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5.7 MÉTODOS E TÉCNICAS DE COLETA E ANÁLISE DE DADOS 130 !

5.7.1 Observação Direta 131 !

Yin (2002) afirma que, em geral, as provas observacionais são úteis para fornecer informações adicionais sobre o tópico que esta sendo estudado. A observação é um tipo de registro importante das características relevantes do estudo de caso. Ao se realizarem visitas de campo, são criadas oportunidades para observações diretas. As observações do empreendimento foram realizadas ao longo dos primeiros meses de execução dos empreendimentos X1, X2 e Y1 (visto que o empreendimento Y2 ainda não havia iniciado quando do encerramento do estudo). Não houve uma periodicidade pré-determinada na realização das observações, mas as mesmas coincidiram com a realização das reuniões do PSP, que aconteceram nos respectivos canteiros de obra.

Basicamente, estas observações tiveram como foco identificar evidências da operacionalização das decisões do PSP na fase de execução, tais como: atendimento ao plano de ataque do empreendimento e à seqüência de execução das unidades-base; além do emprego das ferramentas geradas ao longo do processo de elaboração do PSP na fase de execução.

Uma fonte de registro das evidências foi baseada nos registros redigidos pelo pesquisador no momento da ocorrência dos fenômenos observados, através da utilização do caderno de campo (EASTERBY-SMITH; THORPE; LOWE, 1991). Além de apoiar o registro de evidências da observação direta, o caderno de campo foi utilizado durante todo o desenvolvimento dos estudos de caso, como forma de registro das reuniões de elaboração do PSP, principais demandas surgidas ao longo do processo, entre outras.

5.7.2 Observação Participante

De acordo com Yin (2002), a observação participante é uma modalidade especial de observação na qual o pesquisador não é apenas um observador passivo, assumindo uma variedade de papéis dentro do estudo de caso, vindo a participar dos eventos que estão sendo estudados.

Uma vez que o foco deste trabalho refere-se ao processo de elaboração do PSP, a observação participante foi uma das principais oportunidades para coleta de dados durante este trabalho. Nesse caso, durante as reuniões de elaboração do PSP este pesquisador assumiu um papel ativo na implementação e desenvolvimento do processo. Esse papel atuante do pesquisador é um pressuposto da pesquisa construtiva.

Desta forma, em todas as reuniões realizadas os resultados das observações foram anotados no caderno de campo (quem eram os participantes, a duração das reuniões, os assuntos tratados e seus desdobramentos). Além dos dados sobre a reunião, as principais reflexões acerca das informações coletadas foram registrados. Estas anotações serviram de base para discussões posteriores entre a equipe de pesquisa, bem como para criar um histórico do processo para futuras reflexões.

5.7.3 Análise de Documentos

A principal utilidade dos documentos é corroborar as informações obtidas através de outras fontes. Além disso, também é possível fazer inferências a partir da análise documental. A análise documental foi utilizada durante a realização dos estudos, apoiando o desenvolvimento do PSP nos empreendimentos estudados.

Os planos de longo prazo dos empreendimentos estudados foram utilizados como fontes de evidências da utilidade das decisões do PSP para a gestão dos empreendimentos. Da mesma forma, planos de curto prazo foram fontes de evidências quanto à operacionalização das decisões do PSP, no que diz respeito à observância do plano de ataque e seqüência de execução da unidades-base.

5.7.4 Entrevistas

Segundo Yin (2002) as entrevistas são fontes de evidências essenciais no desenvolvimento de estudos de caso já que uma de suas principais vantagens é que estas possibilitam a realização de inferências sobre os dados registrados segundo a percepção dos entrevistados.

Foi realizada uma entrevista semi-estruturadas, cujo roteiro encontra-se no apêndice A, com os envolvidos no processo de elaboração do PSP, nos estudos de caso 1 e 2. Buscou-se obter suas percepções acerca do processo de elaboração e do uso da simulação como ferramenta de apoio à tomada de decisão. Foram entrevistados o engenheiro de produção e a arquiteta

responsável pelos sistemas de planejamento e qualidade da empresa X. A entrevista ocorreu no final do estudo 2, referindo-se aos dois estudos realizados na empresa. Nos estudos de caso 3 e 4, o engenheiro coordenador dos empreendimentos Y1 e Y2 foi entrevistado por ocasião da preparação de uma reunião para apresentação dos resultados do estudos de caso 4 à equipe de engenharia da empresa Y. Esta entrevista procurou avaliar a utilidade do PSP, a partir da percepção deste quanto aos principais benefícios e dificuldades no processo de elaboração.

