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PARTE I: O TAYLORISMO E OS DILEMAS DA RACIONALIZAÇÃO DO

3. A apropriação dos “elementos científicos” do taylorismo

3.2 O taylorismo dos conselhos dos produtores

A posição elaborada por Carlo Petri e publicada no L’Ordine Nuovo – números 23 a 27, entre 25 de outubro e 22 de novembro de 1919 – assimila os elementos essenciais da reflexão de Lenin em dois sentidos: por um lado, pela incorporação e reforço de ideia de distinguir os aspectos científicos do sistema de Taylor, dando destaque a questão do estudo dos movimentos com a finalidade de diminuir o esforço e aumentar o rendimento; por outro lado, pela tentativa de se prevenir minimamente dos problemas vivenciados no país dos sovietes, expressos pela dificuldade de organização e administração da produção e pela necessidade de aliança, a preço de ouro, com “especialistas burgueses”. Isso num contexto – o italiano – em que a tomada do poder pelas forças proletárias não era uma realidade, ainda que aparecesse como uma possibilidade real e imediata. Em função dessas especificidades, os textos de Petri se tornam esclarecedores. Por um lado, por se tratar de um estudo mais específico e detalhado, a elaboração de Petri nos permite compreender questões pouco aprofundadas na posição de Lenin. Por outro lado, a ausência do contexto emergencial – que conduziu Lenin a introduzir elementos decididamente autoritários na proposta de aplicação do taylorismo – possibilitou que o autor indicasse com maior clareza elementos democráticos de uma apropriação socialista do taylorismo, indicando aspectos “utópicos” do desdobramento de tal processo.

A publicação, sob o título geral de O sistema de Taylor e os conselhos dos

produtores, divide-se em 5 capítulos e foi definida pelo autor, na conclusão do último

deles, como um “breve estudo do taylorismo” e um “desenho geral da sua aplicação na Sociedade dos Conselhos” (PETRI, 1919e, p. 209). No primeiro capítulo, Petri analisa aspectos mais gerais que diferenciam as estratégias socialistas e anarquistas (PETRI, 1919a, p. 178), sem ainda aprofundar os elementos que nos interessam diretamente. No segundo, cujo subtítulo é O sistema de Taylor e a organização científica do trabalho, o autor expõe os elementos considerados fundamentais do taylorismo, caracterizando-o como uma ciência fundada no “estudo experimental do trabalho” (PETRI, 1919b, p. 188)21 e colocando o

foco, assim como Lenin, no estudo dos movimentos no processo de trabalho. Segundo Petri, o objetivo das experiências de Taylor era “a determinação de uma eventual lei entre esforço e trabalho” e, assim, “mensuração do trabalho diário normal”, na medida em que, em todos os tipos de trabalho, “é possível determinar exatamente as condições, o método e as ferramentas para se obter o máximo aproveitamento com o mínimo esforço” (PETRI, 1919b, p. 188). Por isso, Petri destaca que, além de estabelecer as melhores condições e ferramentas para cada tipo de trabalho, o taylorismo se volta para o estudo experimental (com grupos de trabalhadores) da “série exata de operações e movimentos elementares” de cada trabalhador, buscando, com a ajuda do cronômetro, identificar, por um lado, os

movimentos que economizam mais tempo e, por outro, os movimentos lentos e inúteis.

Como consequência, é possível eliminar esses últimos e reagrupar os movimentos mais eficientes, definindo-se uma “sequência ótima” – um best way – de movimentos elementares.

A importância desses estudos científicos, ainda segundo Petri, se deve ao fato de que o empirismo nada tem a oferecer nestas questões, dada a complexidade que envolve cada fator de produção e, mais ainda, suas relações mútuas. Por isso que, muitas vezes, quando se estimula o operário a trabalhar mais – através de prêmios ou trabalho por peças – “obtêm-se o esforço máximo mas não o rendimento máximo” (PETRI, 1919b, p. 188). Daí resulta a importância do conceito de “tarefa-padrão”, cuja determinação e aplicação prática

21 Segundo Petri, através da “organização científica do trabalho” elaborada por Taylor, “o trabalho é

considerado objeto de um estudo experimental assim como a matéria é objeto de estudo por parte de um químico ou de um físico” (PETRI, 1919b, p. 188).

