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5 O GÊNERO REQUERIMENTO EM ANÁLISE PERSPECTIVA

5.4 Os usuários

5.4.2 Os leitores

5.4.2.1 Quem são

A leitura desses requerimentos está completamente relacionada ao papel desempenhado pelos leitores dentro da universidade, haja vista que são lidos por servidores da instituição, em cumprimento de suas funções laborais. Geralmente, essa leitura pode ser feita por professores, no exercício de atividades administrativas, e servidores que trabalham nas coordenações dos cursos ou que atuam na PROGRAD. Os professores e os servidores das coordenações, comumente, agem, nesse sistema, mais na parte da orientação aos alunos ou, no caso dos primeiros, para analisar as solicitações, quando são membros do CONSEPE. Especificamente, nos interessa olhar para os servidores técnico- administrativos da PROGRAD, por serem eles quem lidam com o atendimento da

maior parte desses textos. Para compreender melhor esses funcionários e o exercício dessa atividade, valemo-nos dos dados gerados a partir dos questionários e das entrevistas. Dos 8 (oito) funcionários que responderam ao questionário, 5 (cinco) são do sexo feminino; a maior parte está na faixa etária entre 26 e 35 anos e trabalha na UFRN a mais de seis anos. Quanto à qualificação desses profissionais, observe no gráfico abaixo:

Gráfico 23- Nível de escolaridade dos servidores técnico-administrativos da PROGRAD/UFRN

Fonte: Acervo da pesquisa

Observamos que, apesar de, legalmente, ser o exigido o nível médio para o exercício da função, os servidores estão acima dele, pois todos fazem ou fizeram algum curso de graduação e a maioria, ou seja, 5 (cinco) deles, já está no nível de pós-graduação completa ou incompleta, sendo que 4 (quatro) já tem uma pós- graduação completa. Isso demonstra a existência de um processo de qualificação dos servidores, ao mesmo tempo em que nos permite reconhecer que eles possuem uma capacidade intelectual desenvolvida suficientemente para atender às demandas referentes aos requerimentos.

De modo geral, a maioria deles (75%) assume que gosta de ler, sendo as leituras apontadas como as mais prazerosas, por 63% (sessenta e três por cento) as de revistas de informação e femininas, livros de romance, policiais ou de ficção científica e, por 50% (cinquenta por cento), as histórias em quadrinho. Observamos que, dentre os posicionamentos, a leitura de textos oficiais não foi mencionada. O gráfico seguinte apresenta a opinião deles sobre esse tipo de leitura.

Gráfico 24 - Opinião dos servidores técnico-administrativos da PROGRAD/UFRN sobre a leitura dos textos oficiais

Fonte: Acervo da pesquisa

O Gráfico 24 revela-nos que a maioria dos servidores, 75% (setenta e cinco por cento) deles, julga a leitura de textos oficiais necessária. Outra parte dos nossos coladores afirma, ainda, que esse tipo de leitura é cansativa (13%) e a outra pensa que ela é fácil (13%). Vale ressaltar que, quando perguntados sobre a frequência da leitura desse tipo de texto, 50% (cinquenta por cento) responderam que sempre faz leitura de textos oficiais e a outra metade revelou que faz somente quando precisa.

Diante desses dados, observamos que a leitura dos requerimentos para esses servidores, de fato se coloca em favor do cumprimento de suas obrigações institucionais, uma vez que, por nenhum deles, ela foi citada como uma atividade agradável.

Questionados a respeito do uso do computador, os servidores revelaram que o utilizam com grande frequência, conforme aponta o Gráfico 25, disposto a seguir. Gráfico 25 - Frequência com que os servidores técnico-administrativos da PROGRAD/UFRN usam o computador

Como vemos, parece-nos não haver uma certa dificuldade no uso com dessa ferramenta, uma vez que todos afirmaram que utilizam o computador muitas vezes ao dia. Inclusive, em outra pergunta a respeito do local onde acessam o computador, em que eles poderiam marcar mais de uma alternativa, todos afirmaram que o acessam em seu trabalho e 63% (sessenta e três por cento) disseram, ainda, que também usam o computador em sua residência. Podemos, então, deduzir que o computador é um instrumento com o qual os servidores lidam rotineiramente, no desempenho de suas tarefas diárias tanto no trabalho quanto em casa.

