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3. METODOLOGIA E MÉTODOS

3.1 PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS

3.1.1 Observações de campo

Os lugares escolhidos para observação foram Taguatinga Centro-Sul e, no Plano Piloto, o Parque da Cidade Sarah Kubitschek, o Setor Comercial Sul (SCS), o Setor Hoteleiro Sul (SHS), nos horários das 20h às 02h da manhã. Tal observação foi realizada de forma irregular, com início em 24 de abril de 2009 e término em 21 de maio de 2009,com registro informal, aleatório e áudio gravado, compondo uma espécie de registro de bordo. A todas as pessoas abordadas, falou-se sobre a pesquisa.

A área ou ponto de prostituição das travestis de Taguatingaestende-se pela rua lateral, paralela ao centro da cidade. Elas se posicionavam, geralmente, entre os fundos dos comércios das quadras C 06 e perto das avenidas e esquinas das quadras da QSA 03, QSA 05 e QSA 07. Antes era possível ver nas chamadas pistas, cerca de oito a dez travestis, em uma única noite, após as 21h. Esse número foi reduzido para cerca de três após iniciativa e intervenções da segurança pública, atendendo a uma deliberação do governo do DF, em um projeto de revitalização da cidade e combate ao narcotráfico, que pretende retirar das ruas traficantes, crianças e mendigos, e mapear e catalogar todas as regiões de prostituição de rua, incluindo seus agentes: mulheres, homens e travestis.

Além dessas intervenções, as travestis e os garotos de programas foram proibidos de frequentar um bar de orientação LGBT das proximidades. Essa proibição partiu das

60 proprietárias do estabelecimento mesmo as duas sendo lésbicas. Segundo as participantes, acreditava-se que brigas e rivalidades entre as travestis, em que algumas delas namorariam inclusive com alguns dos garotos de programa, que também frequentavam o bar, estavam gerando confusões e conflitos, supostamente afastando a clientela, que tinha por finalidade rever amigos/as, descontrair ou mesmo paquerar, enquanto o ambiente estava se transformando em lugar e espaço de encontro indireto para a prostituição, fenômeno muito comum e de concepção partilhada socialmente, que também ocorre em muitas casas noturnas da região. Além disso, é importante ressaltar que o público LGBT relata ações homofóbicas com várias reclamações informais à militância LGBT que presenciou algumas dessas cenas, desde a inauguração do bar. Outra área escolhida para observação é o Parque da Cidade Sarah Kubitschek, especificamente o bar Barulho, que é citado por Queiroz (2008) como dos espaços que se aproximam das formações de guetos na construção identitária homossexual no DF. Foram realizadas seis entrevistas nas proximidades do bar Barulho, configurando a maioria das entrevistas. A transcrição dessas entrevistas foi difícil em função da música de fundo. Toda quinta-feira e todo domingo têm apresentação de DJs nesse bar. É um lugar aberto, que fica em frente à pista de corrida e caminhada do Parque, e onde as pessoas praticam outros tipos de esporte e lazer, como bicicleta e patinação.

À noite, os frequentadores do bar acabam tomando a pista das proximidades, assim como os bancos do banheiro, que ficam em frente ao bar, do outro lado da pista de caminhada, em formato de parada de ônibus, tradicional de Brasília. Há uma grande concentração de frequentadores, em sua maioria LGBT, no bar e em torno dele. É possível ver alguns casais ou duplas de namorados ou paqueras nas suas redondezas, bem como ver a prática sexual em local mais distante e isolado. Já as pessoas em volta do bar, transitam constantemente, geralmente de forma individual, em duplas ou em trios. Algumas fumam e bebem. Entre elas há um trânsito de meninos e moradores de rua, em menor quantidade, assim

61 como vendedores ambulantes de balas, chicletes e cigarros. Um pouco mais distante, pode-se ver pessoas fazendo sexo. Isso se configura um problema, já que a sociedade, incluindo as organizações familiares, não sustenta espaços considerados saudáveis e funcionais para encontros afetivos entre LGBT, por considerar algo desprezível, conforme indicações de pesquisas realizadas com pais de jovens em escolarização com a finalidade de estudo sobre a juventude e sexualidade, por Abramovay, Castro e Silva (2004).

As mediações da Rodoviária do Plano Piloto, estacionamento entre o Conjunto Nacional e o Teatro Nacional de Brasília, o Centro Comercial CONIC, no Setor de Diversão Sul, o Setor Hoteleiro Sul (SHS) e o Setor Comercial Sul (SCS) de Brasília são as principais áreas de prostituição de pista ou de rua, no DF. As travestis estão concentradas e distribuídas, em sua maioria, entre as áreas do SHS e SCS. Em função das dificuldades com os movimentos marginais do local, incluindo traficantes e viciados em drogas ou “drogaditos”, além das questões próprias do movimento social e da articulação entre as travestis que se prostituem nesta região, que será mais bem explanado e discutido no decorrer desta pesquisa, há uma migração delas para algumas vias da BR 020, no sentido Planaltina-Sobradinho.

É importante salientar que MacDowell (2008) apresenta parte dos dados de sua pesquisa etnográfica junto a travestis que se prostituem no SCS, observado como um espaço urbano e político que constitui o lugar de exclusão a subjetivação e abjeções, em confluência com gestão administrativa de exclusão e organização dos espaços públicos dos frequentadores, no sentido que tenta ‘despoluir’ os mesmos que são (re)significados com a presença de travestis que se prostituem, por exemplo. Associa-se a presença deles/as à desvalorização comercial dos imóveis e o poder público impõe medidas consideradas violentas e de coação, mediante ações do Governo do DF e da segurança pública local.

Queiroz (2008) relata o episódio referente ao fechamento do bar Barulho que teve dificuldades de renovar o alvará de funcionamento, em 2007, mas que, mediante protestos da

62 militância LGBT do DF, organizado pelo Fórum da Diversidade Sexual do DF, foi reaberto. Acredita-se que indiretamente isto tenha ocorrido em função do preconceito, no sentido de dificultar os trâmites administrativos. Esta cena veio a se repetir em julho de 2009 e o estabelecimento foi lacrado.