• Nenhum resultado encontrado

Os Cultivos Geneticamente Modificados: uma nova Revolução Agrícola?

Impactos Observados

2.5 Os Cultivos Geneticamente Modificados: uma nova Revolução Agrícola?

Do ponto de vista científico e tecnológico a engenharia genética aumenta as possibilidades de melhoramento de plantas. O desenvolvimento de variedades vegetais melhoradas foi fundamental para a superação dos desafios do século passado e será ainda mais no próximo século, dado que os desafios são muito maiores, porque a produção deverá

crescer a taxas maiores do que cresceu nas últimas décadas e com o agravante de que os recursos naturais estão ficando mais escassos.

Para enfrentar os desafios do futuro, o melhoramento de plantas deve buscar não somente aumentar a produtividade, mas também contribuir para o desenvolvimento de práticas produtivas mais sustentáveis. Ou seja, para enfrentar os desafios dos próximos anos, a agricultura deverá ser mais produtiva e ao mesmo tempo mais sustentável. Enquanto a revolução verde focou somente no crescimento da produtividade, agora para enfrentar os desafios do século XXI será necessário uma “revolução duplamente verde”, que continue buscando novas tecnologias para o crescimento da produtividade, mas sem negligenciar a sustentabilidade social e ambiental.

A engenharia genética, uma ferramenta que amplia as possibilidades de se fazer melhoramento de plantas, pode dar origem a uma “dupla revolução verde”? Os estudos de impactos mostraram até o momento que os cultivos GM estão apresentando resultados que atendem as necessidades de uma dupla revolução verde:

Maior eficiência técnica, uma vez que houve redução da quantidade física de insumos para a mesma quantidade produzida.

Maior eficiência econômica, porque houve uma redução do custo de produção. Economia de recursos naturais, porque houve redução das perdas causadas por

pragas, permitindo uma maior produção com a mesma quantidade de terra.

Os ganhos estão de distribuindo de forma a beneficiar todos os agentes da cadeia produtiva, incluindo os agricultores e os consumidores.

Melhores condições de trabalho e maior nível de renda para os agricultores pobres.

Bons resultados ambientais, uma vez que houve redução do uso de pesticidas, redução da emissão de CO2 e incentivos a adoção de práticas mais amigáveis ao

Mas os impactos apresentados acima são suficientes para que os cultivos GM se tornem uma nova revolução agrícola? A despeito da rápida difusão e dos benefícios apresentados, não há consenso entre os especialistas sobre o verdadeiro significado dos cultivos GM para a agricultura mundial.

Segundo WU&BUTZ (2004), uma tecnologia dá origem a uma “revolução agrícola” quando oferece soluções técnicas e melhoram as práticas de produção e ao mesmo tempo cria condições para a construção de um consenso entre os diversos stakeholders que participam, direta e indiretamente, do seu desenvolvimento. Os autores apresentam quatro condições para que as tecnologias possam resultar em revolução agrícola16:

1) Os agricultores precisam de incentivos para usá-las, ou seja, eles precisam perceber os benefícios líquidos no uso das novas tecnologias.

2) Eles precisam melhorar as práticas de produção, como a redução no uso de outros insumos, principalmente o de recursos naturais, e melhorar também a qualidade dos alimentos.

3) Além dos agricultores, outros grupos de stakeholders e, principalmente os consumidores, também precisam perceber os benefícios das novas tecnologias e aceitar os seus produtos.

4) É necessário haver cooperação entre os stakeholders que desenvolvem, os que regulam e os que usam as tecnologias.

Tanto os dados de difusão quanto os de impactos mostram que os cultivos GM estão apresentando as duas primeiras condições. Primeiro, a rápida difusão reflete o grande aceitação das sementes GM entre os agricultores, que podem estar associados aos benefícios líquidos. Segundo, os tipos de impactos observados indicam para uma melhora nas práticas de produção.

O grande desafio dos cultivos GM está nas outras condições, porque até agora a tanto a percepção dos benefícios quanto a dos riscos está sendo desigual entre os

stakeholders e esta “assimetria de percepção” impede a cooperação entre eles. A despeito

dos desafios da agricultura mundial e dos benefícios resultantes do uso de variedades de

16

Revolução agrícola no sentido de abrangência dos impactos positivos da tecnologia. Uma revolução agrícola para responder aos desafios atuais da agricultura precisa abranger vários tipos de cultivos (cereais, frutas, oleaginosos, açucareiros e energéticos, fibras e etc), responder as diversas necessidades da agricultura (aumento do rendimento, mais resistência aos estresses naturais, mais economia de recursos naturais e maior qualidade para os alimentos) e ser acessível para o maior número de agricultores possível, principalmente aos mais pobres dos países em desenvolvimento, que são os países mais vulneráveis em termos de segurança alimentar.

cultivos GM, o uso da engenharia genética na agricultura tem sido acompanhado por muitas controvérsias.

As diferentes percepções dos benefícios e dos riscos dos cultivos GM têm gerado três focos de controvérsias. O primeiro é entre os especialistas. O fato dos cultivos GM apresentarem impactos de diversas naturezas – agronômicos, econômicos, sociais e ambientais – tem dificultado uma convergência entre os especialistas quanto aos seus benefícios e aos seus riscos para a sociedade.

O segundo foco de controvérsia é entre a opinião pública. Mesmo nos países com bastante produção de cultivos GM, como é caso dos Estados Unidos, parte da opinião pública vê com desconfiança o uso da engenharia genética para o desenvolvimento de plantas, principalmente aquelas que serão usadas diretamente na alimentação humana. Pesquisas de opinião realizadas nos Estados Unidos, mostram 45% dos entrevistados acreditavam que os cultivos GM eram seguros para o consumo, enquanto que 54% acreditavam que eles representavam uma ameaça (HALLMAN et AL, 2003). Na União Européia a desconfiança da opinião pública com relação aos cultivos GM é ainda maior do que nos Estados Unidos, como mostram os estudos de opinião realizados pela Comissão Européia (GASKEL et al, 2006).

Além da controvérsia entre os especialistas e entre a opinião pública, existe uma terceira que é um conflito entre governos sobre a regulação dos cultivos GM. O cenário atual é de polarização entre dois modos distintos de regular os cultivos GM. De um lado estão os Estados Unidos que vêm adotando políticas regulatórias menos restritivas, que conflitam com a posição, por exemplo, da União Européia, que adota políticas mais restritivas (PAARLBERG, 2001).

As três controvérsias envolvendo os cultivos GM – controvérsia entre os especialistas, entre a opinião pública e entre os governos – podem limitar o desenvolvimento futuro dos cultivos GM, reduzindo assim as possibilidades destes cultivos

3 Os Desafios da Engenharia Genética: A