“dependem dos estudos prévios e de departamentos especiais para preparação e distribuição do trabalho” e cujo objetivo é dar “uma direção e uma instrução constante aos operários”, oferecendo todas as condições e instrumentos necessários e um sistema de remuneração que estimule cada operário a se doar de acordo com sua capacidade (PETRI, 1919b, p. 188). Assim, Petri afirma que a “filosofia da organização científica” resulta da combinação de quatro princípios fundamentais: 1) substituição dos métodos empíricos por métodos científicos; 2) “especialização e formação do operário”; 3) “controle de cada operário para que trabalhe individualmente de acordo com a regra estabelecida como científica”; 4) “divisão da responsabilidade e das tarefas entre direção e operário, distribuindo a cada parte exatamente o que é de sua competência” (PETRI, 1919b, p. 189).

Dessa forma, Petri finaliza sua apresentação dos princípios tayloristas, fundados na “divisão de tarefa entre parte executiva e parte diretiva, juntamente com uma forma

estimulante de salário”, sem qualquer contestação a este princípio da separação entre

concepção e execução, mas, ao contrário, exaltando essa “ousada extensão a toda a vida do método experimental da ciência exata aplicada”, a qual, apesar de não trazer uma contribuição nova ao “pensamento puro”, traz benefícios ao “bem-estar” e, por consequência, ao pensamento e a moral. (PETRI, 1919b, p. 189)22. Assim, as diferenças decorrentes da aplicação não-capitalista do taylorismo só aparecem no capítulo seguinte, intitulado Análise de alguns conceitos do taylorismo, em que o autor procura, em primeiro lugar, mostrar a possibilidade de apropriação do taylorismo no âmbito da sociedade comunista para, ao final, indicar que a “organização científica” impõe duas exigências que ultrapassam os limites estritos da “técnica científica do trabalho” e que, na verdade, só podem ser satisfeitas através da superação do capitalismo: 1) “a colaboração ativa dos produtores”: o desenvolvimento de relações cordiais entre direção (não o patronato) e operários que permitam, sem frenagem e sem perda de tempo, a divisão das funções e das tarefas; 2) a realização, por parte do operário, do seu trabalho com interesse e boa vontade (PETRI, 1919c, p. 198). Nesse ponto, começa a aparecer uma ideia que será expressamente formulada apenas no último capítulo da série: o capitalismo não oferece as condições

22 Anteriormente, Petri já havia definido o sistema de Taylor da seguinte forma: “o sistema de organização

científica do trabalho em Taylor não é, portanto, apenas uma complexa tecnologia, mas uma verdadeira ciência da vida em todas as suas manifestações úteis” (PETRI, 1919b, p. 188).

necessárias para a “verdadeira aplicação dos princípios e dos métodos do taylorismo” e que “o comunismo, que está no coração do operário, pode revigorar o mecanismo perfeito que o taylorismo construiu” (PETRI, 1919e, p. 209). Mas vejamos melhor o percurso analítico de Petri antes de tais afirmações.

No início do terceiro capítulo, Petri destaca (ingênua ou eufemisticamente) que o sistema de Taylor “parece pressupor a organização capitalista da economia” e que Taylor, como “homem eminentemente prático”, pensou sua aplicação imediata e “não se ocupou e nem se preocupou com a possibilidade ou a conveniência da transformação das relações econômicas e políticas entre as classes da sociedade” (PETRI, 1919c, p. 197). Por esse motivo, o autor retoma elementos do capítulo anterior para destacar “a parte verdadeiramente científica” do sistema: a determinação de normas de trabalho, objetivando maior produção com menor esforço – ou seja, a definição do “caminho mais curto”, que é a “essência da ciência” (PETRI, 1919c, p. 197). Assim, ele expõe com clareza seu ponto de vista: “esta parte do sistema – parte técnica – é independente do sistema de retribuição e do tipo de economia social. (...) A técnica do trabalho, como a máquina, são invariantes em relação ao tipo social” (PETRI, 1919c, p. 197)23. Se o lado técnico é independente, qual

seria então os limites da formulação de Taylor? Em certo sentido, o equívoco de Taylor seria justamente o de pressupor, na formulação de seu sistema, a organização capitalista da economia ou, nas palavras do autor, o princípio da “comunhão de interesses entre patrões e operários” (PETRI, 1919c, p. 197).

