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4.3 ÓTICA DO ÓRGÃO GESTOR

4.3.2 Panorama Global do Sistema de Transporte Público de Curitiba

A partir dos dados obtidos e apresentados nas óticas técnica e do usuário foi possível a comparação dos dados, conforme o Quadro 39, sendo que deste é possível inferir diferentes políticas de ações de melhoria, uma vez que, por exemplo, critérios que apresentam bons resultados técnicos e, em contrapartida, baixa percepção de qualidade por parte do usuário podem indicar necessidade de campanhas de

No entanto, nas vezes em que tanto os resultados operacionais quanto à qualidade percebida exibem resultados negativos a solução mais provável é a melhoria de infraestrutura.

De acordo com as ponderações aplicadas, relativas a importância relativa e a fator financeiro, obteve-se um ranking de pontos de melhoria do sistema de acordo com a visão do usuário na seção 4.1.5. Dessa forma, tarifa, segurança, tempo de viagem, frequência de atendimento e lotação aparecem como os 5 principais pontos de melhoria. Ao serem comparados à visão técnica, infere-se que a percepção de qualidade de tarifa, segurança (em relação a possibilidade de se tornar vítima em crime no interior do sistema) e lotação podem ter origem técnica. Enquanto, segurança (índice de acidentes), tempo de viagem e frequência de atendimento apresentam nível de serviço aceitável ou muito bom, dessa forma sugere-se campanhas informativas sobre o desempenho a fim de um aumento no índice de percepção de qualidade.

Quadro 39 – Comparação dos resultados obtidos para a Ótica do Usuário e para a Técnica Fonte: Autoria Própria (2017)

FATOR UTILIZADO FATOR EQUIVALENTE ÍNDICE CLASSIFICAÇÃO

TARIFA 1,5 Ruim IPK 1,98 Ruim

ÍNDICE DE ACIDENTES 0.44 acidentes/100,000 km Bom

ASSALTOS/DIA 8,50 Ruim

TEMPO DE VIAGEM 2,2 Regular RELAÇÃO

ÔNIBUS/AUTOMÓVEL 1,30 Regular

TEMPO DE ESPERA 10 minutos¹ Bom HORAS DE SERVIÇO 20 horas Bom

LOTAÇÃO 1,5 Ruim m²/PASSAGEIRO 0.24¹ Ruim

INTEGRAÇÃO FÍSICA Disponível Bom INTEGRAÇÃO TARIFÁRIA Disponível Bom CONFIABILIDADE 3,3 Bom PONTUALIDADE 99,8% Excelente

SINALIZAÇÃO Falta em Alguns Regular COBERTURA Falta em Muitos Regular

BANCOS Em poucos Ruim

APARÊNCIA Deixa a Desejar* Regular IDADE DA FROTA 7.90 anos Regular NÚMERO DE PORTAS 3 portas¹

LARGURA CORREDOR 0.70 cm³

APARÊNCIA - Regular

INTENSIDADE SONORA 58 dB Excelente ALT. DEGRAU MÉDIO 19 cm¹ Regular % DE VIAGENS COM

INFRAESTRUTURA 95,0% -

ÓTICA DO USUÁRIO ÓTICA TÉCNICA

CONECTIVIDADE 3,3

Regular

Bom

CARAC. DOS LOCAIS DE PARADA 2,3

MÉDIA

2,4 CARAC. DOS ÔNIBUS

2,7 FREQUÊNCIA DE ATENDIMENTO SEGURANÇA 2,5 Regular Bom Regular Regular

Continuação Quadro 39 – Comparação dos resultados obtidos para a Ótica do Usuário e para a Técnica

Fonte: Autoria Própria (2017)

Dessa forma, em um primeiro momento, são necessários investimentos em segurança pública devido ao impacto que o fator tem na percepção da qualidade, sendo crucial para um aumento de utilização do sistema, bem como, na renovação da frota a fim de reduzir os crescentes custos de manutenção atuais. Assim como, estudos sobre a composição da tarifa técnica e possíveis reduções de custos e captação de recursos, bem como, ações para redução do índice de lotação dos ônibus seja por aumento da capacidade dos veículos, frequência de operação, acordos com grandes empresas para descentralização de horários de entrada e saída ou utilização de novos modais, tais como, metrô, veículo leve sobre trilhos (VLT), veículo leve sobre pneus (VLP), entre outros.

