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Opinião pública em época de redes sociais

PARTE III – CONCEITO

Capítulo 1 – A “sociedade civil global” em construção

1.2 Ascensão e fractalização da opinião pública

1.2.3. Opinião pública em época de redes sociais

Antes de apontar temas a respeito de OP em tecnologias de comunicação dos anos 2000, Verstraeten (1996, p. 359-361) faz uma leitura político-econômica. A sua sugestão é considerar, no estudo da OP, os seguintes tópicos: a importância de se pesquisar relações de propriedade e

estruturas econômicas; a necessidade de se analisar o mundo do trabalho dentro da mídia; e a análise dos processos de significação. A tecnologia impacta na cultura e na política, a exemplo dos processos catalisados na chamada Primavera Árabe.

A Internet e as mídias sociais promoveram processos comunicacionais inéditos. E se havia conceitos de OP que mantinham uma dependência teórica da mídia impressa e, depois, das mídias de massa, eles passaram a coexistir em uma sociedade da informação. Marco Toledo Bastos (2011, p. 182) indica, a partir de Niels Finnemann (2001), o conceito de “media matrix”, relacionando-o à constelação de toda a mídia existente nesse momento específico. Entre os processos típicos dos anos 2000, há entre eles o de netclustering, uma maneira própria de fazer processamento, rotulagem e encaminhamento de dados comuns a uma interação simultânea e assincrônica. Esse processo é que permite o randomismo, pré-requisito para o estabelecimento de um conteúdo viral ou “top trending” (BASTOS, 2011, p. 189):

[...] a propagação de opiniões em redes digitais se dá por mensagens fragmentariamente decodificadas por múltiplos usuários (netclusters), a quem sequências de conexões aglomeram um ato de comunicação no próximo, criando uma dinâmica onde os estágios são exteriores aos muitos processos de comunicação. Por essa razão, a informação não é propriamente transmitida, mas compartilhada dentro de um meio de dados contingentes onde cada nó é um portão de entrada e um gatekeeper para si e para os outros. (BASTOS, 2011, p. 192).

O netclustering é um dos processos técnicos nos quais se alavancam processos sociais da atualidade. Os movimentos sociais e as novas mídias deram o que falar nos anos 2010, após eventos como os protestos no Irã e os que ficaram conhecidos como Primavera Árabe. Para Koopmans (2004), a dinâmica da interação mediada entre contendores políticos pode ser analisada como um processo evolutivo. Cabe observar três mecanismos – rotulados pelo autor como “oportunidades discursivas” – a serem considerados: visibilidade (a extensão com que a mensagem é coberta pela mídia de massa), ressonância (a extensão com que os outros – aliados, oponentes, autoridades etc – reagem à mensagem) e legitimidade (o grau com que essas relações são apoiadas).

Embora os estudos sobre movimentos sociais e sua cobertura tenham sido bastante comuns nos anos 1970, o fato é que geralmente eles enfatizavam a tendenciosidade dos meios. Koopmans (2004, p. 369-370) se recorda, porém, de um artigo de William Gamson e de Gadi Wolfsfeld no qual os autores assinalam os propósitos dos movimentos na mídia – mobilização, validação e alargamento do escopo. Porque, em princípio, os estudos não davam o destaque para o fluxo de comunicação na direção reversa, quando se tratava da influência dos meios

noticiosos sobre os movimentos sociais. O motivo é que o discurso midiático é uma fonte crucial de informação estratégica para ativistas tomarem suas decisões, servindo de input para a próxima rodada de interações (KOOPMANS, 2004, p. 370).

Nas categorias detalhadas por Koopmans, a visibilidade depende do número de canais comunicativos nos quais a mensagem está incluída e da proeminência dessa inclusão. Nesse sentido, o conhecimento dos valores-notícias faz com que muitos organizadores de movimentos antecipem suas ações a fim de projetarem suas mensagens, um caso bem comum no Greenpeace, por exemplo. Mas, além da visibilidade, a carreira discursiva da mensagem necessita provocar reações; é a chamada ressonância. Duas razões a tornam importante: a primeira é que as mensagens que ressoam viajam mais longe; e a segunda é que a ressonância aumenta as chances de os próprios atores reproduzirem a mensagem na esfera pública (KOOPMANS, 2004, p. 374-375). A legitimidade seria o grau em que, na média, terceiros elementos da esfera pública apoiam ou rejeitam um ator e suas reivindicações.

Pensando nos meios, a última década se atualizou em tecnologias e em uma explosão de pesquisas acerca dos fenômenos das tecnologias de informação. Numa dessas pesquisas, indica-se que, no Twitter, os canais de notícias ainda influenciam uma grande quantidade de seguidores a republicarem seu conteúdo para outros usuários (LEAVITT et al., 2009). Entre as variáveis do estudo, fazia-se uma relação entre seguidores e seguidos, para entender qual a influência dos indivíduos no ambiente Twitter, de modo a identificá-lo num perfil de spammer ou de um interlocutor. Ou, ainda, dividiam-se os usuários entre aqueles que se concentram na conversação e os que se concentram no conteúdo.

Considerando o uso de redes sociais, uma das conclusões dos estudiosos é que os padrões de uso do Twitter destacam relações pré-existentes entre pessoas com interesses similares. Mas, de modo alternativo, o Twitter é um meio conveniente no qual pessoas sem interesses previamente compartilhados (ou mesmo sem relações existentes entre si) podem se reunir em torno de um assunto. Também é um espaço em que se pode descobrir outros com interesses similares, como afirma Lotan (2011, p. 1397).

As relações pré-existentes permanecem na abordagem do problema da pesquisa de Wu et al. (2011), aplicando ao Twitter o padrão apresentado por Lasswell de “quem diz o quê a quem? ”. Primeiro, dentro do grupo dos usuários de elite, descobriu-se que a atenção se divide em padrões de afinidade (por exemplo, celebridades seguem celebridades). Segundo, eles encontraram suporte para o modelo chamado “two step flow of communication theory”, no qual há o filtro dos líderes de opinião. Terceiro, perceberam que todos os grupos se detêm de maneira similar nas diferentes categorias de notícia.

CAPÍTULO 2 – ERA UMA VEZ, NO JORNALISMO “PRÉ-