• Nenhum resultado encontrado

Os estudos da satisfação no trabalho no contexto da saúde

Capitulo 1 – A Satisfação

VIII. Os estudos da satisfação no trabalho no contexto da saúde

A temática “satisfação no trabalho” ao longo dos tempos tem sido alvo de muitos estudos quer a nível nacional quer a nível internacional.

Revisitando a literatura sobre esta temática encontra-se diversos estudos que têm como contexto empírico vários tipos de profissões. Na área da saúde, a grande maioria dos estudos debruça-se sobre a classe dos enfermeiros, sendo que os restantesprofissionais pertencentes a este contexto são raramente estudados. Os estudos sobre a satisfação no trabalho dos profissionais de saúde centram-se sobretudo na análise das emoções, dos fatores higiénicos, nas características sociodemográficas e interações sociais, e na relação entre as características do trabalho e comportamentos de absentismo e turnover.

No contexto nacional, destaca-se, assim, o estudo de Tavares (2008) que, utilizou como amostra 161 profissionais de imagiologia do Hospital de Coimbra, com o intuito de avaliar a satisfação no trabalho, através do Instrumento de Avaliação de Satisfação Profissional – IASP.O investigador identificou que a satisfação depende da profissão, sendo a classe médica aquela que relevou estar mais satisfeita ao nível da Qualidade do Local de Trabalho e da Qualidade dos Serviços na Prestação de Cuidados. Reconheceu ainda que a satisfação depende do género, sendo os homens os mais satisfeitos com a Qualidade do Hospital e os Serviços na Prestação de Cuidados, bem como, na Melhoria Contínua da Qualidade.

Neste mesmo estudo, e considerando a posição hierárquica, demostrou-se ainda que a classe médica foi a que se revelou mais satisfeita, assim como os profissionais com responsabilidades de gestão. Pelo contrário, os administrativos, os técnicos de radiologia e os auxiliares de ação médica demonstraram menores níveis de satisfação. O investigador concluiu também que os inquiridos apresentaram uma grande confiança no corpo profissional do hospital, traduzida pelo reconhecimento da competência entre partes e pela disponibilidade de meios e técnicas diferenciadas e especializadas (Tavares, 2008).

Batista, Santos, Santos, & Duarte (2010) com o seu estudo intitulado “Satisfação dos Enfermeiros: estudo comparativo em dois Modelos de Gestão Hospitalar” concluíram que as variáveis sociodemográficas parecem não exercer influência sobre a satisfação no trabalho. Os investigadores concluíram que o fator idade influência a satisfação mas não de uma forma

39

proporcional, ou seja em instituições cuja grande maioria da equipa de enfermeiros é mais nova, eram estes os detentores dos maiores níveis de satisfação, e no caso o oposto eram os mais velhos os mais satisfeitos. Relativamente à variável género, não encontraram uma relação plausível, dado que em uma das organizações eram as enfermeiras as mais satisfeitas apesar de possuírem menor vencimento, menor autonomia e menor autoridade, e numa outra organização já eram os enfermeiros os mais satisfeitos. Uma outra variável estudada foi as habilitações literárias concluindo que existe uma relação parcial entre as habilitações literárias e a satisfação profissional, sendo os colaboradores com maior formação académica os mais satisfeitos (Batista et al., 2010).

Um outro estudo efetuado por Santos (2011), que teve como principal objetivo avaliar o nível de satisfação profissional e o engagement1 dos profissionais de saúde. Para avaliar estes

fatores utilizou a Escala de Satisfação Profissional, de Luís Graça (1999) e a Utrecht Work Engagement Scale (UWES) de Schaufeli e Bakker (2003) adaptada para a população portuguesa. Após inquirir 206 profissionais de saúde, verificou que no geral os profissionais se encontravam satisfeitos, embora tenham surgido alguns indicadores de não satisfação ao nível das dimensões: condições de trabalho e saúde; remuneração e segurança no emprego; e que nas três dimensões do engagement: vigor, dedicação e absorção, os profissionais se encontram na sua maioria vinculados com o trabalho (F. Santos, 2011).

