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5 O GÊNERO REQUERIMENTO EM ANÁLISE PERSPECTIVA

5.3 A situação de uso

5.3.1 Por que são usados

Como vimos, o propósito comunicativo comum do gênero requerimento que foi revelado na análise documental está relacionado ao ato de fala direto que corresponde ao solicitar. Inclusive, percebemos nos textos dos alunos, que esse é, justamente, o traço mais forte na caracterização deles.

A fim de estabelecer uma visão mais completa do gênero, resolvemos analisar a questão do propósito comunicativo através de outros instrumentos de pesquisa.

Com vistas a isso, perguntamos de modo geral, através do questionário, o motivo pelo qual esses alunos utilizaram esse gênero. Pretendíamos, inicialmente, apenas delinear o conhecimento que eles tinham do gênero e o uso que eles faziam dele. No gráfico seguinte, vejamos o que eles responderam:

Gráfico 4 - O que levou os alunos a produzirem um requerimento

Fonte: Acervo da pesquisa

Como é possível observar, exceto os que afirmaram nunca terem produzido um requerimento, todos os demais, no caso, 86% (oitenta e seis por cento) dos alunos, que equivale a 43 (quarenta e três) do total de 50 (cinquenta), registraram que o que lhes motivou a fazer um requerimento foi a necessidade de solicitar algo.

Dessa forma, esse gráfico ratifica os dados encontrados na análise dos documentos, quando percebemos que é a solicitação o propósito comunicativo comum do gênero.

É importante observar que todos os alunos que responderam ao questionário já haviam escrito, pelo menos, um requerimento na instituição, uma vez que só

convidamos a participar de nossa pesquisa, seja respondendo ao questionário ou fazendo a entrevista, alunos cujos requerimentos já faziam parte do nosso banco de dados, gerado através da coleta dos requerimentos. No entanto, 14% (quatorze por cento) dos entrevistados, equivalente a 7 (sete) alunos, simplesmente, afirmaram que nunca produziram um requerimento.

É possível que isso tenha ocorrido em razão de esses requerimentos serem desenvolvidos em formulários com características próprias, que algumas vezes nem atendem aos padrões recomendados pelos manuais de redação oficial, como foi visto na análise documental.

Outro ponto que não pode deixar de ser mencionado, na análise desse gráfico, diz respeito ao fato de nenhum dos alunos ter relatado que produziu algum requerimento em sala de aula. Isso nos leva a refletir sobre a necessidade do trabalho, em sala de aula, com os gêneros que não fazem parte do domínio puramente acadêmico, haja vista que a formação dos alunos deve contemplar a ideia de que eles, como pessoas, devem estar preparados para atuar socialmente em outras instâncias, inclusive em outros domínios dentro da própria instituição. Dessa forma, eles terão sua competência comunicativa mais desenvolvida e, consequentemente, melhores condições para agir em outros segmentos da sociedade.

Voltando à questão dos motivos, perguntamos, em entrevista, a opinão de um servidor a respeito do motivo por que os alunos usam esse gênero para se dirigirem à PROGRAD.

Porque eles sentem a necessidade de solicitar algo à PROGRAD... e isso só é possível dessa maneira. Até por que já está previsto no regulamento. (ST2)

Para ST2, o uso do gênero não ocorre por uma escolha livre do aluno, haja vista que, em se tratando de um ambiente regido pelas normas da administração pública, essa é, na verdade, a maneira reconhecidamente legal que possibilita ao aluno solicitar algo nesse domínio da academia.

Inclusive, em uma das entrevistas, um aluno revela que, geralmente, eles (os alunos) nem sabem que terão que fazer um requerimento para solicitar algo à PROGRAD:

(...) quando a gente vai lá [na PROGRAD], o que a gente quer é falar com alguém pra que o problema seja resolvido. E você tem uma certa pressa... quer que se resolva com uma certa rapidez, até porque você tá perdendo aula, então você tá sendo prejudicado./ Então, quando você preenche o formulário, você já sai de lá com o sentimento de que o seu problema não foi resolvido, porque você não falou com ninguém. Você apenas preencheu um formulário que você não sabe quando a pessoa vai pegar (...). [sic] (AG3)

