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2.2 Coesão

2.2.3 Instrumentos para mensurar a coesão

2.2.3.2 Perceived Cohesion Scale (PCS)

Bollen e Hoyle (1990) fizeram uma reflexão crítica de inúmeras definições de coesão e, a partir deste passo, criaram uma definição para o conceito de coesão percebida, assim como um instrumento para medir o nível de coesão das equipes, denominado Perceived Cohesion Scale (PCS) (BOLLEN; HOYLE, 1990).

Definição de coesão adotada

A definição de coesão percebida foi concebida sob o ponto de vista de separar a coesão de seus antecedentes, pois Bollen e Hoyle (1990) buscavam conceituá-la como um construto independente, o que é uma visão exatamente contrária à de inúmeros outros pesquisadores, que tendem a conceituar a coesão com base em seus antecedentes. Bollen e Hoyle (1990) indagam que este tipo de caracterização do construto coesão tende a mostrar-se errôneo, pois embora possa parecer provável traduzir a coesão como o sentimento de atração dos membros para a equipe e/ou para seus membros, por exemplo, é questionável afirmar que a atração para o grupo seja o mesmo que a coesão em si.

A definição adotada por Bollen e Hoyle (1990, p. 482, tradução nossa, grifo do autor) para o conceito de coesão percebida é de que a “[...] Coesão percebida

compreende o senso de um indivíduo em pertencer a um determinado grupo e seus sentimentos de moral associados à participação no grupo. [...]”.Em outras palavras,

a coesão percebida é caracterizada como um atributo relativo aos membros, que vem a refletir a percepção que o indivíduo tem do relacionamento dele com a equipe. Tal avaliação compete em analisar a relação que o indivíduo acredita ter com os resultados da equipe, julgando assim, o quanto ele se sente parte dela, e como seus sentimentos pessoais e de moral associam-se à participação na equipe.

Bollen e Hoyle (1990) afirmam que sua definição de coesão percebida, tem características notórias, pelo fato de não definirem a coesão relacionando-a a suas causas, e que há uma preocupação evidente em obter a percepção que o membro tem de sua equipe, baseando-se em sua própria experiência com a equipe em que

ele está inserido, diferente de outros autores que buscam níveis de coesão através do cálculo da frequência e/ou natureza das interações entre os membros, mas que, no entanto, não faz jus à coesão percebida.

Outra notoriedade defendida, é pela definição não incluir referências à atração dos membros para a equipe, pois através da coesão percebida, eles percebem por si mesmos que fazem parte da equipe, de tal modo que ocorre um aumento do moral podendo então ser mais atraído para a equipe do que os membros que não se sentem parte do grupo (BOLLEN; HOYLE, 1990).

A definição de coesão percebida, é composta por duas dimensões primárias: a Sensação de Pertencimento (SP) e o Sentimento de Moral (SM).

A SP é vista como fundamental para a existência de um grupo, pois o uso do termo grupo/equipe para designar um conjunto de pessoas “[...] implica em uma sensação mínima de pertencimento por parte dos membros do grupo, caso contrário, o conjunto de indivíduos é um agregado. [...]”. Além disso, se os membros não se compreendem como parte da equipe, possivelmente terão dificuldades em lidar com fatores que os afetam diretamente, tais como normas, valores e outras características da equipe, pois “[...].a sensação de pertencimento é fundamental para a identificação dos membros com um grupo e tem inúmeras consequências para o comportamento.” (BOLLEN; HOYLE, 1990, p. 484, tradução nossa).

Os Sentimentos de Moral, são vistos como uma característica importante da vida da equipe por ser capaz de resumir a resposta emocional positiva ou negativa dos membros pelo fato de pertencerem à equipe. Assim, “[...] Por causa das consequências motivacionais de afeto, o reconhecimento desta dimensão da coesão percebida é essencial.” (BOLLEN; HOYLE, 1990, p. 484, tradução nossa).

Embora a coesão seja uma característica da equipe em si, Bollen e Hoyle (1990, p. 483, tradução nossa) afirmam que, através das respostas individuais, dos membros da equipe, é possível fazer uma combinação de percepções de modo que os resultados caracterizarem o grupo como um todo. Pois, “[...] ao nível individual a coesão percebida reflete o papel do grupo na vida dos membros do grupo; e ao nível do grupo a coesão percebida reflete o papel dos indivíduos na vida do grupo.”

Para Bollen e Hoyle (1990, p. 484, tradução nossa) uma vantagem em ter os sentimentos de moral e pertencimento como dimensões é porque ambos são relevantes tanto para pequenas como para grandes equipes, pois “[...] A maioria das dimensões de coesão propostas em pesquisas anteriores são orientadas para grupos pequenos e cara-a-cara. [...]”. Com a coesão percebida o “[...] foco em pertencimento e moral, como dimensões da coesão, liberta o estudo empírico de coesão do estudo de apenas pequenos grupos e está mais de acordo com o estudo da coesão, independentemente do tamanho do grupo.” (BOLLEN; HOYLE, 1990, p. 485, tradução nossa).