Já Rodrigues (2011), com base numa amostra de 57 enfermeiros de uma Unidade de Cuidados Intensivos, teve como objetivo principal determinar quais as dimensões que mais contribuem para a satisfação, adaptando um instrumento de diagnóstico útil, no sentido de proporcionar uma melhoria da satisfação destes profissionais e um incremento na qualidade dos cuidados prestados. A investigadora conclui que os enfermeiros estudados não se encontravam de uma forma global satisfeitos nem insatisfeitos, mas foi ao nível das dimensões relação profissional/utente, relações de trabalho, suporte social, status e prestigio que apresentavam uma maior satisfação. Na sua relação com os fatores sociodemográficos, a autora verificou que a idade, a antiguidade na profissão, o estado civil, habilitações académicas e a situação no emprego têm influência sobre a satisfação profissional. Conclusão que vai ao encontro das conclusões reiteradas também pelo investigador Tavares (2008). Rodrigues (2011), concluiu ainda, que os enfermeiros manifestam intenções comportamentais que predizem fenómenos de turnover ou absentismo (Rodrigues, 2011).

1Engagment é o oposto de Burnout, onde os colaboradores trabalham de forma enérgica, afincadamente dedicados às suas tarefas na

40

Um ano mais tarde, Azevedo (2012) também decidiu estudar 246 profissionais de saúde dos centros de saúde, mas da zona norte. A sua investigação teve como objetivo explorar a satisfação dos profissionais que trabalham em unidades de cuidados de saúde primários face aos fatores sociodemográficos, organizacionais e às mudanças no sistema organizacional implantadas no Agrupamento de Centros de Saúde, através das escalas de satisfação do Instrumento de Avaliação da Satisfação Profissional - IASP, tal como o investigador Tavares (2008). A investigadora Azevedo (2012), obteve relações significativas na satisfação no trabalho em função da antiguidade, da escolaridade e do tipo de vínculo à organização, função e carreira/profissão. A maior média de satisfação profissional era obtida entre os participantes com ensino superior, com contratos mais longos e com funções de responsabilidade apesar da interferência da variável stress. Os resultados revelaram, ainda, um nível de satisfação médio, variando de acordo com a unidade onde os profissionais exerciam funções, pe. as condições de trabalho e vencimento apresentaram uma variação dos níveis de satisfação de acordo com a unidade (Azevedo, 2012).

Um outro estudo relevante para o presente trabalho é o de Cerdeira & Santana (2011) com o seu estudo “Satisfação no trabalho dos profissionais do ACeS Baixo Vouga II”. O objetivo do seu estudo foi estudar a relação entre as características do trabalho e a satisfação no trabalho, e a possibilidade de abandono definitivo do emprego dos profissionais dos centros de saúde de Aveiro, Albergaria-a-Velha, Ílhavo e Vagos. Estudou assim as características das tarefas, a autonomia, a remuneração, o desenvolvimento pessoal e profissional e promoção, a relação entre colegas de trabalho, a liderança e a supervisão.

A análise efetuada mostrou que existiam diferenças entre as categorias profissionais relativamente aos fatores associados com a satisfação no trabalho. Das dimensões analisadas as que foram mais valorizadas por todas as categorias de profissionais de saúde foram a autonomia, ambiente de trabalho e a participação na tomada de decisão, variando quanto à promoção e remunerações. Os resultados mostraram, ainda, que existiam diferenças entre os sexos e as categorias profissionais no que respeita à satisfação e à vontade de mudança. No género masculino, apenas as variáveis autonomia e ambiente de trabalho demonstraram um elevado significado para o aumento da satisfação, contribuindo para o abandono do trabalho quando as expetativas não são correspondidas. No caso das mulheres, todas as variáveis contribuíram de forma muito semelhante para a satisfação no trabalho. Relativamente à consideração da possibilidade de mudança de emprego essa situação parece ser despoletada

41

pela autonomia e relação entre colegas de trabalho (Cerdeira & Santana, 2011). Portanto, as variáveis das características da tarefa que conduziam estes profissionais à satisfação no trabalho foram diferentes tanto quanto ao fator género como quanto as categorias profissionais.

Não é apenas a nível nacional que a satisfação no trabalho no âmbito da saúde tem vindo a ser estudada, o mesmo acontece a nível internacional, onde existe também o estabelecimento da relação da satisfação com as variáveis sociodemográficas, características da função, absentismo e turnover em semelhança com os estudos portugueses.