5.4.2.2 O que eles têm a dizer sobre esses requerimentos

Da mesma forma que fizemos com os escritores, aplicamos mais de uma técnica de pesquisa (questionário e entrevista) para ouvir o que os leitores têm a dizer sobre o gênero em análise. Em uma entrevista, um dos servidores falou-nos sobre a inserção dos requerimentos nas atividades que são desempenhadas na PROGRAD.

Esses requerimentos fazem parte das rotinas da PROGRAD, porque cada setor, de acordo com sua competência, tem a obrigação de ler e atender aos pedidos, caso estejam de acordo com o regulamento. (...) A maioria dos trabalhos desenvolvidos na PROGRAD se refere ao atendimento desses requerimentos, porque sem eles, eu não sei nem como seria o atendimento a esses alunos./ Existe atendimento de outras formas, mas a maioria é através dos requerimentos. (ST2)

Na declaração de ST2, enxergamos a importância que os textos produzidos pelos alunos têm dentro das atividades desenvolvidas na Pró-reitoria de Graduação. Observe que o servidor chega a relatar que a maior parte do trabalho lá desenvolvido refere-se, justamente, ao atendimento dos requerimentos.

Perguntamos, através do questionário, sobre o grau de satisfação dos servidores em relação ao sistema de solicitação adotado pela PROGRAD, todos os indivíduos manifestaram-se satisfeitos.

Gráfico 26 - Grau de satisfação dos servidores técnico-administrativos da PROGRAD/UFRN em relação ao sistema de solicitação dessa pró-reitoria

Fonte: Acervo da pesquisa

Como vemos, no Gráfico 26, nenhum servidor se mostrou insatisfeito com o sistema de atividade referente aos requerimentos. O grau de satisfação variou entre satisfeito e pouco satisfeito, sendo o primeiro escolhido pela maioria, no caso por 75% (setenta e cinco por cento) deles. Importa notar que nenhum dos servidores se considera muito satisfeito.

Para compreender melhor esse dado, indagamos os servidores sobre a existência de dificuldades na leitura desses requerimentos e pedimos que eles relatassem, no caso de resposta afirmativa. Vejamos, a seguir, o que alguns deles disseram sobre isso:

Algumas dificuldades encontradas foram relativas a não compreensão do texto escrito pelo discente, especialmente por falta de clareza ou até por motivo de ilegibilidade textual. (ST3)

Os alunos, algumas vezes, não conseguem expressar por escrito o que realmente pleiteiam, dificultando e/ou impedindo o atendimento da solicitação realizada. (ST6)

Textos confusos, ambíguos, sem clareza. (ST7)

Na verdade, a maior dificuldade encontrada para atender às solicitações dos alunos se verifica na compreensão do que os alunos realmente estão querendo, tendo em vista que muitas vezes eles não sabem se expressar da melhor maneira. (ST8)

Percebemos, com base nos relatos apontados acima, que, as queixas dos servidores se referem, principalmente, ao não entendimento acerca do objeto da solicitação. Isso significa que, mesmo sendo o requerimento um gênero simples, cujo propósito comunicativo apresenta-se de fácil identificação, já que o próprio nome refere-se ao ato de fala que o configura, os alunos não demonstram um domínio a seu respeito.

Para saber se essa falta de entendimento chega a prejudicar a realização do gênero, questionamos os servidores se essa dificuldade chegou a impedir o atendimento a alguma solicitação. Vejamos o que eles responderam.

Gráfico 27 - Revelação dos servidores técnico-administrativos da PROGRAD/UFRN a respeito de terem deixado de atender algum requerimento por não tê-lo compreendido

Fonte: Acervo da pesquisa

De acordo com os dados do Gráfico 27, 88% (oitenta e oito por cento) dos servidores, ou seja, a maioria, revelaram que já deixaram de atender prontamente um requerimento devido a problemas de compreensão do objeto da solicitação, sendo que 63% (sessenta e três por cento) assumiram que isso ocorreu algumas vezes e 25% (vinte e cinco por cento), poucas vezes. Apenas 13% (treze por cento), equivalente a 1 (um) servidor, negou que isso tenha ocorrido com ele.