Para demonstrar essa ideia, Petri ressalta que Taylor insistia especialmente na luta contra a sabotagem e a frenagem da produção pelo operário e, num plano mais geral, criticava a lógica egoísta que orientava tanto operários quanto industriais, segundo a qual o ganho de um lado representava uma perda equivalente do outro – o que ficou conhecido como “conflito de soma zero”. Assim, para se contrapor a tal lógica, Taylor defendia a “comunhão de interesses entre patrões e operários”, em que o aumento contínuo da produção proporcionaria, por um lado, o aumento dos ganhos para o empregador e, por

23 Algo semelhante ao que Gramsci afirmará, no ano seguinte, no mesmo L’Ordine Nuovo: “Numa fábrica, os

operários são produtores na medida em que colaboram – organizados de um modo rigorosamente

determinado pela técnica industrial, ao qual, em certo sentido, é independente do modo de apropriação dos valores produzidos – na preparação do objeto fabricado” (GRAMSCI, 2004, p. 407, grifos meus).

outro lado, o aumento do poder de consumo dos trabalhadores, com produtos mais baratos e salários mais altos. No entanto, Petri considera equivocada a pretensão de conciliar “o representante do não-trabalho ou do trabalho inútil” com aqueles que lutam contra ele, de forma que aparecia, então, o “primeiro erro” de Taylor: “a confusão entre patrão e dirigente”. Isso porque, apesar do pessoal técnico e diretivo aparecer como representante do lado patronal, do ponto de vista da produção, é possível haver uma “comunhão de interesses entre todos os produtores sejam eles operários, contramestres, engenheiros ou administradores, desde que façam um trabalho útil”. Assim, para corrigir a confusão de Taylor, Petri propõe a substituição da “comunhão entre patrões e operários” pela “comunhão entre produtores com diversas funções” (PETRI, 1919c, p. 197), do que resultaria a “colaboração ativa” entre eles e o interesse e boa vontade do operário em realizar o seu trabalho (PETRI, 1919c, p. 198).

No quarto capítulo, intitulado A organização dos conselhos, é que o autor apresenta os elementos práticos necessários para que essas “duas condições psicológicas” sejam satisfeitas e, assim, lança ideia de que “para a concretização do sistema Taylor, é preciso unificar a tecnologia sistemática do trabalho com a fé e a vontade comunista”, o que é possível a partir da estrutura dos Conselhos (PETRI, 1919d, p. 205). Segundo a argumentação de Petri, no capitalismo, a produção é regulada de acordo com o lucro e a riqueza de classe está em contradição com a riqueza social, do que resulta o fato de que “o capitalista compreende o sistema [de Taylor] de modo atomístico e privativo: obter o máximo rendimento do trabalho que paga, isto é, ter o máximo ganho”. O trabalhador tende a reagir a esse “estado de coisas injusto” através da “redução voluntária do rendimento” com o objetivo de defender o valor de seu próprio trabalho. Ao que parece, para Petri, o taylorismo, na sua aplicação capitalista, permanece refém da própria lógica que pretende combater: no capítulo seguinte, Petri afirma que, no capitalismo, “o método de Taylor é incapaz de suscitar a vontade ativa do operário” e que, por isso, “o lado psicológico do taylorismo é extremamente frágil”, pois “a partir da regra científica não é dedutível uma norma de conduta” que supere a luta dos produtores comunistas contra o capitalismo (PETRI, 1919e, p. 209). Dessa forma, na versão capitalista do taylorismo, convivem uma

“máxima divisão efetiva [do trabalho] e uma harmonia apenas formal” (PETRI, 1919e, p. 209).

Deste apontamento crítico à aplicação capitalista da organização científica, já se pode extrair um elemento central da proposta do taylorismo “conselhista” de Petri: a manutenção da “máxima divisão” das tarefas, mas fundada numa harmonia efetiva (e não somente formal) entre os produtores vinculados às mais diversas funções e na existência de uma consciência de conjunto em cada um deles. Mas por que a “sociedade dos conselhos” permite a passagem da “harmonia formal” para a “harmonia efetiva” e, por outro lado, exige a manutenção da “divisão máxima” das tarefas? Petri indica os primeiros elementos para uma resposta ao falar das condições necessárias para a – e das possibilidades abertas pela – sociedade comunista: por um lado, em função do “objetivo ideal” de oferecer a cada um de acordo com suas necessidades, o comunismo necessita, “por definição”, “obter o máximo da produção” e, por outro lado, ele torna “a condição psicológica do operário favorável à produção”, do que resulta “boa vontade”, “disciplina voluntária”, “consciência do processo produtivo” e “cooperação íntima entre a parte executiva e a parte diretiva” (PETRI, 1919d, p. 205).