A título de exemplo refira-se Dawson, Stasa, Roche, Homer, & Duffield (2014) no seu estudo qualitativo “Enfermagem e o turnover nos hospitais australianos: as perceções dos enfermeiros e sugestões de estratégias de apoio”. O estudo foi desenvolvido para pesquisar as perceções e pontos de vista dos enfermeiros australianos sobre o ambiente de trabalho e o turnover. Utilizaram como amostra 362 enfermeiros de 11 hospitais públicos Australianos. Verificaram que os principais fatores que afetam a rotatividade dos enfermeiros foram as oportunidades de carreira limitadas, o baixo apoio, a falta de reconhecimento, as atitudes negativas das equipas de trabalho e baixo envolvimento nos processos de tomada de decisão. Os enfermeiros que participaram no estudo sugeriram algumas medidas para a diminuição da rotatividade no trabalho, como melhorar as avaliações de desempenho e para aumentar o desempenho melhorar a flexibilidade no trabalho. Os autores concluíram assim que os enfermeiros precisavam de se sentir capacitados para ajudar a orientar as suas carreiras profissionais e contribuir para decisões que orientem para uma prestação de cuidados de saúde de qualidade nas enfermarias dos hospitais (Dawson et al., 2014).

Os autores Fogarty, Kim, Juon, Tappis, Noh, Zainullah, Rozario (2014) com o seu estudo “A satisfação no trabalho e permanência de profissionais de saúde no Afeganistão e no Malawi” descreveram a relação entre a satisfação no trabalho e intenção de permanecer no emprego de 87 profissionais de saúde de cuidados de primários do Afeganistão e do Malawi. Avaliaram também a intenção de permanecer no trabalho e as cinco características do trabalho: recursos, desempenho, reconhecimento, remunerações e oportunidades de carreira. Verificaram que as variáveis do ambiente de trabalho que explicavam a satisfação com o trabalho foi as condições de trabalho não influenciaram a satisfação como esperavam. Verificaram, ainda, que o reconhecimento era uma variável que influenciou positivamente o sentimento de permanência na organização. No entanto, o pagamento de recompensas estava negativamente relacionada com a intenção de permanência. Concluíram ainda que a construção de conceitos de satisfação

42

profissional de saúde e a intenção de permanecer na organização são altamente dependentes do contexto local (Fogarty et al., 2014).

García, Ruíz, Roche, & García (2013), desenvolveu uma investigação com o objetivo de analisar a influência do género e da idade sobre a qualidade de vida profissional 546 profissionais de saúde de um hospital universitário, através da utilização de um questionário. Os autores concluiram que 77,2% dos profissionais entrevistados estavam satisfeitos com o trabalho que realizavam. Em relação à variável género, verificou níveis mais elevados de satisfação no trabalho entre as mulheres do que os homens. Quanto à idade, os jovens com idades compreendida entre os 20 e os 30 anos e os profissionais acima de 61 anos de idade apresentaram maiores níveis de satisfação do que os profissionais do meio da faixa etária. Foi nesta faixa etária que encontrou uma maior referência para a insatisfação. Concluíram assim que as variáveis idade e género influenciam a satisfação no trabalho.

Por outro lado um estudo de Ramasodi (2010) que relaciona a produtividade, absentismo e rotatividade com a satisfação no trabalho dos profissionais de saúde de um hospital, determinou que 80% dos 103 participantes não estavam satisfeitos com o seu trabalho. Segundo o investigador estes fracos níveis de satisfação derivavam do défice de responsabilidade dos participantes na assistência aos pacientes. Segundo o autor, a satisfação com o trabalho pode afetar não só a motivação no trabalho, mas também as decisões de carreira e de permanência na organização. O autor do estudo assevera que a satisfação no trabalho também é uma parte essencial para garantir os cuidados de saúde com alta qualidade, ou seja, quando os profissionais de saúde estão insatisfeitos podem originar um serviço com défice de qualidade (Ramasodi, 2010).

No caso do estudo de Kumar, Ahmed, Shaikh, Hafeez, & Hafeez (2013) tiveram como objetivo determinar o nível de satisfação no trabalho e quais os fatores que influenciam a satisfação entre os profissionais de Saúde Pública no setor público. Obtiveram como resultados uma taxa de satisfação de 41%, enquanto 45% estavam pouco satisfeito e 14% de profissionais encontravam-se altamente insatisfeitos. Os motivos desta baixa de satisfação devem-se ao tipo de ambiente de trabalho, descrição do trabalho e da pressão sentida. Os baixo salários, a falta de formação e a supervisão foram identificados como responsáveis por estes níveis baixos de satisfação (Kumar, Ahmed, Shaikh, Hafeez, & Hafeez, 2013). Este estudo à semelhança dos estudos referenciados anteriormente, também se debruçou sobre as variáveis sociodemográficas

43

e algumas características da função, sendo atribuído as variáveis sociodemográficas, género e idade o maior motivo das baixas de satisfação.