Adicionalmente, o sistema deve se preocupar, na medida do possível, em revitalizar e/ou desenvolver infraestrutura para os pontos de parada, de forma que tenham sinalização e informações adequadas sobre as linhas, assim como, sentidos e horários. A prefeitura também deve se preocupar em melhorar as condições de pavimentação das vias, optando por soluções de maior durabilidade, de acordo com a disponibilidade de recursos.

SUSTENTABILIDADE 2,6 Regular

ESTADO DAS VIAS 2,6 Regular CONDIÇÕES DO

PAVIMENTO Deixa a Desejar* Regular ACESSIBILIDADE 3,0 Regular ACESSIBILIDADE 95,1% Excelente

ITINERÁRIOS E HORÁRIOS Disponível Bom INFORMAÇÕES NA

PARADAS Sim, porém precário Regular SERVIÇO DE

ATENDIMENTO Disponível Bom

TÉCNICA/PRÁTICA Satisfatório Bom EDUCAÇÃO/PRÓATIVIDADE Satisfatório Bom COMPORTAMENTO

DOS OPERADORES 3,4 Bom

ÓTICA DO USUÁRIO ÓTICA TÉCNICA

SISTEMAS DE

Os principais pontos de melhoria relacionados a infraestrutura de acordo com o grau de relevância na satisfação do usuário são apresentados na Figura 64.

Figura 64 – Ranking de melhorias em infraestrutura no Sistema de Transporte Público de Curitiba

Fonte: Autoria Própria (2017)

Concomitantemente, a gestora do sistema pode promover campanhas informativas a fim de ressaltar os pontos positivos do sistema em relação a fatores que na média não obtiveram resultados tão positivos de percepção de qualidade, tais como, índice de acidentes, tempo médio de viagem em relação ao automóvel, frequência de atendimento, infraestrutura de acessibilidade e sustentabilidade. Por exemplo, em relação ao índice de acidentes envolvendo o sistema, os dados podem ser comparados aos registros de acidentes envolvendo outros modais, tal como, o automóvel a fim de mostrar à população a relação de acidentes e o quão seguro o transporte público é em Curitiba (Figura 65).

Figura 65 – Acidentes/100,00 habitantes em Curitiba entre 2012 e 2014

Fonte: Adaptado de IPPUC (2017) * Em relação a todos os modais

Em contrapartida, mesmo com resultados positivos de tempo de viagem entre ônibus e automóvel, ainda devem ser buscadas soluções para deixar o sistema mais ágil, principalmente, nos períodos de pico 1 e entre picos de acordo com as condições atuais do sistema, uma vez que um resultado médio de 1.30 ainda não indica uma probabilidade de predileção pelo transporte público em detrimento do individual. Os principais pontos relativos a possíveis ações de marketing com o intuito de melhorar a visão do usuário sobre o sistema são apresentados na Figura 66.

Figura 66 – Ranking de possíveis ações de marketing no Sistema de Transporte Público de

Curitiba

Fonte: Autoria Própria (2017)

Conjuntamente, as ações têm como objetivo aumentar o volume de passageiros uma vez que a amostra de não usuários demonstra comportamento semelhante à de usuários em relação a importância e percepção dos fatores componentes do transporte público em Curitiba. Os demais fatores presentes no quadro 38 e não abordados nos rankings apresentam bons resultados operacionais e de percepção de qualidade, em consequência o desempenho deve ser mantido e quando possível melhorado.

5 CONCLUSÕES

Qualidade no transporte público pode ser definida como a adequação racional das necessidades das partes interessadas envolvidas no processo de operação, dessa forma o objetivo do estudo apresentado foi avaliar a percepção da qualidade do transporte público de Curitiba conforme a visão do usuário, de operação e do órgão gestor, sendo a última um panorama holístico do sistema já que a eficiência do serviço depende tanto de fatores operacionais como da satisfação do usuário.

A estruturação do trabalho foi formulada de forma a atingir 4 objetivos específicos, sendo estes detectar a percepção dos fatores componentes da qualidade do transporte público por meio da ótica do usuário, definir os pontos mais influentes na percepção da qualidade de acordo com os dados coletados na primeira ótica, aferir o nível de serviço dos fatores componentes por meio da ótica técnica e, por fim, avaliação do panorama global da qualidade do sistema de transporte público e definição dos pontos críticos.

