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Os dados do debate multiculturalista

PARTE II – DA DIVERSIDADE CULTURAL AO MODELO

1.2. Os dados do debate multiculturalista

No Ocidente, o reconhecimento das comunidades no quadro estadual não é, de todo, uma questão recente. Mas a tradição individualista do Iluminismo, a dinâmica de construção dos modernos Estados-Nação a que já aludimos e o desenvolvimento dos ideais democráticos revelaram-se pouco favoráveis a uma lógica de representação de grupos - sem prejuízo de, em concreto, se verificar que os diferentes Estados foram reconhecendo, de formas e com intensidades diferentes, atores institucionais, corporações, comunidades e grupos717 e de o desenvolvimento da dita “sociedade técnica” ter favorecido a afirmação destes últimos, designadamente, dos “grupos de interesse”, como associações intermédias entre indivíduo e Estado718. A tradição comunitária manteve-se mais forte nos EUA e no Canadá, nos quais, por razões históricas ligadas ao seu processo de formação, as comunidades permaneceram visíveis no espaço público, e onde, não por acaso, a reflexão teórica agrupada sob a                                                                                                                

714

MICHEL ROSENFELD, The identity…”, cit., p. 235. 715

Na expressão de SHAUNA VAN PRAAGH, Hijab et Kirpan. Une histoire de cape et d’épée, Sainte Foy, Québec, Presses de l'Université Laval, 2006, p. 46, “le seul costume de l’État liberal contemporain”.

716

WILL KYMLICKA, Multicultural Citizenship…, cit., p.1. 717

OLIVIER NAY, Histoire des idées politiques, Paris, Armand Collin/Dalloz, 2004, p. 523. Assim, OLIVIER NAY, ob. cit., p. 523, nota que em França a organização da vida política e social no Antigo Regime repousava no reconhecimento de entidades coletivas (como as ordens sociais e as corporações) “de enquadramento da vida individual” e as lutas religiosas do século XVI foram lutas pelo reconhecimento de comunidades, tendo cabido à Revolução Francesa pôr termo à organização de base “comunitária” em nome de uma conceção universalista. Sobre a tradição comunitarista alemã “anterior e posterior a Hitler”, vd. WINFRED BRÜGGER, “Communitarianism...”, cit., p. 433. Em geral sobre o pluralismo,J.C. VIEIRA DE ANDRADE, “Grupos...”, cit.

718

designação ampla de multiculturalismo despertou nos anos 60 e 70 do século XX, como resposta à sociedade multiétnica no Canadá e nos EUA719.

Com efeito, a “eclosão” do multiculturalismo em termos políticos dá-se no fim dos anos 60 do século XX no Canadá, pela mão do governo do então Primeiro- Ministro Pierre Trudeau, como forma de promover um Canadá (“one Canada”) em alternativa ao Canadá de duas nações, a francesa e a inglesa720. Em 1971, com a apresentação de Trudeau à House of Commons de um White Paper on Multiculturalism, o Canadá adotou oficialmente uma política multiculturalista para responder às reivindicações da minoria quebequense e de outros grupos minoritários, autóctones ou imigrados. Seguiu-se a adoção de políticas multiculturalistas nos anos 80 do século XX, nos EUA (sendo aí fundamental a questão racial e as lutas da comunidade negra), e mais tarde na Europa721.

No século passado, o tema das minorias, que suscitara grande interesse no século XIX e no início do século XX, caiu em relativo esquecimento até ressurgir, com força, em finais do século. Para tal esquecimento contribuiu um leque de razões entre as quais o falhanço do regime de minorias ensaiado sob a égide da Sociedade das Nações e, posteriormente, um pós II GGM marcado pela luta por direitos humanos universais, pela Guerra Fria e, em termos académicos, por uma filosofia política analítica marcada por grande abstração e pouco devotada às questões da diversidade cultural722.