O Instrumento

A escala desenvolvida por Bollen e Hoyle tem como base uma definição teórica de coesão que, segundo eles, pode capturar a medida que os membros de um determinado grupo se sentem presos a ele ou como parte dele, surgindo então o conceito de coesão percebida, por identificar elementos que compõem a percepção dos membros com relação à sua participação no grupo, que pode refletir na tendência de concordar com o grupo e permanecer nele. Os autores do PCS “[...] não afirmam que este seja o único aspecto da coesão, mas foi um aspecto não considerado em estudos anteriores. [...]” (BRUHN, 2009, p. 41 tradução nossa).

Ressalta-se que embora o PCS tenha sido amplamente divulgado através da pesquisa publicada por Bollen e Hoyle no ano de 1990, este estudo cita que tais itens, que compõem esta escala foram elaborados por Bollen no outono de 1984.

No Quadro 2.3 são apresentados os itens que compõem o instrumento criado por Bollen, retirados do estudo realizado em parceria com Hoyle em 1990. Tal instrumento foi aplicado por Bollen e Hoyle (1990), utilizando para cada questão (item) uma escala composta por 11 (onze) pontos da escala Likert, variando entre “Discordo fortemente”, representado também pela pontuação 0 (zero) e “Concordo fortemente”, representado pela pontuação 10 (dez), tendo ainda a pontuação 5 (cinco), que fora representada pela legenda “Neutro” (BOLLEN; HOYLE, 1990).

Quadro 2.3 - Perceived Cohesion Scale (PCS) Perceived Cohesion Scale - PCS

Sense of Belonging

I feel a sense of belonging to _________________.

I feel that I am a member of the _________________ community. I see myself as part of the _________________ community. Feelings of Morale

I am enthusiastic about _________________. I am happy to be at [live in] _________________.

_________________ is one of the best schools [cities] in the nation.

Fonte: Bollen e Hoyle (1990, p. 485, grifo do autor, tradução nossa)

Conforme pode-se observar, através do Quadro 2.3, o PCS mostra-se paralelo à definição teórica de coesão percebida, descrita por Bollen e Hoyle (1990), possuindo três indicadores (questões) relacionados à SP e três que dizem respeito ao SM da equipe. A ordenação das questões foi feita apenas para fins de mostrar a classificação dos itens dentre as dimensões da coesão percebida, mas, no entanto, os autores sugerem que no momento da aplicação tais itens sejam ordenados de maneira aleatória (BOLLEN; HOYLE, 1990).

“[...] Bollen e Hoyle argumentam que ambos os elementos do PCS são necessários porque, embora eles sejam altamente correlacionados, o sentido de pertencimento captura a cognição, enquanto os sentimentos de moral são os efeitos. [...]” (CHOW, 2012, p. 7, tradução nossa).

Deve-se destacar que, antes de utilizar o instrumento, as lacunas (espaços deixados em branco para preenchimento) que constam em cada um dos itens (no Quadro 2.3) devem ser substituídas por um nome que venha a fazer referência aos grupos que compõem a amostra. Segundo Bollen e Hoyle (1990), isso faz com que o PCS possa ser facilmente adaptado e aplicado a diversos tipos de grupos. Além disso, destaca-se que as palavras apresentadas entre colchetes nas duas últimas questões (Quadro 2.3) foram utilizadas no estudo, relatado em Bollen e Hoyle (1990, p. 485, tradução nossa), pelo fato de a amostra se referir à cidade, mas que tais termos podem não ser utilizados em se tratando de outras amostras, e que “[...] Em alguns casos, uma pequena reformulação pode ser necessária, como no caso do

segundo e terceiro itens de moral. [...]”. Assim, a adaptação do PCS para variados contextos é vista como sendo viável, de tal modo que os autores mostram-se otimistas quanto à flexibilidade e a generalidade das questões.

Além da possibilidade de adaptação da métrica aos mais diversos tipos de equipes, outra vantagem em se utilizar o PCS é que por ser uma escala composta por poucos itens, a aplicação do mesmo requer um pequeno espaço de tempo, de modo a não se tornar excessivamente repetitivo (BOLLEN; HOYLE, 1990).

No entanto, ressalta-se que as análises realizadas em seu estudo revelaram que o PCS possui características inegáveis que denotam o seu importante papel para o estudo da coesão de equipes, tendo em vista que tal análise evidenciou que (BOLLEN; HOYLE, 1990):

 Seus indicadores apresentaram sensibilidade suficiente para detectar possíveis diferenças entre as equipes;

 É um instrumento curto, em termos de aplicação;

 Pode ser aplicado a uma ampla variedade de equipes, sendo necessárias pequenas reformulações;

 Apresenta consistência com a definição teórica que originou-o;  É estruturalmente invariante entre os grupos;

 Possui alta confiabilidade e validade.

Deste modo, considera-se “[...] provável que o PCS seja capaz de servir como uma medida comum de coesão entre muitos grupos e perspectivas de investigação[...]” (BOLLEN; HOYLE, 1990, p. 497, tradução nossa).