Na primeira ótica, a análise dos fatores foi aferida por meio de survey que buscava entender a percepção de 14 fatores, para tanto a escala de Likert foi utilizada. Já a ótica operacional, composta de fatores técnicos e econômicos, foi estudada em 13 fatores, sendo utilizadas 2 metodologias distintas: o Highway Capacity Manual (2010), nos fatores enquadrados nas categorias de disponibilidade e conforto e conveniência, e as disposições de Ferraz e Torres (2004) para os demais.

O estudo da importância relativa e da qualidade percebida é crucial para se elevar o nível de operação do sistema de acordo com a visão do usuário, uma vez que a satisfação decorre da soma de diversos fatores resultantes das interações com o sistema, também denominados momentos da verdade, dessa forma servindo para a atualização de políticas e atualização de metas. A aplicação de survey a amostra de usuários permitiu avaliar os pontos de maior influência na satisfação, bem como, os com maior necessidade de melhoria que então seriam comparados a ótica operacional.

Tarifa, segurança, frequência de atendimento, conectividade, confiabilidade e tempo de viagem são os fatores mais relevantes tanto para usuários como para não usuários, ou potenciais usuários, sendo seguidos por critérios de conforto. Os pontos encontrados corroboram os estudos de Dell’Olio et al. (2011) e Wan et al. (2016), nos quais ainda apareciam como relevantes sistemas de informação, acessibilidade e

comportamento dos operadores. Por consequência, a lógica curitibana se assemelha ao disposto no Highway Capacity Manual, uma vez que o serviço deve ser primeiro disponível para que se possa avaliar conforto e conveniência. Não foram encontradas divergências expressivas entre as amostras de usuário e não usuário, no entanto são necessários estudos mais aprofundados em relação à tendência comportamental do segundo grupo.

Conectividade, confiabilidade, disponibilidade de informação e comportamento dos operadores receberam avaliações positivas tanto por parte da amostra analisada quanto dos resultados operacionais obtidos. Enquanto, tarifa, segurança (índice de criminalidade) e lotação não apresentaram bons resultados nas duas análises, por consequência sendo necessárias melhorias em nível operacional. Ao passo que, tempo de viagem e frequência de atendimento apresentaram resultados satisfatórios na ótica técnica e, após as ponderações de importância relativa e fator financeiro, não tão positivas na visão do usuário, dessa forma a gestão pode se aproveitar de ações de marketing a fim de melhorar a percepção dos fatores por meio de apresentação de resultados.

Ao se analisar as primeiras 5 posições do ranking de principais melhorias do sistema de acordo com a visão do usuário de acordo com a ótica técnica nota-se uma íntima correlação, já que para que se reduza a relação de tempo de viagem, principalmente, em horário de pico, no qual o sistema apresenta piores resultados, seria necessária uma redução do fluxo total de veículos, uma vez que não sejam executados grandes investimentos em vias exclusivas. Para que isso ocorra é preciso que uma parcela maior da população opte pelo transporte público o que, por conseguinte, aumentaria a demanda do sistema. Nesse cenário, é preciso que a frequência de atendimento e a capacidade dos veículos seja aumentada a fim de garantir o conforto dos passageiros, sendo este um fator de grande influência na fidelização do potencial usuário. Por fim, o aumento de volume de passageiros impactaria diretamente no índice de passageiro por quilômetro (IPK) que levaria a melhor distribuição de custos operacionais e, consequentemente, na redução da tarifa técnica.

Finalmente, o sistema de transporte público de Curitiba possui tecnicamente fatores excepcionais enquadrados nos mais altos níveis de serviço e ideias inovadoras, tais como, o sistema BRT e os terminais integrados que serviram de modelo para diversas cidades no mundo. No entanto, alguns fatores, tais como,

segurança e lotação necessitam de estudos e soluções para que se possa atingir uma maior satisfação do usuário atual, dessa forma caminhando para a possível prospecção de novas pessoas para o sistema. Além disso, uma vez que os consórcios não estão atingindo as metas de desempenho, uma vez que o equilíbrio financeiro seja atingido são necessárias à aplicação de penalidades e a exigência de renovação da frota.

O transporte público é um serviço essencial do ponto de vista social e ambiental, uma vez que garante o direito de ir e vir, assim como, pode ser parte da solução para as crescentes taxas de consumo de energia, emissão de poluentes, acidentes de trânsito e congestionamentos. Dessa forma, este é o momento para investimento em infraestrutura e em políticas pró transporte ativo e público, uma vez que se nada for feito a tendência é que até 2020 a relação automóvel por habitante chegue a 1,10 o que afetará gravemente o cenário de mobilidade urbana na cidade.