É importante salientar, entretanto, que ao longo de todos os estudos os seus participantes eram questionados sobre aspectos relevantes no desenvolvimento do processo. Estas questões tiveram como objetivo captar as principais impressões destes sobre o PSP e sobre o uso da simulação, principais dificuldades e benefícios percebidos. As respostas a esses questionamentos eram registradas no caderno de campo, sendo posteriormente analisadas e discutidas pela equipe de pesquisa.

6 DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA

6.1 INTRODUÇÃO

Este capítulo apresenta os quatro estudos de caso desenvolvidos nesta tese. Faz-se uma descrição das atividades desenvolvidas no âmbito da elaboração do Projeto do Sistema de Produção dos empreendimentos e, em especial, do desenvolvimento e emprego da simulação como uma ferramenta de apoio à tomada de decisão. Cada estudo é concluído com uma análise à luz dos objetivos desta tese.

6.2 ESTUDO EXPLORATÓRIO

Conforme discutido anteriormente, o estudo realizado modelou apenas um processo produtivo de forma isolada, neste caso o processo de aplicação de revestimento externo dos dezoito pavimentos-tipo do empreendimento (compreendendo o intervalo entre o 3º e 20º pavimentos). A escolha deste processo ocorreu por sugestão do engenheiro de produção, considerando que o processo representava um processo crítico, pois sua execução determinava a possibilidade de antecipação de processos subseqüentes e, desta forma, o prazo final do empreendimento. Ainda, a partir da realização deste estudo seria possível estender seus resultados a outros empreendimentos da empresa no mesmo nicho.

Assim, a necessidade de desenvolvimento do modelo de simulação surgiu como uma forma de estudar como diferentes estratégias de execução do referido processo poderiam resultar na redução do lead time deste processo sem, no entanto, o aumento da capacidade dos recursos de produção já previstos (principalmente mão-de-obra).

De forma resumida, o processo de revestimento consistia de quatro etapas: montagem dos jaús46, aplicação de chapisco, aplicação de reboco e desmontagem dos jaús. O processo de aplicação de revestimento seria dividido por fachada – num total de 4, norte, sul, leste e oeste. Estas, por sua vez, seriam divididas em um número panos (faixas) que corresponderiam ao número de jaús utilizados em cada fachada, cada uma destas especificada a uma determinada equipe de trabalho.

De acordo com o plano de longo prazo do empreendimento, documentos-padrão para todos os empreendimentos da mesma tipologia executados pela empresa W, o processo de execução de argamassa de revestimento (designado nos documentos da empresa por “massa mista”), iniciaria somente após a conclusão do processo de elevação da alvenaria de todos os 18 pavimentos da torre. A partir deste momento, seria feita a montagem dos jaús, após a qual seria iniciada a aplicação do chapisco, partindo do 3º pavimento em direção ao 20º, ou seja, de baixo para cima. Concluído este processo, ocorreria uma espera de 7 dias para a cura da argamassa, após a qual o processo de aplicação de reboco e emboço ocorreria no sentido contrário, ou seja, de cima para baixo.

Com base nestas condições de execução, procedeu-se um estudo que simulasse o processo de execução de revestimento de fachada testando algumas estratégias de execução que visavam reduzir seu lead time total, através da redução do lote de transferência, ou seja, antecipar a execução do revestimento, iniciando-o sem a necessidade de aguardar o término da elevação de alvenaria.

Na prática, isto significa, estabelecer o número de pavimentos que deveriam ter a elevação da alvenaria concluída para que o processo de revestimento pudesse iniciar sem que este sofresse interrupções pela falta de alvenaria concluída, considerando a variabilidade nas durações dos processos de alvenaria e revestimento, este último em especial devido à alta variabilidade que normalmente existe entre as equipes. Assim, o processo de revestimento seria executado em dois lotes, o primeiro correspondendo a um número de pavimentos cujo lead time fosse no mínimo igual ao lead time do processo de alvenaria nos demais pavimentos, e o segundo correspondendo aos demais pavimentos.