Aplicação do PCS

Ao longo dos anos o PCS foi aplicado nas mais diversas áreas tendo sido inclusive realizadas reformulações e modificações em sua estrutura, pois muitos utilizaram-no em sua forma original, enquanto que outros viram a necessidade de modificá-lo para adequá-lo à realidade das amostras pesquisadas. Tais reformulações ocorrem, porque de um modo geral, sugere-se que o PCS tenha sido desenvolvido para grandes grupos, que foi a amostra utilizada originalmente por Bollen e Hoyle (1990). No Quadro 2.4 estão alguns exemplos de aplicações do PCS.

Quadro 2.4 - Uso do PCS

Autores Ano Sobre a amostra Sobre a aplicação do PCS

Baker 2010

138 estudantes matriculados em cursos de

pós-graduação on-line.

Objetivo: Estabelecer uma correlação entre as percepções individuais de relação imediata e coesão com o afetivo individual e a aprendizagem cognitiva.

Paxton e

Moody 2003

Fraternidade “Alpha Beta Chi” - mulheres há pelo

menos 1 ano na irmandade.

Objetivo: Analisar a relação entre a estrutura de rede informal e o apego emocional ao grupo.

Resultado identificado: Há um bom ajuste entre o modelo proposto e os dados do estudo.

Chow 2012

Replicação do estudo de Paxton e Moody (2003) na

“Alpha Beta Chi”.

Objetivo: comparar os resultados obtidos em ambos os estudos com o intuito de analisar se a relação encontrada por Paxton e Moody (2003) se manteve ao longo do tempo, ou se ocorreram mudanças

France, Finney e Swerdzewski () 2008 706 estudantes universitários, randomicamente divididos em duas amostras.

Objetivo: investigar as propriedades psicométricas de uma medida operacionalizada do apego do grupo e dos membros em um contexto universitário

Resultado identificado: As duas dimensões do PCS obtiveram Alfa de Cronbach superiores a 0,90

Chavous, Harris, Rivas, Helaire, Green8 2004 277 estudantes de graduação: 143 estudantes

de uma Instituição Predomi- nantemente Branca (Predomi-

nantly White Institution - PWI),

e 134 estudantes de uma Instituição Historicamente Negra (Historically Black

Institution - HBI)

Objetivo: explorar como a raça, gênero, e contexto institucional podem interagir para influenciar experiências acadêmicas, autoavaliações acadêmicas e o sucesso entre estudantes Africanos Americanos no ensino superior.

Resultado identificado: A consistência interna (confiabilidade) foi de 0,83 para a amostra da PWI e 0,86 para a amostra da HBI

Chin, Salisbury, Pearson e Stollak 1999 330 estudantes universitários, alocados randomicamente em 70 grupos com 4 a 5 membros

cada.

Objetivo: adaptar o PCS ao âmbito de pequenos grupos e validá-lo para uso em pequenos grupos. Resultado identificado: A medida do PCS adaptado é um indicador útil de coesão percebida em pequenos grupos, pois a escala demonstrou propriedades psicométricas semelhantes quando devidamente adaptadas (α=0,95 para SP, e α=0,87 para SM).

Jones e Harrison 1996 Distribuiu-se questionários a 264 membros de equipes de projetos de uma empresa da “Fortune 500” (131 foram devolvidos).

Objetivo: discutir o desenvolvimento e teste de um modelo teórico de desempenho de equipes de projeto de Sistema de Informação.

Resultado identificado: a consistência interna (confiabilidade) do PCS foi de 0,95. Salisbury, Carte e Chidambaram9 2006 110 estudantes de graduação, de uma turma de introdução à banco de dados, distribuídos em 22 equipes de 5 membros

Resultado identificado: Os resultado foram considerados confiáveis, e revelaram que o PCS para Grupos Pequenos possui boas propriedades psicométricas no contexto de equipe virtuais.

Uma das mudanças que marcou a história do PCS, foi sua adaptação para pequenos grupos, feita por Chin et al. (1999), tal versão ficou conhecida como “PCS

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Chavous et al. (2004) não aplicaram o PCS inteiro, utilizaram apenas as questões relativas à Sensação de Pertencimento (três questões),que foram respondidas através de 5 pontos Likert.

para Grupos Pequenos” (originalmente em inglês, PCS for Small Groups), autores como Ensley e Pearce (2001), Zhao (2012), Rohe et al. (2006), Salisbury, Carte e Chidambaram (2006), fizeram uso deste instrumento adaptado, em suas pesquisas.

A análise das aplicações do PCS (pesquisas apresentadas no Quadro 2.4) revelou que enquanto a maioria dos estudos que utilizaram o GEQ apresentaram críticas e/ou sugestões quanto ao seu uso, tal situação não foi identificada quanto ao PCS. Observou-se que poucas pesquisas relatam dados referentes à consistência interna do instrumento e, menos ainda apresentam críticas quanto à escala.