Assim, a reflexão teórica sobre a diversidade cultural e os direitos das minorias veio antes a surgir em resposta a necessidades práticas ou, de outra forma, em torno de questões concretas de acomodação de minorias (nacionais, indígenas, imigradas) no seio dos Estados democráticos contemporâneos, designadamente a queda dos regimes comunistas da Europa de Leste (e a onda de nacionalismos étnicos                                                                                                                

719

OLIVIER NAY, Histoire…, cit., p. 523. 720

TANIA GROPPI, “Il multiculturalismo come strumento per la costruzione dell’identità nazionale: l’esperienza del Canada”, in Stato democratico..., cit., p. 17 ss., p. 19.

721

Em França, o termo e a noção de multiculturalismo foram introduzidos nos anos 90, vd. DENYS CUCHE La notion..., cit., p. 140 e MICHEL WIEVIORKA, “Le multiculturalisme : un concept á reconstruire ?”, 2010, disponível em http://www.raison-publique.fr/article222.html [6/11/2012].

722

Vejam-se WILL KYMLICKA, “La evolución de las normas europeas sobre los derechos de las minorías: los derechos a la cultura, la participación y la autonomía”, in RECP, n. º 17, 2007, p. 11 ss. e ANTHONY SIMON LADEN/DAVID OWEN, Multiculturalism and political theory, cit., p. 4 ss.

que desencadeou), o desafio do acolhimento dos imigrantes (em especial, nas democracias ricas da Europa e na América do Norte), as lutas políticas dos povos indígenas e a crescente e constante ameaça de secessão de minorias nacionais (e.g. em Espanha, no Canadá e na Bélgica) 723. Como notam LADEN e OWEN, o florescimento académico das teorias feministas e dos critical race studies contribuiu, a par das lutas políticas dos povos indígenas, das minorias nacionais e dos imigrantes, para a reintrodução e desenvolvimento do tópico da diversidade cultural nos estados modernos724. Por seu turno, ao menos após os anos 80 do século XX, a globalização suscitou também a questão do seu impacto na diversidade cultural e linguística725.

O campo temático – ou “campo de problemas”726 - do multiculturalismo abrange um vasto leque de questões, das quais se ocupam diferentes racionalidades e sobre as quais laboram diversos “investigadores da multiculturalidade”727. Entre estas áreas do saber, coube à filosofia e à teoria política dar um contributo essencial à problematização do multiculturalismo (ainda que o tema da ‘diferença’ tenha surgido, primeiro, entre as preocupações das ciências sociais e dos estudos culturais728).

De facto, a Filosofia Política das últimas décadas do século XX, marcada pela publicação, em 1971, da obra de JOHN RAWLS A theory of justice e pela filosofia política analítica que se lhe seguiu, caracterizada por um elevado grau de abstração e idealização, partindo do “pressuposto não assumido da homogeneidade da comunidade política”729 e da defesa do caráter fechado da polis (na qual se entra à nascença e se sai pela morte730), não encarou a reflexão sobre a diversidade cultural como uma prioridade. Para a alteração da situação foram decisivas as contribuições                                                                                                                

723

WILL KYMLICKA, “The new debate…”, cit., p. 25 ss. 724

ANTHONY SIMON LADEN/DAVID OWEN, Multiculturalism and political theory, cit., p. 5 ss. 725

KRISTIN HENRARD/ ROBERT DUNBAR, “Introduction”, in KRISTIN HENRARD/ ROBERT

DUNBAR (org.), Synergies in minority protection. European and International Law perspetives, Cambridge, Cambridge University Press, 2008, p. 1 ss., p. 6.

726

PATRICK SAVIDAN, Le multiculturalisme, cit., p. 121. 727

RICARD ZAPATA BARREDO, Multiculturalidad…, cit., p. 13. 728

TARIQ MODOOD, Multiculturalism..., cit., p. 19. 729

JOÃO CARDOSO ROSAS, Conceções..., cit., p. 99. 730

Como nota WILL KYMLICKA, Estados, naciones y culturas, Córdoba, Almuzara, 2004, p. 57 ss., o pressuposto de que a liberdade e igualdade que interessa à maior parte das pessoas é aquela de que usufruem na sua cultura societal justifica o pouco interesse que a teoria liberal dedica à abertura de fronteiras, e a conhecida assunção de RAWLS de que se espera que cada um nasça e conduza a sua vida dentro da mesma sociedade e cultura.

representadas pela política do reconhecimento de CHARLES TAYLOR e pela cidadania multicultural de WILL KYMLICKA, na sequência das quais a diversidade cultural passou a estar entre as preocupações centrais da disciplina, suscitando a questão de saber se e em que medidas as diversas conceções da justiça devem incorporar políticas e direitos orientados para a proteção das minorias culturais731.