Na sua maioria os estudos aqui apresentados investigaram a acoplagem entre a satisfação no trabalho com as variáveis sociodemográficas e algumas causas organizacionais como a hierarquia, reconhecimento e ambiente de trabalho. As suas conclusões demonstraram que não parece existir um consenso sobre a influência de algumas das variáveis sobre a satisfação como é o caso da idade e o género. Alguns destes estudos ainda se debruçaram sobre a produtividade e a qualidade do desempenho, chegando á conclusão que a satisfação interfere na qualidade dos serviços prestados. No entanto, não estabelecem uma relação causa- efeito com o aumento da produtividade.

Paralelamente á área da saúde a satisfação também é muito estudada em outras áreas profissionais e organizacionais, como referido anteriormente.

Veja-se o estudo de Katsikea, Theodosiou, Perdis e Kehagias (2011) que apesar de não atuar no mesmo sector do presente estudo – saúde – pode-se tornar relevante ser aqui apresentado. Isto porque este estudo utilizou o modelo das características da função2 e a

modificação do posto de trabalho para investigar a relação entre a estrutura organizacional, as características e os resultados do trabalho em organizações exportadoras. Assim sendo, este estudo torna-se interessante para o presente trabalho de investigação uma vez que o estudo que será aqui apresentado adiante também estuda as características da função que afetam a satisfação intrínseca com o trabalho.

Os autores utilizaram como amostra 160 empresas exportadoras do Reino Unido, e estudaram as variáveis autonomia, variedade da função e feedback. Os resultados deste estudo indicaram que níveis elevados de autonomia no trabalho, variedade de tarefas e feedback, aumentam a satisfação intrínseca com o trabalho dos gestores de exportação. Constataram ainda que a satisfação no trabalho está relacionada positivamente com o envolvimento com a organização (Katsikea, Theodosiou, Perdikis, & Kehagias, 2011).

Galveia (1995) também estudou a interferência das características da função e a satisfação no trabalho onde estabeleceu uma comparação entre dois grupos de profissionais diferentes, motoristas e controladores de rotas. Contrariamente ao que esperava não encontrou uma relação significativa entre a variedade da tarefa e significado da tarefa. Contudo concluiu

44

que o feedback, enriquecimento da tarefa e autonomia exerciam influência na satisfação geral com o trabalho.

Schjoedt (referido por B. Santos 2012, p. 16) também examinou o efeito de quatro características da função na satisfação dos empreendedores de uma empresa e fez ainda uma comparação dos resultados com os obtidos para os administradores. As características da função estudadas para ambos os grupos foram a autonomia, a variedade, a identidade da tarefa e o feedback, onde os resultados indicaram que a autonomia, a variedade de tarefas e o feedback eram preditores da satisfação.

O estudo de Amadei, Dias e Chamon (2012), no seu estudo conclui que quanto a identidade da tarefa 60% da amostra estava satisfeita, 17% muito satisfeita e 23% insatisfeita, deduzindo-se assim que esta dimensão possui algum peso para a satisfação do colaborador.

Após interpretação de todos as investigações anteriormente apresentados que adotaram a mesma teoria que o presente estudo - as características da função - concluo que tanto no contexto da saúde como fora deste contexto a autonomia no trabalho, o feedback e a variedade da tarefa são as características do trabalho com maior influência sobre a satisfação dos trabalhadores.

O presente estudo que será apresentado nas próximas página é também norteado pela teoria das características da função, uma das teorias ainda pouco desenvolvida na área da saúde. Torna-se também importante salientar que a grande maioria dos estudos nacionais acima descritos estudamos profissionais de enfermagem. Todavia o ramo da saúde é constituído por muitos mais profissionais não menos importantes, encontrando-se de momento subvalorizados na investigação. Assim, o presente estudo tem como objetivo recorrer á teoria das características da função para fazer um estudo comparativo sobre a satisfação entre Técnicos de Análises Clínicas que trabalham em diferentes tipos de organizações.

Nunca é demais referir que na literatura ainda não foi descrito nenhuma investigação empírica sobre esta classe de profissionais com uma posição importante na prevenção, diagnóstico e controlo de doenças.

Nas próximas páginas será efetuada uma breve abordagem sobre a concorrência direta dos Laboratórios de Análises Clínicas com o intuito de perceber as diferenças entre as organizações públicas e privadas e quais os fatores que influenciam os clientes no processo de escolha do laboratório.

45

Capitulo 2 – Gestão de Laboratórios de Análises Clínicas e o fator