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6.3 ESTUDO DE CASO 1 140 !

6.3.3 Avaliação do Estudo de Caso 1 166 !

6.3.3.1 Utilidade 166!

No que diz respeito à contribuição do PSP para a percepção da necessidade de tomada de

decisão de forma conectada, o processo de elaboração do PSP contribuiu para que os

participantes percebessem a necessidade de tomar decisões de forma conectada. Isto pode ser percebido a partir de duas evidências. A primeira, foi a necessidade de envolver os principais subempreiteiros e fornecedores no processo, a fim de discutir e avaliar a exeqüibilidade de algumas decisões tomadas.

Para a definição da seqüência de execução da unidade-base, a proposta inicial elaborada pela equipe de gestão da empresa foi posteriormente discutida e revisada com os subempreiteiros de obra civil, instalações elétrica e hidráulica, aplicação de gesso e pintura, além do fornecedor de lajes pré-fabricadas. Os subempreiteiros contribuíram com as definições relativas à precedência das atividades, ao dimensionamento das equipes de produção, ao dimensionamento dos lotes de produção e transferência e dos tempos de ciclo.

No caso específico do fornecedor de lajes pré-fabricadas, sua participação foi necessária para viabilizar a estratégia de ataque dos conjuntos de casas, uma vez que esta decisão estava

diretamente relacionada à quantidade, tipos e periodicidade com que as lajes deveriam ser entregues no canteiro.

A segunda evidência, foi a necessidade de também envolver outros setores da empresa nas discussões, em função da implementação da abordagem de customização das unidades habitacionais. Para tanto, houve a necessidade de discussões entre a responsável pelo desenvolvimento do projeto e os responsáveis pela gestão da produção envolvendo, posteriormente, o setor de suprimentos da empresa. Um aspecto bastante marcante dessas reuniões disse respeito às discussões sobre os impactos negativos que a abordagem de customização – como até então realizada pela empresa – vinha causando no processo produtivo (conforme apresentado anteriormente). Assim, houve a necessidade de diversas iterações entre as áreas de projeto e produção, até que um consenso fosse atingido e uma nova estratégia de customização definida.

Já o surgimento de algumas demandas, por parte da equipe da empresa, para a avaliação dos impactos de decisões isoladas no sistema de produção como um todo, notadamente a avaliação, em termos dos impactos nos gastos e no prazo do empreendimento, de estratégias alternativas de execução do processo de radiers, bem como da utilização dos resultados desse estudo nas discussões envolvendo a equipe de produção e a diretoria da empresa (cujas opiniões eram divergentes), também corroborou para evidenciar a percepção da necessidade de tomada de decisão conectada.

Já quanto à utilização do PSP como referência na tomada de decisão na gestão do

empreendimento, com base na análise dos planos de longo e de curto prazo, na observação

direta do canteiro de obras e nas entrevistas realizadas com membros da equipe de produção da empresa, pode-se afirmar que as decisões oriundas do PSP foram implementadas de forma parcial na fase de execução do empreendimento.

Houve um engajamento por parte do engenheiro de produção em comunicar a seqüência de execução padronizada da unidade-base do empreendimento, através de reuniões com o mestre-de-obras e o técnico em edificações da empresa, responsáveis pela gestão no canteiro de obras. Entretanto, percebeu-se pouco ênfase em um controle mais estrito do fluxo de trabalho da equipes de produção, no sentido de garantir que as mesmas executassem seus processos de forma a concluí-los e executá-los com qualidade para que fosse seguido o plano de ataque do empreendimento. Nesse sentido, algumas discussões foram realizadas sobre a

necessidade de controle do número de operários em cada equipe, a fim de tentar alcançar os tempos de ciclo propostos, e as datas de entrega de trabalho entre um processo e outro por parte da equipe de gestão na obra (através do uso de checklists, por exemplo). A análise dos planos de curto prazo indicou que muitos pacotes de trabalho planejados não continham informações sobre as equipes responsáveis, limitando-se a registrar o subempreiteiro responsável, nem o período planejado para sua execução. Esta omissão acabava contribuindo para que não fosse enfatizado este tipo de controle.

