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CAPÍTULO II – AS SONDAGENS EM PORTUGAL

2.1. Sondagens em Portugal

2.1.1. A Evolução das Sondagens e as Perspetivas do Século XXI

Como referido no início deste capítulo, o termo sondagem pode ser aplicado em diversos contextos, o que faz com que o seu significado mude. Etimologicamente, o termo tem origem na língua francesa, a partir da palavra sondage, atualmente associada também à estatística como referência à investigação (Magalhães & Vicente, 2011).

As sondagens surgiram nos Estados Unidos da América (EUA) e ganharam destaque a partir da II Guerra Mundial, passando a estar associadas a metas de controlo social e político, bem como da manipulação de opiniões e comportamentos (Dias, 1994). A primeira sondagem foi realizada a 24 de julho pelo jornal americano The Harrisburg Pennsylvanan, onde foram realizados inquéritos de opinião aos leitores sobre o que ficou conhecido como o voto de palha (straw vote – voto não oficial) (Magalhães & Vicente, 2011).

Do ponto de vista histórico, as sondagens passaram por momentos de crítica, fruto de juízos de valor em relação à amostra utilizada, através da ideia de que para se conhecer uma população era necessário contactá-la por inteiro (recenseamento) e não pela parte (sondagem) (Magalhães & Vicente, 2011). Assim sendo, a tradição americana foi a principal responsável pela proliferação das sondagens de opinião sobre problemas políticos (Dias, 1994).

Embora as sondagens se tenham popularizado devido a questões políticas, não se confinam a um importante instrumental político, sendo, acima de tudo, um instrumento de importância vital em estudos de natureza económica ou social. Assim, se nos meios políticos as sondagens são usadas para obter informação

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acerca das atitudes dos eleitores, com o objetivo de, entre outros, definir estratégias, nomeadamente no planeamento de campanhas, são igualmente importantes em estudos de mercado, para testar as preferências dos consumidores, descobrir o que mais os atrai nos produtos existentes ou a comercializar, tendo como objetivo satisfazer o consumidor final e, consequentemente, aumentar as vendas. (Martins, 2013, p. 1)

No caso de Portugal, apenas em 1973 é que, pela primeira vez, foram publicados, nos órgãos de comunicação social, os resultados de uma sondagem realizada no país (Martins, 2013). Essa sondagem, publicada pelo primeiro número do semanário Expresso e divulgada na primeira página, revelava que 63% dos portugueses nunca tinha exercido o seu voto (Lima, 1995; Vicente et al., 1996). Na verdade, à época, vigorava um regime ditatorial.

Portugal era uma sociedade retrógrada, bastante isolada relativamente ao resto da Europa e marcada por um atraso muito substancial em termos económicos, ao nível da educação e do desenvolvimento cultural. Esse contexto não era particularmente favorável ao surgimento das sondagens políticas, atividade que se manteve virtualmente inexistente durante o regime vigente. (Wert, 2003, p. 592)

Até à década de 70, verifica-se que o Estado português investiu muito pouco na área das sondagens políticas (Espírito Santo, 2008), considerando que Portugal viveu até 1974 num regime ditatorial. Há que reconhecer que o sistema político, nomeadamente o regime político, pode exercer influência no estado do desenvolvimento da técnica e da ciência e, consequentemente, estimular o seu desenvolvimento ou o contrário (Espírito Santo, 2008). Na tabela que se segue, surgem apresentadas as primeiras empresas portuguesas, que foram pioneiras no âmbito da realização de sondagens políticas até 1975.

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Tabela 1 - Empresas Portuguesas Pioneiras no Âmbito da Realização de Sondagens Políticas até 1975 Empresa Data de Constituição Data do Termo/Falência Norma 1963 1998 IPOPE 1967 1985 Teor 1970 1995

SERTE 1971 Não conhecida

Contagem 1972 Não conhecida

Antropos 1975 Em atividade

Fonte: Espírito Santo (2008, p. 155).

A evolução da sondagem esteve muito ligada à sua amostra, defendendo-se que se deveria usar uma amostra representativa, sendo que nos anos 50, com o surgimento do primeiro computador, nos EUA, se passaram a processar os dados do recenceamento de 1950 (Magalhães & Vicente, 2011). Mais tarde, a partir da década de 60, marcada por grandes e significativas mudanças sociais, as sondagens sofreram um grande desenvolvimento, passando a realizar-se sondagens por telefone (Magalhães & Vicente, 2011). Portanto,

O uso generalizado do telefone fixo como meio de telecomunicação desde o último quarto do séc. XX foi determinante na atividade de realização das sondagens. De facto, as sondagens CATI-Computer Assisted Telephone Interviewing tornaram-se o modo principal de recolha de informação, quer em estudos sobre agregados familiares e indivíduos, quer em estudos sobre empresas e organizações, especialmente nos países da Europa Ocidental e da América do Norte, onde a taxa de cobertura telefónica atingiu valores elevados. (Vicente & Magalhães, 2011, p. 14)

De acordo com Santana (1994, p. 22), a proliferação e desenvolvimento das sondagens eleitorais tem por base causas distintas, entre elas: a consolidação e avanço dos processos de democratização; o aumento do número de problemas que surgem na discussão política; o aumento da importância do marketing político e do poder de influência exercido pelos meios de comunicação. Na verdade, desde o seu aparecimento e consequente evolução, as sondagens foram adquirindo, gradualmente, maior relevância, devido à

racionalização progressiva das campanhas eleitorais; à aparição de novos atores influentes na vida política; os jornalistas, verdadeiros intermediários da informação

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entre o estudo e o eleitor, e os especialistas em marketing político, assessores de imagem e outros especialistas; à repetição sistemática dos resultados das sondagens que levam à perceção de uma campanha eleitoral permanente; e ao possível cansaço e repúdio dos sujeitos entrevistados no que se denomina “população sobre entrevistada”. (Aranz, 2007, p. 46)

Hoje, as sondagens são feitas através de outros recursos – seja através de telefone fixo, da internet, em particular do email, e até por telemóveis.

