias, o que pode produzir um certo afastamento entre eleitores e eleitos;

Favorecem a disciplina de voto, pois os deputados sabem que a sua eleição depende mais da posição que a direção do partido lhes assegurar nas listas do que do voto popular.

A sacralização da disciplina de voto pode exigir a total anulação do papel do deputado na arena parlamentar.

Fonte: Adaptado de Freire (2015, pp. 18-19).

Em relação à governabilidade, o sistema eleitoral português não levanta problemas significativos. Contudo, os problemas que apresenta são de origem política (Freire, 2015) e, apesar do sistema eleitoral português apresentar algumas lacunas, é importante reconhecer com clareza, tirando o sistema de votação e a falta de incentivos à cooperação interpartidária, que tem funcionado muito bem nestes cerca de 40 anos de democracia, sem se pôr em causa o essencial do nosso sistema, dizíamos, reformar o regime eleitoral para melhorar a qualidade da democracia portuguesa. (Freire, 2015, p. 24).

Contudo, a abertura das listas, assente no designado voto preferencial em lista, é defendido por Lobo et al. (2018) como um sistema eleitoral adequado para Portugal que, se fosse implementado, exigiria poucas alterações. Assim, os autores advogam que

O sistema eleitoral português é injusto perante os eleitores, não promove a renovação dentro dos partidos e não seleciona para a atividade parlamentar necessariamente os melhores homens e mulheres para desempenhar o cargo pois essa seleção é exclusivamente interna não tendo nenhum contributo dos cidadãos. É necessário clarificar os objetivos da reforma do sistema eleitoral, e o melhor sistema eleitoral alternativo, dentro dos que possam ser aprovados pelos partidos políticos sob uma pressão da sociedade civil e eventual aceitação interna. (Lobo et al., 2018)

A adoção deste sistema também é defendida por Lobo e Pereira (2014) que, para aumentar a proximidade entre eleitores e eleitos, propõem a alteração do sistema

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eleitoral, nomeadamente ao nível da estrutura de voto, através da implementação de listas não bloqueadas.

3.1.1. As Intenções de Voto e os Resultados Finais

As sondagens medem as intenções de voto, devendo ser realizadas com o maior rigor e cuidado, ainda que tratem uma amostra da população em estudo. É importante ter uma amostra significativa.

As intenções de voto refletem a posição do indivíduo face ao candidato. Contudo, o indivíduo pode mudar de opinião. No âmbito da literatura sobre esta temática, verifica-se que a identificação partidária é um fator que exerce grande influência na intenção de voto, na medida em que quando o cidadão se identifica com o comportamento de determinado grupo social e passa a seguir as suas regras, neste caso, do grupo partidário com o qual se identifica, é natural que vote no mesmo (Costa, 2014). Aliás, esta identificação com o grupo partidário “tem um impacto mobilizador, pois quanto mais forte é essa identificação maior é o envolvimento político dos cidadãos e maior é a sua propensão para votar” (Campbell, Converse, Miller & Stokes, 1960, p. 96), assumindo-se como uma variável independente que, em parte, permite perceber a adesão do indivíduo a certas posturas políticas, como é que ele avalia os candidatos e, por isso, seja diretamente ou não, permite aferir a sua intenção de voto (Campbell et al., 1960).

Além disso, as intenções de voto também são importantes nas sondagens. Todavia, podem alterar os resultados finais. Isto porque,

Mesmo assim, para que não existissem discrepâncias entre os resultados de sondagens e os resultados das eleições, uma quinta e última condição seria necessária: que as intenções comportamentais dos eleitores estivessem perfeitamente correlacionadas com os seus comportamentos futuros. Contudo, essa relação não é perfeita, e torna-se compreensivelmente mais fraca quando se trata da relação entre a intenção de votar e a real participação em eleições (...) Logo, o que vai inevitavelmente suceder - especialmente se esse grau de controlo não estiver distribuído de forma homogénea entre os diferentes grupos de eleitores definidos pelas suas intenções de voto - é uma discrepância entre as intenções e comportamentos de voto registados em sondagens e em resultados eleitorais. (Magalhães et al., 2011, p. 39)

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CAPÍTULO IV – COMPORTAMENTO DE VOTO

Este capítulo, que encerra o enquadramento teórico desta investigação, coloca em destaque o comportamento de voto. Assim sendo, além de explicar a que se refere o comportamento de voto, bem como os fatores que o influenciam, apresenta vários modelos explicativos do comportamento de voto e da decisão do eleitor.