Como anteriormente descrito, tanto os resultados dos estudos da estratégia de ataque dos radiers como o de dimensionamento das equipes de eletricistas foram efetivamente empregados durante a fase de execução. De acordo com o plano de curto prazo e com o engenheiro de obra, optou-se por executar os radiers de forma a concluí-los um pouco antes do início da execução da alvenaria dos blocos. Já com relação ao número de equipes de eletricistas, houve a contratação de uma equipe extra para complementar o efetivo em obra, uma vez que o número de equipes disponíveis vinha acarretando interrupções no fluxos de trabalho dos processos posteriores, como avaliado com o uso da simulação.

Com relação à contribuição para a sistematização do processo de tomada de decisão, de uma forma geral, a elaboração do PSP do empreendimento seguiu as etapas preconizadas no modelo de elaboração (SCHRAMM, 2004). Das seis etapas propostas, apenas a etapa de identificação e projeto de processos críticos não foi executada, uma vez que o estudo foi concluído durante a fase de execução e todos os processos já haviam sido iniciados.

Cabe destacar que a algumas etapas foi dispensado uma maior atenção para o seu desenvolvimento. Esta atenção refletiu-se no tempo demandado para sua consecução e no número de reuniões dedicadas à sua discussão (o esforço para a realização do PSP será discutido na análise do constructo facilidade de uso).

A definição da seqüência de execução da unidade-base, bem como o pré-dimensionamento das capacidades dos recursos de produção receberam especial atenção por parte da equipe da empresa. Em primeiro lugar, havia consenso de que a definição de uma seqüência de execução padronizada para os empreendimentos daquele nicho de mercado seria benéfica, uma vez que a mesma tipologia era utilizada em outros empreendimentos da empresa. Além disto, essa definição era fundamental para viabilizar a estratégia de customização que a empresa queria adotar.

Em segundo lugar, esta decisão representava uma informação de entrada para o estudo dos fluxos de trabalho na unidade-base e no empreendimento (etapas seguintes previstas no modelo de elaboração). Em especial, uma vez que se utilizaria a simulação para apoio nesta última decisão, mudanças na seqüência de execução impactariam diretamente no tempo de desenvolvimento do modelo (reduzindo a necessidade de retrabalho).

Desta forma, esta etapa efetivamente formalizou uma decisão que, embora outros empreendimentos similares já tinham sido executados, a seqüência de execução não havia sido discutida ou formalizada com vistas à sua análise e melhoria.

A atenção dispensada a esta decisão, gerou uma seqüência de execução bastante detalhada, com considerações sobre relação de precedência entre atividades, além das outras informações incluídas na ferramenta gerada para sua representação. Este detalhamento, se positivo por um lado, acabou acarretando diversas revisões do documento, a partir da avaliação feita pelo engenheiro e pelo técnico em edificações fora das reuniões do estudo. Esses ajustes freqüentes demandaram um tempo relativamente longo a esta etapa, bem como ao desenvolvimento do modelo de simulação.

A etapa de estudo dos fluxos de trabalho do empreendimento, acabou sendo desenvolvida em conjunção com a etapa anterior, uma vez que a definição dos lotes de produção e transferência dependiam, de certa forma, dos impactos desses nos fluxos de trabalho. O foco, nesse caso, recaiu sobre alguns processos em particular (como elevação de alvenaria e montagem de lajes).

A definição das estratégia ataque do empreendimento resumiu-se a formalizar uma decisão que já havia sido tomada pela direção da empresa juntamente com o engenheiro de obra. Esta decisão, na empresa Y, era tomada antes da etapa de comercialização do empreendimento e definia quais blocos de casas seriam entregues primeiro e como os blocos restantes deveriam ser entregues.

O estudo dos fluxos de trabalho no empreendimento foi realizado utilizando o modelo de simulação como principal ferramenta. Esse estudo foi viabilizado, uma vez que uma das formas de representar as saídas do modelo era uma linha de balanço utilizada durante as discussões. Como já discutido, em função do longo tempo de desenvolvimento das fases anteriores, seu emprego resumiu-se à segunda fase do empreendimento. Além de discutidas

durante as reuniões, as linhas de balanço geradas eram analisadas pelo engenheiro de obra em outro momentos.

