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No contexto da publicação da 7ª edição da Historia geral do Brazil, em fins de 1962, o historiador Hélio Vianna definiu esta como a maior e melhor obra relativa a todo o período colonial até o processo de independência do Brasil, destacando que as qualidades de Varnhagen foram proclamadas pelos estudiosos da história do Brasil, começando por seu primeiro anotador, Capistrano de Abreu, em 1878, passando por Rodolfo Garcia, em ensaio biobibliográfico de 1928, até a biografia de Clado Ribeiro de Lessa, publicada na Revista do IHGB entre 1954 e 1955. Estes textos, segundo o autor, exploraram ao longo das décadas após seu falecimento as singularidades de sua obra.221

A importância do legado de Varnhagen para a escrita da história do Brasil foi elogiada por Joaquim Manuel de Macedo, no discurso de seu necrológio em 1878. Ele era elevado à condição de primeiro historiador do Brasil. Em comparação com Rocha Pitta e Southey, Varnhagen havia anunciado uma nova página na história da história da jovem nação àquela época:

Varnhagen não desthronou Rocha Pitta, nem annullou Southey, que ficaram inabalaveis na grandeza de suas obras, medidas pelas proporções possiveis dos conhecimentos historicos do Brasil nos tempos em que um e outro escreveram; mas, não lhes disputando a palma da gloria chronologica, excedeu-os muito em verificação de factos e de datas, em esclarecimentos documentados, a espancar dúvidas e escuras nuvens de história, além de avançar não pouco em informações e juízos sobre cousas de época mais recente.

Varnhagen assumiu por isso o elevado gráo de primeiro historiador do Brasil até os nossos tempos, e basta isso para a glorificação do seu nome e para a perpetuidade honorífica de sua memoria.222

Na mesma direção do discurso do orador do IHGB, Capistrano de Abreu reconheceu a magnitude de sua obra por ser um grande progresso na maneira de conceber a história pátria, exigindo,

221 Hélio Vianna, Singularidade de um historiador [A propósito da 7ª edição integral da História Geral do Brasil e da 5ª edição da História da Independência, de Francisco Adolfo de Varnhagen, Visconde de Porto Seguro], RIHGB, op. cit., p. 362.

222 Joaquim Manoel de Macedo (orador), Discurso na Sessão Magna Anniversaria do Instituto Histórico e Goegraphico Brasileiro no dia 15 de dezembro de 1878, RIHGSP, op. cit., p. 487.

portanto, respeito e gratidão. A lógica da Historia geral do Brazil diferenciava-se da concepção de história dos primeiros cronistas ou mesmo de um Rocha Pitta. Para o autor de Capitulos de história colonial,

Já não é a concepção de Gândavo ou Gabriel Soares, em que o Brasil é considerado simples apêndice de Portugal, e a história um meio de chamar a emigração, e pedir a atenção do governo para o estado pouco defensável do país, sujeito a insultos de inimigos, contra os quais se reclama proteção. Não é concepção dos cronistas eclesiásticos, que vêem simplesmente uma província, onde a respectiva Congregação prestou serviços, que procuram realçar. Não é de Rocha Pita, atormentado pelo prurido de fazer estilo, imitar Tito Lívio e achar no solo americano cenas que relembrem as que passaram na Europa. Não é a de Southey, atormentado ao contrário pela paciência de fugir às sociedades do Velho Mundo, visitar países pouco conhecidos, saciar a sede de aspectos originais e perspectivas pitorescas, a que cedem todos os poetas transatlânticos, desde os autores de Atala e do Corsário até os das Orientais e Clara Gazul... Não. Varnhagen atende somente ao Brasil, e no correr de sua obra procurou sempre e muitas vezes conseguiu colocar-se sob o verdadeiro ponto de vista nacional.223

Ao referir-se sobre a tarefa do historiador, Oliveira Lima afirmou que o estudo da história da pátria iria além de uma mera tarefa simpática e agradável, traduzia-se na satisfação de uma tendência da alma nacional:

