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4 O ESTUDO DA CONSTRUÇÃO DO NÚMERO: IMPLICAÇÕES HISTÓRICAS E

5.4 OS PARTICIPANTES DA PESQUISA

Para constituir os sujeitos participantes desta pesquisa, dada a diversidade de setores envolvidos com os aspectos inerentes ao aluno com deficiência visual, levamos em consideração os objetivos da pesquisa, o qual remeteu a investigação do setor de Intervenção Pedagógica.

De posse dessas informações, pudemos selecionar e ter suas autorizações (Apêndice C) de 2 (duas) professoras que atuavam junto aos estudantes com deficiência visual da Intervenção Pedagógica, e 5 (cinco) discentes em diferentes situações de aprendizagem e escolaridade, as quais demandavam dificuldades conceituais em relação à temática pretendida. A fim de preservar suas identidades, todos os sujeitos tiveram suas identidades não reveladas. Foram, dessa forma, assim nomeados: Professoras P01, P02 e alunos A01, A02, A03, A04, A05, os quais descreveremos detalhadamente a seguir.

5.4.1 Das professoras participantes

O setor de Intervenção Pedagógica contava com duas professoras (Quadro 13), que atendiam os alunos em dois turnos (manhã e tarde), diariamente.

Quadro 13 - Caracterização profissional das professoras participantes Professora Idade Tempo de

atuação na educação Tempo de atuação na educação especial Tempo de atuação com a deficiência visual Tempo de atuação na Intervenção Pedagógica

P01 54 anos 15 anos 15 anos 15 anos 2 anos

P02 55 anos 29 anos 25 anos 15 anos 3 anos

A professora P01 frequentou o magistério e possui duas licenciaturas: Língua Portuguesa (Universidade Estadual Vale do Acaraú) e Educação Religiosa (diploma fornecido pela UFPA, em parceria com a Arquidiocese de Belém) e tem Pós-Graduação lato sensu em Educação Especial. Já atuou na Secretaria de Educação de Belém e desde 2003 vem atuando nesta Unidade Educacional, envolvendo-se em diferentes setores, como o setor de Orientação Profissional (que já fechou), Núcleo de Produção e reprodução em braille, Biblioteca e Intervenção Pedagógica. Atualmente, está há dois anos atuando no Setor de Intervenção

Pedagógica, desenvolvendo trabalho em dois turnos com alunos cegos, baixa visão e deficiência associada, como o autismo. Complementou, enfatizando que possuía bastante dificuldade com a matemática quando ainda era estudante no ensino básico e o que sabe hoje, está direcionada mais especificadamente à realização de cálculos que envolvem as quatro operações.

A professora P02 também envolveu-se com o magistério, cursado no Instituto de Educação do Estado do Pará (IEP). Graduou-se, primeiramente, em Serviço Social (UFPA) e depois de alguns anos realizou o Curso de Pedagogia (UFPA) e tem Pós-Graduação lato sensu em Gestão Escolar e outra em Educação Especial, realizadas após o ingresso e atuação na UEES à qual está vinculada, atualmente. Em início de carreira, começou atuando nas séries iniciais do ensino fundamental e depois dedicou-se ao trabalho em classes especiais, atendendo alunos com deficiência intelectual e, em seguida, começou seu trabalho voltado ao público da deficiência visual na UEES em que atua, perpassando pela vice direção, direção, coordenação pedagógica, e atendimentos nos setores de baixa visão, brinquedoteca, alfabraille e há três anos está na Intervenção Pedagógica. Salientou que não possui dificuldade em matemática, ainda que seu curso (magistério e pedagogia) não contemplasse alguns conteúdos mais específicos dessa disciplina.

5.4.2 Dos alunos participantes

Foram selecionados cinco alunos (Quadro 14) para participar da pesquisa, cujas idades estivessem relacionadas com a atuação do setor (4-12 anos). Assim, selecionamos dois alunos que frequentavam ainda a iniciação no setor, um aluno no intervalo intermediário e dois alunos que estavam em processo de finalização das intervenções efetivadas neste espaço. Por se tratar de uma pesquisa com o público infanto-juvenil, os Termos de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), conforme esclarece o Apêndice D, foram assinados pelos seus respectivos responsáveis, os quais concordaram com a participação na pesquisa.

Denominamos os participantes a partir de códigos de A01 a A05, a fim de preservar suas identidades, dos quais descreveremos brevemente seus perfis.

Quadro 14 - Caracterização dos alunos participantes

Aluno Idade Escolaridade Comprometimento visual

A01 5 anos Jardim 2 Cego congênito

A02 5 anos Jardim 2 Baixa visão

A03 9 anos 3º ano Cego congênito

A04 11 anos 4º ano Cego não congênito

A05 12 anos 5º ano Cego congênito

Fonte: Elaborado a partir de consulta aos dossiês e entrevistas com os responsáveis legais

O participante A01 começou a frequentar a Unidade Especializada a partir de 2016, quando foi realizada a sua anamnese e avaliação funcional. Atualmente reside no ramal do Ipixuna, localizado na PA 140, km 13, pertencente ao município de Bujaru. Mora com seus pais e mais três irmãos30. Sua mãe é doméstica e possui o ensino médio, enquanto seu pai é professor das séries iniciais, com formação em pedagogia. A responsável relatou que nos primeiros meses de vida ela não percebeu a deficiência visual de filho. Por volta dos 4 meses, com os exames indicados pelos médicos, houve o diagnóstico, a princípio de baixa visão, com características de nistagmo e reflexo óculo digital, de forma que ele não acompanhava luz e nem objetos (dados verificados em seu dossiê, fonte da pesquisa documental). Hoje, com outros exames oftalmológicos, foi comprovada a cegueira irreversível. A responsável tomou conhecimento dessa UEES por meio do médico que acompanhava seu filho nas consultas no Hospital Universitário Betinna Ferro de Souza, do Complexo Hospitalar da UFPA. O aluno frequenta a UEES às terças feiras e está inserido nos setores da Intervenção Pedagógica, Brinquedoteca e Psicomotricidade. Consta em seu dossiê, também, que o participante possui comportamento agitado e desobediente quanto à realização das atividades. A responsável relatou que o aluno possui um professora de apoio no ensino regular e que ainda não percebe dificuldades relacionadas à aprendizagem matemática.