A controvérsia filosófica que opôs liberais e comunitaristas732 foi igualmente decisiva para o desenvolvimento da filosofia multiculturalista. Por volta dos anos 80 do século passado, ter-se-á desenhado um consenso em torno da ideia de que o reconhecimento das “pertenças particulares” é compatível com os valores democráticos e liberais733, deslocando-se a discussão para a procura de soluções “políticas” capazes de conciliar o reconhecimento de especificidades culturais com os princípios democráticos e a coesão social734. Estas propostas, de inspiração ora mais comunitarista ora mais liberal, integram o “núcleo fundador” da filosofia multiculturalista 735.

As questões com que o multiculturalismo se debate hoje não são as mesmas com que se debatia no início da problemática ou ao longo dos cerca de quarenta anos que leva a discussão teórica, como nota por exemplo KYMLICKA736. Procurando analisar a evolução do debate filosófico em curso sobre direitos das minorias e diversidade cultural, o autor identifica um primeiro momento em que os direitos das minorias surgiram no contexto do debate que opunha comunitaristas a liberais, como defesa comunitarista contra a incapacidade do liberalismo em lidar com a identidade cultural. Num segundo momento do debate, a questão passou a ser a de determinar em que medida os interesses das pessoas relativos à sua cultura e identidade seriam                                                                                                                

731

JOÃO CARDOSO ROSAS, Conceções..., cit., p. 99. 732

Assim, MILENA DOYTCHEVA, Le multiculturalisme, Paris, La Découverte, 2005, p.31-32. 733

Não deixa de parecer justo assinalar-se que, tendo as discussões sobre a diversidade cultural na teoria e filosofia política surgido num contexto dominado pelo liberalismo, parte do debate se dedica a identificar em que medida o liberalismo distorce, ou é compatível, com esta diversidade cultural das sociedades políticas, como referem ANTHONY SIMON LADEN/ DAVID OWEN, Multiculturalism..., cit., p.7. Ora, esta constatação não deixa de ser, em certa medida, surpreendente, se atendermos a que o liberalismo se desenvolveu precisamente em resposta a questões de diversidade, designadamente religiosa (guerras religiosas dos séculos XVI e XVII na Europa), notam os autores, ob. cit., p.9.

734

MILENA DOYTCHEVA, Le multiculturalisme, cit., p.38. 735

Idem, cit. p. 31 ss. 736

suficientes para justificar o abandono da regra da neutralidade etnocultural, através da complementação dos direitos individuais comuns com direitos de minorias. Este segundo nível de discussão representou, segundo KYMLICKA, um progresso, ao colocar devidamente a questão, mas partindo de um pressuposto errado, pois as democracias liberais não estão, em seu entender, limitadas por nenhuma norma de “neutralidade etnocultural”. E, por isso, o terceiro momento do debate seria o de conceber os direitos das minorias, não como um desvio à neutralidade etnocultural, mas como resposta à construção da nação pela maioria, o que levantaria as questões de saber o que são formas permitidas de “nation-building” e quais os termos justos da integração de imigrantes. O quarto momento, nesta itinerância, é por vezes apelidado de declínio do multiculturalismo, ainda que porventura se trate, mais propriamente, de reformulação (a isto, voltaremos infra, no Capítulo II).

Este percurso demonstra uma mudança de enfoque. À preocupação inicial com a justificação de modelos sensíveis à diferença como ‘questões de justiça’ (e não ‘desvios à justiça’), seguiu-se uma reformulação do debate em dois sentidos: por um lado, discutindo as questões de justiça em contextos particulares, centrando-se na análise da justiça ou injustiça na distribuição dos custos e benefícios de políticas concretas associadas ou associáveis à identidade e cultura; por outro, movendo-se das questões da justiça para as questões de cidadania, procurando determinar em que termos a afirmação de direitos das minorias afeta “as virtudes cívicas e práticas de cidadania que sustentam uma democracia saudável”737.

