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CAPÍTULO VII – RESULTADOS

7.1. Resultados

7.1.1. Agentes/Atores Políticos

7.1.1.1. Sondagem como Instrumento de Comunicação Política

A categoria sondagem como instrumento de comunicação política contempla três questões, sendo que a primeira aborda a importância atribuída às sondagens enquanto instrumento de comunicação, verificando-se que tanto A, como B e C consideram as sondagens um instrumento de comunicação política, particularmente importante para a opinião pública.

Para o Diretor Distrital de Campanha de Sampaio da Nóvoa, as sondagens são importantes para a opinião pública, mas também se traduzem num barómetro, quer para a sociedade, quer para os candidatos.

Ricardo Gonçalves, defendendo a importância das sondagens, salienta que estas já foram mais importantes para a opinião pública do que o são atualmente, afirmando que “ultimamente têm-se enganado até bastante, por um lado em virtude de haver um eleitorado silencioso”. Este

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entrevistado faz ainda referência à abstenção como um grave problema das sondagens, explicando que

é difícil acertar quando a abstenção é maior e tem o problema da projeção sobre os resultados fixos/finais. Os resultados fixos cada vez são menores e as projeções são cada vez maiores. E essas projeções muitas vezes são abusivas, porque muita gente que não diz onde vota não quer dizer que depois seja projetado em cima dos fixos que existem.

No mesmo sentido, Laura Magalhães refere que as sondagens permitem ter uma perceção da opinião pública sobre determinada matéria e não descura a influência que as mesmas podem exercer.

Tabela 4 - Opinião dos Agentes/Atores Políticos face à Importância das Sondagens enquanto Instrumento de Comunicação Política: “Qual a importância que atribui às sondagens enquanto

instrumento de comunicação política?” Diretor Distrital de Campanha de Sampaio da Nóvoa

“(...) São importantes a dois níveis: primeiro para a opinião pública, porque apesar de as sondagens inquirirem um número restrito de pessoas, têm de ser representativas da totalidade do universo que é potencialmente votante. São um barómetro quer para a sociedade, quer para os candidatos. Por isso são importantes e quando se realizam há sempre uma expectativa muito grande por parte de quem se candidata, de quais são os resultados. Eu considero que são muito importantes, desde que bem feitas. Nós em Portugal temos de facto boas empresas de sondagens”.

Ricardo Gonçalves

“(...) Já influenciaram mais a opinião pública do que hoje influenciam. (...) Eu acredito mais nas sondagens que são feitas mais sobre assuntos concretos, sobre aquilo que as pessoas pensam sobre determinado assunto naquele momento. Como aliás se viu na história do dossiê dos professores, na campanha das últimas legislativas. Havia uma pressão para que se resolvesse o problema dos professores e isso acabou por influenciar a atitude de António Costa. As sondagens têm um problema complexo que é a abstenção. É difícil acertar quando a abstenção é maior e tem o problema da projeção sobre os resultados fixos/finais. (...) Podem às vezes ir para outro lado, podem abster-se (...) A sondagem precisa de ter impacto e de ter importância, portanto a sondagem acaba sempre por criar um facto em si. Era muito importante que as sondagens tivessem também um estudo por parte da Comissão Nacional de Eleições, onde fosse dito constantemente quais são as empresas que acertam mais e as que falham mais. Deve haver uma hierarquia de empresas, porque há muitas empresas que até podem registar as

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sondagens e tudo, mas aquilo são sondagens que realmente não correspondem nada à verdade e àquilo que aconteceu. Portanto aquilo que deve haver é um mercado hierarquizado de sondagens. Uma boa comunicação social faz isso, mas tem que se fazer isso com muita mais incidência. Porque as empresas de sondagens não podem ser todas iguais”.

Laura Magalhães

“Para além de nos dar uma perceção da opinião pública sobre um determinado assunto, por vezes, quando publicitadas, podem ter um efeito influenciador, muitas vezes até galvanizador, no sentido de potenciar ainda mais uma mensagem que algum agente pretenda passar. As sondagens têm sempre um efeito contágio de opinião”.

Perante a questão Considera útil a publicação e divulgação de sondagens eleitorais nos meios de comunicação ou entende que deveriam ser utilizadas apenas como ferramentas dos bastidores políticos?, os resultados indicam que tanto o Diretor de Campanha de Sampaio da Nóvoa como Ricardo Gonçalves, consideram a publicação e divulgação de sondagens eleitorais nos meios de comunicação útil. Para o Diretor de Campanha de Sampaio da Nóvoa, por exemplo, a publicação e divulgação de sondagens eleitorais nos meios de comunicação é importante e útil, no sentido de que os seus resultados (das sondagens) sejam do conhecimento público e não se cinjam ao conhecimento do(s) candidato(s). Contudo, em sua opinião, a publicação e divulgação de sondagens eleitorais nos meios de comunicação também podem ter um impacto negativo:

por exemplo as pessoas pensarem que um determinado candidato já tem uma determinada percentagem de potenciais votantes e já não vale a pena eu ir votar. Ou então posso fazer um voto útil, que é vou votar mais em não sei quem para o fazer subir e dar aqui um… balancear um pouco.

Na perspetiva de Ricardo Gonçalves, as sondagens devem ser divulgadas para dar a conhecer a opinião pública, mas também porque a sua divulgação chama à atenção para a campanha eleitoral dos candidatos e, acima de tudo, para a realização de eleições, o que é importante para combater a abstenção.