Nesse depoimento, vemos que, às vezes, por não conhecerem os trâmites burocráticos que envolvem a universidade, os alunos não sabem que, ao precisarem de solicitar algo à PROGRAD, terão que fazer isso através de um procedimento determinado como regra, próprio desse tipo de instituição. Talvez, essa falta de conhecimento do aluno ocorra por ele fazer parte de um público que, além de não estar vinculado diretamente a questões de ordem burocrática da universidade, é considerado rotativo, uma vez que o aluno permanece na instituição apenas o tempo necessário para a sua formação. Além disso, outro fator que vem corroborar esta falta de conhecimento talvez seja a ausência de discussão, na formação discente, a respeito dos gêneros próprios de outros domínios que não seja o acadêmico.

Observando o propósito comunicativo enquanto traço fundamental para identificação do gênero (SWALES, 1990), percebemos que, apesar de se tratar de um gênero simples, de fácil reconhecimento, cujo propósito se apresenta explicitamente, parte dos alunos de graduação que participaram de nossa pesquisa demonstraram que se sentem inseguros ou confusos para dicernir que o texto que escreveu pertence ao gênero requerimento.

Tomando como referência a análise dos exemplares, vimos, também, que a solicitação não é o único propósito comunicativo que se realiza no gênero em estudo, existem outros que designamos como sendo individuais. Estes estariam relacionados ao evento deflagrador de cada requerimento, por isso são diversificados.

Para entender a diversidade de propósitos encontrada nos requerimentos do corpus, colocamos a seguinte pergunta aberta, no questionário semiestruturado: Qual o motivo que lhe fez redigir um requerimento à PROGRAD? A seguir, dispomos algumas das verbalizações.

AG4: Revisão da Grade curricular do curso, pois eu já havia concluído e surgiram novas disciplinas pra eu cursar. [sic]

AG8: Questão de saúde.

AG10: Solicitar matrícula fora do prazo; Solicitar retificação de nota; Solicitar teste de proficiência; Solicitar colação de grau individual.

AG13: Mudança de especialidade do curso de bacharelado para licenciatura.

AG19: Problemas com matrículas em disciplinas e atestado médico.

AG21: Solicitar o teste de dispensa de disciplina.

AG27: Dispensa de disciplina, Colação de Grau individual. [sic] AG31: A necessidade de pedir dispensa de uma disciplina específica, por já ter cursado a mesma em outra instituição (UERN). AG36: Assuntos realcionados ao reingresso e seus desdobramentos consequentes.

AG40: A requisição de fluidez em alguns processos com relação a conclusão de curso. [sic]

AG45: Solicitação de trancamento fora do prazo, solicitação de estudo individual e colação de grau individual.

AG50: Erro em nota de prova.

Esses dados evidenciam que, nesse domínio, o requerimento é um gênero textual que permite ser usado para dar conta de uma diversidade de propósitos particulares que estão ligados ao contexto em que funcionam, pois, como vemos, todos os pedidos estão relacionados à situação acadêmica dos alunos.

Da mesma forma, perguntamos aos alunos entrevistados sobre o objetivo ao redigir um requerimento à PROGRAD e obtivemos a seguinte declaração de um deles:

O principal objetivo, no meu caso, foi conseguir a matrícula na disciplina./ Eu acho que sempre que você escreve um requerimento, (...) ele é um meio pra você conseguir um fim em si; no meu caso foi para conseguir a matrícula nessas disciplinas que a priori tinha sido indeferida e eu tinha o direito, porque eu tava nivelado, os professores (...).[sic] (AG2)

No trecho acima, o aluno menciona um fato particular que lhe aconteceu para falar sobre o gênero. Vemos, na fala dele, a referência aos dois tipos de propósitos já discutidos - o comum e o individual.

De acordo com esses dados, entendemos que, sendo a solicitação o propósito comum desse gênero, a grande diversidade de motivos particulares no emprego dos requerimentos constitui os propósitos individuais que, por sua vez, estão relacionados às necessidades acadêmicas dos alunos.

Ressaltamos, ainda, que o uso dos requerimentos não ocorre, simplesmente por escolha do aluno, mas por estar envolvido nos procedimentos institucionais que dizem respeito à interação entre eles e a PROGRAD, com o objetivo de fazer algum tipo de solicitação.