Em relação à postura adotada diante do não entendimento de um requerimento, a maioria deles disse que costuma pedir ajuda aos colegas de trabalho (88%) e que entra em contato com o aluno para pedir esclarecimentos (88%). Eles registraram, ainda, que conhecem vários casos de alunos que precisaram refazer um requerimento, por problemas de incompreensão, devido a

problemas com a escrita, para terem suas solicitações devidamente, atendidas. 50% (cinquenta por cento) disseram que já viram isso ocorrer algumas vezes e 25% (vinte e cinco por cento), poucas vezes.

Percebamos que as dificuldades indicadas pelos leitores vão repercutir em um dos problemas apontados pelos alunos que diz respeito à questão da morosidade nos procedimentos que envolvem os requerimentos. Isso nos permite depreender que, para diminuir o tempo de atendimento aos requerimentos, faz-se necessário oferecer condições mais simples e diretas da escrita desse gênero.

A fim de evitar esses problemas, um dos servidores elucidou o que, no seu ponto de vista, não pode faltar a um requerimento:

Identificação do requerente; descrição clara do que está sendo requisitado; identificação de a quem tal requerimento é dirigido; se há necessidade de anexar alguns outros documentos e assinatura do requerente e do recebedor. (ST5)

No trecho destacado acima, vemos que o servidor elege como informações primordiais à produção do requerimento, para evitar os problemas relatados, alguns elementos retóricos, como: quem, o que e para quem.

Consultamos a opinião dos servidores a respeito de sugestões para melhora do sistema referente aos requerimentos. Em entrevista, ST1 expôs o seguinte:

Bem, inicialmente, eu realmente gostaria de que pra melhorar essa questão do aluno saber se expressar melhor, que todos os cursos tivessem, pelo menos, uma disciplina sobre interpretação e produção de texto (...). Outras questões que eu acho que deveriam ser abordadas pra que houvesse uma melhora tanto na utilização das nossas ferramentas e do próprio regulamento pelos alunos, seria que todos os alunos de primeiro semestre deviam ter, de forma optativa, um minicurso sobre como usar as ferramentas do SIGAA e um minicurso sobre o Regulamento dos Cursos de Graduação, os direitos e deveres dos alunos, porque, dessa forma, os alunos seriam melhor orientados, certo?! [sic] (ST1)

Como vemos, a explanação de ST1 está em sintonia com a preocupação dos alunos ligada à questão dos problemas de orientação. No seu dizer, ele sugere que sejam oferecidas aos alunos, como atividades curriculares, três possibilidades de

estudo: a primeira referente ao domínio da Língua Portuguesa quanto à questão de interpretação e produção de texto; a segunda sobre as ferramentas que o SIGAA disponibiliza ao aluno; e a terceira relacionada aos direitos e deveres do aluno na instituição. Vale ressaltar que a novidade presente na primeira sugestão de ST1 seria o fato da atividade curricular ser oferecida a todos os cursos de graduação.

Para acolher de forma democrática as sugestões dos servidores, resolvemos apresentar algumas indicadas nos questionários, já que foram oferecidas outras possibilidades.

Que se crie requerimentos que facilitem a objetividade da solicitação do solicitante e que ajudem no entendimento do servidor que vai a atender aquele pedido. (ST2)

Seria interessante criar um sistema de solicitações semi-pronto, no qual o estudante tivesse a opção de marcar a opção que deseja requerer e abaixo sinalizar sua justificativa para que seu pedido seja atendido. (ST3)

Investir na informação e esclarecimentos on-line, por meio de portais eletrônicos. (ST5)

Como abordado anteriormente, solicitações feitas eletronicamente com modelos "pré-prontos" de cada tipo de solicitação. Deixar espaço em aberto nos formulários apenas o que não pode ser previsto/pré-determinado com base nos históricos de pedidos feitos pelos discentes. (ST7)

Acredito que uma boa forma de diminuir esse problema seria viabilizar a comunicação virtual entre o aluno e a instituição, por meio de um programa eletrônico de fácil leitura e compreensão, no intuito de dinamizar a sistemática, eliminando a grande burocracia que ainda impera em nosso meio, a qual, muitas vezes, apenas dificulta o atendimento de pedidos que poderiam ser facilmente solicitados. Além disso, em caso de eventual dificuldade na compreensão do pedido do aluno, as dúvidas e esclarecimentos também poderiam ser obtidas virtualmente, por meio de um processo mais ágil e eficiente. (ST8)

Consideramos todas as sugestões de grande relevância para nossa pesquisa. Expomos aquelas que foram mais enfáticas, que apresentaram maiores detalhes no sentido de tornar prático o que eles sugerem e que, de algum modo, tiveram uma recorrência. Observe que, nos questionários, todos os servidores foram unânimes quanto à necessidade de uso da tecnologia em favor de diminuir a falta de

conhecimento a respeito do uso desse gênero, economizando, também, o tempo e os gastos públicos.