Em especial, ainda no que respeita à dimensão de justiça, podemos verificar na discussão multiculturalista um percurso que a leva da ‘justiça entre grupos’ para a ‘justiça no interior dos grupos’. Numa primeira fase dos estudos multiculturalistas, situada entre meados da década de 80 e meados da década de 90 do século passado, estes orientaram-se para a redefinição da cidadania em termos ‘diferenciados’, substituindo a prioridade conferida aos direitos individuais ou a um sentido forte de pertença à comunidade política pelo reconhecimento, respeito e mesmo promoção, pelo Estado contemporâneo, da diferença estabelecida com base nos grupos de

                                                                                                               

737

WILL KYMLICKA/WAYNE NORMAN, “Citizenship in Culturally Diverse Societies: Issues, Contexts, Concepts”, in WILL KYMLICKA/WAYNE NORMAN (ed.), Citizenship in diverse societies, Oxford, Oxford University Press, 2000, p. 1 ss., p. 5.

pertença, por contraposição à assimilação na identidade maioritária ou dominante738. Os multiculturalistas desta primeira vaga centraram-se na ‘justiça entre grupos’, concedendo pouca atenção à dimensão interna, designadamente aos custos e riscos resultantes das políticas do reconhecimento para os membros mais débeis desses grupos e para a perpetuação de relações de desigualdade, além de terem “negligenciado” as comunidades minoritárias de base religiosa 739. A esta primeira fase sucede, no final da década de 90 do século passado, uma segunda vaga de multiculturalismo, crítico das posições anteriores, em que pontifica a crítica feminista do multiculturalismo.

Apercebe-se, por conseguinte, a coexistência de duas abordagens ao multiculturalismo como ‘questão de justiça’ ou resposta à diferença social, uma de índole acentuadamente teorética ou normativa, propondo a acomodação da diferença com base num conceito de justiça definido, em termos abstratos, por referência, designadamente, a um princípio de igual dignidade e respeito, a segunda de índole acentuadamente política, colocando a ênfase na dimensão de poder, de luta e de reivindicação, rejeitando a ideia de que a justiça possa ser definida antes, e não no âmbito de um processo político que garanta a possibilidade de as perspetivas dos grupos marginalizados se expressarem e apresentando-se, por conseguinte, como predominantemente contextual740. Ante as insuficiências de cada uma destas perspetivas se isoladamente consideradas, propõe-se uma complementaridade entre estas duas dimensões da justiça multicultural, procurando uma articulação entre o ‘jurídico’ e o ‘político’ e entre um nível normativo e uma sensibilidade contextual.

É manifesto que à teoria política coube um papel de grande protagonismo na discussão das questões suscitadas pela multiculturalidade, ocorrendo uma “especialização” que, embora compreensível, comprometeu porventura a desejável interdisciplinaridade no campo temático do multiculturalismo741. Não surpreendem,                                                                                                                

738

AYELET SHACHAR, “Religion, State, and the Problem of Gender: Reimagining Citizenship and Governance in Diverse Societies”, in McGLJ, vol. 50, 2005, p. 49 ss., p. 57.

739

Idem, cit., p. 57. 740

Sobre as diferentes abordagens, MELISSA S.WILLIAMS, “Justice toward Groups: Political Not Juridical”, in PT, n.º 23, 1995, p. 67 ss. e DAVID OWEN/JAMES TULLY, “Redistribution and recognition: two approaches”, in ANTHONY SIMON LADEN/DAVID OWEN (eds.), Multiculturalism and Political Theory, Cambridge, 2007, p. 265 ss.