O passado não só envolve a tradição, como gera o incentivo da acção pela lembrança dos feitos gloriosos de outras gerações, que com a distancia do tempo perdem as asperidades e imperfeições, e mais gloriosos parecem ainda na sua idealização vaporosa não se lhes conhecendo as sombras nem os defeitos. Assim, na pintura, por effeito da perspectiva, esfumao-se os contornos, esbatem-se as cores, corrigem-se as desigualdades e uniformisa-se a visão. Além disso, o passado pesa com todo o seu peso sobre o presente, engrinaldando-o com a messe das suas virtudes e manchando-o com a recordação dos seus crimes. O historiador que, exalçando-as, evoca as

223 João Capistrano de Abreu, Necrológio de Francisco Adolfo de Varnhagen, Visconde de Porto Seguro, in: Ensaios e Estudos (Crítica e História), op. cit., p. 89-90.

primeiras e, vilipendiando-os tenta corrigir os segundos, faz obra de moralista e merece mais do que a admiração, tem jus á veneração publica.224

Diante desses desafios de ofício, somente os sentimentos de honestidade profissional e de equidade social de Varnhagen permitiriam que ele realizasse a missão de escrever a história do Brasil. Para Oliveira Lima, Varnhagen havia feito uma obra de moralista com proposta pragmática, escrevendo para incentivar os homens de seu presente à ação:

Nas proprias palavras delle a historia deve ter por intenção “formar e melhorar o espirito publico nacional”, e foi sem tergiversações que desempenhou este papel de moralista, na accepção mais elevada da palavra, a saber, do historiador que faz servir a historia de ensinamento para os seus contemporaneos, porque, como Varnhagen disse algures, o presente não é mais do que a repetição do passado.225

A originalidade de Varnhagen em sua empreitada, nas palavras de Pedro Lessa, estava na ausência de um modelo, de um antecessor ou de um guia para orientá-lo. Este fato era mais do que suficiente para celebrá-lo e tomar cuidado na força das críticas. Para o conferencista, nenhum brasileiro ou português teria escrito um livro que pudesse carregar o título de História do Brasil antes da publicação de sua Historia geral do Brazil:

Perfeitamente ocioso fora demonstra-lo, recordando neste momento a natureza dos escriptos dos nossos primeiros chronistas como Gandavo, Anchieta, Nóbrega, Gabriel Soares, que nunca poderiam pretender o titulo de historiador. Os que vieram depois, ou escrevessem sobre assumptos especiaes e muito restrictos, como Jaboatão na Chronica dos Frades Menores da Provincia do

Brasil, inçada, como era natural, de superstições e graves erros, ou se

occupassem de nobiliarchias, como Pedro Taques na Genealogia das principaes

famílias de S. Paulo, titulo que por si só, quaesquer que fossem os desvelos do

auctor no consultar e interpretar os archivos e documentos, exclue a idéa de Historia; ou preparassem as Memorias para a Historia de uma capitania, como

224 Manoel de Oliveira Lima. Francisco Adolpho Varnhagen, Visconde de Porto Seguro, RIHGSP, op. cit., p. 76-78. 225 Ibidem, ibidem.

fez para a de S. Paulo frei Gaspar da Madre de Deus, que Capistrano de Abreu recommenda que sempre se leia com cautela; ou accumulassem desordenadamente materiaes para a Historia, como Pizarro nas Memorias

historicas do Rio de Janeiro e das provincias annexas á juristicção do Vice-Rei do Estado do Brasil; ou Luiz Gonçalves dos Santos nas Memorias para servir á Historia do reino do Brasil; todos esses que vieram depois de Gandavos, dos

Nobregas, dos Gabrieis Soares, apenas proporcionaram ao historiador alguns subsidios, que só podiam ser aproveitados depois de uma rigorosa selecção. Tal foi tambem o concurso de Ayres do Casal, de Fernandes Pinheiro, de Ignácio Accioli e de alguns outros.226

A Historia geral do Brazil, segundo Clado Ribeiro de Lessa, constituiu-se como a primeira história global brasileira que apareceu no século XIX, principalmente por ser da autoria de um historiador da terra. Era escrita com base na lição dos documentos originais e nos bons cânones da heurística e da crítica. À época de sua publicação,

O público ilustrado, as maiores sumidades de ambos os continentes, acolheram- na com entusiasmo, consagrando definitivamente, como pai da história brasileira, êsse estudioso no vigor da idade, que no frontespício de sua obra, intitulando-se Um sócio do Instituto Histórico do Brasil natural de Sorocaba, prestava de inicio homenagem aos dois títulos de que mais se orgulhava.227