Nesse sentido, a informatização do processo que envolve os requerimentos representa tanto para os escritores (alunos) quanto para os leitores (servidores) a possibilidade de melhora das condições de produção e de leitura desses textos, uma vez que isso poderia aclarar, já na fase da elaboração, as condições retóricas apropriadas para que o texto realmente cumpra o seu propósito. Isso estaria relacionado à atualização do gênero, ao seu caráter dinâmico, interativo e agentivo (BAZERMAN, 2006), conforme discutimos, no capítulo teórico.

Podemos entender que o clamor dos alunos e dos servidores pela informatização do sistema é, simplesmente, uma questão natural sobre as expectativas do gênero. Se vivemos em um mundo tecnológico, em que são cada vez mais crescentes as interações em tempo real, os requerimentos não podem fugir ao futuro dos gêneros, que pode se dar através do uso da tecnologia, de novas ferramentas tecnológicas, permitindo, assim, sua atualização de acordo com as condições específicas de uso (BAZERMAN, 2011).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerando que a relevância de uma pesquisa consiste no retorno que ela apresenta à comunidade pesquisada, a fim de possibilitar a realização de ações antes não pensadas ou vislumbradas ou, ainda, difíceis de serem viabilizadas, nossa pretensão, neste estudo, não é a de solucionar problemas de forma definitiva, mas de provocar um diálogo legítimo a respeito dos aspectos sociais que envolvem as atividades relacionadas ao gênero analisado.

Com base na compreensão sociorretórica de gênero textual (MILLER, 1984; SWALES, 1990; BHATIA, 1993; BAZERMAN, 1994), esta pesquisa buscou investigar, como objetivo central, o gênero requerimento produzido pelos graduandos enquanto prática social desenvolvida no domínio acadêmico- administrativo da instituição.

A partir da análise dos exemplares do gênero, dos discursos de seus usuários e de observações sobre o ambiente em ele se presentifica, obtivemos como evidência uma compreensão mais fidedigna das atividades realizadas no domínio acadêmico-administrativo e, consequentemente, o entendimento de que os requerimentos se constituem como ferramenta fundamental nesse contexto, uma vez que são o modo legítimo utilizado pelos graduandos para se dirigirem à Pró- reitoria de Graduação.

Para apresentar nossas considerações a respeito do nosso objeto de investigação, organizamos esta seção em duas partes. Na primeira, retomamos as questões de pesquisa, a fim de atender aos objetivos propostos pela pesquisa. Na segunda parte, compreendendo que o tema abordado não pode ser considerado esgotado, haja vista a dificuldade de encontrar trabalhos a respeito dos gêneros que circulam no domínio administrativo, ressaltamos a necessidade de realizar mais pesquisas a esse respeito.

Para atender ao objetivo central, buscamos, nos dados formulados, o entendimento que nos permitisse responder às seguintes questões: quais os elementos constitutivos dos requerimentos e a sua organização retórica; e como se constitui a situação retórica típica dos requerimentos, tendo como foco o ambiente em que são produzidos, a sua situação de uso e os seus usuários.

Na tentativa de responder a essas questões, nossa análise partiu da compreensão do caráter essencialmente histórico e dinâmico que há no gênero textual e foi orientada, particularmente, pelos métodos etnográficos de análise de gênero recomendados por Devitt, Reiff e Bawarshi (apud JOHNS et al., 2006). Através desses métodos, tivemos acesso não só à comunidade como também aos usos do gênero em questão. Com isso, foi possível enxergá-lo como entidade complexa e multidimensional, resultado de uma relação funcional entre tipo de texto e situação retórica.

Com base na noção de recorrência (MILLER, 2009a), a análise dos aspectos que constituem esses requerimentos, revelou-nos que, por serem desenvolvidos em formulários específicos destinados ao propósito comunicativo comum de solicitar, são textos curtos e simples. Em geral, encontramos a realização de onze movimentos retóricos, sendo apenas dois mais recorrentes - o de solicitar e o de justificar. Esses dois movimentos são encarados como essenciais na identificação do gênero e para a sua realização nesse domínio e estariam mais relacionados ao propósito social do gênero.