741

MILENA DOYTCHEVA, Le multiculturalisme, cit., p. 97 ss. Este divórcio entre perspetivas terá estado na origem das críticas vindas das ciências sociais às propostas político-normativas das teorias multiculturalistas, consideradas pouco convincentes do ponto de vista das ciências

por isso, os apelos a um maior protagonismo das ciências sociais e a “nutrir o debate de análises concretas, e não apenas de reflexões teóricas” 742. A própria teoria do direito constitucional é acusada de se mover na sombra da teoria política em matérias que pertencem ao cerne das “preocupações constitucionais”743. Sem prejuízo da globalização jurídica e do diálogo entre ordens jurídicas (maxime, jurisprudencial) na “arena global”744, a análise constitucional comparada745 mostra como as questões relacionadas com a proteção de reivindicações culturais assumem contornos diferentes consoante os contextos em que surgem e obtêm respostas que têm de ser compreendidas no âmbito de uma determinada “tradição constitucional”, sem que isso deva ser visto como expressão de provincianismo mas, antes, de diversidade746. É nesse plano, não isento de dificuldades – o da tradução normativa das opções tomadas com base em posições próprias da filosofia moral ou política ou das ciências sociais

747

- que se insere a nossa análise.

Dada a grande riqueza teórica gerada em torno das questões da multiculturalidade, será aliás necessário ter presente que não é possível avançar uma definição única de multiculturalismo. O que este propõe é o reconhecimento e a proteção das culturas e das pertenças culturais, mas fá-lo partindo de diferentes perspetivas (e.g. comunitarista, liberal, pós-colonialista, republicana, feminista). A proposta multiculturalista, lato sensu, foi, e é, objeto de diversas críticas, oriundas de diversos setores e dirigidas a diversos aspectos, cujo tratamento sistemático é dificultado precisamente pela diversidade a que aludimos. Por conseguinte, entendemos que a melhor abordagem, no contexto da nossa proposta de trabalho, será                                                                                                                                                                                                                                                                                                                              

sociais. Sobre esta discussão, MILENA DOYTCHEVA, Le multiculturalisme, cit., p. 97 ss.; SARAH SONG, Justice, Gender, and the Politics of Multiculturalism (Contemporary Political Theory), Cambridge, Cambridge University Press, 2007, p. 31 ss. e ANNE PHILLIPS, Multiculturalism…, cit., p. 42 ss.

742

MICHEL WIEVIORKA, “Le multiculturalisme…”, cit., p. 1. 743

SUJIT CHOUDHRY, “Group…”, cit., p. 1100. 744

Evocamos o título da obra de SUZANA TAVARES DA SILVA, Direitos Fundamentais na arena global, cit.

745

Sobre a questão, vejam-se CATARINA SANTOS BOTELHO, “Lost...”, cit., e, em termos mais genéricos, FERNANDO JOSÉ BRONZE, “O direito...”, cit.

746

Trata-se, por conseguinte, da “dupla contigência” identidade/alteridade a que alude MARCELO NEVES, Transconstitucionalismo, cit., p. 270.

747

MIGUEL CARBONELL, “Constitucionalismo…”, cit., p. 24 e MENACHEM MAUTNER, “From “Honor” to “Dignity”: how should a liberal State treat no-liberal cultural groups?”, in TIL, vol. 9, 2008, p. 609 ss., p. 613.

a problemática, procurando compreender a que dão resposta ou contra quê reagem as diferentes propostas 748 e as consequências que daí resultam para a “renegociação contínua” do “equilíbrio tripartido delicado” entre grupo, Estado e indivíduo (que ‘pertence’ a ambos) que o multiculturalismo impõe749.

Perante a impossibilidade, e desnecessidade (dada a profusão do seu tratamento teórico), de rever todas as questões teóricas associadas à problemática multiculturalista, optámos por revisitar e discutir as questões que se revestem de centralidade para a reflexão que nos ocupa e para a compreensão da tutela jurídica da identidade e da diversidade culturais. Fizemo-lo procurando dar conta de contributos vindos de diferentes tradições de pensamento político, por um lado, e incorporando e discutindo os posicionamentos críticos, por outro. Fizemo-lo ainda procurando dar especial atenção às minorias imigradas ou resultantes da imigração, cujo tratamento se dilui por vezes no tratamento geral da temática das minorias culturais mas assume, noutras abordagens, sobretudo mais recentes, merecido tratamento autónomo.