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3 A TEORIA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS, O DIREITO À

3.4 O DIREITO FUNDAMENTAL SOCIAL À EDUCAÇÃO

3.4.1 O direito à educação na Constituição de 1988

3.4.1.1 O titular do direito, os coobrigados e os colaboradores

A educação é um direito fundamental social, nos termos do art. 6º da CF/88. Representativo da segunda geração dos direitos fundamentais é titularizado por todos (art. 205). Inexiste na Constituição qualquer ressalva expressa ou velada a respeito. Assim, cuida-se de um

[…] direito de toda pessoa, sem discriminação e sem limites de tempo ou espaços exclusivos para o seu exercício. É direito da criança e do adulto, da mulher e do homem, seja qual for a sua capacidade física ou mental, sua condição e situação. (MONTEIRO, 2003, p. 769).

38 Segundo Barcellos (2009, p. 01) parece correto afirmar que existe um amplo consenso na

sociedade brasileira – teórico ao menos – no sentido da importância central da educação para a dignidade e o desenvolvimento pessoal de cada indivíduo, para o desenvolvimento econômico e social do país e, igualmente, para a consolidação do regime democrático.

O direito de todos à educação exige do Estado atuar, inclusive com prioridade, para disponibilizar a sua fruição indiscriminada (arts. 205, 208, 227 da CF/88 particularmente). Assim, incumbe ao Estado efetivamente assegurar a educação básica obrigatória e gratuita dos 04 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, compreendendo tal dever o oferecimento desse nível de educação escolar a todos os que a ele não tiveram acesso na idade própria (art. 208, I). A educação básica é composta pela educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio (art. 21, I da Lei 9.394/96, Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB)).

A educação infantil atende as crianças que se encontram na faixa etária entre 0 (zero) e 05 (cinco) anos de idade. Para crianças de até 03 (três) anos de idade o serviço educacional será prestado em creches ou entidade equivalentes, ao passo que para as crianças de 04 (quatro) a 05 (cinco) anos de idade o atendimento educativo será efetuado em pré-escolas. Frise-se que a obrigatoriedade e gratuidade limitam-se ao ensino pré-escolar das crianças entre 04 (quatro) a 05 (cinco) anos de idade (art. 208, I e IV, da CF/88 c/c os arts. 29 e 30 da LDB).

O ensino fundamental com duração de 09 (nove) anos é obrigatório, inicia-se em regra aos 06 (seis) anos de idade e deve ser disponibilizado gratuitamente nas instituições públicas de ensino (art. 32, caput, LDB). A fim de assegurar concretamente sua universalização e eficácia, deve o poder público recensear os educandos, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela frequência escolar (art. 208, § 3º).

Quanto ao ensino médio, última etapa da educação básica, com duração mínima de 03 (três) anos, é obrigatório, e a universalização progressiva de sua oferta gratuita é meta imposta ao Estado (art. 35 da LDB e 208, II, da CF/88).

Deve o Estado oferecer o ensino noturno regular adequado às condições do educando (art. 208, VI). Incumbe ainda ao poder público, em todas as etapas da educação básica, atender aos estudantes por meio de programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde (art. 208, VII).

Averbe-se por fim, que o acesso à educação básica constitui-se direito subjetivo público e o seu não-oferecimento pelo poder público, ou sua oferta irregular, importa responsabilidade da autoridade omissa ou desidiosa (art. 208, §§

1º e 2º).

No que se refere ao ensino superior, cabe ao Estado assegurar o acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística em razão do mérito individual dos que pretendem o ingresso ou, ainda, por meio do atendimento pelo interessado dos critérios fixados nas políticas de cotas (art. 208, V).

Cumpre aqui destacar, por se relacionar aos dois níveis de ensino (básico e superior), em quaisquer das suas etapas e modalidades, o direito das pessoas com deficiência à educação. Em função do direito que assiste a todos (art. 205), aos alunos com deficiência deve ainda o poder público garantir o atendimento educacional especializado, preferencialmente na rede regular de ensino (art. 208, III). Tal particularização do conteúdo do direito à educação que se afigura como verdadeiro plus de modo algum significa privilégio ou diferenciação arbitrária, discriminatória ou odiosa. Cuida-se de garantia direcionada a viabilizar ao educando com deficiência a equalização de oportunidades em face dos alunos não deficientes.

Assim, o atendimento educacional especializado proporciona a satisfação das necessidades peculiares (necessidades educacionais especiais) e que, caso desconsideradas, na maioria das vezes, implicaria a negação aos que integram a coletividade com deficiência do pleno gozo do direito humano/fundamental à educação.

Entretanto, o direito de todos à educação impõe não só a atuação estatal no sentido de disponibilizá-lo. Com efeito, sua magna importância cobra da instituição familiar imprescindível protagonismo no processo educativo, que, na sociedade contemporânea, desdobra-se ao longo da vida e demanda formação e reciclagem contínuas.

O significativo papel da família na educação das novas gerações, referido especialmente nos arts. 205, 208, § 3º, 227 e 229 do texto constitucional, sempre foi reconhecido e aquilatado na literatura universal e no cotidiano convívio social, dentre as múltiplas funções da instituição constitutiva da base da sociedade.

Considere-se que “a educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais” (art. 1º, caput da LDB).

Os esforços do Estado e da família empreendidos para promover e incentivar a educação não prescindem da colaboração da sociedade como um todo, precipuamente das instituições privadas com e sem finalidade lucrativa. De início, acentue-se que a coexistência de instituições públicas e privadas de ensino assume o status de princípio setorial nos termos do art. 206, III, CF/88, devendo ser lembrado que a livre iniciativa é um dos valores sociais que alicerçam o Estado Democrático de Direito, conforme dispõe o art. 1º, IV, do texto constitucional vigente. Conforme será visto mais adiante, os serviços educacionais são encartados dentre os serviços públicos não privativos do Estado, o que possibilita ao particular empreendê-los independentemente de concessão ou permissão do poder público. Todavia, ainda que livre à iniciativa privada, o interessado deve atender exigências constitucionalmente fixadas, a saber: o cumprimento das normas gerais da educação nacional; ser autorizado; e, por fim, submeter-se à avaliação de qualidade a cargo do poder público (art. 209, I e II, CF/88).

As instituições privadas que atuam na prestação de serviços educacionais desprovidas de animus lucrandi integram o terceiro setor. São tradicionais parceiras do poder público nos âmbitos federal, estadual, do Distrito Federal e municipal e, por isso, são incentivadas pelos entes federativos por meio do fomento social no contexto das políticas públicas educacionais.

Nos termos da Constituição (art. 213) e da LDB (art. 20) tais organizações não-governamentais são referenciadas com as denominações pelas quais são (re)conhecidas no meio social: escolas comunitárias, confessionais e filantrópicas.

Consoante o já mencionado art. 213, as escolas do setor parceiro serão incentivadas com recursos públicos (financeiros, materiais e humanos) a fim de que incrementem suas atividades tendentes à concretização do direito fundamental social à educação, caso preencham os seguintes requisitos:

a) comprovem não perseguir o lucro e invistam seus excedentes financeiros na educação;

b) assegurem que, na hipótese de eventual encerramento de suas atividades, o patrimônio institucional será carreado a outra escola comunitária confessional, filantrópica ou será incorporado ao patrimônio público.