Esta afirmação acerca da receptividade da Historia geral do Brazil foi feita anteriormente por Rodolfo Garcia, quando este observou que essa obra foi recebida com geral aplauso. Antes da sua publicação, relatou o historiador no ensaio biobibliográfico, a história do Brasil carecia de pesquisa documental, muito presa às crônicas, embora úteis, mas insufficientes, como fontes unicas, para a interpretação definitiva dos factos narrados, para lhes dar a significação precisa, as circunstâncias que os determinaram e a finalidade que cumpriram.228

226 Pedro Lessa, (sem título – elogio a Francisco Adolfo de Varnhagen, pronunciado na Sessão Solenne Especial, em 17 de fevereiro de 1916, commemorativa do centenário do nascimento do Visconde de Porto Seguro), RIHGB, op. cit., p. 624.

227 Clado Ribeiro de Lessa, Vida e obra de Varnhagen (vol. 223), RIHGB, op. cit., p. 170.

228 Rodolfo Garcia, Appenso Ensaio Bio-bibliográfico sobre Francisco Adolpho de Varnhagen, Visconde de Porto-Seguro, in: Francisco Adolpho de Varnhagen, Visconde de Porto Seguro, História Geral do Brasil antes de sua separação e independência de Portugal, op. cit., p. 436-452.

Ao ordenar de forma sistemática a história colonial, Varnhagen havia provocado uma distorção na narrativa em relação aos portugueses. Segundo Américo Jacobina Lacombe, a maioria dos estudiosos de sua época defendia o movimento de independência com uma forte marca de desaprêço por tudo que era metropolitano. Estes literatos, imbuídos do romantismo crescente, transferiram todo o sentimento de patriotismo, para o índio, o caboclo, glorificado nos desfiles na Bahia, nos panos de boca de teatros, nos poemas e nas canções.229

Para o futuro presidente do IHGB, as idéias políticas de Varnhagen, presentes na Historia geral do Brazil, navegando em rota contrária dos indianistas românticos, estariam fundamentadas na defesa da continuidade. Entre o projeto do caboclismo romântico e da europeização que se vê emergir com a corrente comtista, Varnhagen estaria numa posição de equilíbrio:

O que ele queria estabelecer como base do seu nacionalismo era a continuidade com a obra colonizadora. Mas ficou ainda aquém do movimento que um século depois se vem fazendo, ressaltando as qualidades étnicas e culturais do português, sob o título de lusotropicalismo e ibero-tropicalismo.230

Assim como os demais estudiosos de Varnhagen, Américo Jacobina Lacombe não deixou de registrar que sua obra principal era uma criação sem paralelo, seja pela vastidão da pesquisa, seja pela acumulação dos fatos, seja pelo achados novos. Historia geral do Brazil trazia nas suas páginas o esforço de constituição de uma síntese, numa suma não só cronológica, como crítica.231

Esse desejo de síntese constituiu-se em objeto das críticas em torno da sua obra, uma vez que era acusado de não tê-lo concretizado a contento ou se como gostaria que tivesse sido feito. Para José Honório Rodrigues, apesar de conter revelação de fatos mais do que poderia esperar o leitor, a Historia geral do Brazil não obedecia a critérios rigorosos na distribuição da matéria. Era um livro de viés mais cronológico do que temático. Os títulos dos capítulos, na sua análise, eram inexpressivos no desvendar de seus temas, mais escondiam que revelavam as novidades que continham. Em síntese, porque é mais cronológica que temática, na concepção geral, é também expressão de um processo construtivo mais estático que dinâmico. (...) O grande tema é a obra da colonização portuguêsa no Brasil.232

229 Américo Jacobina Lacombe, As idéias políticas de Varnhagen, RIHGB, op. cit., p. 141. 230 Ibidem, p. 142.

231 Ibidem, p. 144.

A crítica de José Honório Rodrigues a Varnhagen remonta aos juízos de Capistrano de Abreu, nos textos de 1878 e 1882 respectivamente, quando este acusa o autor da Historia geral do Brazil de jamais colocar o debate no campo da justiça, mas no da conveniência e da utilidade.233

