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4 O ESTUDO DA CONSTRUÇÃO DO NÚMERO: IMPLICAÇÕES HISTÓRICAS E

5.1 A OPÇÃO METODOLÓGICA

Para conduzir a pesquisa, a partir dos objetivos traçados inicialmente, optou-se pela abordagem qualitativa, por entender que ela se apresenta de acordo com os propósitos e concepções metodológicas adequadas ao tipo de estudo e problemática que se pretende investigar, que em linhas gerais, de acordo com Godoy (1995, p. 58), envolve a obtenção de dados descritivos e interativos pelo “contato direto do pesquisador com a situação estudada, procurando compreender os fenômenos segundo a perspectiva dos sujeitos, ou seja, dos participantes da situação em estudo.”

O estudo assumido é de cunho qualitativo, uma vez que busca compreender como se deu, em “loco” as necessidades formativas do ensino de matemática quanto à abordagem da construção da noção de número na educação de discentes com deficiência visual atendidos em uma UEES, e por considerar que este enfoque permite uma compreensão mais substancial do objeto investigado, possibilitando não só poder entender como se dá essa conjuntura, mas também em refletir na possibilidade de novas construções, visando o desenvolvimento de práticas de ensino diferenciadas ao método iminentemente tradicional.

Os estudos denominados qualitativos têm como preocupação fundamental o estudo e a análise do mundo empírico em seu ambiente natural. Nessa abordagem valoriza-se o contato direto e prolongado do pesquisador com o ambiente e a situação que está sendo estudada. Para esses pesquisadores, um fenômeno pode ser mais bem observado e compreendido no contexto em que ocorre e do qual é parte. Aqui, o pesquisador deve aprender a usar sua própria pessoa como o instrumento mais confiável de observação, seleção, análise e interpretação dos dados coletados (GODOY, 1995, p. 6).

No âmbito das pesquisas qualitativas, a fonte direta dos dados é o ambiente natural, em que os pesquisadores frequentam os locais de estudo porque se preocupam com o contexto, entendem que as ações podem ser melhor compreendidas quando são observadas no seu ambiente natural de ocorrência, para que a leitura dos acontecimentos ocorridos no espaço- temporal, onde os participantes estão imersos, sejam os mais representativos possíveis e não se desvincule da realidade em si investigada. Assim, é relevante um profundo contato no universo em si, para que o pesquisador possa desvelar e compreender tal fenômeno e desvelar a “verdade”, que emergem da compreensão dos elementos sociais, que constroem e determinam aquele fenômeno (ANDRÉ, 2012; BOGDAN; BIKLEN, 1994).

Para escrutinar as nuances relevantes à pesquisa, considerando a educação matemática uma prática social, levou-se em consideração as palavras de Bogdan e Biklen (1994, p. 49), ao sinalizarem “que tudo tem potencial para constituir uma pista que nos permita estabelecer uma compreensão mais esclarecedora do nosso objeto de estudo.” O interesse estava em observar a problemática sob diversos ângulos e olhares, inserida em um contexto único, como na Unidade Especializada em si, bem como no setor que estava diretamente ligado com o objeto investigado, para empreender os aspectos inerentes à prática no qual ele estava inserido, compreendendo-o para transformá-lo.

Ao tangenciar o aspecto educativo, Bortoni-Ricardo (2008) esclarecem que o objetivo da pesquisa qualitativa é o desvelamento do que está dentro da “caixa preta” no dia a dia dos ambientes escolares, identificando processos que, por serem rotineiros, tornam-se “invisíveis” para os atores que deles participam. Dito em outras palavras, os atores acostumam-se tanto às suas rotinas que têm dificuldade de perceber os padrões estruturais sobre os quais essas rotinas e práticas de assentam ou têm dificuldade em identificar os significados dessas rotinas e a forma como se encaixam em uma matriz social mais ampla, matriz essa que condiciona, mas é também por eles condicionada.

E, dentre as muitas abordagens qualitativas disponíveis e adotadas para investigações, disponíveis em referenciais de pesquisa, optou-se pela pesquisa-ação, devido a necessidade de investigar mais de perto, e em parceria, a problemática em questão e encontrar formas de

solucioná-las. Nestes termos, utilizamos como técnica para a produção dos dados os diários de campo, anotações, máquina fotográfica e trabalhos realizados pelos alunos.

5.1.1 Pesquisa-ação

A pesquisa-ação foi escolhida para o delineamento desta pesquisa, por considerá-la oportuna em possibilitar uma ação efetiva quanto à problemática enfocada e permitir a construção de uma resposta mais sistemática para construir uma prática no processo de mediação do estudo proposto, durante a intervenção da pesquisa. A opção por tal modalidade de pesquisa permite-nos levar as discussões a um plano prático, em local, onde se pudesse realmente intervir e, de alguma maneira, contribuir ao fazer mudanças naquela realidade, principalmente no setor investigado.

A escolha da metodologia do tipo apresentada aqui, relacionou-se com as estratégias e aos objetivos da pesquisa, uma vez que seriam melhores representados se em comum interesse dos seus participantes, se estes também pudessem compartilhar, estarem inseridos e sentissem parte na investigação do problema. Sendo assim, a intenção estava voltada em conhecer e intervir na realidade investigada, na intersubjetividade dialética do coletivo, da mesma forma defendida por Franco (2005, p. 490) em que “o pesquisador, inevitavelmente, faça parte do universo pesquisado, o que, de alguma forma, anula a possibilidade de uma postura de neutralidade e de controle das circunstâncias de pesquisa”.