A etapa de dimensionamento dos recursos de produção foi realizada em conjunção com o estudo dos fluxos de trabalho, a partir do modelo de simulação. Basicamente, foram analisados impactos do aumento de algumas equipes ou redistribuição das atividades entre equipes e seus impactos nos fluxos de trabalho e nos prazos do empreendimento.

Ao longo do estudo, percebeu-se que havia um engajamento da equipe da empresa na consecução das demandas surgidas ao longo das discussões como, por exemplo, a obtenção de informações junto a fornecedores e à própria obra, definições de decisões pendentes.

Durante o desenvolvimento do estudo, alguns conceitos relacionados à gestão da produção foram discutidos. Durante as discussões acerca da implementação da abordagem de customização, as vantagens da flexibilidade de produto52 foi introduzida.

A utilização da linha de balanço permitiu a visualização dos conceitos de lote de produção e lote de transferência, conceitos fundamentais para a modelagem dos processos produtivos para a simulação. Diferentes combinações ente tamanhos de lotes de produção e transferência foram testados ao longo das reuniões e seus efeitos percebidos pela equipe. A possibilidade de redução nos lead times de produção a partir da redução dos tamanhos dos lotes também foram discutidas ao longo do processo.

Concomitantemente, a diferença entre os fluxos de trabalho e o fluxo do produto ou, conforme Shingo (1996) em seu “Mecanismo da Função Produção”, entre operações e processos, também foram evidenciadas a partir do uso da linha de balanço. Nesse sentido, percebeu-se que havia um esforço para permitir aos recursos produtivos a manutenção de um fluxo ininterrupto de trabalho, em detrimento da manutenção de um fluxo contínuo do produto (unidades habitacionais). Desta forma, a necessidade de balanceamento das atividades como forma de obtenção de uma situação de equilíbrio entre fluxos de trabalho ininterruptos e fluxo contínuo de produto foi também discutida.

Outro aspecto bastante importante disse respeito a ênfase dada à necessidade de terminação53 dos processos produtivos. Uma vez que o PSP introduz a noção de controle por unidade-base

52 Segundo Slack et al. (1997), flexibilidade de produto é a habilidade de introduzir novos produtos ou de

(uma unidade discreta) e não por percentual executado (como tradicionalmente adotado na construção), torna-se fundamental que terminação de um processo seja controlada. Esta por sua vez, diz respeito não só a conclusão de todas as atividades previstas, como também que as mesmas seja executadas obedecendo ao requisitos de qualidade.

Por fim, quanto à contribuição do emprego da simulação para o processo de tomada de

decisão, como discutido anteriormente neste trabalho, a utilização da simulação ocorreu

principalmente nas etapas finais da elaboração do PSP. Durante este estudo houve a solicitações por parte da equipe da empresa, no sentido de gerar algumas simulações de cenários de diferentes estratégias de ataque da execução dos radiers foi uma solicitação da equipe de obra, como forma de embasar as discussões com o diretor da empresa.

Ao todo, neste estudo, foram simulados cinco cenários, sendo três no estudo relativo à estratégia de ataque do processo de radiers e dois considerando números diferentes de equipes de eletricistas. Este número de cenários, relativamente baixo frente a possíveis oportunidades, deveu-se por dois motivos: (a) esta era a primeira experiência de implementação da simulação no PSP por parte o pesquisador e da empresa; e (b) o longo tempo de desenvolvimento do estudo que fez com que o estudo se estendesse ao longo da fase de execução.

Os cenários simulados tiveram como foco a avaliação de opções de programação detalhada da obra , verificando seu impactos em termos de lead times dos blocos e do empreendimento. Entretanto, seus resultados contribuíram para o dimensionamento da capacidade dos recursos.

Com base na análise dos planos de curto prazo e nas informações da equipe de produção (conforme discutido no item 6.2.4.1.2), algumas decisões tomadas (como a estratégia de ataque dos radiers e a contratação de uma equipe extra de eletricistas) tiveram como base informações oriundas do emprego da simulação durante o processo de elaboração do PSP.