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2.1 “A NOVA VELHA HISTÓRIA 16 ”

2.1.2. Os modos de funcionamento da Diretoria do grupo

Desde o início das atividades do REELP mantivemos a mesma diretoria; não chegamos a realizar nenhuma das eleições que estavam previstas, apesar de que, em alguns momentos, chegamos a discutir o assunto. No entanto, tal questão não era a que mais preocupava o grupo, que mantinha o seu foco no aspecto financeiro, em como angariar recursos para a realização das atividades e em como atrair a participação dos professores. Havia uma dinâmica de trabalho independentemente do cargo para o qual estávamos destinadas. Com relação a tal aspecto há duas considerações a serem feitas: primeiro, o fato de não termos conseguido envolver outras pessoas para que participassem da organização das atividades de forma regular. Vale lembrar que o trabalho no REELP era voluntário e sem nenhuma remuneração, portanto, trabalhávamos em nossas horas vagas, na sala de espera de consultório médico, no fim de semana e alguns dias em janeiro e julho, período de férias e recesso escolar, respectivamente. Assim, encontramos algumas pessoas dispostas a colaborar esporadicamente com o grupo, no entanto, não encontramos pessoas que estivessem dispostas a assumir um cargo ou maiores responsabilidades.

Segundo, o trabalho que realizávamos no REELP era estendido para toda a esfera do nosso fazer profissional, ou seja, procurávamos manter um clima cordial em todas as nossas relações com os diversos agentes que fazem parte da hierarquia e entidades educacionais, isto é, com os professores, diretores de escola, supervisores de ensino, com a dirigente de ensino, como também com o sindicato, a APEOESP. Por exemplo, ao participar de uma reunião na Diretoria de Ensino procurávamos falar das atividades do REELP, sem com isso entrar em conflito ou criticar o que estava sendo feito pelo órgão oficial, mesmo que tivéssemos restrições com relação a isso. Tal postura fez com que conseguíssemos o apoio de alguns supervisores e diretores de escola que faziam propaganda do grupo, incentivando os professores a participarem. Passamos a ser conhecidas e reconhecidas como as professoras do REELP. Em todos os lugares (banco, supermercado, lojas) que encontrávamos e ainda encontramos as pessoas que sabiam do grupo perguntavam sobre ele.

Barzotto nos orientou não somente na organização dos eventos como também no modo como deveríamos recepcionar nossos convidados, orientação que convertemos em princípios que seguíamos: a) não discutir sobre assuntos financeiros na frente dos convidados; b) remunerar sempre; o trabalho dos palestrantes deveria sempre ser

remunerado, mesmo que fosse um valor simbólico; tal pagamento poderia ser até a venda de livros ou um acordo qualquer que revertesse em reconhecimento do que estava sendo realizado; c) ressarcir os custos com transporte e alimentação; d) providenciar com antecedência as solicitações dos palestrantes quanto aos equipamentos necessários para desenvolver seu trabalho, tais como: xerox, retroprojetor, aparelho de som, etc... Do início ao fim de nossos encontros nos desmanchávamos em cuidados para que o evento fosse confortável para todos.

Para receber os professores que vinham participar também tínhamos um conjunto de princípios, alguns deles semelhantes: a) não discutíamos problemas financeiros e/ou as divergências internas do grupo na frente dos colegas; b) recebíamos a todos com alegria e cordialidade; c) oferecíamos um café da manhã com bolachas, chá, café, refrigerante e bolos que nós mesmas fazíamos; d) durante o lanche procurávamos interagir com o maior número de participantes, colhendo suas impressões, dúvidas, sugestões e comentários; d) procurávamos manter rigorosamente o cronograma previamente estabelecido no início de cada semestre, pois não sabendo antecipadamente quais pessoas participariam, não tínhamos como avisar as possíveis alterações.

A postura resultante desse conjunto de princípios fez com que tivéssemos uma imagem de grupo coeso, unido, como nos revelou uma das professoras que participou de nossos encontros em entrevista para esse trabalho:

P: O que você achava do clima dos encontros, das reuniões?

Solange: Eu achava muito bem bolado, até um clima zen, mais relaxante do que, o grupo trabalhou bem eu acho, apesar assim que trabalhar em grupo não é simples, tem muitos dilemas dentro do grupo, mas a gente não percebia. Se houve mesmo alguma coisa assim, a gente percebia que um grupo muito coeso, muito, muito entendido e muito ligado no que estava fazendo.

As divergências internas não paralisavam o grupo, nem eram motivos de brigas e desavenças. Não ficávamos nos acusando ou recriminando umas as outras pelo que tinha sido feito ou não. Quando não era possível fazer reuniões para resolvermos questões emergenciais e discutirmos as possíveis decisões conjuntamente, alguns membros da diretoria decidiam o que naquele momento era possível ou necessário. Sempre levávamos em conta o nosso objetivo maior: promover as atividades do REELP.

Durante as entrevistas somente um membro da diretoria abordou os problemas internos do grupo, que sempre permaneceram de modo velado. Tínhamos consciência de nossas dificuldades enquanto grupo, mas não chegamos a colocar tais problemas em pauta. Como conseqüência, depois de quatro anos (trabalhamos juntas de 1996 a 1999), o grupo se dividiu, sem nenhuma discussão ou avaliação. Em 2000, uma parte da diretoria ainda manteve uma programação nos moldes dos anos anteriores e realizou, em 2001, o II Congresso Multidisciplinar do REELP, contando com a colaboração de outras pessoas que não estavam diretamente ligadas ao grupo. Em 2003, esse mesmo grupo realizou um curso para os professores que pretendiam prestar o exame para o concurso público de provas e títulos para o preenchimento de cargos de Professor de Educação Básica da SEE/SP.

Aos nos referirmos ao trabalho do REELP, nessa dissertação, estaremos focalizando o conjunto de atividades que foram promovidas pelas sete professoras membros da diretoria do grupo, nesses primeiros quatro anos em que cada uma de nós colaborou na construção dessa história de formação continuada. Cada uma com seu jeito, com suas habilidades e talentos (fossem eles intelectuais ou culinários), com o seu potencial, com os seus sonhos e angústias. Compartilhamos o encantamento e a alegria ao percebermos que estávamos realizando uma atividade nova, e esta por sua vez, tinha como centro nossas preocupações, nossos anseios. Compartilhamos também o medo de que isso não fosse dar certo. Mas a paixão pelo novo tomou conta e encaramos as dificuldades, uma visão feminina de fazer as coisas.