46 “Jaú” é um andaime suspenso por cabos ou cordas, que se move na vertical e é empregado nos trabalhos

O estudo de caso teve início no mês de novembro de 2006, a partir de uma reunião com o engenheiro da obra. Procedeu-se uma coleta dos dados necessários à caracterização do problema, através de uma entrevista com o engenheiro de produção e da análise de um conjunto de documentos da empresa (plano de longo prazo, planos do processo de revestimento utilizados em outros empreendimentos similares). Com base nestas informações, passou-se a elaboração de um modelo, no qual foram representadas as atividades que compunham o processo, assim como as suas interdependências, utilizando o próprio software de simulação, através da modelagem do processo no formato de fluxograma.

A partir da elaboração deste modelo, realizada pelo pesquisador, procedeu-se uma validação da sua lógica, por meio de uma técnica chamada inspeção estruturada (structured walkthrough)juntamente com o engenheiro de produção da empresa. Com base nessa inspeção, percebeu-se a necessidade da realização de algumas correções no modelo, especificamente através da inserção de algumas atividades que não haviam sido consideradas no processo de coleta de dados. A figura 31 apresenta a segunda versão do modelo conceitual.

Figura 31: segunda versão do modelo conceitual desenvolvido

Para cada uma das atividades que compunham o modelo, buscou-se determinar, através de informações do engenheiro de produção, as funções distribuição de probabilidade de cada atividade. Inicialmente, pretendia-se estabelecer algumas distribuições com base em dados históricos de empreendimentos passados. Entretanto, isto não foi possível dado que no

empreendimento sob estudo ocorreram modificações no grau de ornamentação das fachadas, o que acarretou um aumento substancial nas durações.

Desta forma, optou-se por estabelecer as durações das atividades a partir da experiência do engenheiro de produção, na forma de uma distribuição triangular, na qual os parâmetros definidores foram a duração mais otimista, a duração mais pessimista e a duração mais provável das atividades. No caso das durações da atividade de aplicação do revestimento, estas foram obtidas a partir de dados de produtividade das equipes, utilizados como divisores da área de cada pano em cada pavimento.

Foram simulados sete cenários. O cenário 1 considerou a estratégia de execução originalmente planejada no plano de longo prazo do empreendimento, como previamente explicado. Outras seis estratégias alternativas foram também simuladas. Nestas, os dezoito pavimentos repetitivos foram divididos em dois lotes de produção, o que permitiria iniciar o processo de aplicação do revestimento mais cedo, antes do término de todo o processo de elevação da alvenaria (cenário 1). O andar no qual o edifício seria dividido para originar os lotes de produção foi chamado de “ponto de corte”. A tabela 01, abaixo, sumariza os cenários simulados e apresenta os lead times médios do processos de estrutura, alvenaria e aplicação de revestimento, baseados em 40 replicações para cada cenário.

Tabela 01: cenários simulados

Cenário Ponto de Corte (andar) Lote 1 (andares) Lote 2 (andares) Lead Time Médio (dias úteis) Desvio-padrão 1 20 18 0 195,05 1,77 2 16 14 4 183,83 2,61 3 15 13 5 177,65 2,59 4 14 12 6 170,46 2,49 5 13 11 7 164,88 2,26 6 12 10 8 160,71 1,35 7 11 9 9 162,54 1,30

Fonte: modelo de simulação

De acordo com os resultados, a redução do tamanho do lote de produção reduz os lead times médios dos processos considerados. O melhor resultado foi obtido no cenário 6, no qual houve uma redução de aproximadamente 35 dias úteis no lead time dos três processos, em função da antecipação do início do processo de revestimento e com a redução dos tempos de espera. Desta forma, comprovou-se que a simples antecipação do início da execução do

processo de revestimento podia reduzir o lead time dos processos sob consideração, sem o aumento na capacidade dos recursos utilizados, considerada a mesma em todos os cenários simulados.