A participante A02 está na Unidade Especializada desde 2014 e mora com seus pais e mais dois irmãos31, no bairro do Parque Verde, cidade de Belém (PA). A mãe possui o ensino médio e é autônoma, já o pai também possui o mesmo grau de escolaridade e trabalha como jardineiro. A aluna possui baixa visão, em decorrência de catarata congênita, que foi descoberta no 10º dia após o nascimento, por meio do teste do olhinho. Ela tomou conhecimento desta UEES por meio do médico da Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará (FSCMP), que a conduziu a esse espaço, quando a criança ainda tinha 4 meses. Hoje, ela é atendida na UEES,

30 O seu irmão, A03, também é participante da pesquisa.

31 Os dois irmãos também frequentam a Unidade Educacional, do qual um deles, A05, fará parte da pesquisa e o

outro (baixa visão), por não frequentar mais o setor de Intervenção Pedagógica, não foi contemplado com a investigação.

nos setores da Brinquedoteca, Intervenção Pedagógica e Psicomotricidade, às quartas feiras. No ensino regular, ela frequenta o jardim 2, em uma escola particular. A responsável relatou que nesse espaço não há professora de apoio. Além do mais, ela tem outra profissional, que conduz aulas particulares à sua filha. Relata ainda que a participante não possui muitas dificuldades em matemática. É uma aluna tranquila e concentrada na execução das atividades propostas.

O participante A03 frequenta a UEES desde 2016 e reside no ramal do Ipixuna, localizado na PA 140, km 13, pertencente ao município de Bujaru. Ele nasceu aos oito meses e possui cegueira congênita em decorrência das sequelas de rubéola, que sua genitora adquiriu no segundo mês de gestação. Sua genitora tomou conhecimento de sua condição visual também no Hospital Universitário Betinna Ferro de Souza, do Complexo Hospitalar da UFPA. O aluno possui comprometimentos físicos em decorrência de má formação dos membros inferiores, mas que não o impedem de se locomover. Atualmente, ele frequenta às terças feiras, os setores da Intervenção Pedagógica, Música e Alfabraille. Em seu dossiê consta informes que ele possui dificuldade de atenção, concentração e tolerância no tempo das atividades. No ensino regular, ele possui professor de apoio. Encontra-se no 3º ano do ensino fundamental e, segundos relatos da responsável, não possui dificuldades de aprendizagem em matemática.

A participante A04 teve seu primeiro contato com a UEES no ano de 2015, quando da realização de sua anamnese. A sua genitora tomou conhecimento deste espaço educacional, através do hospital em que ela estava internada, devido ao acidente que a levou à perda visual. Aos sete anos de idade, a criança sofreu um acidente com projétil de uma arma de fogo, na casa de seu avô, tendo seu irmão disparado-a, acidentalmente, que a atingiu na cabeça. Os fragmentos do chumbo atingiram a parte frontal do cérebro, de forma que foi necessário realizar uma cirurgia, de onde houve perda de massa encefálica e da retirada dos globos oculares, ou seja, da perda total da visão. Um ano depois, que de fato, ela começou a frequentar os setores, após sua avaliação funcional. Ela mora com os pais e seu irmão mais velho, na região das ilhas de Muaná-PA, mais precisamente no rio Atatá. O trajeto deste local até Belém é feito através de barcos, que levam de oito a nove horas para se chegar à capital. Seus pais são autônomos, enquanto a mãe cuida do lar, ele trabalha com a pesca e venda de produtos como açaí. A mãe possui o ensino médio completo e o pai incompleto. Ela tem 11 anos e frequenta o 4º ano do ensino fundamental. Na UEES frequenta, atualmente, os setores de Intervenção Pedagógica, Alfabraille, Sócio psicopedagógico, Pré bengala e AVAS, a cada quinze dias, nas terças e quartas feiras. Ela tem uma cuidadora em sua escola, que cuida das atividades voltados aos aspectos da orientação e mobilidade, e todos os cuidados higiênicos, bem como das atividades

curriculares da sala de aula. Ela possui um pouco de dificuldade em matemática, conforme relatos da genitora.

O participante A05 possui cegueira irreversível em decorrência da Retinopatia da Prematuridade. Nasceu prematuro, aos 6 meses, de uma gestação de gêmeos32. Teve seu primeiro contato com a UEES aos 2 meses de nascido, em 2005, por meio do médico da Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará. Sua genitora é autônoma e possui o ensino médio, enquanto seu pai é eletricista e também possui o mesmo grau de escolaridade. Hoje, ele é atendido nos setores de Orientação e Mobilidade, Alfabraille, Intervenção Pedagógica e Soroban, às quartas feiras. Ele frequenta o setor de Intervenção Pedagógica desde 2014. No ensino regular, encontra-se no 5º ano do ensino fundamental. Ele possui uma professora de apoio (itinerante) que acompanha suas atividades. A responsável relatou que ele possui um pouco de dificuldades em matemática.

Tendo em vista que nosso objetivo não almejava levantar juízos de valor e nem qualquer acepção aos participantes, estávamos interessados em entender e possibilitar a reflexão sobre o processo de ensino e aprendizagem sobre a construção do número.