No entanto, esses apontamentos não esclarecem ainda o motivo da necessidade de manutenção da divisão rigorosa das tarefas. A resposta, em certa medida, já foi dada: as técnicas do trabalho, assim como as máquinas, sobrevivem à transformação da sociedade. A ciência indica o “caminho mais curto”, mas é incapaz de impor uma norma de conduta, enquanto o entusiasmo operário, a cordialidade e a consciência do processo produtivo proporcionam máximo esforço, mas não necessariamente máximo rendimento, em função dos limites do próprio empirismo. Assim, o operário, convencido de que os inconvenientes do capitalismo serão eliminados, deve, desde já, “adquirir a capacidade técnica para produzir o máximo: para essa finalidade, juntamente com a habilidade profissional, o sistema de Taylor é o meio adequado”. Em outros termos, é a parte científica do taylorismo que oferece ao operário, psicologicamente favorável à produção, “as condições para que a cada quantidade de esforço corresponda o efeito útil máximo” (PETRI, 1919d, p. 205).

Em síntese, “somente no terreno mais humano do comunismo o taylorismo adquire um significado de utilidade social, uma vez que maior produção significa maior bem-estar,

sem limitações” (PETRI, 1919d, p. 205). Ainda segundo Petri, como o comunismo exige produção máxima, “tudo que aumenta os meios de produção ou sua potencialidade favorece a Revolução” e, em relação a isso, deve-se evitar o “desconforto” e a “reação sentimental”, posto que tais elementos não formam um revolucionário. Para ser revolucionário e transformar a sociedade, é preciso “frieza de espírito” e “os melhores argumentos devem ser os números”. Isso não significa, ainda segundo Petri, “diminuir a riqueza da própria vida interior” do operário, mas “aumenta-la separando-a da lógica que deve orientar a compreensão dos fatos”, e no que se refere à produção isso significa que deve-se aceitar “a expressão e o resultado da lógica mais elevada: a ciência e o sistema de Taylor”.

Tal insistência em defesa da “frieza” dos números e contra qualquer “sentimentalismo” não é gratuita e nos remete aos sentidos e limites do taylorismo neste terreno mais humano. É que essa “humanização” do taylorismo não implica uma alteração no que se refere à separação entre a parte diretiva e a parte executiva do trabalho, porque “a determinação da norma de cada trabalho é uma tecnologia: os métodos da ciência só podem ser objeto de discussão de caráter científico e deve ser feita pelos peritos em local apropriado”. Ela também não implica uma reversão no processo de “mecanização do operário”, o qual, em compensação, deveria ter uma participação “ativa e inteligente” no processo de estudos dos movimentos e deveria encarar a rotina de gestos repetitivos como um atleta encara o treinamento muitas vezes enfadonho:

Os operários não devem rejeitar o conceito fundamental da tecnologia do trabalho. É verdade que, por exemplo, o estudo dos movimentos e a seleção dos mais úteis conduz na prática à mecanização do operário, mas a garantia e a fecundidade do resultado dependem da cooperação ativa e inteligente do operário em questão, e não há por isso nada de aviltante no estudo experimental do trabalho. O produtor deve se submeter à norma que os escritórios e os laboratórios, especificamente utilizados para este fim, tenham formulado, como um esportista se submete ao exercício enfadonho e rítmico do treinamento, que pode fazer valer a pena todo o seu esforço (PETRI, 1919d, p. 205).

Petri alega que é preciso que os operários assimilem a ideia da tarefa-padrão e se mobilizem a favor de sua fixação, através de uma “nobre competição” para definir a quantidade de produto possível de ser extraída dentro de um limite de esforço que não

implique prejuízo ao operário, o “produto-padrão”24. A padronização da tarefa e do produto

a ser obtido devem permitir a eliminação do “trabalho [pago] por peça que é a negação do comunismo porque é a síntese da escravidão assalariada com o individualismo mais tacanho”. Assim, o cumprimento da norma mínima e obrigatória de produção não seria motivado pelo estímulo salarial, mas pelo compromisso com a comunidade25, de modo que, caso um operário, “por pouco espírito comunista”, não produza a norma estabelecida, a questão seja posta em discussão para as correções necessárias (PETRI, 1919d, p. 205-206).

