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Operações Urbanas na gestão de Luiza Erundina (1989-1992)

2. OPERAÇÕES URBANAS E OPERAÇÕES INTERLIGADAS

2.3. Operações Urbanas na gestão de Luiza Erundina (1989-1992)

Na gestão da prefeita Luiza Erundina, do Partido dos Trabalhadores, foi elaborado novo Projeto de Plano Diretor que apresentava como conceito fundamental norteador da política urbana de uso e ocupação do solo a utilização da infra-estrutura urbana existente. Caso implantado, o plano extinguiria o zoneamento vigente, substituindo- o pela definição de zonas adensáveis e não adensáveis, definindo também um estoque global de área de construção para perímetros definidos dentro de cada zona, em função da infra-estrutura existente. Para a macrozona adensável - incluindo a área central, o centro expandido e o anel intermediário, onde se constatava disponibilidade de infra-estrutura - seria permitida verticalização e adensamento mediante outorga onerosa do direito de construir baseada no princípio do solo criado. Para a macrozona não adensável, constituída pelos bairros periféricos, com carência de infra-estruturas e equipamentos públicos, o adensamento seria permitido em determinadas áreas pré-definidas, particularmente em Zonas Especiais de Interesse Social – as ZEIS, destinadas à produção de habitação de interesse social. Para toda cidade, seria definido coeficiente de aproveitamento igual a uma vez a área do terreno (CA=1). Nesse quadro, as áreas de Operação Urbana seriam áreas de exceção onde o adensamento construtivo através de outorga onerosa permitiria o financiamento para a ampliação da infra-estrutura e dos equipamentos urbanos36.

Paralelamente ao processo de desenvolvimento do Projeto do Plano Diretor foram desenvolvidas quatro Operações Urbanas: Anhangabaú, Água Branca, Água Espraiada e Paraisópolis 37. A Operação Urbana Faria Lima-Berrini, que inicialmente não havia sido considerada, foi incorporada a partir de proposta oriunda do setor privado, com base em estudo realizado para a EMURB na gestão de Jânio Quadros 38. O primeiro dos projetos de Operação Urbana transformado em lei foi o da Operação Urbana Anhangabaú, o único aprovado durante a gestão da então prefeita39.

A Operação Urbana em Paraisópolis não chegou a ser formulada como projeto de lei. A área de Paraisópolis na região do Morumbi apresenta problemas decorrentes de sua de ocupação urbana, que data de 1921. Seu arruamento e parcelamento, com malha ortogonal de quadras regulares de 100 x 200m em topografia acidentada, repleta de

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O Projeto de Plano Diretor foi publicado como Suplemento Especial no Diário Oficial do Município de 16 de março de 1991. Relatos do processo de desenvolvimento do Plano Diretor forma publicados por Paul Singer (1995 e 1996); Denise Antonucci (2002) fez uma síntese abordando seus principais aspectos, baseado em extenso estudoanterior (ANTONUCCI, 1999).

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O instrumento das Operações Urbanas foi definido no Cap. V, Art. 54, mas não foram mencionadas Operações Urbanas específicas (Cf. Anexo 5 deste trabalho). Um relato sobre o desenvolvimento das Operações Urbanas na gestão de Luiza Erundina encontra-se em "Participação da iniciativa privada na construção da cidade", in Cadernos de Planejamento PMSP/SEMPLA, 1992, Diário Oficial do Município (suplemento), São Paulo, 24/12/92.

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Ver Capítulo 4, à frente.

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córregos e nascentes, com declividades maiores que 30% e ruas de 10 metros de largura, ocupam uma área de aproximadamente 150 ha., pouco articulada ao sistema viário principal.

Figura 2-2. Perímetro de estudo para Operação Urbana Paraisópolis.

Fonte:. "Participação da iniciativa privada na construção da cidade" (PMSP-SEMPLA, 1992, p. 21)

Além disso, em virtude de seu processo de ocupação, há problemas de titulação de propriedades, com terrenos com mais de um proprietário e com duplicidade de registro, além de posse, usucapião e invasão. Desde a década de 1970, a área foi objeto de vários estudos e ações realizadas de forma incompleta, que tinham como objetivo viabilizar a reurbanização da área. Em 1988, o então Prefeito Jânio Quadros através de Portaria constituiu “comissão para estudar a reurbanização da área de Paraisópolis e remoção de favela lá existente"40. Em seu relatório, a Comissão propôs uma Operação Urbana que consistia basicamente em conexões viárias para tráfego de passagem e alargamento de ruas para 16 metros, e construção de seis mil unidades de Habitação de interesse social. Os estudos foram retomados na gestão de Luiza Erundina com mudança de orientação: permanência da população favelada, adequação do sistema viário através de hierarquização e reurbanização parcial, destinação de áreas para equipamentos públicos e áreas verdes41. Essa proposta de aplicação do instrumento da Operação Urbana não teve seqüência42 e

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Portaria 734 publicada no Diário Oficial do Município em 2/2/88. A comissão seria formada por representantes do Gabinete do Prefeito, Secretaria do Planejamento - SEMPLA, Secretaria da Habitação - SEHAB, Secretaria das Administrações Regionais - SAR e Secretaria de Vias Públicas - SVP.

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Cf. "Participação da iniciativa privada na construção da cidade" (PMSP-SEMPLA, 1992, p. 18-19)

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Os estudos realizados não chegaram ao estágio de apresentação à Câmara como Projeto de Lei. Embora as grandes dificuldades colocadas pela área de Paraisópolis para a intervenção urbanística possam iluminar aspectos importantes da aplicação de instrumentos urbanísticos em nossa realidade, essa análise não será feita aqui.

portanto e não será examinada aqui, embora outras propostas de atuação urbanística para a área tenham sido feitas43.

Conforme relata Eneida Heck (2004, p. 180-3), os primeiros estudos de aplicação do instrumento das Operações Urbanas na gestão de Luiza Erundina foram iniciados por técnicos da Secretaria Municipal de Planejamento para as áreas no entorno de cinco grandes obras viárias iniciadas na gestão de Jânio Quadros – o túnel no vale do Anhangabaú, as Avenidas Água Espraiada e Jacu-Pêssego, o Mini Anel Viário e o Corredor Sudoeste (com os túneis sob a Avenida Juscelino Kubitschek, sob o Rio Pinheiros e sob o Parque do Ibirapuera). Dessas, duas foram consideradas prioritárias para desenvolvimento de Operações Urbanas: Anhangabaú e Água Espraiada. Duas destas – Anhangabaú e Água Espraiada – mais a Operação Urbana Água Branca, chegaram ao estágio de projeto de lei ainda em 1991, sendo que a única aprovada na gestão da prefeita foi a Anhangabaú, tema do próximo capítulo.

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De acordo com o Art. n°. 84 da Nova Lei de Zoneamento (Lei nº 13.885, de 25 de agosto de 2004) , atualmente (2006), encontram-se em desenvolvimento o Programa de Regularização e Urbanização do Complexo Paraisópolis (Secretaria Municipal de Habitação), a Área de Intervenção Urbanística de Vila Andrade/Paraisópolis e o Projeto Urbanístico Específico – PUE, previsto no Plano Regional Estratégico da Subprefeitura de Campo Limpo, o qual faz parte da lei mencionada.