Em relação aos assuntos tratados nesses documentos, percebemos que há uma diversidade. Eles variam de acordo com períodos específicos. Relacionamos esses assuntos ao que chamamos de propósito comunicativo individuais, pois, além do propósito comum do gênero, que corresponde ao próprio ato de fala existente no requerimento, que é o de solicitar, entendemos que existe um propósito comum, que refere-se ao sujeito e o movimenta no sentido de agir através do requerimento. Dizemos que esses propósitos comunicativos individuais são particulares, mas não são únicos, pois se repetem, de modo que são previstos por legislações que determinam as condições de uso.

Reconhecemos que os padrões retóricos desses requerimentos revelam que, apesar de se tratar de um gênero da comunicação oficial, seus aspectos constitutivos são empregados de forma pragmática e sem maiores compromissos com os parâmetros que regulamentam a comunicação oficial, visando, simplesmente, ao atendimento do propósito comunicativo, sem submeterem-se às exigências dos manuais de redação oficial. Com base nessa observação, ressaltamos a incapacidade dos manuais normativos fixarem universalmente o gênero, como se esse não atendesse à situação comunicativa, negando-lhe a capacidade própria de flexibilidade.

Como podemos observar, nos requerimentos analisados, a simplicidade do gênero está relacionada ao padrão constitutivo do gênero, referente à solicitação e à justificativa. No entanto, mesmo seguindo um padrão de elaboração simples, esses requerimentos apresentam, ainda, muitos problemas de ordem tanto linguística quanto retórica.

Essas dificuldades podem estar relacionadas a vários fatores. Um deles é o fato de esses alunos não terem uma compreensão clara a respeito do gênero. Outro motivo observado é o pouco ou quase inexistente trabalho com esse gênero em sala de aula. Além disso, outra possibilidade diz respeito ao pouco contato desses alunos com o domínio administrativo da instituição e, consequentemente, com os gêneros que nele circulam.

Os dados evidenciam, assim, a necessidade de oferecer aos alunos a oportunidade de conhecer melhor outros gêneros, além dos acadêmicos, que fazem parte de sua convivência e, com isso, ampliar sua competência comunicativa e sua atuação social nos diversos domínios que a universidade admite.

Para identificar melhor essas dificuldades existentes no sistema de atividade referente aos requerimentos, passamos, então, a contemplar a segunda questão, referente à situação retórica típica dos requerimentos, pois entendemos que somente conhecendo essa situação podemos buscar encaminhamentos práticos para tais problemas. Com base nos princípios da pesquisa etnográfica, elegemos como elementos relevantes na situação retórica o ambiente em que os requerimentos são produzidos, a situação de uso e os usuários do gênero.

Em relação ao ambiente em que são produzidos, apesar de esses requerimentos serem produzidos por alunos, eles não correspondem aos gêneros tidos como acadêmicos, pois circulam em um domínio específico dentro do espaço da academia, o administrativo. Considerando o ambiente de instituição pública, cujas atividades são regidas por princípios legais, os requerimentos se apresentam, de certa forma, conforme essa padronização.

Devido à hierarquia que constitui a universidade, à sua extensão e ao número de cursos e de alunos, a maneira permitida aos alunos para se dirigirem à PROGRAD é através dos requerimentos, que podem ser produzidos tanto na própria pró-reitoria como nas coordenações dos cursos. Depois da produção, todos os procedimentos e os locais por onde os requerimentos passam seguem uma ordem.

Isso permite inferir que esses documentos são regidos por regras específicas e que os alunos precisam ter conhecimento para que haja uma apropriação do gênero.

Em relação à situação de uso desse gênero, podemos afirmar que: sua utilização dá-se devido à necessidade de solicitar algo à PROGRAD. Apesar dele ser um gênero de uma produção na universidade considerável, é pouco ou pouquíssimo abordado em sala de aula. Existe dificuldade por parte de alguns alunos na escrita desse gênero e, provavelmente, devido a isso, existe também orientação para sua produção. Os alunos, em sua maioria, não recorrem aos textos que regulamentam a elaboração desses requerimentos, consultando o RCG poucas vezes. Eles não costumam acompanhar o andamento do processo que envolve o gênero.

Além disso, os requerimentos compõem um sistema de atividades que se