Em síntese, pode-se dizer que, como a “técnica de trabalho” é mantida, nada se altera em relação à separação entre concepção e execução no processo de trabalho, mas é preciso destacar também que, segundo a proposta de Petri, tal condição ganha um significado completamente diferente em função da própria organização a partir dos conselhos. De acordo com a concepção dos conselhistas italianos do período, os conselhos representavam a base do novo sistema representativo e produtivo, numa fusão entre superestrutura e base econômica. Assim, a ideia expressa por Lenin de estender a organização científica para o conjunto da sociedade ganha um contorno específico na formulação de Petri: “a adesão do Conselho à produção realiza a organização científica da produção como organização científica da sociedade”. Assim, “na formação dos Conselhos o processo tradicional autoritário é invertido”, do modo que “o produtor deixa de ser máquina e se torna um elemento ativo e consciente da produção”, desde que eles mantenham quatro elementos essenciais na sua organização: 1) “formação a partir de baixo”; 2) “revogabilidade dos mandatos”; 3) “diferenciação de funções”; 4) “adesão íntima ao processo produtivo” (PETRI, 1919d, p. 205). Nesse ponto reside a grande diferença do “taylorismo conselhista” em relação a sua aplicação capitalista, pois os conselhos formam um “organismo” que é expressão (espontânea e ao mesmo tempo controlada) da própria vontade dos produtores, o que permitiria uma divisão estritamente

24 “Os operários devem estar intimamente convencidos sobre esse ponto que é central e de capital importância

para a produção: “uma hora de trabalho” não indica nada; a medida deve ser dada pelo produto possível em

uma hora e isto equivale a produto obrigatório” (PETRI, 1919d, p. 206).

25 “É preciso que os operários assimilem esta ideia de medida do valor do produtor. Quem não faz o seu

melhor para dar o “produto-padrão” em quantidade e qualidade, trapaceia e engana a comunidade” (PETRI, 1919d, p. 205-206).

“funcional e não-autoritária” e uma colaboração ativa entre os operários e todo o pessoal técnico da “parte diretiva”.

No que se refere à incorporação do taylorismo, as tarefas dos conselhos não se diferem do modelo “clássico”: 1) estudar de modo experimental (geral e sistemático) todas as formas, condições, instrumentos de trabalho; 2) supervisionar e manter a eficiência do operário, por meio de um especialista; 3) fixar a tarefa-padrão; 4) estabelecer escritórios competentes para a divisão do trabalho, da responsabilidade e das tarefas. No entanto, a forma de realização de tais tarefas se altera profundamente. Nesse sentido, um elemento importante, além da premissa de organização a partir da base, é a ideia de que “os operários elegerão os especialistas encarregados de supervisiona-los, corrigi-los, avalia-los e controla-los na figura do delegado de equipe ou de um conselheiro especial” (PETRI, 1919d, p. 205). No entanto, esse mecanismo, por si só, seria insuficiente para geração da “cooperação ativa”, da “comunhão de interesses” e, de modo mais amplo, de uma “consciência de produtor”, ainda mais que, inicialmente, o Conselho teria que atrair e absorver escritórios e os especialistas externos, até o momento em que poderá criar “no seu próprio seio os especialistas”. Em relação à construção da consciência dos produtores, entra em cena a questão da formação tanto dos operários quanto dos “especialistas”, a qual é enfrentada no quinto e último capítulo, intitulado A escola, através da proposta de integração entre os Conselhos de produtores e o sistema educativo, o que permitiria uma integração entre educação e trabalho – e a formação para o trabalho manual e intelectual – desde o início da formação da criança.

No que se refere aos especialistas, é preciso lembrar que Nas tarefas imediatas do

poder soviético, Lenin (LENIN, 1980, p. 564-570) coloca a centralidade dessa questão, pois

o foco na “ofensiva contra o capital” tinha deixado em atraso as questões ligadas à administração e o poder soviético sofria com a falta de especialistas identificados com a revolução bolchevique, posto que os “especialistas burgueses” estavam nas fileiras da contrarrevolução ou resistiam passiva e tenazmente por meio da sabotagem sistemática da produção. A única solução foi recorrer aos salários elevados a esses elementos hostis, o que representava não somente um alto custo, mas um “passo atrás” e um “desvio dos princípios da Comuna de Paris e de qualquer poder proletário”. E, assim, ele alerta:

quanto mais depressa nós, operários e camponeses, aprendermos uma melhor