No Necrológio de 1878, Capistrano de Abreu percebeu que, embora a obra de Varnhagen inovasse pela escavação de documentos, ela pecava pela ignorância ou desdém do corpo de doutrinas criadoras que naquela época se constituíam como ciência sob o título de sociologia. Na sua leitura,

Sem esse facho luminoso, ele não podia ver o modo por que se elabora a vida social. Sem ele as relações que ligam os momentos sucessivos da vida de um povo não podiam desenhar-se em seu espírito de modo a esclarecer as diferentes feições e fatores reciprocamente.234

A Historia geral do Brazil, retomou no ensaio de 1882, seria um dos livros mais ariscos e mais fugidios que conhecia, pois haveria em suas páginas um quê, que escapa, que resiste, que não se acha quando se procura, mas que é preciso procurar para achar.235

Para Capistrano de Abreu, o visconde de Porto Seguro poderia ter apresentado obra melhor, se não fosse a falta de aptidões artísticas, se ele fosse capaz de ter uma noção de conjunto:

Sob as mãos de Varnhagen, a história do Brasil uniformiza-se e esplandece; os relevos arrasam-se, os característicos misturam-se e as cores desbotam. Vê-se uma extensa, mas plana, sempre igual, que lembra as páginas de um livro que o brochador descuidoso repete. E, todavia, mesmo as pessoas que conhecem a história pátria infinitamente menos que Varnhagen, percebem que as épocas se sucedem, mas não se parecem, e muitas vezes não se continuam.236

233 João Capistrano de Abreu, Sobre o Visconde de Porto Seguro, in: Ensaios e Estudos (Crítica e História), op. cit., p. 137.

234 João Capistrano de Abreu, Necrológio de Francisco Adolfo de Varnhagen, Visconde de Porto Seguro, in: Ensaios e Estudos (Crítica e História), op. cit., p. 90.

235 João Capistrano de Abreu, Sobre o Visconde de Porto Seguro, in: Ensaios e Estudos (Crítica e História), op. cit., p. 139. Segundo Maria da Glória de Oliveira, para a geração de Capistrano de Abreu a escrita da história pressupunha a circunscrição de uma ordem de tempo

específica, o tempo da nação. Um desafio ao qual ele responderia distintamente do modo com que o havia feito, por exemplo, Francisco Adolfo de Varnhagen (1816-1878): mesmo escrevendo a partir da sua História Geral, projetou quebrar os seus “quadros de ferro” e, a contrapelo, abriu caminhos, “a grandes traços e largas malhas”, com a sua história em capítulos do Brasil colonial. Maria da Glória de Oliveira, Crítica, método e escrita da história em João Capistrano de Abreu (1853-1927), op. cit., p. 10.

Em relação a estas críticas, Pedro Lessa partiu em sua defesa, fazendo uma série de indagações aos que julgaram de forma injusta o creador da Historiographia do Brasil. A peça oratória em homenagem a Varnhagen tornou-se uma espécie de réplica quanto às acusações que pesavam contra suas posições políticas, seus procedimentos de pesquisa e sua obra:

Quero alludir, senhores, áqueles implacaveis criticos de Varnhagen que reconhecem e confessam redondamente a exactidão das discripções, a authenticidade dos documentos e a segurança da critica, que são os predicados essenciais da Historia Geral do Brasil, mas accusam com vivacidade o nosso historiador do grave delicto de haver desprezado o conselho de von Martius, e de não ter feito da nossa Historia um epos “composto com todo amor e todo o zêlo, patriotico, com aquelle fogo poetico proprio da juventude, o que não exclue a applicação e profundeza de juizo e firmeza de character, peculiares á edade madura e varonil.237

Varnhagen publicou a sua obra no meado do seculo XIX. Não lhe podiam servir de modelo os nove capitulos, dedicados ás nove Musas, e recheados de lendas e fabulas, da Historia de Heródoto, nem aquelllas descripções de scenas da mais enaltecida moral, phantasiadas por Xenophonte na Historia de Cyro, nem aquelles equivocos, erros e falsidades, nem aquellas brilhantes e eloquentissimas arengas, que abundam nas Decades de Tito Livio, nem aquellas páginas admiraveis que Sallustio escreveu só para exhibir o seu estylo magnífico.