O desenvolvimento tecnológico nas telecomunicações tem permitido inovar e alargar as opções de recolha de informação nas sondagens. De facto, meios de telecomunicação como o e-mail, a Web, a vídeo/tele-conferência, o fax ou o telemóvel estão a tornar-se importantes complementos ou mesmo alternativas ao telefone fixo. Mas o desenvolvimento tecnológico coloca, simultaneamente, algumas dificuldades às tele-sondagens. (Vicente & Magalhães, 2011, p. 14)

2.1.2. Enquadramento Jurídico

Da mesma forma que as sondagens, em particular as eleitorais, foram evoluindo ao longo do tempo e acompanharam as diversas alterações societais, políticas, entre outras, também o seu quadro normativo foi sofrendo várias mudanças.

No que respeita à realidade portuguesa, constata-se que o seu enquadramento jurídico, com as alterações a que o foi sendo sujeito, não só permite perceber que foi acompanhando a evolução de Portugal enquanto Estado democrático, mas também a própria evolução das sondagens no país após a queda do regime ditatorial salazarista.

Desta forma, a 15 de novembro de 1974, é publicado em Diário do Governo, o Decreto- Lei (DL) n.º 621-C/74, que define as normas acerca da eleição dos deputados à Assembleia Constituinte, regulamenta o ato eleitoral e cria a CNE, que ainda hoje existe, instituindo o direito de antena.

Dois anos mais tarde, repartida por três DL, onde cada um se foca num aspeto diferente – capacidade eleitoral, comissão de eleições e sistema eleitoral –, surge a Lei Eleitoral:

DL n.º 93-A/76, de 29 de janeiro: Lei Eleitoral (Parte I) - Capacidade eleitoral;

DL n.º 93-B/76, de 29 de janeiro: Lei Eleitoral (Parte II) - Comissão Nacional das Eleições; DL n.º 93-C/76, de 29 de janeiro: Lei Eleitoral (Parte III) - Sistema eleitoral.

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Ainda em 1976, é publicado, em Diário da República, o DL n.º 319-A/76, de 3 de maio e o DL n.º 701-B/76, de 29 de setembro. O primeiro documento normativo referenciado procedia à regulamentação da eleição do PR, abordando ainda assuntos como a capacidade eleitoral, o sistema eleitoral, a organização do processo eleitoral, a campanha eleitoral, a eleição (sufrágio, apuramento e contencioso eleitoral) e o ilícito eleitoral. O segundo estabelecia o regime eleitoral para a eleição dos órgãos das autarquias locais, principalmente a capacidade eleitoral, organização do processo eleitoral, campanha eleitoral, eleição e ilícito eleitoral.

Em 1979, surge a Lei Eleitoral da Assembleia da República (AR), por meio da publicação da Lei n.º 14/79, de 16 de maio e apenas em 1991, através da Lei n.º 31/91, de 20 de julho, publicada em Diário da República, surge a regulação da realização de sondagens e inquéritos de opinião destinados a publicação ou difusão em órgãos de comunicação social.

A Lei n.º 10/2000, de 21 de junho, também conhecida como a Lei das Sondagens, veio estabelecer o regime jurídico da publicação ou difusão de sondagens e inquéritos de opinião, tendo sido complementada com duas portarias:

Portaria n.º 118/2001, de 23 de fevereiro: a qual regulamenta o artigo 3.º da Lei n.º 10/2000, de 21 de junho;

Portaria n.º 731/2001, de 17 de julho: que altera a Portaria n.º 118/2001, de 23 de fevereiro.

Na tabela seguinte, encontram-se, de forma resumida, os principais documentos legais que regulamentam as sondagens em Portugal e o tempo de proibição de publicação de sondagens até ao ato eleitoral imposto por cada um deles.

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Tabela 2 - Legislação Portuguesa sobre Sondagens DL n.º 621-C/74, de 15 de novembro

Eleições legislativas: Dois meses, desde o termo de apresentação das candidaturas DL n.º 93-C/76, de 29 de janeiro

Eleições legislativas: Dois meses, desde o termo de apresentação das candidaturas DL n.º 319-A/76, de 3 de maio

Eleições para PR: 15 dias, desde o início da campanha eleitoral DL n.º 701-B/76, de 29 de setembro

Eleições autárquicas: 12 dias, desde o início da campanha eleitoral Lei n.º 14/79, de 16 de maio

Eleições para a AR: 80 dias, desde a data da marcação de eleições pelo PR Lei n.º 31/91, de 20 de julho

Sete dias

Lei n.º 10/2000, de 21 de junho Dois dias