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2.2 Coesão

2.2.2 Operacionalização do construto coesão

De um modo geral, em grande parte das pesquisas, a avaliação do nível de coesão de uma dada equipe é feita através de perguntas feitas aos membros da equipe, nas quais eles responderão questões relacionadas ao quanto eles gostam uns dos outros, ou ainda quanto tempo eles gostariam de permanecer na equipe atual (HOGG, 1992 apud CARLESS; DE PAOLA, 2000). No entanto, verifica-se que as causas e consequências que envolvem o construto coesão e a equipe em si é um problema que ainda carece de ser mais profundamente investigado.

Gross e Martin (1952) observaram que dentre as pesquisas que relatam o estudo da coesão de equipes, algumas delas se empenharam em analisar criticamente as causas da coesão de grupos, no entanto, possivelmente utilizaram lógicas e metodologias inadequadas. De modo semelhante, De Vasconcelos (2012) também identificou inúmeros estudos que fizeram uso de metodologia, e até mesmo coleta de dados inadequados ao estudo da coesão de equipes.

No estudo da coesão, identificou-se pesquisas carentes de definições operacionais, por não medirem as dimensões da coesão da maneira como foi definido conceitualmente, revelando estudos que não possuem validades empíricas consistentes, pois as métricas singulares de coesão não são correlacionadas em um mesmo grupo, sendo negativas e sem conexão. Para este construto uma definição singular é imprópria, pois seus aspectos são altamente correlacionados, surgindo limitações e preocupações na generalização do construto nestas investigações científicas (GROSS; MARTIN, 1952).

Como exemplos destes problemas citam-se os estudos realizados por Dyce e Cornell (publicado em 1996), Carless (possivelmente publicado na década de 2000), e Schutz et al. (publicado em 1994). Carron e Brawley (2000) esclarecem que o modelo conceitual apresentado em tais pesquisas, não era condizente com as informações úteis sobre a sua validade, pois não foi considerada a natureza da coesão de equipes, e, além disso, não foi levado em consideração o contexto de cada grupo em específico, e as manifestações da coesão em si. Tais problemas podem vir a caracterizar medições fracas, cuja validade da pesquisa é questionável, podendo até invalidá-la (KERLINGER, 1973 apud CARRON; BRAWLEY, 2000).

Seguindo a mesma linha de pensamento, Greene (1989), aponta que em uma amostra proveniente de organizações, a coesão dos grupos para o trabalho tem que ser compreendida e considerada pelos pesquisadores como um fator determinante para a eficácia organizacional, e que estes tipos de estudos são baseados em análises lógicas e direcionais, porque estas investigações podem ser demonstradas empiricamente, pois, quando não há correlação entre o conceitual e a operacionalização de coesão, entre as suas medidas e suas definições operacionais, estas investigações tornam-se inadequadas (GROSS; MARTIN, 1952). Apesar de haver inúmeras pesquisas com os mais diversos problemas que as invalidem teórica ou empiricamente, há estudos, cujo foco é a coesão de equipes, que são considerados clássicos, pois embora tenham sido conduzidos há mais de duas décadas ainda são utilizados como bases consistentes para a estruturação de pesquisas atuais. Dentre estes estudos citam-se Carron, Widmeyer e Brawley (1985) e Bollen e Hoyle (1990), que serão mais amplamente discutidos adiante.

2.2.2.1 Problemas quanto à operacionalização e mensuração da coesão

Mensurar o construto coesão é uma tarefa que, embora seja importante, envolve diversas dificuldades. Gross e Martin (1952) verificaram deficiências quanto a operacionalização deste construto pela utilização de conceitos que quando operacionalizados não medem as dimensões da coesão do mesmo modo como tais dimensões foram nominalmente definidas, caracterizando falta de correspondência das definições conceituais quanto às definições operacionais. Um exemplo disso é que “Embora haja um crescente consenso de que a coesão é um construto multidimensional, há a necessidade de medidas adequadas que reflitam essa conceituação. [...]” (CARLESS; DE PAOLA, 2000, p. 72, tradução nossa).

Definir o instrumento que será utilizado em uma dada pesquisa não é uma tarefa simples, Gross e Martin (1952, p. 551, tradução nossa) explicam que para avaliar o nível de coesão de uma equipe, o instrumento utilizado deve conter questões em termos gerais, de modo que os membros da equipe possam indicar em uma escala, o quão atrativo a equipe é para ele, sendo possível categorizar do mais alto ao mais baixo nível de atratividade, tendo, no entanto, valores claramente

identificados entre as escalas máximas. “Isso fornece uma definição operacional que é logicamente compatível com a definição nominal; além disso, permite que o entrevistado utilize seu próprio quadro de referência para determinar o quão atrativo o grupo é para ele [...]”. Deste modo, busca-se minimizar qualquer interpretação duvidosa que pudesse vir a ser feita pelo investigador.

Verifica-se que não só a escolha de um instrumento ideal, mas também sua adaptação para a amostra pesquisada é um desafio encontrado por diversos autores, isso porque apesar do tempo decorrido desde os primeiros estudos que buscam estudar a coesão, muitas pesquisas relacionadas a este construto ainda podem ser consideradas imaturas. Tal imaturidade pode ser constatada mediante a análise de pesquisas que fazem uso de abordagens e/ou métodos de pesquisa inadequados para o estudo da coesão de equipes, e diante da grande variação de definições que podem ser encontradas na literatura, além da vasta gama de instrumentos que vêm sendo aplicados sem análises prévias que venham a constatar sua validade para a pesquisa em questão (DE VASCONCELOS, 2012).

Carron e Brawley (2000) elucidam que o intuito de se expor tais peculiaridades relacionadas ao estudo da coesão de equipes não é desencorajar futuras pesquisas, é alertar para o uso adequado de modelos conceituais de medição e instrumento, que venham a ser emprestados e adaptados para pesquisas em outros contextos sociais, sendo importante analisar a sua validade utilizando dos pressupostos que considerem a amostragem, a medição e a interpretação, consistente com o modelo. Também é fundamental que as questões, esperadas e previstas, colocadas na pesquisa, correspondam não só com a modelo conceitual, mas também com o tipo de grupo examinado. Daí a necessidade em se realizar testes com o intuito de verificar a consistência interna, validade de construto e demais análises que visem examinar as qualidades psicométricas de uma escala.