Em 1854, não era possivel a um espirito sério e instruido conceber a Historia desse modo. A primeira qualidade do historiador (será preciso repeti-lo?) é a fidelidade nas descripções, a verdade, a exactidão.238

Na opinião do jurista, a falta mais grave pela qual foi sistematicamente atacado foi de uma apreciação, de um conceito, de um comentário: o do juízo de Varnhagen sobre a escravização dos indios e

237 Pedro Lessa, (sem título – elogio a Francisco Adolfo de Varnhagen, pronunciado na Sessão Solenne Especial, em 17 de fevereiro de 1916, commemorativa do centenário do nascimento do Visconde de Porto Seguro), RIHGB, op. cit., p. 630.

o tractamento a estes ministrado. Este seria o calcanhar de Aquiles do visconde de Porto Seguro constantemente lembrado por seus contemporâneos e posteriores.239

Em sua volumosa biografia de Varnhagen, Clado Ribeiro de Lessa destacaria os embates acerca da proposta de escravização dos índios presentes na sua obra. Para ilustrar os meandros da contenda de Varnhagen com os indianistas românticos dentro do IHGB, o biógrafo citou a dissertação Os Índios perante a nacionalidade brasileira, publicada em 1857 no tomo II da Historia geral do Brazil:

Em 1857 publicava o 2º volume da História Geral, precedendo-o da dissertação:

Os Índios perante a nacionalidade brasileira, anteriormente lida em duas sessões

da Academia de História de Madrid. Nesse trabalho faz solene profissão de fé contrária à teoria do patriotismo cabloco, e, discutindo várias proposições atinentes o tema, termina por concluir que “os Índios não eram donos do Brasil, nem lhes era aplicável, como selvagens, o nome de Brasileiros; não podiam civilizar-se sem a presença da fôrça, da qual não se abusou tanto como se assoalha; e finalmente de modo algum podiam êles ser tomados para nosso guias no presente e no passado em sentimentos de patriotismo ou em representações da nacionalidade”.

Estas conclusões, tão sensatas em si mesmas, e tão moderadas na forma por que foram expostas, provocaram, não obstante, tremenda campanha por parte dos defensores intransigentes dos índios, de que foi campeão o néo-convertido Timon, e ainda hoje têm contestadores exaltados entre os admiradores incondicionais dos jesuítas (cuja obra e pensamento diretor, aliás, ignoram) e aquêles que fazem do Humanitarismo meio de vida e promoção.240

De acordo com José Honório Rodrigues, além da sua oposição ao caboclismo romântico, Varnhagen também deixava transparecer sua repulsa às populações brasileiras de camadas sociais mais baixas ou inferiores. Esse sentimento traduzia-se na forma como os representava em trechos da Historia geral do Brazil, que se convertiam em noticiário de ocorrências policiais. Como juiz e moralista da história,

239 Conferir: Laura Nogueira Oliveira, Os índios bravos e Sr. Visconde: Os indígenas brasileiros na obra de Francisco Adolfo de Varnhagen, op. cit.

Varnhagen deixava transparecer no julgamento das figuras e no tratamento dos inconformismos preconceitos políticos, sociais, religiosos. 241

Tanto Pedro Lessa, quanto Clado Ribeiro de Lessa advogaram abertamente em defesa (da posição) de Varnhagen no trato das questões sobre os indígenas. Pedro Lessa alertou para a necessidade de compreendê-lo à luz de seu contexto, mostrando que suas idéias não estavam restritas a seus escritos. As idéias de Varnhagen

Faziam parte integrante do ambiente da ephoca. A necessidade do recurso á força e a inutilidade em muitos casos da catechese e dos meios suasorios eram affirmadas em documentos officiaes, em que Varnhagen se apóia para justificar as suas asserções. Além de muitos relatórios de presidentes de provincia, lembra o nosso historiador muito notadamente o do ministro do Imperio de 1852, em que se lê este trecho, relativo aos indigenas: “sem o emprego da fôrça... não é possivel repellir a aggressão dos mais ferozes, reprimir suas correrias, e mesmo evitar as represalias a que ellas dão logar”, ao que accrescenta Varnhagen, reproduzindo a observação de um missionário: “Entre os Indios era