Diante de tais percepções, Thiollent (2011) define a pesquisa-ação como um tipo de pesquisa social que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação da realidade a ser investigada estão envolvidos de modo cooperativo e participativo. Neste tipo de abordagem, o pesquisador interfere, propõe e participa de todas as etapas de experimentação junto com o participante da pesquisa, em uma ação não trivial, o que quer dizer, uma ação problemática que merece investigação para ser elaborada e conduzida.

Em consonância com essa abordagem, Fonseca (2002) ainda esclarece que:

A pesquisa-ação pressupõe uma participação planejada do pesquisador na situação problemática a ser investigada. O processo de pesquisa recorre a uma metodologia sistemática, no sentido de transformar as realidades observadas, a partir da sua compreensão, conhecimento e compromisso para a ação dos elementos envolvidos na pesquisa. O objeto da pesquisa-ação é uma situação social situada em conjunto e não um conjunto de variáveis isoladas que se poderiam analisar independentemente do resto. Os dados recolhidos no decurso do trabalho não têm valor significativo em si, interessando enquanto elementos de um processo de mudança social. O investigador abandona o papel de observador em proveito de uma atitude participativa e de uma relação sujeito a sujeito com os outros parceiros. O pesquisador quando participa na

ação, traz consigo uma série de conhecimentos que serão o substrato para a realização da sua análise reflexiva sobre a realidade e os elementos que a integram. A reflexão sobre a prática implica em modificações no conhecimento do pesquisador (FONSECA, 2002, p. 34-35).

Objetivou-se, assim, estabelecer uma ação conjunta, em que os participantes não se sentissem invadidos em suas práticas junto aos alunos, nos momentos das etapas da pesquisa. Assim, seguiu-se a orientação de Baldissera (2001, p. 6), quando propõe que “a participação dos pesquisadores é explicitada dentro do processo do “conhecer” com os “cuidados” necessários para que haja reciprocidade/complementariedade por parte das pessoas e grupos implicados, que têm algo a “dizer e a fazer””. Logo, o interesse não estava em simplesmente fazer um levantamento de dados e mostrar de que forma ou não poderiam ser organizadas e pensadas as práticas com os alunos, mas estabelecer um laço de pesquisa do tipo participativo/coletivo, em que todos caminhassem em busca de uma mesma finalidade.

Por essa razão, direcionou-se a pesquisa para que as informações geradas pela mobilização coletiva em torno de ações concretas não fossem alcançadas nas circunstâncias da observação passiva, como aponta Thiollent (2011), pois, quando as pessoas estão fazendo alguma coisa relacionada com a solução de um problema seu, há condições de estudar este problema num nível mais profundo e realista do que no nível opinativo ou representativo no qual se reproduzem apenas imagens individuais e estereotipadas, além de que “a participação dos pesquisadores não deve chegar a substituir a atividade própria dos grupos e suas iniciativas” (THIOLLENT, 2011, p. 22).

Conduziu-se a pesquisa conforme aponta Fiorentini e Lorenzato (2009), em que admite que a pesquisa-ação também deve ser concebida como um processo investigativo intencionado, planejado e sistemático de investigar a prática. Nesse sentido, procurou-se lançar mão, na investigação, de um planejamento aberto à realidade a ser investigada, procurando sempre propiciar a espontaneidade das ações nas práticas concebidas.

Uma vez que “o conhecimento não se restringe à mera descrição, mas busca o explicativo; parte do observável e, vai além, por meio dos movimentos dialéticos do pensamento e da ação” (FRANCO, 2005, p. 490), buscou-se observar como se davam as práticas, a organização de ensino, as formas de abordagens e metodologias adotadas para o ensino e aprendizagem dos alunos, por parte das professoras. Nesse aspecto é válido frisar que, em virtude da complexidade e objetivos a serem alcançados pelo setor investigado na UEES, no âmbito da intervenção pedagógica, em particular, com cada aluno em sua individualidade, houve a preocupação por parte dos professores e pesquisadora, em estabelecer um foco nos

atendimentos, ou seja, voltar-se para os aspectos em que estávamos interessados investigar e problematizar, ou seja, relacionados à prática do “ensino” dos números.

Dessa maneira, diversas atividades desenvolvidas com os alunos buscaram ser realizadas, a fim de nos colocar diante de uma ação coletiva e das formas de trabalho que as professoras participantes estavam acostumadas a lançar mão. Essa atitude está em estreita relação ao que pressupõe Thiollent (2011, p. 28), pois, “trata-se de uma forma de experimentação na qual os indivíduos ou grupos mudam alguns aspectos da situação pelas ações que decidiram aplicar”.

Além da clareza quanto os propósitos e da pesquisa, preocupou-se, além do fundamento teórico, ainda sim, com a sistematização e o controle das informações durante todo o desenrolar da pesquisa. O acompanhamento e registro ocorreu em vários momentos, desde o planejamento cuidadoso de cada uma das atividades, no registro escrito, gravado e em áudio, das observações e encontros programados, bem como nas entrevistas.