Por fim, mas não menos importante, Laura Magalhães tem uma perspetiva diferente, referindo que a publicação e divulgação de sondagens eleitorais é útil em determinadas situações, pois quando o objetivo de uma sondagem se resume ao estudo de opinião, esta, simplesmente, deve constituir-se numa ferramenta dos bastidores políticos.

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Tabela 5 - Opinião dos Agentes/Atores Políticos relativamente à Utilidade da Publicação e Divulgação de Sondagens nos Meios de Comunicação: “Considera útil a publicação e divulgação

de sondagens eleitorais nos meios de comunicação ou entende que deveriam ser utilizadas apenas como ferramentas dos bastidores políticos?”

Diretor de Campanha de Sampaio da Nóvoa

“(...) se não forem publicadas nos meios de comunicação tenderão a ficar apenas no conhecimento de quem se candidata e, portanto, o resto da população ficará na incógnita relativamente aos resultados dessas mesmas sondagens. Claro que também tem ou pode ter um efeito negativo (...) por exemplo, as pessoas pensarem que um determinado candidato já tem uma determinada percentagem de potenciais votantes e já não vale a pena eu ir votar. Ou então posso fazer um voto útil, (...) Pode ter aqui também este efeito negativo, mas nós nunca conseguimos saber qual é a dimensão deste efeito negativo”.

Ricardo Gonçalves

“Acho que devem ser divulgadas. Houve um período, durante muito tempo, em que não se podiam divulgar durante a campanha e andava-se a procurar nos jornais estrangeiros a ver se havia publicações. A sondagem ajuda também a chamar a atenção para a campanha, para o facto de haver eleições e isso é muito importante para combater a abstenção. A sondagem faz parte do próprio folclore da campanha”.

Laura Magalhães

“(...) Há situações que devem ser apenas utilizadas como uma ferramenta dos bastidores políticos quando o objetivo passa apenas por fazer um estudo de opinião. No entanto, há outras situações em que a sua publicação e divulgação cria uma espécie de onda de contágio e acaba por influenciar a opinião pública para um determinado fim. Importa ainda referir que qualquer cidadão tem o direito a ser informado sobre o estado de arte de um determinado assunto, caso tenha esse interesse”.

Por fim, perguntou-se, no que respeita à sondagem como instrumento de comunicação política, se existem sondagens que não são publicadas, quem são os seus responsáveis e se existem fugas de informação para os media e/ou opinião pública. Perante esta questão, os entrevistados revelam que são muitas as sondagens que são realizadas e que não são publicadas e por diferentes razões.

O Diretor de Campanha de Sampaio da Nóvoa revela que muitas sondagens são realizadas no âmbito interno, tanto a nível das eleições presidenciais, como das eleições legislativas, com o objetivo de aferir quais as estratégias a adotar face aos resultados dessas mesmas sondagens. O mesmo é salientado por Ricardo Gonçalves, que refere que são

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realizadas muitas sondagens que não são publicadas, acrescentando ainda que, muitas vezes, os partidos, nomeadamente nas eleições autárquicas, encomendam sondagens e depois publicam resultados falsos, que os colocam em posições mais favoráveis.

Por fim, Laura Magalhães também confirma a realização de sondagens que não são publicadas, particularmente aquelas que se focam no estudo de opinião para definir uma estratégia metodológica, sendo que também existem sondagens que são realizadas a fim de aferir a intenção de voto do eleitor e não são publicadas, precisamente, porque os resultados não lhes são favoráveis.

Relativamente à fuga de informação, o Diretor de Campanha de Sampaio da Nóvoa entende que não há fuga de informação, mas Laura Magalhães, por sua vez, tem uma opinião contrária, referindo que “não raras vezes há fugas de informação”.

Tabela 6 - Opinião dos Agentes/Atores Políticos em relação à Existência, ou não, de Sondagens Não Publicadas: “As sondagens que não são publicadas existem sempre? Quem as faz? Há

fugas de informação para os media e/ou opinião pública?” Diretor de Campanha de Sampaio da Nóvoa

“(...) Todos os candidatos fizeram isso. Todos os candidatos fazem isso. Aliás, a estrutura de campanha faz isso, uma sondagem pelo menos que não é do domínio público e que fazem para aferir internamente, que eventuais estratégias podem fazer face aos resultados dessas sondagens. De todo o meu conhecimento, não só destas presidenciais, mesmo em legislativas isso acontece. Não. Isso é respeitado. Do conhecimento que eu tenho, sim”.

Ricardo Gonçalves

“Muitas, porque inclusive há sondagens até falsas, porque os partidos, principalmente nas autárquicas, muitos candidatos encomendam as sondagens e depois sabem qual é a verdadeira sondagem mas arranjam maneira de divulgar uma outra sondagem que lhes possa dar uma melhor posição e mais privilegiada e há outras sondagens que são mesmo só feitas interiormente sobre assuntos concretos ou até sobre o geral, mas obviamente ficando só dentro, porque muitas vezes não interessa estar a publicar isso”.

Laura Magalhães

“Há muitas sondagens que são feitas e que não são publicadas. Principalmente aquelas que dizem respeito ao estudo de opinião para definir uma determinada estratégia metodológica. Em outras situações, quando as sondagens têm apenas o intuito de avaliar uma intenção de voto, a mesma também pode não

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ser publicada por não lhe ser benéfica. As sondagens, para terem validade científica, são feitas por entidades certificadas e qualificadas para o efeito. As mesmas, por norma, são pedidas/encomendadas pelas estruturas partidárias ou até por meios de comunicação social. Não raras vezes há fugas de informação”.